Prefeitura de Niterói lança programa de colônia de férias na rede municipal

Prefeitura de Niterói lança programa de colônia de férias na rede municipal.


A Prefeitura de Niterói implanta um programa de colônia de férias das escolas municipais neste recesso do mês de julho. O “Tô de Férias na Escola”, idealizado pela Subsecretaria de Projetos Educacionais e Transversais da Secretaria Municipal de Educação (SME), terá a adesão de 28 unidades Municipais de Educação Infantil (UMEIs) e escolas municipais, além de 18 creches comunitárias conveniadas. A estimativa é de que cerca de 4.500 alunos entre 3 e 14 anos participem da iniciativa.


Continue a leitura abaixo.


O “Tô de Férias na Escola” funciona entre os dias 18 e 29 de julho, entre 8h e 12h. Durante este período, as crianças poderão ter café da manhã e almoço nas unidades onde o programa irá ocorrer. Também serão realizadas atividades de recreação, prática esportiva, oficinas culturais e rodas de contação de histórias. Os alunos já fizeram as inscrições no programa.


O secretário de Educação, Lincoln de Araújo, explica que o projeto é uma forma de prover à juventude niteroiense acolhimento e sensação de pertencimento ao espaço público e à cidade.


“O ‘Tô de Férias na Escola’ é um retorno àquilo que já era tradicional na Rede Municipal de Niterói: uma escola aberta à comunidade escolar no período de recesso”, destaca Lincoln. “Cria-se um ambiente de recreação, prática esportiva e de cultura. O programa utilizará várias linguagens que também têm uma conotação educacional, tais como teatro, música, literatura. Além disso, garantirá alimentação escolar neste período de férias, contribuindo com o valor nutricional que é fundamental para a formação da criança. Desta forma, com alegria, criatividade e senso do coletivo, este programa rima com Educação”.


Ainda de acordo com a SME, serão oferecidos passeios para áreas de preservação ambiental e locais de interesse cultural. O MAC, o Museu Janete Costa, o Parque das Águas, o Circuito dos Caminhos de Darwin e o Campo de São Bento estão entre os espaços mapeados pela Educação Niterói para serem apresentados à juventude. Entre outros passeios agendados, haverá visitas ao CCBB e ao Centro de Referência de Artesanato Brasileiro, ambas no município do Rio de Janeiro.


As unidades que aderiram ao programa são de todas as regiões da cidade. Confira a lista das creches, UMEIs e escolas participantes.


Creches Comunitárias.


1. Alarico de Souza 2. Amigos do Jacaré 3. Anália Franco 4. Betânia 5. Cidade dos Menores 6. Esperança em Cristo 7. Eulina Félix 8. Dr. March 9. Irmã Catarina 10. Jurujuba 11. Madre Mary Marcelline 12. Medalha Milagrosa 13. Meimei 14. Minha Querência 15. Nossa Senhora Aparecida 16. Prof. Geraldo Cavalcanti de Albuquerque 17. São Vicente.


Unidades de educação.


1. NAEI Ângela Fernandes 2. NAEI Vila Ipiranga 3. UMEI Professor Írio Molinari 4. UMEI Vice Prefeito Luiz Eduardo Travassos do Carmo 5. UMEI Geraldo Montedônio Bezerra de Menezes 6. UMEI Professora Áurea Trindade Pimentel de Menezes 7. UMEI Zilda Arns 8. UMEI Jacy Pacheco 9. UMEI Marly Sarney 10. UMEI Maria Vitória Ayres Neves 11. UMEI Almir Garcia da Silva 12. UMEI Professora Margareth Flores 13. UMEI Maria José Mansur Barbosa 14. UMEI Darcy Ribeiro 15. UMEI Professora Regina Leite Garcia 16. UMEI Paulo César Pimental 17. E. M. Francisco Portugal Neves 18. E. M. João Brazil 19. E. M. Sebastiana Gonçalves Pinho 20. E. M. Vila Costa Monteiro 21. E. M. Julia Cortines 22. E. M. Noronha Santos 23. E. M. Djalma Coutinho de Oliveira 24. E. M. Nossa Senhora da Penha 25. E. M. Demenciano Antônio de Moura 26. E. M. Professor Paulo de Almeida Campos 27. E. M. Jacinta Medela 28. E. M. Professor Marcos Waldemar de Freitas Reis.

Prefeitura de Abaetetuba

Informações das últimas publicações.


PORTARIA-441-2022-CONCEDER LICENÇA PARA ACOMPANHAMENTO DO TRATAMENTO DE SAÚDE SUZANA CORREA LOBATO CARGO PROFESSOR.


PORTARIA-440-2022-CONCEDER READAPTAÇÃO DE FUNÇÃO DILVANA DO SOCORRO FARIAS COSTA GARGO PROFESSOR.


PORTARIA-439-2022-CONCEDER LICENÇA PARA TRATAMENTO DE SAÚDE CREUZA DOS SANTOS CARGO AGENTE COMUNITÁRIO DE SAÚDE.


diarias Mais detalhes.


DEMANDA PREVISTA NO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO DA PREFEITURA MUNICIPAL DE ABAETETUBA.


DEMANDA PREVISTA NO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO DA PREFEITURA MUNICIPAL DE ABAETETUBA.


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leis Mais detalhes Exportações.


DISPÕE SOBRE O PROGRAMA MUNICIPAL DE PARCERIAS PÚBLICO-PRIVADAS E CONCESSÕES DO MUNICÍPIO DE ABAETETUBA-PA, PREVÊ A INSTITUIÇÃO E REGULAMENTAÇÃO DO CONSELHO GESTOR DE PARCERIAS PÚBLICO-PRIVADAS E CONCESSÕES (CGPPP), AUTORIZA O PODER EXECUTIVO A INST [. ]


DISPÕE DO DIA MUNICIPAL DE LUTA PELOS DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS.


DISPÕE SOBRE A CRIAÇÃO DOS COMPONENTES DO SISTEMA NACIONAL DE SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL, DEFINE OS PARÂMETROS PARA ELABORAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DO PLANO MUNICIPAL DE SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS.


decretos Mais detalhes Exportações.


CRIA, NO ÂMBITO DO SISTEMA NACIONAL DE SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL A CÂMARA MUNICIPAL INTERSETORIAL DE SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL.


ALTERA O REPRESENTANTE DE CLASSE MEMBRO DA JUNTA ADMINISTRATIVA DE RECURSOS DE INFRAÇÃO – JARI, PARA O BIÊNIO 2021/2023 E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS.


DISPÕE SOBRE A REGULAMENTAÇÃO DA LEI MUNICIPAL Nº 639/2022, A QUAL PROÍBE A QUEIMA, SOLTURA E MANUSEIO DE FOGOS DE ARTIFÍCIO E ARTEFATOS PIROTÉCNICOS QUE CAUSEM POLUIÇÃO SONORA NO MUNICÍPIO DE ABAETETUBA.


OUTRAS PUBLICAÇÕES Mais detalhes Exportações.


LICENÇA DE OPERAÇÃO (L.O) Nº: 0103/2022 - M. M. DOS PRAZERES DA SILVA (CURATIVA)


LICENÇA DE INSTALAÇÃO (L.I) Nº: 068/2022 - PARÁ FRUIT INDUSTRIA E COMÉRCIO DE ALIMENTOS EIRELI (PARA FRUIT)


LICENÇA DE OPERAÇÃO (L.O) Nº: 0104/2022 - PARÁ FRUIT INDUSTRIA E COMÉRCIO DE ALIMENTOS EIRELI (PARA FRUIT)


Informações das últimas licitações e contratos.


licitações Mais detalhes Exportações.


GLOBAL, PELO REGIME DE EXECUÇÃO INDIRETA, EMPREITADA POR PREÇO UNITÁRIO CUJA FINALIDADE É A CONTRATAÇÃO DE EMPRESA ESPECIALIZADA PARA EVENTUAL PRESTAÇÃO DE SERVIÇO DE TERRAPLANAGEM E RECUPERAÇÃO DE RAMAIS, NO MUNICÍPIO DE ABAETETUBA/PA.


SISTEMA DE REGISTRO DE PREÇOS PARA FUTURA E EVENTUAL CONTRATAÇÃO DE EMPRESA PARA FORNECIMENTO DE ARTEFATOS DE CONCRETO ARMADO (TUBOS E BLOCOS), PARA USO NOS SERVIÇOS DE DRENAGEM DO MUNICÍPIO DE ABAETETUBA, INCLUSO TRANSPORTE.


CONTRATAÇÃO DE EMPRESA PARA A REVITALIZAÇÃO DO CENTRO DE TESTAGEM E ACOLHIMENTO (CTA) E DO CENTRO DE ESPECIALIZADES ODONTOLÓGICAS (CEO), PARA ATENDER A DEMANDA DA SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE.


contratos\QUADRO RESUMO Mais detalhes Exportações.


ADESÃO A ATA DE REGISTRO DE PREÇOS Nº 001/2022 - SECZU, PARA CONTRATAÇÃO DE EMPRESA ESPECIALIZADA PARA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE COLETA, TRANSPORTE E DESTINAÇÃO FINAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS E COLETA SELETIVA NO MUNICÍPIO DE ABAETETUBA/PA.


05/07/2022 CREDOR: 08.272.547/0001-58 - RECICLE SERVICOS DE LIMPEZA LTDA.


REGISTRO DE PREÇOS PARA EVENTUAL E FUTURA CONTRATAÇÃO DE EMPRESA ESPECIALIZADA, PARA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE MANUTENÇÃO, SUBSTITUIÇÃO DE PONTOS DA REDE DE ILUMINAÇÃO PÚBLICA E IMPLANTAÇÃO DE PONTOS DA REDE DE ILUMINAÇÃO PÚBLICA COM LÂMPADAS DE LED, NA SEDE DO MUNICÍPIO DE ABAETETUBA-PA, COMPREENDENDO SUBSTITUIÇÃO TOTAL DE LÂMPADAS, REATORES E RELES E EVENTUAL DOS DEMAIS PERIFÉRICOS NECESSÁRIOS AO FUNCIONAMENTO DOS PONTOS LUMINOSOS, CONFORME A DEMANDA EXISTENTE, JUNTO A SECRETARIA MUNICIPAL DE OBRAS E VIAÇÃO PÚBLICA - SEMOB.


10/06/2022 CREDOR: 11.292.691/0001-60 - V S ENGENHARIA LTDA EPP.


REGISTRO DE PREÇOS VISANDO A FUTURA E EVENTUAL CONTRATAÇÃO DE PESSOA JURÍDICA PARA O FORNECIMENTO DE COMBUSTÍVEIS, COM O OBJETIVO DE ATENDER AS NECESSIDADES DA PREFEITURA MUNICIPAL DE ABAETETUBA, FUNDOS MUNICIPAIS E SECRETARIAS QUE COMPÕEM A ESFERA ADMINISTRATIVA MUNICIPAL, CONFORME ESPECIFICAÇÕES E QUANTIDADES CONSTANTES NESTE TERMO DE REFERÊNCIA, POR UM PERÍODO DE 12 (DOZE) MESES.


08/06/2022 CREDOR: 11.171.191/0002-51 - E.M.C. COMÉRCIO DE REFINADOS DE PETRÓLEO LTDA.

Precatorio 2009 April

precatorio.


Brazil Treasury Studies Possible Overseas Bond Issue In 1H.


jezler - April 29, 2009 @ 6:16 pm · Filed under News, Public Finances, waldemarjezler.


BRASILIA (Dow Jones)–Brazil’s government is studying a possible overseas bond issue to be launched before the end of the first half of this year, Treasury Secretary Arno Augustin said Wednesday.


“It could be in the first half,” Augustin said at a news conference. “Recent issues have been successful. Rates have been lower than paid by some other countries with better sovereign ratings than Brazil.”


In January, Brazil issued $1.025 billion in global bonds due in 2022. The bonds were sold at a yield of 6.127%.


Augustin said Brazil’s government had “no special need to issue bonds at the present time.” He said the government was well stocked with dollars to meet debt service costs. Foreign reserves are over $200 billion.


Augustin said Brazil would only return to overseas markets in order to take advantage of low interest rates.


In an interview with Dow Jones Newswires on April 8, Deputy Treasury Secretary Paulo Valle said the government was studying the possibility of reopening the Global 2022 bond in order to take advantage of favorable market conditions.


-By Gerald Jeffris and Tom Murphy, Dow Jones Newswires; 55-11-2847-4519; brazil at dowjones.com.


APRIL 29, 2009, 4:34 P.M. ET.


Precatórios – Bom Senso e Responsabilidade.


Estadão – by Gilberto Kassab, Mayor of the City of São Paulo.


A aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que estabelece novas regras para o pagamento de dívidas de Estados e municípios, fixado em decisões judiciais, enseja críticas, controvérsias e até visões parciais e desprovidas do senso de realidade. Ao contrário do que se imagina, a iniciativa não pode ser confundida, em nenhuma hipótese, com “calote” aos credores. O objetivo principal da PEC é justamente o oposto, ou seja, possibilitar o planejamento do pagamento de precatórios, que, não raro, são passivos acumulados ao longo de décadas. E, mais relevante ainda, assegurar que as dívidas sejam efetivamente liquidadas, sujeitando os governantes às rígidas punições previstas na Lei de Responsabilidade Fiscal, sequestro de valores e bloqueios de transferências voluntárias, entre outras.


Pelas regras atuais, é extremamente difícil planejar a liquidação dos débitos existentes, uma vez que decisões judiciais determinam o sequestro de recursos, comprometendo a gestão das finanças públicas e as obrigações decorrentes de compromissos assumidos, seja com pagamento de salários ou de fornecedores. Vale mencionar também que o governo federal abriu mão de R$ 8,9 bilhões em receitas, com mudanças no IPI, correção da Tabela do Imposto de Renda e outras medidas de incentivo à produção . Desse total, a União renunciou a R$ 4,2 bilhões, enquanto Estados e municípios deixaram de receber R$ 4,7 bilhões, por conta da redução da receita dos Fundos de Participação dos Estados (FPE) e dos Municípios (FPM) . Nos últimos meses, a arrecadação de todos os municípios foi afetada pela redução de cerca de R$ 2,1 bilhões no FPM – de modo especial, a situação de mais de 4.500 municípios que têm até 30 mil habitantes e dependem fundamentalmente desses repasses.


Ademais, os precatórios são corrigidos por índices heterogêneos, aplicados de forma variada pelos diversos Tribunais de Justiça dos Estados, acarretando distorções de toda ordem. A título de exemplo, uma área desapropriada na cidade de São Paulo em 1999, ao custo de R$ 23,8 milhões, gerou um precatório cujo valor corrigido atinge R$ 71 milhões. Como a Prefeitura já pagou R$ 24,2 milhões, deve ainda a quantia de R$ 46,8 milhões. Caso fosse aplicada a nova regra aprovada pelo Senado, que prevê correção e juros pelos critérios da poupança, esse precatório deveria ser de R$ 48,7 milhões, e não de R$ 71 milhões.


Além disso, a PEC aprovada no Senado define para os Estados um valor mínimo de pagamento anual de precatórios que varia de 0,6% a 2% da receita corrente líquida . Para os municípios os porcentuais a serem depositados anualmente variam de 0,6% a 1,5% também da receita corrente líquida . Tais recursos ficarão disponíveis em conta especial gerenciada pelo Poder Judiciário.


Dos recursos destinados ao pagamento de precatórios, 60% serão reservados para pagamento de dívidas por meio de leilões eletrônicos e os outros 40%, para pagamento à vista, em ordem crescente de valor . A liquidação das dívidas por leilão é uma decisão discricionária dos credores, que, optando por negociar seus títulos de maneira transparente e pública, não se subordinarão aos escritórios “especializados” que atuam no mercado. Por outro lado, o pagamento em ordem crescente de valor possibilitará que os precatórios de menor valor sejam pagos em primeiro lugar, corrigindo-se, assim, injustas distorções que a atual legislação permite.


Entre os novos precatórios, terão primazia os alimentares cujos credores sejam cidadãos com 60 anos ou mais, com valores de até 90 salários mínimos para os municípios e 120 para os Estados . Garante-se, ainda, a devida correção das dívidas com base nos índices e juros da Caderneta de Poupança . Buscou-se, assim, tornar as regras socialmente mais justas, assegurando que determinações do Poder Judiciário possam ser cumpridas sem que os munícipes tenham postergadas as suas demandas mais urgentes.


Sob o prisma das prioridades, como se sabe, a administração pública, sobretudo nos municípios, ajusta seu foco em função das maiores demandas sociais. Áreas como saúde, educação, transporte e saneamento básico encabeçam o rol de prioridades e das demandas por recursos públicos. Veja-se, por exemplo, o caso de São Paulo. Centro de uma região metropolitana com 39 municípios e cerca de 20 milhões de pessoas, nossa capital herda parcela considerável dos efeitos da conurbação entre os espaços urbanos, significando que seu crescimento demográfico ultrapassou o ritmo da organização política e social. Ademais, o crescimento desordenado gerou espaços diferenciados e manchas urbanas multiformes. E, por consequência, apesar dos esforços das municipalidades para aplicar políticas condizentes com as demandas e pressões sociais por serviços qualificados, observa-se, em muitos espaços, um “apartheid” social. As grandes cidades brasileiras retratam esta dura realidade.


Não podemos fechar os olhos à identidade urbana do Brasil contemporâneo: se em 1970 o País tinha apenas duas metrópoles, passou a ter cinco em 2000 e as cidades médias, no mesmo período, passaram de 30 para 194. Hoje cerca de 80% dos brasileiros vivem em áreas urbanas, enquanto as 15 metrópoles concentram as forças produtivas, centralizando 62% da capacidade tecnológica do País. Essa situação impõe ingente desafio: gerir os recursos disponíveis para mitigar as dívidas sociais acumuladas ao longo dos anos. Os desafios são monumentais. A título de exemplo, cabe ressaltar que, na área da saúde, em São Paulo a meta é desafiadora, ou seja, atingir o padrão aceitável de 4,5 leitos para cada mil habitantes.


Em face de desafios como esse, resta aduzir que a aprovação de mecanismos que estabeleçam equilíbrio entre pagamento de precatórios e atendimento às prioridades é o ponto central que norteia a intenção de gestores públicos responsáveis.


Gilberto Kassab (DEM-SP), engenheiro e economista, é prefeito de São Paulo.


Estadão – Terça-Feira, 28 de Abril de 2009.


MP investiga Kassab por não pagar precatório e usar verba em outras áreas.


jezler - April 27, 2009 @ 2:20 pm · Filed under Municipal, News, Non-Federal Precatórios.


O Prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), é alvo de uma investigação do Ministério Público Estadual (MPE) por inadimplência no pagamento de precatórios alimentares (dívidas da administração com pensões, salários, aposentadorias, entre outras). Os inquéritos civis abertos pela Promotoria da Cidadania da capital apuram descumprimento das ordens judiciais de pagamento entre 2006 e 2008. Os recorrentes calotes e remanejamentos ilegais do Executivo fizeram o débito do Município com os precatórios em geral dobrar em cinco anos – de R$ 5,3 bilhões, em 2004, para os atuais R$ 11,3 bilhões. Como os ex-prefeitos Celso Pitta (PTN) e Marta Suplicy (PT), Kassab corre agora o risco de ser processado por improbidade administrativa.


A Câmara Municipal também está na mira do MPE. O promotor César Ricardo Martins, responsável por dois dos inquéritos, já reuniu provas de que dois vereadores – o líder do governo, José Police Neto (PSDB), e o ex-parlamentar Attila Russomanno (PP) – apontaram a verba destinada ao pagamento de precatórios como fonte de custeio para emendas (projetos prometidos em redutos eleitorais) em 2008. “Os recursos foram desvirtuados.”


Ao MPE, Police Neto admitiu a prática, alegando que o “desempenho do Executivo costuma ser baixo” nessa área. Para evitar que o Executivo faça o remanejamento como bem entender, argumentou o vereador, parlamentares passaram a atrelar projetos aos recursos reservados aos precatórios. Só em 2008, a Comissão de Finanças da Câmara aprovou corte de R$ 1,2 bilhão na verba de R$ 2,1 bilhões prevista para esse pagamento. Em um ano eleitoral, o dinheiro serviu para suplementar a dotação de mais de 300 projetos e programas sociais do governo.


O vereador Milton Leite (DEM), relator do orçamento à época, endossou as declarações de Police Neto. “Estou na Câmara há 12 anos e nunca o governo passou da margem dos R$ 400 milhões anuais em (pagamento) precatórios”, alegou. “Se em 2007 o governo gastou pouco mais de R$ 400 milhões, porque eu deixaria mais de R$ 2 bilhões em precatórios? O governo não pode perder o poder de investimentos em áreas como Saúde e Educação.”


13º SALÁRIO.


O uso da verba de precatórios alimentares para outras finalidades é ilegal, pois fere o artigo 100 da Constituição. Todos os anos, o Tribunal de Justiça (TJ-SP) encaminha ao Executivo uma lista com os nomes dos beneficiários das ações transitadas em julgado (sem possibilidade de recursos) e o montante a ser pago. A lei manda que os débitos sejam quitados até o fim do ano seguinte, mas não é o que tem ocorrido. Em 2006, o valor total indicado pelo TJ-SP foi de R$ 240 milhões. Entretanto, apenas R$ 122 milhões foram pagos. Quase todo o restante, cerca de R$ 115 milhões, acabou sendo usado no pagamento do 13º salário de servidores.


Em 2007 e 2008, Kassab voltou a contingenciar parcela significativa de dinheiro dos precatórios alimentares. Mas, em vez de remanejar os recursos, preferiu mantê-los em caixa. “Tão grave quanto empregar a verba em publicidade é usá-la para fazer superávit”, disse o promotor, referindo-se à condenação imposta em maio de 2008 à ex-prefeita Marta. “É ato de improbidade administrativa.”


No Relatório Anual de Fiscalização de 2007, emitido pelo Tribunal de Contas do Município (TCM), auditores apontaram um “surto” de sequestro judiciais nas contas da Prefeitura provocado pelo calote nos precatórios alimentares. Entre 2005 e 2008, na gestão Serra/Kassab, a Justiça determinou o sequestro de R$ 678 milhões.


PAGAMENTOS.


2006 *: Encaminhado pelo TJ-SP – R$ 240 milhões. Previsto no orçamento – R$ 240 milhões. Pago – R$ 122 milhões.


2007 : Encaminhado pelo TJ-SP – R$ 407 milhões. Previsto no orçamento – R$294 milhões. Pago – R$ 124 milhões.


2008 : Encaminhado pelo TJ-SP – R$ 931 milhões. Previsto no orçamento – R$ 381 milhões. Pago – R$ 160 milhões.


*Não inclui sequestro judicial Bruno Tavares e Diego Zanchetta.


Estadão – Segunda-Feira, 27 de Abril de 2009 | Versão Impressa.


Gestão Kassab diz ser a Maior Pagadora de Precatórios.


jezler - April 27, 2009 @ 11:21 am · Filed under Municipal, News, PEC 12/06, Public Finances.


AE – Agencia Estado.


SÃO PAULO – A gestão José Serra-Gilberto Kassab diz ser a maior pagadora de precatórios da história de São Paulo. Entre 2005 e 2008, Kassab executou R$ 558 milhões em dívidas de precatórios . Já os sequestros judiciais por inadimplência totalizaram R$ 678 milhões . Em nota, a Secretaria de Finanças disse que os precatórios alimentares (quase 90% do total) são ?prioridade absoluta?. O texto pondera, no entanto, que os pagamentos são feitos na medida da disponibilidade de caixa, “buscando conciliar o direito legítimo e regular do credor à necessidade de investimentos em saúde, educação, transporte, pagamento de salários, merenda escolar, remédios e tudo o mais que o Município tem o dever de prestar” .


O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), é alvo de uma investigação do Ministério Público Estadual (MP) por inadimplência no pagamento de precatórios alimentares (dívidas da administração com pensões, salários, aposentadorias, entre outras). Os inquéritos civis abertos pela Promotoria da Cidadania da capital apuram descumprimento das ordens judiciais de pagamento entre 2006 e 2008.


O governo informa ainda que a maior parte da dívida do Município com precatórios tem origem em débitos não pagos desde a década de 90 e questionados na Justiça . A nota relata ainda propostas do governo para evitar o surgimento de novos precatórios, incluindo a aprovação do Projeto de Emenda Constitucional nº 12, do qual Kassab é um dos principais defensores . A PEC 12, em tramitação no Senado, legaliza a prorrogação do pagamento de precatórios. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


PEC Muda Pagamento de Precatório para Privilegiar Salários.


jezler - April 23, 2009 @ 3:22 pm · Filed under News, PEC 12/06.


A Câmara analisa a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 351/09, do senador Renan Calheiros (PMDB-AL), que muda as regras para o pagamento de precatórios , dando preferência aos créditos de natureza alimentícia – como salários, pensões e benefícios previdenciários -, sobretudo aqueles cujos titulares tenham 60 anos de idade ou mais. Essa preferência, de acordo com a proposta, entrará em vigor assim que a emenda constitucional for promulgada – sem precisar de regulamentação.


Atualmente, a Constituição determina que os pagamentos de precatórios sigam a ordem cronológica de apresentação, mas os créditos de natureza alimentícia não entram nessa fila.


Leilões Enquanto os outros dispositivos da proposta não forem regulamentados, a PEC determina a utilização de um mecanismo de leilão de deságios, pelo qual recebe antes o credor que aceitar um desconto maior do valor que tem a receber. Essa modalidade, no entanto, não valerá para os créditos “alimentícios” nem para valores considerados “pequenos”.


Os recursos direcionados aos leilões serão equivalentes a 60% do que estados (incluindo o Distrito Federal) e municípios tiverem disponíveis em conta especial para esse destino. Esse montante será estabelecido segundo o tamanho do estoque de precatórios e a receita corrente líquida (RCL) da “entidade devedora”.


Para os estados e o Distrito Federal o percentual da receita direcionada à composição dessa conta será de: – no mínimo 0,6%, quando o estoque de precatórios pendentes corresponder a até 10% da RCL; – no mínimo 0,8%, se esse estoque corresponder a até 15%; – no mínimo 1,5%, se o estoque de precatórios for de até 35%; – no mínimo 2%, quando o estoque corresponder a mais de 35% da RCL.


No caso dos municípios, o percentual da receita direcionada a essa conta será de: – no mínimo 0,6%, quando o estoque de precatórios pendentes corresponder a até 10% da RCL; – no mínimo 0,8%, se esse estoque corresponder a até 15%; – no mínimo 1%, se o estoque de precatórios for de até 35%; – no mínimo 1,5%, quando o estoque corresponder a mais de 35% da RCL.


Correção monetária A PEC também faculta ao credor entregar os precatórios para a compra de imóveis públicos, conforme legislação local. Também determina que a correção desses títulos, independentemente de sua natureza, será feita pelo índice oficial de correção e percentual de juros incidentes sobre a caderneta de poupança, ficando excluída a incidência de juros compensatórios.


Tramitação A admissibilidade da proposta será analisada pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania. Se for aprovada, será criada uma comissão especial para analisar o mérito da matéria, que ainda deverá ser votada em dois turnos pelo Plenário.


Íntegra da proposta: – PEC-351/2009.


Reportagem – Rodrigo Bittar Edição – Natalia Doederlein.


Agência Câmara – 23/04/2009 12h19.


OAB critica PEC dos Precatórios; Deputado Cogita Mudanças.


jezler - April 23, 2009 @ 2:16 pm · Filed under News, PEC 12/06.


A Proposta de Emenda à Constituição 351/09 , que estabelece novas regras para o pagamento de precatórios, pode ser modificada na Câmara. A matéria, que já foi Reportagem – Marise Lugullo Edição – Natalia Doederlein.


Agência Câmara – 23/04/2009 12h22.


Brazil Federal Debt Up 1.3% In March To BRL1.398 Trillion.


jezler - April 22, 2009 @ 5:36 pm · Filed under News, Public Finances, waldemarjezler.


BRASILIA (Dow Jones)–Brazil’s total federal debt rose by 1.3% in March to 1.398 trillion Brazilian reals ($633 billion) due to net debt issuance and interest accrual during the period, the government reported Wednesday.


In a joint statement, Brazil’s central bank and treasury said the country’s domestic federal debt load denominated in reals rose 1.6% from February to BRL1.27 trillion.


The government reported the overall increase in domestic federal debt came alongside BRL8.45 billion in net debt issuance and BRL11.95 billion in interest accrual.


At the same time, Brazil’s outstanding federal debt overseas fell 2.36% from February to BRL130.5 billion .


The treasury said the decrease was due mainly to a appreciation of the local currency, the real, which strengthened by about 5.0% against the dollar during the period.


Speaking after the release of the figures, public debt coordinator Guilherme Pedras said the domestic debt result was influenced by the issuence of BRL13 billion in LTN fixed-rate debt during the month to provide credit for the country’s BNDES National Development Bank. The debt, which matured on April 1, is part of a government plan to issue up to BRL100 billion through the end of the year for BNDES financing. Under the contract, the BNDES will repay the funds at the country’s TJLP long-term interest rate of 6.25%, plus 2.5% annually.


Meanwhile, regarding the profile of federal domestic debt in March, treasury officials reported floating-rate debt fell to 37.18% of total domestic debt during the month from 38.66% in February.


At the same time, the share of fixed-rate debt rose to 30.09% from 28.40%.


The share of inflation-indexed bonds fell during the month to 30.10% of debt from 30.25%, while exchange-linked debt fell to 1.06% of the total from 1.11% the previous month.


Brazil’s government has been attempting to lengthen its debt profile and reduce its exposure to interest-rate risk through increased sales of fixed-rate and inflation-indexed debt.


The government reported Tuesday that average maturity of domestic debt fell to 3.31 years in March from 3.38 years in February.


Additionally, the government said the volume of domestic debt maturing in the coming 12 months rose in March to 32.28% from 29.96%. The average cost of debt coming due in the next 12 months fell to 13.40% annually from 13.54% annually.


The March federal debt figures released Wednesday represent a key element of consolidated public-sector debt figures scheduled for release next week.


Brazil posted net consolidated public sector debt in February of BRL1.09 trillion, equivalent to 37.0% of gross domestic product.


-By Gerald Jeffris, Dow Jones Newswires; (5561) 3335-0832; gerald.jeffris at dowjones.com.


APRIL 22, 2009, 3:46 P.M. ET.


Cresce Pressão de Municípios por Moratória.


The finances of the Municipalities are being negatively affected by the economic slowdown and they are resorting to various types of relief. Below they are requesting that their social security obligations be financed in 20 years. Another line of action has been to push a Constitutional Amendment that reduces their annual commitments to the payments of Precatórios.


Prefeitos apresentam dados sobre impacto de débitos do INSS.


Liderando a pressão para que o governo dê moratória aos municípios, com o alongamento de suas dívidas previdenciárias por até 240 meses, a Confederação Nacional dos Municípios (CNM) concluiu levantamento para mostrar o impacto dos débitos do INSS nas contas das prefeituras, em tempos de baixa arrecadação.


No primeiro trimestre, a União reteve R$594 milhões do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) referentes a esses débitos. O desconto automático no repasse do FPM corresponde às dívidas de 4.013 municípios. No primeiro trimestre, o repasse da União para os municípios foi de R$11,9 bilhões, segundo a CNM, ou seja, R$1,7 bilhão a menos que no mesmo período de 2008. Para o ano, as prefeituras acreditam que as perdas chegarão a R$8 bilhões. O governo anunciou ajuda de R$1 bilhão e se comprometeu a garantir os repasses de 2008 (R$51,3 bilhões)


Os prefeitos dizem ter sofrido grande redução no repasse do FPM devido aos descontos, além da queda de arrecadação. Outros, diz a CNM, ficaram sem repasse. Esta semana, o PMDB quer fechar com a relatora da medida provisória 457, deputada Rose de Freitas (ES), seu parecer, para acatar reivindicações dos municípios. A MP prevê o alongamento dos débitos em até 240 meses (20 anos). A CNM defende um encontro de contas, afirmando que os prefeitos devem R$22 bilhões ao INSS, mas a União teria dívidas com as prefeituras de R$25,4 bilhões. A Receita Federal reconheceria R$7 bilhões. A relatora deve, ainda, substituir a Selic (11,25% ao ano) pela Taxa de Juros de Longo Prazo (6,25%), para correção dos débitos previdenciários.


Cristiane Jungblut – O Globo – 20/04/2009.


Avança a PEC do Calote.


Pressionados por governadores e prefeitos, deputados federais preparam-se para sacramentar um assalto a milhares de credores dos municípios e dos Estados. A Proposta de Emenda Constitucional (PEC) nº 12/2006, também conhecida como PEC do Calote, foi aprovada no Senado e já chegou à Câmara dos Deputados, onde foi encaminhada à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Se for convertida em lei, os governos estaduais poderão destinar ao pagamento de precatórios – débitos já confirmados pela Justiça – apenas 2% de sua receita corrente líquida. Para as prefeituras, a obrigação não passará de 1,5%.


Como consequência, pessoas desapropriadas poderão levar décadas para receber a compensação, apesar de terem seu direito reconhecido por um tribunal, e muitas delas provavelmente não viverão o bastante para ver esse dinheiro.


“ Alongar o pagamento e limitar o orçamento para precatórios tira o poder do Judiciário de decidir. É uma afronta à Justiça e às decisões já transitadas em julgado “, disse recentemente o presidente da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra), Cláudio José Montesso. Se a PEC 12 for aprovada tal como está, o Estado do Espírito Santo levará mais de 100 anos para pagar a dívida atual, segundo o presidente da Anamatra.


De acordo com estimativa divulgada pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a dívida de precatórios da União, dos Estados e dos municípios deve estar em torno de R$ 100 bilhões. A dívida do Estado de São Paulo tem sido estimada em torno de R$ 18 bilhões.


Aprovada no Senado em 1º de abril, a PEC foi recebida na Câmara oficialmente no dia 14. No dia seguinte já foi nomeado o relator do projeto na CCJ, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). A rapidez no encaminhamento da matéria é compatível com a pressa de governadores e prefeitos, pressionados por ações de bloqueio de verbas para pagamento de precatórios.


O calote é velho, porque as dívidas se acumularam durante décadas tanto nas prefeituras quanto nos governos estaduais. Prefeitos e governadores desapropriaram imóveis para a execução de obras e não se preocuparam com o pagamento aos proprietários.


O assunto foi regulado pelos constituintes de 1988, no Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. Emendas constitucionais em 2000 e 2002 trataram novamente do assunto, assim como resoluções da Justiça Federal.


Nenhuma dessas medidas, apesar da previsão de parcelamentos, impediu a acumulação de precatórios, nos anos seguintes, nem levou os governos estaduais e municipais a tratar com respeito as decisões judiciais.


A pressão dos credores aumentou ultimamente, com vários bloqueios de receita obtidos na Justiça contra governos municipais e estaduais. Daí a ansiedade demonstrada por governadores e prefeitos.


A aprovação da PEC do Calote iniciará uma nova era de completa irresponsabilidade fiscal no País, comentou na sexta-feira o vice-presidente do Conselho Federal da OAB, o tributarista Vladimir Rossi Lourenço.


“Estados e municípios poderão promover desapropriações, contratar obras públicas e não honrar os compromissos, exatamente por antever que os valores não pagos poderão ser transformados em precatórios judiciais e, dessa forma, não ser pagos nunca”, afirmou.


A PEC estabelece também a possibilidade de leilões de direitos. Quem quiser renunciar a uma parte de seus créditos poderá vendê-los com deságio a quem tiver meios de negociar compensações com a entidade devedora. Segundo o vice-presidente da OAB, essa possibilidade equivale a uma violação da coisa julgada.


A aprovação da PEC do Calote poderá inaugurar, no entanto, algo pior que uma era de completa irresponsabilidade fiscal. Se o poder público puder desapropriar livremente, sem a obrigação de realizar o pagamento correspondente num prazo minimamente aceitável, os brasileiros passarão a conviver com o confisco legalizado.


A experiência do confisco de fato já foi vivida por um enorme número de famílias. Propriedades adquiridas ou construídas com a poupança acumulada em décadas de trabalho e sacrifício foram simplesmente tomadas por Estados e municípios. Mas até agora subsiste pelo menos a esperança, embora tênue, de algum ressarcimento. Com a PEC 12 nem isso restará.


Estadão | Segunda-Feira, 20 de Abril de 2009 | Versão Impressa.


PEC dos Precatórios já tem Relator na Câmara.


Apenas um dia após o recebimento formal do texto pela Mesa Diretora da Câmara dos Deputados, no dia 14, o presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), deputado Tadeu Filipeli (PMDB-DF), nomeou, anteontem, o relator da Proposta de Emenda Constitucional 12/2006 do Senado, que flexibiliza regras de pagamento, por Estados e municípios, de dívidas decorrentes de sentença judicial contra as fazendas públicas – os famosos precatórios . O parecer sobre admissibilidade e constitucionalidade da versão aprovada em 1º de abril pelos senadores caberá ao ex-presidente da mesma comissão, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) .


Tamanha agilidade na nomeação de relatores não é nada comum. Indica que pelo menos o PMDB, numericamente a maior força da Casa, e o presidente da Câmara, deputado Michel Temer (PMDB-SP) vão trabalhar para que a PEC vinda do Senado tramite o mais rapidamente possível na Câmara.


Considerados os prazos regimentais a serem seguidos e a necessidade de análise também por uma comissão especial, mesmo com boa vontade política e com o destrancamento da pauta (por enquanto obstruída por medidas provisórias), os prefeitos e governadores que pedem pressa na aprovação poderão se dar por muito satisfeitos se o plenário apreciar a PEC no fim deste semestre ou início do segundo .


A queda nos repasses constitucionais de receitas da União para os demais entes federados será um fator de pressão sobre os deputados, no sentido de aliviar o mais rapidamente possível o fluxo de pagamento de precatórios pelos tesouros, sobretudo os municipais. Pelo menos no Senado, onde a proposta passou num única dia pela CCJ e pelo plenário, o apelo dos prefeitos “colou”.


Para garantir rapidez também na Câmara, a recém-empossada diretoria da Frente Nacional de Prefeitos, agora sob comando de João Coser (PSDB), de Vitória, pretende nomear hoje uma comissão que se encarregará de traçar e executar estratégias de pressão sobre os parlamentares, em defesa da aprovação, sem emendas, do texto. Afinal, se houver emenda, a PEC terá de voltar ao Senado.


A ansiedade dos chefes municipais é compreensível. O problema dos precatórios vencidos e não pagos, principal objeto da PEC, os obriga a conviver diariamente com o risco de sequestro judicial de receitas , que já criou situações graves em diversos municípios. Um dos exemplos mais emblemáticos é o de Santo Antônio do Pinhal, pequena cidade do interior paulista, com 7 mil habitantes. Em 2007, por causa de uma ordem de sequestro para pagamento de precatórios relacionados a áreas desapropriadas em 1973 e 1985, a prefeitura teve bloqueados nada menos do que 40% do valor de todo o seu orçamento anual, então de R$ 9,6 milhões, dos quais R$ 180 mil chegaram a ser efetivamente sacados de imediato pelos credores. “Por absoluta falta de condições de governabilidade, tivemos que decretar situação de emergência, suspender as aulas e fechar as escolas e creches municipais, pois ficamos sem dinheiro para comprar merenda escolar e combustível para o transporte das crianças (carentes)”, conta o prefeito reeleito do município, Augusto Pereira (PT). Ele relata que também se viu obrigado a reduzir a coleta de lixo pela metade e fechar dois de três postos de saúde. E o único que permaneceu aberto foi só para emergências. O bloqueio acabou suspenso uma semana depois, permitindo retomada de atividades, graças à concessão de uma liminar favorável ao município pelo Supremo Tribunal Federal. Mas a insegurança de Augusto Pereira persiste porque o mérito da ação não foi julgado.


A FNP ainda não tem um levantamento sobre quantos municípios já foram alvo de ordem de sequestro judicial de receitas por causa de precatórios em atraso. O secretário executivo da entidade, Gilberto Perre, acredita que sejam centenas. Só no Estado de São Paulo, ele lembra dos exemplos de Diadema, Guarujá e a capital. No Rio Grande do Sul, receitas da prefeitura de Canoas também foram objeto de bloqueio judicial em 2007, embora o município tenha conseguido evitar o sequestro, ao recorrer, conta o atual prefeito, Jairo Jorge da Silva (PT).


Em muitos casos, o sequestro efetivamente acaba ocorrendo. A capital paulista, por exemplo, teve sequestrados, só em 2008, R$ 250 milhões. Mesmo em casos como este, em que o bloqueio representa parcela pequena da receita total da cidade, o risco de sequestro incomoda muito por atrapalhar o planejamento dos gastos e, com isso, também a respectiva eficiência, disse a essa coluna, ontem, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM). Não é à toa que a mobilização em favor da PEC, que permite aos entes adotar um percentual máximo de comprometimento da receita com precatórios , reúne num mesmo coro administradores de partidos de oposição ao governo federal, como ele, e petistas históricos, como Jairo Jorge da Silva, de Canoas.


Nos casos em que não cabe ação de sequestro ( precatórios de natureza alimentícia), os municípios têm sido alvo de pedidos de intervenção. O advogado Igor Tamasauskas lembra que existem cerca de 4 mil ações no STF pedindo afastamento de prefeitos ou governadores por este motivo. O STF tem protelado o julgamento dessas ações, supõe-se que pela impossibilidade prática de conseguir interventores suficientes e pelo fato de isso não resolver o problema da falta de dinheiro para pagar a dívida vencida de precatórios – que em 2004 era estimada em R$ 18 bilhões no âmbito dos municípios e outros R$ 44 bilhões no âmbito dos Estados.


Apesar da mobilização dos prefeitos e da vontade política já demonstrada pelo maior partido da base, no entanto, a aprovação da PEC pela Câmara não necessariamente será fácil nem rápida. Setores do próprio governo temem que o texto seja vulnerável a contestações da Ordem dos Advogados do Brasil, para quem a PEC é a institucionalização do calote sobre credores do setor público, devido à quebra da ordem cronológica no caso de precatórios de natureza não-alimentícia. Além de dúvidas do governo, há divisão entre partidos da oposição, como o PSDB, embora os oposicionistas tenham apoiado a PEC no Senado.

Por que os grandes jornais desprezam as pequenas notícias

Por que os grandes jornais desprezam as “pequenas notícias”?


As manchetes dos três grandes jornais brasileiros (Folha, Globo, Estadão) são irrelevantes como notícia e diversionistas politicamente. Irrelevantes, porque ultrapassadas pelos acontecimentos – a mídia eletrônica não só as divulga antes como atualiza a notícia atrasadamente impressa. Diversionista, porque não revela a realidade sociopolítica, também escondida pela mídia eletrônica.


A falácia jornalística de expor os fatos imparcialmente é um mito que mascara a superficialidade política e nos desvia do principal – o conhecimento estrutural da sociedade, que não se atinge por conhecermos as tricas e futricas do poder, mas, sim, por entendermos a verdadeira natureza do corpus social – isto é, por dentro das estruturas socioeconômicas, descobrirmos quem somos e quem são as pessoas com quem interagimos e conformam a massa manipulada pelos poderosos. Se ainda não desconfiaram, é uma questão de perceber e nos conscientizarmos da luta de classes, por mais que ela esteja camuflada na alienação predominante no Brasil.


Atualmente a luta de classes não se “exalta” apenas na práxis, mas principalmente nas superestruturas que se acanalharam a tal ponto que preferem mais as fake news e desvios culturais do que o controle dos meios ideológicos da burguesia (escola, religião, imprensa etc.), o que resulta em uma prática proto-fascista – se for necessário um exemplo temos as excrecências morais do bolsonarismo.


Nesse quadro, a polarização rebaixou algumas escolas pagas pela classe média a disseminadoras de preconceitos e deseducação. Já não são os mestres que planejam o currículo, mas os pais que forçam professores a transmitirem as suas (deles, pais) intolerâncias política, moral, sexual etc. aos seus filhos. Nessas escolas, sai a pedagogia, entra a política – justamente o argumento que os deturpadores do ensino usam para impor sua ideologia.


São vários os absurdos cometidos por tais escolas. As que se destacam no noticiário são tratadas formalmente como “exóticas”, ignorando-se o conteúdo daquilo que os pais pagantes pensam ser e impõem como se fossem os princípios cristãos e democráticos – historicamente os extremistas e fanáticos se apresentam como protetores da moral e dos bons costumes, apoiando-se nos preconceitos sobre sexo, política etc.


Tais fatos não são manchetes nem analisados pela imprensa. Para a mídia é mais interessante mostrar as cafajestices de Bolsonaro do que elucidar os leitores sobre o processo doentio que está formando pequenos mussolinis e malafaias, em escolas que se expandem rapidamente. A autodenominada pluralidade dos jornais tem limites bem definidos.


Escondida na mídia eletrônica, sem merecer destaque nos jornais impressos, é o caso da escola Recanto do Espírito Santo, de Itaúna (MG). No dia 12 desse mês sua direção enviou uma “cartilha” aos pais de alunos, alertando-os “sobre materiais escolares que tenham ideologias anti-famílias”. Entre os símbolos que ameaçam as crianças destacam-se “a bandeira LGBQWIA+, imagens de Che Guevara, de unicórnios e caveiras”.


Diz a “cartilha”: “Você já pensou que a escolha dos itens escolares também faz parte da formação das crianças? Antes de escolher, faça a si mesmo algumas perguntas: Qual o significado desta estampa? O que ela representa para meus filhos?”.


Para ilustrar, a “cartilha” exibe a foto de Che Guevara com a legenda: “Os cadernos e camisetas com caveiras (cultura da morte), foice e martelo e com o rosto de Che Guevara (grande assassino e revolucionário comunista), estão na moda há décadas. Mas hoje vejo também outros riscos (…) ideologias anti-família têm feito de tudo para se instalar em nosso meio. O arco-íris que é um símbolo de aliança de Deus com seu povo foi raptado pela militância LGBT, que o utiliza em suas bandeiras que têm, atualmente, seis cores: vermelho, laranja, amarelo, verde, anil e violeta”. Por sua vez o unicórnio representaria “pessoas não binárias, ou seja, não se enquadra em nada e vive totalmente sem padrões. Resumindo, é mais um símbolo contrário à lei natural, contrário aos planos de Deus”.


Essa escola já se salientou no ano passado, ao culpar a estuprada pelo estupro: “Quando a mulher decide expor partes do corpo que deveriam estar cobertas, se torna uma sedutora, partilhando assim a culpa do homem. De fato, os teólogos ensinam que o pecado da sedutora é muito maior que o da pessoa seduzida”.


Essa mentalidade está vitoriosa. No início do governo Bolsonaro os jornais a denunciaram e combatiam. Hoje, que tal disparate prospera em inúmeras escolas, trata-se o fato como “normalidade” exótica, sem interpretar o seu real significado. Estamos a um passo de aceitarmos “naturalmente” uma força coercitiva que forma futuros tiranetes moralistas.


Das mesma natureza é o processo instaurado contra William Bonner, âncora da Globo, pelo “crime” de incentivar a vacinação infantil! O fato é tão absurdo que se chegou ao pedido de prisão do jornalista, negado pela Justiça do Distrito Federal no dia 16 passado. Segundo a notícia “o autor do processo acusa o apresentador do Jornal Nacional de participar de uma suposta organização criminosa” que teria, ainda, “outros profissionais da emissora, para falar sobre os impactos positivos da vacina no combate à pandemia” – é doidice demais a “criminalização” dos benefícios da vacina. Bonner também foi acusado de induzir as pessoas ao suicídio, estar ligado a grupos que contaminariam água potável para provocar epidemias etc.


Estes fatos, da escola e do processo contra o jornalista, mostram uma sociopatia subterrânea que, rapidamente, emerge no Brasil e deixará raízes mesmo que Bolsonaro seja derrotado. Mereceriam manchetes e análises profundas, o que está longe da preocupação da mídia democrática, burguesa, liberal, neoliberal ou como se preferir chamá-la, mas, sobretudo, alheia ao que foge aos interesses dos seus anunciantes.


Pequenas Notas – 07-03-2022.


Pequenas Notas – 05-03-2022.


Má-fé e ignorância.


Ao dizer que a mulher ucraniana é “fácil” porque é pobre, o deputado Arthur do Val (o célebre Mamãe Falei) precisa de um corretivo ou uma reeducação? Sua má-fé é notória, mas sua ignorância ainda maior. Portanto, não o esfolemos vivo – basta repudiá-lo e, se possível, obrigá-lo a um curso de boas maneiras. Mesmo Bolsonaro, relutantemente, está aprendendo que não se enfia o dedo no nariz em público e não se diz palavrão na missa.


Estudos de caso.


Putin já é um caso de psiquiatria: os psicanalistas parece que não lhe consertaram a doidice, portanto precisa de internamento – embora os hospitais psiquiátricos estejam fora de moda. Mas se ele estivesse internado e dopado o mundo estaria mais seguro. Seu inimigo, o presidente da Ucrânia, Zelensky, ainda é um caso psicanalítico, beirando a necessidade da intervenção psiquiátrica – sua megalomania e delírio de mártir heroico estão custando a vida de milhares de ucranianos.


Falta-lhes Sancho Pança.


Governantes são frequentemente doidos, senis, imaturos e irresponsáveis. Trump recusa-se a tirar sua turbulência de cena e Biden é um tiozão que, de terno, parece estar de pijama. São cavaleiros da triste figura ao contrário de dom Quixote, que não fazia mal a não ser a si próprio. A agravante é que os donos do mundo não têm um Sancho Pança para lhes arrebatar a lança. E disparam para todos os lados.


O povo gosta de doidos.


Aviso à esquerda brasileira: o eleitor gosta de malucos. Quando um doido se destaca na política o povo perde o senso crítico e volta-se para o excêntrico. De Tiririca chegamos a Bolsonaro. Mas os italianos seguiram Mussolini, sem perceber que os seus trejeitos ao discursar anunciavam a loucura guerreira (invasão da Abissínia) e a fanfarronice macarrônica (óleo de rícino nos inimigos). Hitler fascinou os alemães, que não viram nos seus esgares e arroubos discursivos o potencial genocida. O Brasil encantou-se com a vassoura de Jânio Quadros, sem perceber a sua instabilidade emocional. E como ninguém aprende as lições da histórica, “esse povo, de quem já fui escravo, não mais será escravo de ninguém”, como escreveu Getúlio na sua carta testamento, escolheu Bolsonaro para “libertá-lo”.


Peqeunas Notas – 01-03-2022.


Rotos e esfarrapados.


Enquanto a imprensa ocidental chora as pitangas com a brutalidade do ataque russo à Ucrânia, os Estados Unidos lançam mísseis sobre a Somália, matando crianças e civis – cadê a noticia? (Escondidinha nos pés de página e ignorada nas “globonews” da vida.) O ataque da aviação norte-americano aconteceu ontem (segunda-feira (28/02), na fronteira da Somália com o Quênia. Como sempre, Tio Sam diz que estava caçando terroristas.


Brutos, sujos e malvados.


Entre 2022 e 2022 os EUA realizaram 116 ataques aéreos no território da Somália. A Anistia Internacional, depois de cada bombardeio, informou sobre mortos e feridos. Além dos ataques aéreos a Somália é vítima de grupos islâmicos extremistas e de uma prolongada seca. Nesse mesmo período contam-se às dezenas os mortos pelos ataques de Israel aos palestinos: como o Tio Sam, o governo israelense diz que age “preventivamente” – na dúvida, mata crianças, velhos e civis. Cadê as lágrimas da grande imprensa?


Nada justifica, tudo explica.


Nada justifica o covarde ataque russo à Ucrânia, mas o conjunto da obra explica como a política de “dois pesos, duas medidas” controla a informação e manipula a notícia de acordo com as conveniências de cada lado. Nesse negócio de matar inocentes, tanto a Al Qaeda, Israel, os Estados Unidos e a Rússia empatam – mas, nós, aqui do lado “ocidental e cristão”, viajamos da onda dos que transformam os fatos em ideologia. Somos capazes de chorar por um país até ontem desconhecido e do qual estamos distantes, mas não lamentamos a nossa guerra interna: quando, em que tempo e circunstância, nossa “imprensa livre” chorou pelo genocídio dos negros (que continua em marcha)? Fácil de responder: quando não se compromete com os poderosos e os “assassinos” são marginais e excluídos como os que espancaram até a morte o congolês Moise Mugenyi Kabambe – aliás, a “indignação” veio no rastro do “Black lives matter” norte-americano, que se tornou moda entre pequenos burgueses brasileiros, “compensando” o fato de que suas empregas usam a entrada de serviço…


Fim dos correspondentes.


A invasão da Ucrânia também confirmou uma “novidade”: não existem mais correspondentes de guerra. O que há são “locutores” com cara espantada dizendo que as bombas caem – mas sem explicar como nem porquê. Falar nisso, e já que esse blog flerta com o passado, leiam O cerco de Sebastopol , de Tolstói, escrito em 1860. Ele narra a mutilação das vítimas dos bombardeios, há quase duzentos anos – é, praticamente, a mesma guerra de hoje. Uma crueldade de fazer inveja à matança atual, com um detalhe: só morriam militares. Com a covardia atual dos drones militares matam civis para se livrarem do combate direto.


O poder é assexual.


Algumas precipitadas estão dizendo que se a liderança dos países envolvidos fosse de mulheres não haveria guerra. A besteira dispensa comentários, mas não custa lembrar a rainha Vitória celebrando as matanças na Índia, Elizabeth II pregando medalhas no peito de assassinos e Margareth Thatcher ao mandar seus porta-aviões às Malvinas. O imperialismo, como o colonialismo, é assexual.


Pequenas Notas – 19-02-2022.


Fotografia da fachada de uma casa em Tiradentes, MG (1970). Deus, Pátria e Família é um lema que vai além do integralismo e do fascismo e é presença subliminar nos lares brasileiros. É entendido como uma regra de ouro para milhões de pessoas, dopadas desde a investida do catolicismo colonialista, já no século xvi, por uma visão de mundo estreita e preconceituosa. Bolsonaro acerta na mosca ao repetir o patético apelo místico patriota de Plínio Salgado: no Brasil, quem é contra Deus, a Pátria e a Família? Os autoritários apresentam-se à nação como defensores da moral cristã enquanto ultrajam o cristianismo em suas ações. Falam em paz e exaltam as armas. Falam de honestidade e vivem de rachadinhas. Falam de democracia e bajulam ditadores. Bolsonaro não cometeu nenhum ato falho nem é besta – ele sabe o que faz e manipula a alienação popular.


É tão burro como parece?


Ao bajular o ditador húngaro Bolsonaro soltou um “Deus, Pátria e Família”. A mídia criticou o lema fascista. Mas será que a burrice de Bolsonaro é tão burra quanto se pensa? Deus, pátria e família são os valores mais comuns e mais fortes dos brasileiros. Quase a totalidade da nação acredita em Deus, todos se dizem patriotas e a família é a trincheira do sistema na luta contra os libertários. Portanto, ele deu o recado mais fácil de ser entendido pelo povo. A burrice está em tratar Bolsonaro como burro, o que ele evidentemente é, porém, esperto. Todo burro, quando é esperto luta com mais inteligência do que os inteligentes que confiam apenas na sua sapiência – o burro dá coices e não tem escrúpulos. Não por acaso Bolsonaro começa a subir nas pesquisas eleitorais: há três meses tinha 23% das intenções de voto, subiu para 28% e agora chegou a 31% – contra os 48/43% de Lula – que está caindo. Não auguro, lamento.


Uma cópia mal feita.


A mídia brasileira, eletrônica e impressa, sempre foi racista e preconceituosa. Eis que um policial norte-americano pisou no pescoço de um negro. Imediatamente os cardeais da imprensa no Brasil descobriram que “vidas negras importam”. E contrataram afrodescendentes para colunistas. O mesmo processo já ocorria com homossexuais e feministas. É uma velha história: o que acontece nos Estados Unidos repercute e é imitado no Brasil. Antigamente, de imediato, só adotávamos mascar chicletes ou comprar discos de rock-and-roll, além de ir ao cinema lavar o cérebro com a ideologia de Hollywood. Hoje, com a internet a coisa ficou mais ligeira. Adotamos mais rapidamente o que vira moda nos esteites.


Perigo por todo lado.


Se a imitação das normas da imprensa norte-americana abriram as portas da mídia brasileira a alguns antes excluídos, a reação não tardou a inventar o “racismo reverso” e a “liberdade de expressão”, que para o ministro da Saúde está “acima da vida” – o “racismo reverso” tenta tornar a vítima em culpado ressentido e a “liberdade de expressão” justifica a difamação ideológica. Alguns desses brucutus, para defender a legalização de um partido nazista, chegaram a citar a Primeira Emenda da constituição dos Estados Unidos – faz sentido para os sabujos: a lei de lá, por ser deles, deve indicar o que devemos fazer (copiar).


Vavá também era.


Com o “lugar da fala” em moda e o politicamente correto ditando regras, será que posso escrever que Lima Barreto dizia bem e escrevia mal e Machado de Assis falava mal e escrevia bem – sem ser chamado de racista, já que os dois eram negros? Acuado, me defenderia: escrevi alguns livros sobre racismo. Então, me jogariam na cara – e o lugar da fala?, afinal, sou branco. Por essas e outras me alegro de não ser comentarista futebolístico, pois escreveria que o Lukaku tem técnica deficiente e massa muscular privilegiada. Pois não é que estão acusando um cronista de ser racista por isso? Para o pessoal “correto”, dizer que o Lukaku é um centroavante sarado com pouca técnica é sinal de racismo, que só valoriza o físico dos negros, menosprezando o seu intelecto, no caso, a arte de chutar bola. Ainda bem que não sou cronista esportivo. Mas que o Lukaku é grosso, é: como o Vavá, campeão do mundo em 1958, também grosso, forte – e branco, artilheiro nato).


Pequenas Notas – 15-02-2022.


Em tempos sombrios os palhaços, manipulados pelos donos do poder, podem se tornar tiranos. Quem ri dos brutos pode chorar sangue depois.


Há quem acredite.


Nas redes sociais um erudito professor pediu que nos abstivéssemos de caricaturar o defunto Olavo de Carvalho e o Jair Bolsonaro. Deixemos o morto em paz (mas parece improvável que ele se aquiete). Quanto ao Bolsonaro é difícil ficar “sóbrio” diante do espetáculo da sua vulgaridade – aliás, bem pensada e melhor executada. O presidente é uma caricatura ambulante e seu séquito não perde ocasião. Agora, divulgaram uma “meme” na internet, com a capa falsa da revista Time, promovendo-o a Prêmio Nobel e informando que ele salvou o mundo de uma guerra, ao convencer Putin a recolher seus canhões.


Paradoxal seriedade.


Ele e sua turma não podem ser levados a sério – e eis a contradição: justamente por isso a situação é da maior seriedade. O youtuber Monark também é duro de engolir e nem merece menção por pessoas de mais de dois neurônios. E é aí que mora o perigo: tais figuras são mais “positivas”, isto é, conseguem sucesso quanto mais rebaixam o diálogo – na verdade um monólogo de brutalidades. Como enfrentar essa situação?


Lembrem-se do nazismo.


Na Alemanha pré-nazista, quando Hitler e Goebbels preparavam-se para a “tomada de Berlim”, editando panfletos grosseiros, mentindo, caluniando e agredindo, eram ridicularizados e motivo de chacota da gente “séria”. Até que…


Vamos fazer o quê?


O professor tem razão: se rirmos e brincarmos agora, choraremos lágrimas de sangue em breve. A idiotia está no poder e conseguiu desmontar praticamente a base cultural custosamente recuperada depois da ditadura militar. Seu próximo passo é impor o vácuo de ideias para a prevalência ideológica de um fascismo distorcido pela extrema ignorância. Essa gente, pelo tamanho da sua incompetência, não tem escrúpulos e não respeita a dignidade humana. Já deram sobejas provas disso. A questão está posta: rir ou o quê, para que não choremos?


Think about.


Sim, haverá eleição. Bolsonaro pode ser derrotado. Mas o bolsonarismo seguirá triunfal. O centrão não perderá o comando da picaretagem. Think about.


Pequenas Notas – 05-02-2022.


O Imazom (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia) informa que de agosto de 2022 a julho de 2022 o desmatamento aumentou 51%, recorde absoluto e marca do governo Bolsonaro. O contrabando de madeira cresceu. Contrabandear madeira do Brasil para os Estados Unidos, por exemplo, hoje é mais lucrativo do que o tráfico de cocaína. A boiada passa e novos métodos de rapinagem inauguram uma nova era na roubalheira contra o país.


Como se rouba o Brasil.


Uma reportagem de Allan de Abreu e Luiz Fernando Toledo, na edição 185, da Piauí de janeiro último, denunciou o contrabando de madeira para os Estados Unidos – a “operação” foi facilitada pelos agentes bolsonaristas no Ministério do Meio Ambiente, com a complacência (ou cumplicidade) do então ministro Ricardo Salles. Entre os contrabandistas estava um traficante de cocaína. Os repórteres reconstituíram uma das remessas clandestinas do Pará até Nova York: “O lote é constituído por 53 metros cúbicos de ipê amarelo, o equivalente à derrubada de 14 árvores, suficiente para carregar dois caminhões. Da floresta no Pará, essa quantidade de madeira saiu custando em torno de 21 mil reais. Quando chegou às lojas de Nova York, depois de percorrer 5,6 mil quilômetros por terra e mar durante três meses, seu preço já estava em 1,8 milhão de reais. No percurso, entre fevereiro e abril de 2022, valorizou 89 vezes, cinco vezes mais do que a cocaína – não à toa, atraiu o interesse da maior facção criminosa do país, o PCC (Primeiro Comando da Capital)”. A reportagem completa está disponível na internet.


Nova profecia profética.


Quando até alguns cientistas diziam que a pandemia estava de saída, avisei que em fevereiro e março a covid voltaria com força (Pequenas Notas de 15-11-2021). Pra saúde do meu cabotinismo profético e desgraça geral do povo, acertei. Hoje, faço outra previsão da boca maldita: Bolsonaro “corre o risco” de ser reeleito.


Ele é a cara do Brasil.


Simples: ele é a cara do Brasil. É a imagem escarrada do “brasileiro genérico”, aquela maioria da população que detesta índio, debocha dos nordestinos (os “pau-de-arara”), despreza os pobres (mesmo sendo pobre), ataca quilombolas, defende porrada contra os diferentes, pede a pena de morte, quer armas pra se defender dos comunistas, trata as mulheres como objeto (se for “novinha ou gostosa”), nega a vacina e diz que a imprensa mente (mas quando ela mente mesmo, ele acredita). Como essa gente cordial (que mata preto a paulada), Bolsonaro posa de cristão, crente devoto e moralista defensor da família. Suas “jogadas” (rachadinhas etc.) são por “debaixo dos panos”, igual ao sonho de todo brazuca esperto, que fura a fila e sai de fininho pra não pagar a conta.


Preferência pelo veneno.


Além disso, ele é o veneno contra Lula – ou acham que a classe média (que sempre preferiu o veneno) vai engolir o “sapo barbudo”? Não tem mais Brizola pra controlar o jogo, agora é o Ciro Gomes pra espantar a freguesia, enquanto Bolsonaro come frango com farofa derramando-se pelo canto da boca. Tão Brasil! Igual a isso só as caspas do Jânio.


Jogos de salão.


Em outubro a gente vê. Porém, pode acontecer um acidente de percurso e o Mito cair da moto. Ou o centrão pensar em coisa melhor. Dizem que a esperança é a última que morre, mas só quando todos batemos as botas. Falar nisso, nada esperem dos militares – eles já não usam esporas, como o João Figueiredo. Preferem táticas de salão e estratégicas mordomias de gabinete.


Inteligência reversa?


Tanta burrice e idiotia galopante do bolsonarismo não seria “inteligência reversa”? O filho presidencial Eduardo atribuiu a abertura da cratera no metrô paulistano à contratação de “engenheira mulher”; a ministra da goiabeira disse que a gravidez das adolescentes é causada pelo aplicativo Tik Tok; Bolsonaro come frango com as mãos e cospe farofa, para parecer “gente do povo” – e por aí vai. Não seria uma expertise que não percebemos, certa “inteligência reversa”? Eles seriam espertos para entender a população como uma massa de imbecis? Ou mentecaptos que se enganam ao considerar os brasileiros umas bestas crédulas? Quem é o “burro”: eles que estão no poder e ganham todas ou nós que chiamos e perdemos?


Pequenas Notas – 01-02-2022.


Profissional da tesoura e da gilete proclamando ao freguês ignorante as virtudes reacioná-rias de Bolsonaro, dizendo que a terra é plana e a que a vacina mata crianças.


A vida ficou difícil.


Antes da pandemia era fácil cortar o cabelo. Bastava ir ao barbeiro. Agora é preciso marcar hora pelo whatsapp e o distinto negaceia, até conceder uma “vaga”; nunca quando nos convém. O pior é a militância. Todo barbeiro é militante bolsonarista – os enrustidos são piores. Na minha vizinhança, bairro de classe média baixa, em um perímetro de dez quarteirões existem quinze profissionais da tesoura e da gilete – nenhum usa navalha, pois não saberiam afiá-la. Ainda bem, a garganta esquerdista se salva.


Tagarelas da reação.


Para agravar o sofrimento do freguês eles não trabalham calados. Falam pelos cotovelos, enaltecendo a estupidez direitista e ameaçando com porrada comunistas, homossexuais, minas e manos. Adoram ricos e famosos. São um bloco bipartido da mesma raiz, apoiando Bolsonaro ou Moro contra o “Lula Ladrão”. Não se inibem de irritar ou melindrar seus clientes que, desconfio, são da mesma estirpe. Quando dizem Lula, acrescentam Ladrão. De vez em quando se lembram da Dilma, “aquela vaca terrorista”. Um deles cospe no chão ao atacar a “Globo Lixo” e a “viadagem dos jornalistas”.


O centro da vida.


Muito antigamente, ia-se à barbearia para bater papo, falar de futebol e ler revistas velhas. O salão era a escola da vida e um centro de fofocas provincianas. De política, apenas três certezas: Ademar rouba, mas faz; Jânio é louco; Getúlio é o pai dos pobres. Não se discutia religião, mas havia uma “consciência”: é preciso ter uma ou crer em Deus.


A maledicência.


Os salões tinham portas abertas para a rua. Se alguma mulher passava os clientes se entreolhavam para ver se não havia nenhum parente dela. Terreno livre, exaltavam as virtudes carnais da vítima ou duvidavam da sua fidelidade, se fosse casada. Se considerassem a passante uma “biscate”, como se dizia naquele tempo sem sombra de feminismo, ou se traía o marido, ausente naquela assembleia da boca maldita, tentavam adivinhar seus dotes na cama e com quem ela os exercia. Porém, se o consorte estivesse presente, o mais atrevido ironizava – grande senhora! – e voltando-se para o padecente – você tem sorte! Fazia-se silêncio mortal, logo quebrado por alguém que contava uma piada (a daquele marido que chegou de surpresa…).


Filosofia sueca.


A molecada aprendia com a molecagem dos adultos. De vez em quando a barbearia se esvaziava. Entravam os garotos, esperando o barbeiro chefe sair. Ficava um aprendiz, que sacava da gaveta os catecismos de Carlos Zéfiro. Mas a literatura preferida eram os livretos em branco e preto, com fotografias desbotadas, dos clubes de nudismo da Suécia. Então, víamos peitos e bundas, alguns pintos, mas nunca se exibiam as bocetas. Em todo caso, aprendíamos – depois íamos bater punheta.


Um velho caduco.


Mas hoje? Hoje o ilustre barbeiro vai consultar uma agenda e promete ligar de volta. Meu desejo secreto é entrar em uma barbearia e gritar FORA BOLSONARO! Mas aí dirão que sou um velho caduco.


Pequenas Notas – 22-01-2022.


Quem são os déclassés e como eles precedem e anunciam uma “nova ordem” de dominação política e econômica?


O jogo das aberrações.


Como se explica que a classe média, tão conservadora, produz aberrações ideológicas como Roberto Jefferson e Bolsonaro? No fim do século XIX os franceses usaram à palavra déclassé para denominar as pessoas “desclassificadas”: oriundas de todas as classes sociais, elas contrastavam da sua camada social para assumirem o papel desagregador das normas e costumes vigentes. Esse fenômeno acontecia porque a sociedade estava madura – ou apodrecia de forma a exigir condutas além da normalidade moral, para preservar privilégios e defender ideias reacionárias. Os conservadores souberam conviver com tais extravagâncias ou deformidades e usaram os déclassés para corroerem a ética da classe média resistente à queda da moralidade que ainda barrava o avanço de políticas contrárias aos direitos humanos. Ao mesmo tempo fingiam repudiar o comportamento agressivo e arrivista dos novos líderes que surgiam. O fascismo e o nazismo foram precedidos pela decadência das instituições burguesas – Estado, Igreja, Judiciário – que pouco fizeram para impedir a ascensão da barbárie, enquanto toleravam os chefes extremistas apresentando-se como forças regeneradoras, quando, na verdade, eram a pá de cal na democracia em crise.


A canalhice como padrão.


Assim se entende a convivência cúmplice ou tumultuada de Bolsonaro com a imprensa. Até ser presidente ele nunca foi tratado como criminoso, mas um viciado em condutas antissociais e politicamente condenáveis, que seria expulso do jogo assim que necessário. Não contavam, ou fingiam não saber, que o vício só é punido se praticado pelos pobres: nos ricos e nos políticos é uma regra de sobrevivência que leva à impunidade do crime – e, certamente, os poderosos jamais admitirão que a exploração do homem pelo homem é um crime hediondo. Então, chega-se próximo à fatalidade – no Brasil a fatalidade é Bolsonaro. A regra será a herança que sobreviverá como vício político. Não que a política estivesse imune à canalhice, mas a partir do bolsonarismo o canalha passa a ser um padrão político.


Reféns da própria covardia.


A sequência lógica é o déclassé compor-se com a ralé, não aquela entendida como o lumpemproletariado, mas o conjunto de desclassificados, isto é, deslocados de sua classe, que assumem as ideias transitórias necessárias ao processo de transformação que os preconceitos predominantes não conseguem gerenciar. A complicação é simples: a moral e a religião tradicionais, por exemplo, desejam mudanças abruptas, que seus teóricos não podem aprovar sem renegarem sua ideologia. Isto é, o idealismo pequeno-burguês é entrave para a permanência preconceitos enraizados ou censura à liberdade de ensino. Então, os déclassés são úteis e incentivados. Obviamente, é uma cilada: a manobra deixa a burguesia refém de seus títeres, como hoje o poder econômico está com Bolsonaro.


Migalhas não engordam.


A ralé, no sentido de união dos déclassés , compõe-se dos desenraizados de todas as camadas sociais. Por isso ela é representativa da nação e mais representativa quanto mais se acanalha, pois então traduz os subterrâneos da mentalidade pequeno-burguesa, que mal se equilibra ideologicamente entre o amoralismo da grande burguesia e os preconceitos característicos dos oprimidos que lambem as botas dos poderosos, na esperança de engordarem com suas migalhas.


Respostas sem ação.


O que fazer? Múltiplas respostas. Mas sem ação política nenhuma resposta é adequada.


Pequenas Notas – 14-01-2022.


Momento em que o malvado Fidel Castro, também conhecido como Capitão Gancho, sequestrava crianças cubanas para enviá-las à União Soviética. Deu-se o contrário: a CIA e a Igreja tomaram as crianças dos pais e as internaram em orfanatos norte-americanos.


Operation Peter Pan.


O cerco dos Estados Unidos a Cuba vai do trágico ao grotesco e tem nuances incríveis. Nenhuma das façanhas do Tio Sam supera a Operação Pedro Pan (Operation Peter Pan, em inglês), comandada por um padre e organizada pela CIA e pelo Departamento de Estado. No começo da década de 1960 os norte-americanos convenceram a classe média alta cubana que Fidel Castro sequestraria seus filhos e os enviariam à União Soviética, onde seriam treinados para destruir a “civilização ocidental e cristã”. Uma propaganda intensiva e massiva convenceu as famílias ricas da ilha a enviarem para Miami 14 mil crianças, entre 6 e 16 anos. A maioria acabou em orfanatos e jamais voltou a ver os pais. Um documentário de Kenya Zanatta e Maurício Dias, disponível no canal Curta , conta a história.


Os padres e CIA unidos.


A Igreja Católica, principalmente seus representantes espanhóis radicados em Miami, alinhados à ditadura franquista, administrou a operação, seguindo os métodos da CIA e do Departamento de Estado. Oficialmente a operação foi apelidada de The Cuban Children’s Program, mas ficou popularmente conhecida como Operação Pedro (ou Peter) Pan.


A falsa lei do Pátrio Poder.


Para amedrontar os cubanos espalhou-se a fake news que o governo de Cuba estava preparando um decreto para sequestrar as crianças – a Lei da Perda do Pátrio Poder. A CIA distribuiu clandestinamente milhares de panfletos dessa falsa lei. As emissoras de rádio da CIA, baseadas em Honduras, informavam que a lei seria aprovada e as famílias perderiam o “pátrio poder” e seus filhos seriam enviados à União Soviética. Chegaram a dizer que as crianças que se rebelassem seriam transformadas em carne enlatada.


Siga a orientação do clero.


Um dos textos usados na época – e as provas são fornecidas pelos próprios norte-americanos, através dos seus documentos desclassificados, isto é, liberados para pesquisa – dizia: “Mãe cubana, a próxima lei governamental será tirar seus filhos dos 5 aos 18 anos”. Outra: “Mãe cubana, não deixe seu filho ser levado embora! É a nova lei do governo (…), quando isso acontecer, eles serão monstros do materialismo. Fidel vai se tornar a mãe suprema de Cuba”. Mais: “Atenção, cubana! Vá à igreja e siga as orientações do clero”.


Nem Maquiavel pensou…


A classe média alta, traumatizada com as expropriações e fuzilamentos, ficou apavorada e entregou seus filhos. Observem a ironia da história, se é que se pode falar disso: os cristãos, ou os que assim se apresentavam na figura dos padres e agentes da CIA, acusavam o governo de sequestrar as crianças, enquanto eles, aproveitando-se do pavor que disseminaram, sequestraram as mesmas crianças. Foi uma das operações da CIA e da Igreja reacionária que mais deu certo contra Cuba.


A logística perfeita.


A Operação Pedro Pan foi bem planejada e dezenas de aviões foram providenciados para levar as crianças, entregues, no aeroporto, pelos próprios pais – há vídeos e fotos (feitos pela CIA) no já mencionado documentário exibido no Curta . Assim, as crianças da fina flor da burguesia cubana que restava em Cuba foram arrancadas das suas famílias e mandadas para um destino incerto nos Estados Unidos. Os documentaristas entrevistaram dezenas dessas vítimas, que contaram seu “desraizamento” familiar e nacional. Alguns sofreram e sofrem até hoje trágicas consequências. A operação começada em 1960 foi cancelada em 1962, quando os Estados Unidos romperam relações diplomáticas com Cuba e os voos foram suspensos. Algumas crianças se adaptaram nos Estados Unidos e se tornaram adultos anticubanos, enquanto outras se rebelaram e defenderam o socialismo cubano.


A estratégia perversa.


Qual a meta dessa operação? Talvez desestabilizar emocionalmente as “famílias tradicionais” e deixá-las prontas para aceitar uma invasão e ocupação da ilha. Ou que, sem as crianças os pais se sentissem “seguros” para enfrentar o governo e destituí-lo. De qualquer forma é impressionante o poder de manipulação pela CIA e pela Igreja de pessoas com boa formação cultural, ao ponto de convencê-las a entregar seus filhos. Veja o documentário da Grifa Filmes, dirigido por Kenya Zanatta e Maurício Dias, disponível no Curta.


Pequenas Notas – 06-01-2022.


No Brasil é fácil ser Nostradamus: as tragédias são anunciadas e a inércia da população é histórica – a nova onda pandêmica era prevista pelos cientistas (e desprezada por quem esperava as confraternizações do fim de ano) e foi proclamada em novembro do ano passado nessas Pequenas Notas.


A voz da profecia.


Nas Pequenas Notas de 15-11-2021 anunciei uma nova onda de covid. Errei por um mês: previ para fevereiro/março – já chegou. Eis o que escrevi há 36 dias: “Festa no arraial: os casos de covid estão diminuindo sensivelmente no Brasil. Susto no primeiro mundo: a Áustria já está em lockdown, Alemanha, Rússia, Inglaterra e congêneres estão às portas de medidas drásticas para conter o avanço de novos casos. Vem aí o fim de ano e o carnaval: é só esperar que a quarta onda, que está crescendo na Europa, chegará ao Brasil, lá por fevereiro, março – o pico deve acontece em abril. Mas o governo está calmo e a população finge que não vê: afinal, com a maioria vacinada morrerá pouca gente. Detalhe; quem morre são ‘os outros’ – é o que pensam”.


Tudo se tornou banal.


Desnecessário lembrar a sabujice criminosa do ministro da Saúde, relegando a vacina infantil etc. Inútil repetir o que virou mantra para quem tem mais de dois neurônios: Bolsonaro é um desastre que leva o Brasil às tragédias anunciadas. Mas, não é demais destacar o conformismo, mesmo daqueles mais críticos, que esperam outro ano de miséria política e social para, só então, “pensar no que fazer”, depois das eleições.


Um tempinho, um tempão.


Um ano é um fiapo de tempo para o universo, mas uma eternidade para quem morre de fome e de covid. A inércia brasileira tem explicação simples e “malquerida”: no Brasil só a classe média se manifesta. Ela se cala porque (ainda) não passa fome e prefere o risco de se infectar do que o incômodo de usar máscara e a chatice do isolamento. Além do mais, é cúmplice de Bolsonaro: arrepender-se – mas calar-se – não lhe tira a reponsabilidade por escolher um misógino, mestre em rachadinhas e agora, revela-se, genocida.


Velhas torres de marfim.


Por falar em genocida, o que é isso? Para os acadêmicos, a maioria deles formalistas presos a modelos que pensam ser método, Bolsonaro não é genocida porque não cometeu nem liderou assassinatos contra populações. Valem-se de um tecnicismo entre burro e esperto que, na verdade, tem mais a ver com a alienação desses sábios sabidos do que com a real situação do Brasil. Ao se transformarem em “especialistas” avocando o direito de dizer o que é e o que não é, chamam para si a exclusividade de “dissertarem” sobre o que devemos pensar – e fazer (isto é, não fazer). É um mecanismo de poder das torres de marfim, tão velho quanto o mundo. No Brasil, ainda funciona.


O que é um genocida.


Ao protelar a vacinação infantil, ao sabotar a vacinação há quase dois anos, ao mentir e disseminar fake news sobre a covid, cloroquina etc., Bolsonaro provocou milhares de mortes. Não há exagero e é fácil de provar: basta analisar os meses sem vacinação, com vacinas disponíveis e oferecidas pelos laboratórios transnacionais e o número de mortes no período para termos um retrato do que foi e está sendo o comportamento genocida de Bolsonaro. Da mesma forma o seu incentivo ao garimpo e desmatamento ilegal, com a consequente morte de indígenas indica seus crimes contra a humanidade.


Pequenas Notas – 28-12-2021.


O eterno retorno das enchentes: a enxurrada leva casebres, pobres morrem ou ficam desabrigados. Os ricos nada sofrem – é a vida, dizem aqueles que lucram com a miséria e consolam-se os que nada fazem.


A tragédia que se repete.


As chuvas fizeram o estrago esperado na Bahia (e em várias partes do país). Vinte mortos e 470 mil pessoas sofreram as consequências de séculos de desprezo aos pobres, pretos e a galera de sempre. Entre os mortos e desabrigados, nenhum rico. Casebres levados pela enxurrada e ruas alagadas. Os pobres ficarão mais pobres e os ricos, tanto faz. São séculos de exploração. Ano que vem, tudo volta, depende de São Pedro – já que ninguém acredita em desastre ambiental e obras contra enchentes. Nietzsche à parte, é o eterno retorno.


O velho eterno retorno.


A teoria do eterno retorno, brincadeirinha intelectual de quem se refestela em gabinete refrigerado, diz que tudo o que aconteceu volta a acontecer. Portanto, não adianta brigar com o destino, o mundo é assim mesmo. Políticos e senhores de dinheiro nem pensam nisso: vivem desse saber – podem deixar as águas rolarem que é mais barato. Os pobres que perderam tudo tem o Bom Jesus a consolá-los. As autoridades conseguem verbas para remendar a desgraça (e pegam o seu por fora). Queria ver o Nietzsche, pelado e com a mão no bolso, vendo seus cacarecos levados pela enxurrada. O que ele diria?


Um escritor autêntico.


Jesus Alves Lourenço, 73 anos, aposentado, escreveu mais de cem livros. Não vende, dá pra quem pede. Entre seus sucessos estão “O grande livro das emoções”, com 832 páginas. O menor deles, contou ao g1 , é “Maravilhas do nosso corpo”, de apenas 275 páginas. Este é o verdadeiro escritor, que não precisa de heterônimos, gramática, beletrismo & outras mumunhas conhecidas e semióticas ignoradas. Talvez nem saiba do signo, do significado e do significante e dispense a filosofia e a ideologia, esses espinhos que dificultam a comunicação com o leitor. Feliz de quem lê suas “Mil piadas para sorrir” e sente o aroma das “Mil receitas saborosas”.


Burrice e vaidade.


De vez em quando vem a pergunta besta: por que você escreve? Respondo da forma mais cretina: “enquanto jornalista”, para ganhar meu pão, “enquanto escritor”, por burrice e vaidade. Não tenho nada a dizer a não ser a eu mesmo (a mim mesmo? não, a eu, que o ego de quem escreve é enorme). Deixemos o jornalismo de lado, pois é vaidade menor e burrice maior. “Enquanto escritor” a vaidade é mais grande (diferente de maior): todo escrevinhador acha que mudará o mundo com suas bobagens. Outros pensam que salvam vidas: faturam alto e fundam empresas de autoajuda que são levadas a sério; conseguem ser estrelas na televisão. Raros percebem que tudo já existe debaixo do sol, uma das duvidosas verdades bíblicas. Enfim, todavia e porém, escrever pode ser gostoso se você se dá ao luxo de escrever todavia, porém, contudo, malgrado, entrementes e via de regra. Aliás, quem conheceu certo finado deputado comunista sabe o que ele dizia ser a tal “via de regra”. Lembrei-me dele, mas já não tenho idade para repetir sua performance ao ser entrevistado por mocinhas bonitas – “Perguntar ela pergunta, dá pra mim ela não dá”. É a vida.


Ilusões perdidas.


Pequenas Notas – 22-12-2021.


Bolsonaro já disse que todos vamos morrer um dia. Portanto, os de 600 mil mortos pela covid é “normal”. O grande mentecapto do mal (o do Fernando Sabino é do bem) poderia dizer que não faz nada mais do que repetir os machos da pré-história, que arrastava suas fêmeas pelos cabelos.


Este é o homem.


Quem tiver estômago pode curtir no youtube Bolsonaro dançando funk em sua homenagem. Trecho: “Bolsonaro casou com a Cinderela, enquanto as de esquerda têm mais pelo que cadela”. O “mc” Reaça, morto em 2022, autor da pérola, não é responsável: é produto da miséria social e humana que o produziu – e que a mídia explora. Bolsonaro, formado no subterrâneo das casernas, também pode ser desculpado. A “culpa” é de quem votou no destrambelhado. É impossível que não soubessem o que o Mito dizia das mulheres.


Se não tem o que dizer, não diga.


Ariano Suassuna reclamava de uma mulher que ao visitá-lo, avisou: “Vou lhe dizer uma coisa que você não vai gostar”. E ele: “Então não diga”. Nada tenho a dizer que agrade alguém. Portanto, não digo. Fim dessas Pequenas Notas.


Pequenas Notas – 16-12-2021.


Só um “golpe de vento” exagerado pode mudar a configuração das nuvens políticas. Mas, política é mesmo como nuvem? – como dizia um velho golpista. Ou Lula vai de vento em popa?


“Política é como nuvem”


Será que a nuvem muda? Com os ventos atuais Lula se elege no primeiro turno. Mas o antigo governador de Minas, Magalhães Pinto, alertava: “Política é como nuvem. Você olha e ela está de um jeito. Olha de novo e ela já mudou.” Quanto ao eleitorado, “la donna é mobile”. Bolsonaro que o diga, pois em três anos perdeu três quartos dos seus votos e corre o risco de não ir para o segundo turno.


A volta do velho arsenal.


Na reação, é provável que Bolsonaro turbine o jogo sujo nas redes sociais. Ele é daqueles que sai jogando lama no ventilador. Aliás, a Polícia Federal já está nos calcanhares de Ciro Gomes, que acusa o mito presidencial de persegui-lo, mas os delegados dizem que é apenas coincidência. Moro e Dória terão a sua cota “coincidente”. As redes sociais, aparentemente amolecidas, voltarão com seu arsenal odiento.


O mito “desprezará” Lula.


As nuvens da política são esclarecedoras. Bolsonaro não atacará preferencialmente Lula na próxima campanha. Lula não ameaça sua derrota. Quem pode derrotá-lo é algum candidato da “terceira via”, deixando-o fora do segundo turno. O “desprezo” de Bolsonaro pode incomodar Lula, que ficaria sem um inimigo ativo para atacar. Na estratégia bolsonarista o importante é vencer Ciro ou Moro. E esperar que no segundo turno o empresariado que sempre apoia a direita engula mais uma vez o capitão desbocado.


À espera da ventania.


No entanto, só uma ventania gigantesca poderá mudar a nuvem que se configura. Além disso, a economia em queda pode decidir a sucessão. Bolsonaro não se preocupa com o desemprego, a inflação etc. e o Posto Ipiranga entregou os pontos – sem cumprir nenhuma das promessas aos donos do dinheiro.


Os santos desconfiados.


Ao presidente resta convencer os pobres que a ajuda desconjuntada que substitui o bolsa família é esmola demais – coisa que nenhum santo desconfia. Além disso, joga contra o capitão a sua equipe de governo, que consegue irritar banqueiros e bancários, operários e otários. Os aliados incondicionais – a turma que faz arminha, garimpeiros ilegais e evangélicos – perde volume eleitoral. O agronegócio está assustado: o desmatamento atrapalha a aceitação dos produtos brasileiros no exterior. Se fosse pouco, Bolsonaro é refém do centrão, que costura alianças eleitorais nas suas costas.


O que resta ao presidente.


Dessa forma, a “solução” é voltar ao velho e gasto discurso: satanizar o Supremo, inventar mamadeiras de piroca, culpar homossexuais, artistas e jornalistas pelo seu fracasso. E dizer novamente que o globalismo conspira contra seu governo e inventou uma pandemia só para azucriná-lo. Parece bobagem? Ele já fez isso e se deu bem…


Por falar em bobagem…


Quem pode “desconfigurar” a nuvem é Lula: ele não perde oportunidade de lembrar Hugo Chavez, elogiar Maduro & afins. Sábio ditado mineiro: quem fala demais escorrega na língua. Melhor ele aproveitar os bons ventos antes que venha uma ventania.


Pequenas Notas – 08-12-2021.


O “dom de falar línguas” é uma das manifestações mais antigas da religiosidade. A primeira dama foi inspirado pelo Espírito Santo: dançou, pulou e falou línguas. Freud explica?


O espírito santo e dona Michele.


As redes sociais mostraram o espírito santo agindo sobre a primeira dama, que explodiu em “línguas”, agradecendo ao Senhor a aprovação de um dos parceiros de Bolsonaro para o Supremo Tribunal Federal. A primeira dama deu pulos, bateu os pés, dançou e cantou uma algaravia na “linguagem dos anjos”. Os repórteres procuraram saber o que foi aquilo. E perguntaram aos deputados pastores presentes. Eles explicaram que uma pessoa “tocada” por Deus age daquela forma, que os brasileiros se deliciaram ao ver e ouvir no Youtube.


Profissionais da tolerância.


Porém, gente maldosa debochou. Ainda bem que nos jornais articulistas sérios explicaram o fenômeno. Com luvas de pelica mostraram certo menosprezo, mas se safaram exercendo profissional tolerância religiosa. Um dos mais famosos disse que o escolhido por Bolsonaro – e sancionado por Deus, segundo Michele – estava sendo vítima de preconceito contra os evangélicos. Será mesmo? Não seria, talvez, porque o distinto abençoado é um sabujo do presidente, a quem já chamou de profeta? Ou porque ele, mais do que ministro, é uma “cota”, novo 10% a cumprir a regra desse governo: um manda, outro obedece?


Pouca glossa e muita lalia.


A glossolalia é um fenômeno comum nas igrejas pentecostais. A palavra vem do grego: glossa é língua, linguagem; lalia é balbucio, tagarelice – unidas formam glossolalia, que pode ser entendida como a mistura de idiomas em falatório inconsistente. Mas os evangélicos e pentecostais entendem a glossolalia como um dom divino que lhes permite comunicar-se com Deus. Aliás, foi no dia de Pentecostes que Paulo impôs as mãos sobre os fieis e “veio sobre eles o Espírito Santo” (Atos dos Apóstolos 19;6) e os crentes falaram línguas estranhas, em transe coletivo etc. Porém, dona Michele teve uma “epifania” solitária: apenas ela, naquela sala cheia de evangélicos, exerceu o dom, com saltos, danças, abraços e “vozes”.


Onde entra o doutor Freud?


Ninguém se lembrou do doutor Freud. Devemos respeitar as crenças alheias, mas podemos chamá-las pelos seus nomes. Um doutor Freud mais abusado diria que o transe religioso, de tal forma a levar a pessoa ao descontrole do corpo e das emoções, pode ser, quem sabe, mais do que manifestação do Espírito Santo um fenômeno de histerismo. Que segundo o dicionário (e já nem precisamos do doutor Freud), “é uma psicopatia cujos sintomas se baseiam em conversão, e caracterizada por falta de controle sobre atos e emoções, ansiedade, sentido mórbido de autoconsciência, exagero do efeito de impressões sensoriais, e por simulações de diversas doenças”.


O bom-mocismo brasileiro.


Porém, jornalistas comprometidos com o status e o establishment praticam o bom-mocismo historicamente brasileiro, intelectualmente articulado, que doura a pílula: por exemplo, hoje, ninguém de boas letras diz mulato, fala pardo e estamos livres do racismo. É dessa forma que se desqualifica a religiosidade da primeira dama sem ir ao fundo da questão para não melindrar os crentes: dando-lhe uma interpretação paternalista e se esquecendo do primordial – a esposa do presidente foi presa do histerismo religioso, o que revela uma face obscurantista do governo. Tão Brasil.


Marcos: “la garantia soy yo”


Mas os apóstolos e os profetas valem mais que os freuds da vida. Para quem encontra na Bíblia fé, crença e credo, a primeira dama é uma privilegiada, pois a poucos é dada a honra de receber o chamado de Deus e “falar línguas” – que os infiéis não compreendem nem entendem o significado. Marcos, 16;17-18 afirma que os crentes “expulsarão os demônios, falarão em novas línguas, pegarão em serpentes, e se beberem algum veneno mortífero, nada sofrerão”. No meio Oeste do Tio Sam muita gente morre picada por cobra, mas falando línguas…


“Com decoro e com ordem”


Na tradução da Bíblia de Jerusalém, 1-Coríntios 14;27-28: “Se há quem fale em línguas, falem dois ou, no máximo, três, um após outro. E que alguém as interprete. Se não há intérprete, cale-se o irmão na assembleia; fale a si mesmo e a Deus”. E, finalmente, lembrou o evangelista – “Mas tudo se faça com decoro e com ordem” (14;40). Espero ter sido decoroso com a primeira dama, afinal, tolerância irmão…


Pequenas Notas – 04-12-2021.


Deu nos jornais do Tio Sam.


Cientistas norte-americanos temem que o desequilíbrio ambiental nos Estados Unidos, que já afeta o clima, comprometa a vida social e econômica do país. Muitos acreditam que a industrialização explorou de tal forma a terra e a água, contaminando o ar, que já não tem volta. A turma do dinheiro reage: financia estudos polêmicos para provar que não é bem assim. Enquanto isso a vida humana é degradada e a população chega a um nível de desinformação sem precedentes. O negacionismo é um fato “normal”. O governo federal não sabe como reagir: Biden é contestado até pelos democratas. A maioria do republicanos é abertamente favorável às forças reacionárias – a parte boa da direita é conservadora, mas não quer conservar nada que prejudique os negócios. Está nos jornais dessa semana: The New York Times, Washington Post e dezenas de publicações culturais e de artes.


Esse mundo é uma água.


Há quarenta anos as transacionais pensavam resolver a crise hídrica sequestrando toda a água dos subdesenvolvidos. No Brasil elas já secaram várias nascentes e degradaram mananciais únicos no planeta. Duas gigantes disputam a água da Terra: Nestlé e Coca-Cola. A Nestlé “comprou” as águas termais de São Lourenço e esgotou a fonte de água magnesiana, com a excessiva exploração do Poço Primavera, de onde obtinha a matéria-prima da água Pure Life, que foi exportada para a Europa e Estados Unidos. A multinacional sofre vários processos, mas o dinheiro canta alto e os políticos jogam contra. Em Ribeirão Preto a Coca-Cola Andina há alguns anos comprou a Refrescos Ipiranga, que engarrafava a Coca-Cola e começou a tirar do seu poço artesiano água do Aquífero Guarani, que comercializa em garrafas como água mineral Crystal. Tudo às claras, denuncias várias. Sequer há investigação.


O que é mais importante?


Se o distinto leitor lê jornais brasileiros, confira: 1 em cada 4 brasileiros está morrendo de fome; a economia entrou em parafuso e 2022 pode ser pior; os juros sobem; a inflação, idem; desemprego não diminui significativamente. Resumão: vamos mal de grana e de vida. No entanto, os jornais gastam mais tinta e papel falando do Sérgio Moro e de como investir na Bolsa (!) do que na análise desses temas. E o que os brasileiros pensam? Difícil saber, mas fácil de ver: Palmeiras e Atlético Mineiro fazem a alegria do povo.


O FMI ama a Argentina.


A Argentina prepara-se para receber um mega empréstimo do Fundo Monetário Internacional: algumas fontes dizem que é de US$ 45 bilhões. Se a grana não entrar o país quebra. Mas, aparentemente, ninguém se preocupa: há mais de meio século a classe média argentina põe dólares debaixo do colchão e come médias lunas enquanto os governos passam – já os pobres, aprendem a passar fome. Só que a coisa está apertando: os 25% que estavam abaixo da linha de pobreza agora estão chegando a 30%.


La mano de Dios batiza.


Mas a mão de Deus pode salvar o país. Pelo menos no México Maradona está fazendo milagres. Em 25 de novembro a Igreja Maradoniana, de San Andrés Cholula, no departamento de Puebla, fez o seu primeiro batizado. O padre Vicente Avendaño, “en nombre de Dios”, isto é, Maradona, o próprio, batizou Natália. No altar, um busto de Maradona. A igreja prepara-se para consagrar casamentos.


Cadê o coração de Dios?


Maradona, todos sabem: foi enterrado sem o coração. A “extração” foi para impedir que seus fãs violassem o túmulo para tirar o miocárdio (!) e colocá-lo no altar da sua igreja, conforme ameaçaram. Agora, na Argentina, há uma polêmica: onde está o coração de Maradona? É típico do país: Evita foi embalsamada e seu cadáver sequestrado, desaparecido e encontrado na Itália, depois voltou para Buenos Aires. Aramburu, um dos ditadores, teve o cadáver retirado do túmulo e só foi devolvido depois de negociações entre os Montoneros e o governo. Peron teve o túmulo violado e as mãos cortadas, até hoje desaparecidas.


Coisas para lembrar.


O Brasil esquece rápido. Queimaram algumas balsas velhas e todos acham que o assunto está resolvido no caso do garimpo ilegal. Enquanto isso, cerca de duzentos deputados trabalham para “legalizar” as “empresas mineradoras” na floresta amazônica. Se, por ventura, o STF tiver que decidir sobre a constitucionalidade de uma lei do gênero, por antecipação 20% dos ministros da cota de Bolsonaro dirão sim. Então, sim.


Pequenas Notas – 25-11-2021.


Imagem do começo do século passado, simbolizando o progresso. Hoje, continuamos no mesmo engano, com maior poder de devastação.


Você sabia o que não sei?


Antigamente perguntavam “você sabia?”. Não sabíamos. Esclareciam. Você sabia que em 1983 o rio Atibaia pegou fogo? O rio ficou tão saturado de dejetos industriais químicos que, simplesmente, incendiou-se. Como os jornalistas, ouçamos o outro lado: se há dejetos químicos, há indústria. Indústria gera empregos. Empregos, consumo. Consumo, conforto. O rio pegar fogo é detalhe. O rio Atibaia é parte do sistema Cantareira, que fornece água a São Paulo, Jundiaí e Campinas, o que também é detalhe.


Só por que o rio tem merda?


Ambientalistas gostam de mimimi. Basta um rio cheio de merda e botam a boca no mundo. Pois saibam que os Estados Unidos têm os rios mais poluídos do planeta e são essa potência! O Cuyahoga, em Ohio, que desemboca no lago Eire (não ponha pé nele, que o “ácido” é pior do que as piranhas) já entrou várias vezes em combustão espontânea. Mas o rio continua lá, é só não beber sua água – aliás, nos EUA toda água é purificada quimicamente por “estabilizadores”: os turistas bebem da torneira e ficam impressionados. Em Nova York, que é mais rica maravilhosa cidade do mundo, as crianças só podem entrar na praia após se vacinarem contra a febre tifoide – nem por isso elas deixam de ser loiras de olhos azuis.


Acredite se quiser.


Há quem acredite: “Nas sociedades industriais a poluição aumenta à medida que cresce a produção. Na miopia analítica do capitalismo atual, para poluir menos é preciso diminuir a produção. Isso significaria menor produtividade, o que implica rebaixamento de salários – desejável pelos empresários, mas perigoso em um sistema que vive do consumo, que, por sua vez, precisa dos assalariados para aumentar e gerar mais lucros. Ou seja, nessa visão equivocada, despoluir representa um custo inadmissível para uma economia que não leva em conta os problemas da humanidade e a agressão ao ambiente”.


Preservar ou morrer.


Porém, apesar de não acreditarem no que está na cara, pela primeira vez na história “a ecologia passa a ser um dado importante para a sobrevivência do capitalismo. Da mesma forma que a poluição contribui para rebaixar a qualidade de vida no planeta, pode também quebrar as regras que possibilitam a acumulação de capital”. Assim, “não seria nada fantástico que, em um limite extremo, o capitalismo preferisse sobreviver deixando o mundo acabar…” O que acontece na Amazônia não é o prenúncio caboclo do suicídio ambiental?


Começando pelo começo.


É tal o desprezo e a ignorância, que é preciso começar pelo princípio, como Deus, que partiu do verbo. Por exemplo, “antigamente o homem tinha a impressão de que os recursos da natureza eram infinitos. O caçador de mamutes via muitos deles e só conseguia capturar um ou outro, entendendo assim que seu número era infindável. A noção de que a natureza é infinita mudou a partir do momento em que o homem, dominando a técnica, fabricou máquinas capazes de, em poucos dias, destruir uma floresta; ou, indo a extremos, acabar com o mundo em minutos caso resolva experimentar algumas bombas atômicas”. O caçador de mamutes se aposentou, mas os brasileiros sabem destruir em poucos dias qualquer floresta e as bombas estão à espera – aí verbo nenhum adianta.


Um valentão contra a Terra.


Por falar em antigamente, “antigamente o homem não conhecia a natureza e dela tinha medo: raios e trovões, inundações, rios e mares enormes, frio e calor. À medida que a foi conhecendo, também a foi aniquilando, a tal ponto que a situação se inverteu: hoje, ele tem medo da delicadeza da Terra, enfraquecida diante de sua hostilidade, com seus mecanismos naturais de defesa abalados pela rapinagem desmedida. A Terra é frágil. Ou melhor, ficou frágil”. Mas nem todos têm medo da fragilidade da Terra – Bolsonaro é um valentão que desafia a natureza e apoia desmatadores.


Valentia ou insensibilidade.


Talvez não seja uma questão de “valentia”, mas de insensibilidade. Porque, até hoje a história dos homens foi contada em separado da história da natureza. No século XIX dois pensadores ensinaram (e poucos aprenderam, inclusive seus discípulos): “Conhecemos apenas uma ciência, a ciência da história. Pode-se enfocar a história de dois ângulos; pode-se dividi-la em história da natureza e história dos homens. Porém, as duas são inseparáveis; enquanto existirem homens, a história da natureza e a história dos homens se condicionarão mutuamente.” Para respeitar a natureza precisamos (re)aprender – “O trabalho é o pai da riqueza, a terra, a mãe”.


Pequenas Notas – 10=11-2021.


Jogar veneno de avião sobre a floresta e plantações e atingir crianças é tão terrível que é difícil mensurar a indignação. Porém, mostrando que a alienação humana não tem medidas, é o clip dos “sertanejos” Adson e Alana, “Colunão”, festejando os agrotóxicos como responsáveis pelo sucesso sexual do “homem do campo” e enaltecendo o veneno despejado do céu. Se tiver estômago assista a dupla até o fim. Veja em https://youtu.be/caltD1kG7LY.


O Vietnã é no Mato Grosso.


Uma reportagem distribuída pela Agência Pública/Repórter Brasil , de Ana Aranha e Hélen Freitas, denuncia como alguns fazendeiros despejam agrotóxicos e veneno sobre suas plantações e zonas que desmatam, atingindo seres humanos, principalmente crianças. Para quem não se lembra, os Estados Unidos “desfolharam” as florestas vietnamitas com o agente laranja, poderoso herbicida que deixou sequelas incuráveis. No Brasil repete-se o processo. Eis alguns trechos da reportagem:


O veneno que cai do céu.


“Ao ouvir o ruído do avião, André, 7 anos, correu para fora de casa vibrando de alegria. Estava curioso porque nunca tinha visto uma aeronave de perto e aquela sobrevoava baixo o suficiente para enxergar o piloto dentro. Correndo atrás do avião, sentiu gotículas caírem sobre o seu corpo. E então a sua alegria acabou. André começou a sentir uma coceira brava, tão persistente que não conseguiu dormir à noite. A pele amanheceu seca, com caroços. Manchas vermelhas se abriram em feridas e partes da pele ficou – e ainda está – em carne viva. Em vídeo enviado por sua mãe, é possível ver feridas abertas na sua cabeça, nas mãos, nos pés e nas pernas”.


Morte dos animais.


Outra vítima, “Arthur, 8 anos, teve falta de ar, vômito, diarreia e febre depois de respirar o agrotóxico lançado na plantação de soja que fica atrás da sua casa. Pior, essa não foi a primeira vez. A sua casa, que fica a 15 metros da plantação, recebe com frequência a nuvem de agrotóxicos aplicados pelo vizinho. (…). Ele, sua esposa e três netos sentiram falta de ar, vômito e diarreia. (…) A família perdeu a conta de quantos animais – entre bodes e galinhas – morreram desde o começo da aplicação”.


Desmatamento e roubo de terras.


“A comunidade suspeita que o responsável pela contratação do avião é um produtor de soja que tem histórico de conflitos com essa e outras comunidades da região, Gabriel Introvini. Segundo Diogo Cabral, advogado da Sociedade Maranhense de Direitos Humanos, o avião vinha de uma terra alugada por Introvini. Diversas denúncias feitas pelas comunidades e até uma operação da polícia apontam ele e seu filho, André Introvini, como responsáveis por desmatamento ilegal do cerrado, roubo de terras e tentativas de expulsar os moradores locais. O conflito já dura cerca de quatro anos. As comunidades estavam na região antes da chegada das plantações de soja e viram o cerrado ser desmatado para dar lugar à monocultura. Hoje, algumas fazendas fazem fronteira com as casas”.


Uma guerra química.


Segundo o advogado, “O quadro é muito grave, porque nós já temos um conflito agrário e, agora, eles jogaram veneno em cima das casas. É uma guerra química contra essas famílias”, afirma Cabral. O caso foi classificado como uma “gigante tragédia” em carta assinada por mais de 50 organizações do terceiro setor, entre elas a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), que monitora outros casos similares pelo país. A Repórter Brasil e Agência Pública entraram em contato com os dois fazendeiros e enviaram o conteúdo da denúncia por email, mas não obtiveram resposta. Segundo o Canal Rural, Gabriel Introvini e seus filhos se dividem para plantar soja no Maranhão e no Mato Grosso”.


Veneno como arma.


“O uso dos agrotóxicos como arma para expulsar os moradores foi citado como uma ameaça antes do episódio ocorrer, afirmam moradores do povoado de Carranca, que fica próximo à comunidade de Araçá e também atingido. ‘Recebi um recado que eles iam colocar o veneno pior que eles tivessem na porta da minha casa pra que eu não suportasse e desocupasse a área’, afirma o agricultor Vicente de Paulo Costa Lira, morador da comunidade de Carranca. Ele diz que a ameaça veio de funcionário do mesmo sojeiro, Gabriel Introvini, sobre quem Lira já fez diversas denúncias.


Para ler as reportagens da Agência Pública e Repórter Brasil acesse https://apublica.org/


Pequenas Notas – 15-11-2021.


Se a economia vai mal, o presidente mente e o Posto Ipiranga entra na dança, falsificando os número e au-mentando as mentiras do chefão. Se a Terra fosse plana não haveria problema.


Acredite se quiser.


Quando o presidente informa que deu um “bom dia muito especial” à primeira dama e o ministro do Meio Ambiente diz que onde há muita mata há muita pobreza, chega. Aliás, chega por quê? O Brasil é interessante: Bolsonaro comete absurdos, da pequena picaratagem ao encobrimento da grande corrupção que mata milhares de pessoas (negociatas com as vacinas e ações similares) e, no entanto, irritamo-nos com suas cafajestices menores. O ministro cita dados falsos e distorce a realidade e nos impressionamos quando ele demonstra sua ignorância. Nada acontece. Porém, o que deveria acontecer? Em um país como o nosso, realmente, nada. Por isso tudo vai bem no melhor dos mundos e a maioria dos membros do governo pode mentir impunemente.


Vem aí a quarta onda.


Festa no arraial: os casos de covid estão diminuindo sensivelmente no Brasil. Susto no primeiro mundo: a Áustria já está em lolckdown, Alemanha, Rússia, Inglaterra & congêneres estão às porta de medidas drásticas para conter o avanço de novos casos. Vem aí o fim de ano e o carnaval: é só esperar que a quarta onda, que está crescendo na Europa, chegará ao Brasil, lá por fevereiro, março – o pico deve acontecer em abril. Mas o governo está calmo e a população finge que não vê: afinal, com a maioria vacinada morrerá pouca gene. Detalhe: quem morre são “os outros” – é o que pensam.


A direita vence na Argentina.


O mundo mudou, companheiro. Agora eles dão as cartas. Na Argentina a coalizão de direita, Avanza Libertad, obteve 17% dos votos parlamentares e elegeu deputado o economista Javier Milei, grande admirador de Bolsonaro. Milei quer que as “pessoas de bem” tenham armas. Na festa da sua eleição, no Luna Park, tradicional recinto de encontro político, um segurança dele sacou o revolver para conter uma manifestante. O agora deputado disse que foi apenas um “pequeno excesso” e que se todos tivessem armas a delinquência acabaria. Aprendeu com o nosso mito.


Mentiras galopantes.


Enquanto isso, em Dubai, Bolsonaro continua mentindo: disse que a floresta amazônica, por ser úmida, não pega fogo. Deve haver quem acredite, já que a terra plana é um fato provado. A floresta não pega fogo por “combustão espontânea”, mas se um pecuarista acender o fósforo…


Guedes adere ao mito.


A família que mente unida permanece unida. Outro mentiroso no pedaço: Paulo Guedes. Disse, também em Dubai, que “o Brasil foi uma das economias que menos caíram, voltaram mais rápido, criaram mais empregos e estamos crescendo, também, acima da média mundial. Isso, graças à orientação do nosso presidente de não deixar nenhum brasileiro para trás durante a pandemia”. A mendacidade é uma doença que pega por contato – mas a vítima precisa que uma tendência especial para o descaramento.


Mentira não tem pernas curtas.


A mentira de Guedes é flagrante, pois o FMI coloca o Brasil em último lugar na expectativa para crescimento do PIB em 2022 – a previsão é de 1.5, repetindo, em último lugar entre os países do G20. Até a Argentina, praticamente sem moeda, está à frente do Brasil – além disso, a economia argentina encolheu menos na pandemia e sua retomada está acima da nossa.


Pequenas Notas – 05-11-2021.


Disse o padre Vieira: “Queremos ir ao céu, mas não queremos ir por onde se vai para o céu”. O poeta espanhol Antonio Machado, escreveu: “Caminhante, não há caminho, o caminho se faz ao caminhar”. Vieira alerta a quem se desvia da rota: “O que é ignorar invencivelmente senão ignorar e não conseguir saber? E o que é a ignorância invencível senão a ignorância acompanhada da incapacidade de saber aquilo que se ignora?” Qual o caminho de quem justifica sua ignorância dizendo-se “autêntico”?


Os apotgemas do “autêntico”


Quem não tem cão caça com gato. Quem não frequenta os saraus filosóficos, mas quer a sabedoria salvadora, pode apelar aos ditados populares. Existem adágios para todas as situações e personagens. Bolsonaro, por exemplo. Não o chamemos de ignorante, mas de “autêntico” (vejam o que é a natureza, dessa forma admitimos, dissimuladamente, que os sábios são inautênticos, isto é, hipócritas). Como o presidente é “autêntico” ao ponto de pisar no pé da ministra da Alemanha, presume-se que ele chegou à presidência sem “conhecimento de causa”. Tomou posse, botou banca, mas não sabia o que fazer. Aí entra o refrão ou apotegma que ensina: com o tempo até o urso aprende a dançar.


Um homem de méritos.


Dançar, ele ainda não sabe: pisou no pé da ministra alemã. Mas sabe que está cercado de “parças” que lhe atrapalham a dança. Por isso, uma das suas primeiras providências foi apelar a outro anexim: confia em Deus, mas amarra o teu camelo. De tanto confiar em Deus e amarrar o camelo, achou-se o macho alfa da república: se autocondecorou com a Medalha da Ordem Nacional do Mérito Científico. Afinal, quem “inventou” a cloroquina? Se isso não for mérito científico o que é a ciência?


Todos se merecem.


Mas justiça seja feita: deu a condecoração a outros ilustres contribuintes ao desenvolvimento científico: Marcos Pontes e Paulo Guedes, os dois que se bicaram recentemente, quando o Posto Ipiranga chamou o astronauta de burro. Outra dupla merecedora da homenagem: Milton Ribeiro, ministro da Educação e Carlos França, das Relações Exteriores. Tutti buona gente.


Feliz quem não lê Vieira.


O mundo é dos espertos e Bolsonaro sabe. Felizmente ele é “autêntico” e provavelmente nunca ouviu falar do padre Vieira. O tal padre não gostava de gente sabida. Tanto que escreveu essas amargas palavras: “Ah! serpentes astutas do mundo (…) tão vivas! Não vos fieis da vossa vida nem da vossa viveza; não sois o que cuidais nem o que sois: sois o que fostes e o que haveis de ser”.


A voz que reverbera.


Por falar no padre, não perca tempo com os cientistas sociais midiáticos e os filósofos de televisão. Vá direto à fonte. Vieira, no século XVII, nos anos 1600, denunciava a matança das tartarugas e a devastação das matas. Nos sermões, castigava as oligarquias luso-brasileiras lembrando-lhes que o Inferno era o destino dos pilantras da elite colonial. Em tempos d’antanho (!) perambulei pelas igrejas maranhenses, algumas só ruínas, onde o padre pregou. Nas paredes ainda reboam as palavras de Vieira: é possível ouvir a sua voz nos escombros dos templos. Afinal, o Brasil é escombro.


Beber na fonte.


Vá a Vieira, mas cuidado com os “mestres” (de literatura, de português, de tudo) que inventam um Imperador da Língua, reduzindo o padre a beletrista. Vieira é a voz que incendeia, sua forma é luz para alumiar o conteúdo: não escreve para embevecer, mas provocar. Outros há, como ele. Para felicidade do espertalhão Bolsonaro, a “autenticidade presidencial” o protege das verdades do padre: “Não vos fieis…”.


Pequenas Notas – 28-10-2021.


A revista alemã Emma considerou o papa Francisco “o homem mais sexista do ano”. Embora reconheça que ele é progressista em muitos sentidos, também “é chefe de um sistema de apartheid em que as mulheres são pessoas de segunda classe”. Segundo a revista, “só por seu sexo biológico as mulheres são servas de patrões pios e limpam os pisos das igrejas. Estão excluídas dos sacramentos e da ordenação”. Criticando o papa por ser contra o aborto e não punir severamente sacerdotes pedófilos, não deixou por menos: “Devido a tua culpa, tua culpa, tua grande culpa, chegamos a crer que quase nada no mundo cristão é tão responsável pela miséria das mulheres e das crianças como tu”.


Apenas um retrato do Brasil.


Em 2008, o pastor Huber Carlos Rodrigues, de Goiatuba (GO) assinou um documento afirmando que ressuscitaria três dias após sua morte: “Minha integridade física tem que ser totalmente preservada, pois ficarei por três dias morto, sendo que no terceiro dia, eu ressuscitarei. Meu corpo durante os três dias não terá mau cheiro e nem se decomporá, pois o próprio Deus terá preparado minha carne e meu cérebro para passar por essa experiência”. Morreu segunda-feira (25/10) e seu corpo foi colocado em um local refrigerado. Sua viúva conseguiu uma ordem judicial para prorrogar o sepultamento até o prazo da ressurreição. Centenas de pessoas esperaram o milagre, pois o pastor disse que nesses três dias estaria com Deus e ouviria “divinas revelações do Espírito Santo”. O prazo expirou e o defunto continuou morto. Conformados, os fiéis fizeram uma grande motociata para levá-lo ao cemitério.


Outro retrato do Brasil.


João Vitor da Silva de Amorim, 23 anos, foi assassinado no dia 24, no Grande Recife. Era cantor de “brega-funk”, conhecido como MC Pitbull da Firma. Seu túmulo foi violado na segunda-feira (25/10), o caixão com o corpo foi desenterrado e incendiado. Tanto o seu assassinato, como a violação do túmulo e incêndio do caixão e do cadáver, foram antes anunciados pelas redes sociais.


A morte por cinquenta euros.


O psicólogo holandês Wim van Dijk, disse que deu “pó para suicídio” a mais de cem pessoas. Na Holanda a morte assistida é permitida por lei, mas os religiosos começaram a questionar o “direito” das pessoas se suicidarem. O procedimento legal para a “morte assistida” de pacientes terminais exige a presença de um médico neutro. O psicólogo afirma que prepara cuidadosamente as pessoas “que querem manter o controle sobre seu final de vida”. Ele é membro da Cooperativa Última Vontade, que por € 50 oferece o “pó para suicídio”.


A tradição religiosa: contra.


Em países religiosos, como o Brasil, morrer voluntariamente é complicado. Agostinho (354/430) condenou o suicídio, o que foi confirmado no Concílio de Arles, em 452. No entanto, a Igreja usava uma hermenêutica particular: suicídio, não; “sacrifício”, sim. Se o católico estivesse em “grande perigo” de cair em tentação, podia “sacrificar-se” para evitar o pecado, que poderia mandá-lo ao inferno. Agostinho achava lícito o cristão escolher o sacrifício – matando-se – em defesa da integridade da fé… se recebesse uma ordem direta de Deus.


Nem sempre foi pecado.


Antes de surgir o cristianismo Deus permitia o suicídio aos seus escolhidos. É o caso de Sansão, que derrubou as colunas do templo e morreu esmagado pelas pedras, porque Deus falou diretamente à sua consciência que assim o fizesse. Mas, para quase todas as religiões, o suicida é um pecador. Se o “sacrifício” não for ordenado por Deus, nem o remorso livra do pecado quem se mata. Judas, que se arrependeu e enforcou-se, não é perdoado – seu suicídio é considerado prova de mau caráter.


Filósofos entram no caso.


Muitos filósofos condenam o suicídio. Aristóteles, que Tomás de Aquino traduziu e “adaptou” à teleologia católica, dizia que o suicida era um criminoso, pois ao matar-se prejudicava o Estado. Para o ele o “indivíduo não é dono da vida e não pode subtraí-la ao Estado”. Aristóteles apoiava a lei que mandava cortar a mão direita dos suicidas e enterrá-la longe do corpo. Sócrates, que era mais duro contra os suicidas do que Aristóteles, matou-se, como todo mundo sabe, tomando cicuta – dizem que ele foi obrigado. Platão achava a vida um dom divino e o homem não poderia afrontar os deuses destruindo-a. Às vezes vacilava e tolerava o suicídio, se fosse a vontade divina…


O último recurso humano.


Mas há, também, o suicídio coletivo – e político. O banzo talvez seja o sentimento mais forte de liberdade que existiu no Brasil. O negro escravizado, por uma série de razões históricas, psicológicas, familiares etc., “deixava-se” morrer. A elite branca da época via nisso uma “traição”: escravos custam tão caro e os danados “deixam-se” morrer, prejudicando o investimento dos seus senhores! João Ribeiro, um historiador que já foi muito celebrado, retrata bem esse preconceito contra o banzo/suicídio: “Uma moléstia estranha, que é a saudade da pátria, uma espécie de loucura nostálgica ou suicídio forçado, o banzo, dizima-os [os negros] pela inanição e fastio, ou os torna apáticos e idiotas”. Nessa frase unem-se à perfeição o racismo e a preconceituosa visão do suicídio cometido pelos negros africanos.


Os suicidas desalmados.


Na Representação à Sua Majestade sobre a cobrança dos quintos no Serro do Frio , de 1734, afirma-se: “Há negros tão desalmados que por qualquer sombra de castigo que os Senhores lhe queiram fazer tomam em si o folego e sem cerimônia vão para o inferno”. O funcionário colonial julgava o suicídio uma maldade contra os senhores: com a morte o escravo tirava do escravista uma propriedade valiosa.


Novidade para os índios.


Essas Pequenas Notas estão ficando longas, por isso, vou lembrar rapidamente o suicídio dos kaiowá: de 1986 a 1996, 211 índios suicidaram. É a maior média de suicídio no mundo, segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde). No caso dos indígenas brasileiros e africanos escravizados o suicídio não foi uma morte voluntária, mas um assassinato induzido pela opressão social, levando ao desespero e desesperança. Índios de todas as nações continuam se matando – o suicídio é uma novidade nas civilizações indígenas e só começou depois da chegada dos brancos europeus.


Pequenas Notas – 22-10-2021.


Dilma tem razão: é possível estocar vento. O governo do Rio Grande do Norte anunciou um projeto industrial para usar o vento como fonte de energia elétrica. As piadas que ridicularizam Dilma quando em 2022 ela falou em estocar vento, sugerem uma avaliação das consequências políticas sobre o menosprezo nas redes sociais.


Dilma e o estoque de vento.


Lembram quando Dilma, em 2022, entrevistada na ONU, falou em estocar vento? Foi uma gozação geral. Na época principiavam, e não percebíamos, a “lacração” e o “cancelamento”. Começava-se a desqualificar os “inimigos”, mostrá-los como corruptos ou burros, para convencer a população que eles deveriam ser banidos da política. No entanto, Dilma tinha razão. Tanta que o governo do Rio Grande do Norte prepara-se para estocar vento, em parceria como a empresa Energy Vault Brasil. Agora o “estoque de vento” tem nome chique: armazenamento verde gravitacional de energia. O projeto visa “estocar energia gerada a partir do vento com o objetivo de ter energia disponível para os momentos em que não houver vento”, segundo um especialista do ramo. Várias empresas estão se preparando para “estocar vento”, pois se acredita que nos próximos anos haverá uma grande demanda por essa fonte de energia.


Picaretas unidos sempre vencem.


Depois que a boiada passa não adianta chorar as pitangas. Dilma caiu, Lula foi preso, Haddad perdeu e Bolsonaro ganhou, com rachadinhas e milicianos, fato conhecido antes de ele se eleger. Bolsonaro foi escolhido para combater a corrupção e acabar com a velha política. Lula foi estigmatizado como o maior ladrão do país. Carimbaram Haddad como “poste”. Hoje o resultado está além das seiscentas mil mortes – mas não se espantem se a história se repetir. De Collor, o caçador de marajás, a Bolsonaro, a estrada é policiada por oportunistas de todas as classes, que se juntam ao poder que, quanto mais safado e enganador, melhor para eles.


Comparando os incomparáveis.


No Brasil não faltam olavos de carvalho, abastecidos por “ideólogos” patrocinados por Trump & Cia. Usam táticas grotescas, mas eficazes. Por exemplo a comparação “liberal” entre Bolsonaro e Lula é absurda: Lula nunca atentou contra a democracia nem faz arminha. Mas dá certo – incautos acreditam que os polos igualam-se nos métodos da corrupção e da violência antidemocrática. Não é Bolsonaro que lhes importa, mas a “mancha” que lançam sobre Lula ao equipará-lo à boçalidade bolsonarista. É a tática que não se importa em sujar o aliado, desde que se prejudique o inimigo.


Calúnia, difamação, ódio.


Nesse jogo direita e esquerda diferem no método, porém, buscam o mesmo resultado. A eleição do próximo ano será, no mínimo, “instrutiva”: com as restrições legais que se esperam, mas com a internet indomável, a guerra eletrônica será vencida por quem for mais “esperto” – e essa esperteza vale-se principalmente do uso da calúnia, da difamação e o estímulo ao ódio. O que fazer?


A saturação da baixaria.


Está provado que certa direita furibunda não tem escrúpulos. É capaz de vender a mãe e entregá-la. A esquerda corre atrás do trio elétrico e tem tudo para perder a batalha nas redes sociais. Porém, por paradoxal que pareça, se for derrotada no Whatsapp, no Facebook , no Telegram e no Instagram por incompetência ou recusa de baixar o nível até ao lodo fascistóide, pode ganhar eleitores saturados de tanta baixaria.


Os brutos sempre ganham.


Resta saber se esses “influencers” tem realmente tanta influência. E observar uma constante nas últimas eleições: os marqueteiros são sempre os mesmos, que trocam de candidato a cada vez, porém, repetem seus cacoetes. Pior: eles se sobrepõem ao programa dos partidos, que por sinal, têm poucos princípios. O triste será se o reacionário Paulo Francis tiver razão mais uma vez: “Nas eleições, os brutos sempre ganham”. Será?


A astúcia da direita.


A direita só larga o osso quando perde a esperança de vitória. Então, alia-se ao provável vencedor. Ao contrário do que dizia Paulo Francis, não é com votos, mas dessa forma “aliancista” que os brutos sempre ganham: a aliança espúria vicia um e premia outro…


Pequenas Notas – 13-10-2021.


No Brasil a ironia da história inverteu os vilões. Antes, lutávamos contra o dragão da mal-dade, agora, o dragão da maldade expulsa o herói e canoniza o crime.


A velha cobiça internacional.


A história também é feita de ironia. Há cem anos a esquerda e os nacionalistas denunciavam a “cobiça internacional” pela Amazônia. Diziam que o imperialismo ameaçava nossa soberania para roubar minérios, petróleo, terras e rios. Não acharam minérios nem petróleo e até o meio do século passado ninguém quis plantar soja. A “cobiça internacional” tornou-se um bicho-papão fora de moda. Atualmente, com os sinais trocados, voltou à cena a tal cobiça. Detalhe: hoje a “cobiça internacional” é praticada por brasileiros aliados ao governo Bolsonaro.


Os militares abriram as portas.


Mas a direita, que permite a degradação da floresta, diz que a preocupação ecológica dos países ricos disfarça a ganância pelas “nossas riquezas”. A ironia: foi a ditadura militar que em 1967 mudou a Constituição para permitir a exploração do subsolo por estrangeiros e criou a Amazônia Legal, estendendo a faixa de exploração mais ao sul. Então as mineradoras estrangeiras saquearam nossos minérios; o Projeto Jari e as transacionais apossaram-se de enormes áreas. A dilapidação das matas e a matança dos nativos passaram a ser, também, um esporte dos brasileiros que disputam os restos da pilhagem.


Bolsonaro é coerente: apoia o crime.


As queimadas, o desmatamento, a poluição dos rios provocada pelo garimpo etc., lembraram aos países ricos o perigo do desequilíbrio ecológico. E eles, que foram beneficiários da legislação que abriu as portas e as comportas para o capitalismo especulador, passaram a exigir que um governo de direita, historicamente seu aliado, contivesse a agressão. Só que o governo Bolsonaro é coerente: defende os criminosos ambientais, que representam a sua visão de progresso – ação predatória contra a natureza, na abertura de espaço para a boiada passar e permitir aos contrabandistas nacionais de minérios e madeira liberdade para vender aos piratas internacionais.


O retorno dos bandeirantes.


Essa inversão seria divertida, se não fosse trágica. Houve tempo em que os livros escolares apresentavam os bandeirantes como heróis que “desbravaram” o território e ampliaram nossas fronteiras. Nesses livros não se fala da destruição da Mata Atlântica nem do assoreamento dos rios: ainda chovia mais ou menos regularmente. Quanto aos índios escravizados e mortos, eram apenas índios, e daí? Hoje, é difícil apresentar grileiros, genocidas e incendiários como bandeirantes heroicos.


Só falta uma leizinha.


Porém, a ironia da história revela-se, também, na rapidez das mudanças. Eis onde mora o perigo: há, no Congresso e é meta no governo Bolsonaro, projetos para a implantação de grandes cassinos no Brasil. Um representante dos empresários de Las Vegas tem escritório em Brasília, onde coopta deputados e senadores e promete “parceria” com “empreendedores” brasileiros – estes seriam o “espírito dos bandeirantes”, desbravadores de uma mata que (para eles) só serve para abrigar saguis. Um conglomerado de cassinos e resorts em plena Mata Atlântica seria um atrativo turístico de sucesso e promoveria negócios de milhões de dólares (com tudo o de praxe: lavagem de dinheiro, alta prostituição, concentração de mafiosos etc.). Só falta uma lei, um decreto, para permitir fatiar o que sobrou da Mata Atlântica, especialmente a parte litorânea paulista.


Já temos nossos desertos.


E para mudar de assunto e continuar no mesmo, saiba quantos lerem essas mal traçadas linhas, que o Brasil tem 13% do seu território afetado pela desertificação. A informação é oficial, do Ministério do Meio Ambiente – daquele ministro que passou a boiada. O fato preocupa a ONU (Organização das Nações Unidas), mas não os brasileiros. Por isso, a ONU criou, em 1994, a Comissão contra a Desertificação, que elabora projetos para deter esse fenômeno, que já destruiu quase metade das terras agriculturáveis da África.


É a vida: vamos morrer mesmo.


Entre as causas da desertificação estão o desmatamento de áreas com vegetação nativa, uso intensivo do solo na agricultura e na pecuária, irrigação inadequada, mineração clandestina ou mal projetada etc. Os resultados são a perda da cobertura vegetal, redução da biodiversidade, salinização e alcalinização da terra, erosão, perda dos mananciais hídricos, queda da fertilidade e produtividade do solo e, em decorrência, diminuição da produção agrícola – no fim da linha, fome.


O Brasil flerta com o deserto.


A desertificação atinge 15% do planeta. No Brasil, 13% do território está desertificado ou desertificando-se. Em 2022 a Paraíba tinha 71% do seu território afetado. Bahia, Ceará e Mato Grosso seguem o mesmo caminho. Ainda há o processo de arenização, que atinge mais o sul do Brasil. Esses dados são oficiais e fáceis de obter na internet. Digite desertificação/arenização e terá muita informação (se ler inglês, escreva desertification ou sandization). Há inúmeros estudos de especialistas brasileiros e internacionais sobre o assunto. O problema é – quem se importa?, pois, como já disse o cientista Bolsonaro a respeito da pandemia, todos vamos morrer mesmo…


Pequenas Notas – 05-10-2021.


De repente o grande poder de comunicação universal entra em parafuso. No “novo mun-do” que põe tudo na Nuvem e depende na cibernética, nada é sólido e tudo se desmancha no ar.


À beira da histeria universal.


Whatsapp, Facebook e Instragam ficaram seis horas fora do ar. Pânico, prejuízos nas bolsas, mercados em baixa. Manchete em todo o mundo. A Folha, só como exemplo, deu seis páginas de reportagens sobre a “tragédia” e quase todos seus colunistas abordaram o assunto. Faltou pouco para uma histeria jornalística planetária. Mais que sinal dos tempos, é a comprovação da dependência ao complexo eletrônico e mostra, também, a fragilidade do sistema não só de comunicações, mas principalmente, dos negócios. Nesse novo mundo nada é solido e tudo se desfaz no ar. Mas não acaba nem termina (há alguma diferença…) – o que se perde volta em novas formas de dominação das mentes e dos estômagos.


Guedes mordeu o cachorro?


O homem morder o cachorro é notícia. O cachorro morder o homem só será notícia se o cão abocanhar uma celebridade, como Neymar, Anita… ou Paulo Guedes. Por isso, a falha do Whatsapp, Facebook e Instragam é “valorizada” na imprensa: afinal, quem investe em offshores, como Paulo Guedes, cai no vácuo da informação. O ministro usar uma conta de pelo menos US$ 9,95 milhões, nas Ilhas Virgens, paraíso fiscal caribenho, só começa a ter destaque agora, depois que a pane midiática ameaçou seus lucros: ele deixou de ganhar alguns milhões nas seis horas de “caos”. Desde que Bolsonaro tomou posse e nomeou Guedes ministro da economia o dólar subiu 40%, com a equivalente desvalorização do real – o Posto Ipiranga não perdeu tempo, transformou seus reais em dólares e mandou a grana para a offshore. Em um país mais sério ele estaria demitido e se explicando para se livrar da cadeia. No Brasil, tudo é “legal”.


Morrer de fome é normal.


Enquanto escrevo, na periferia das grandes cidades e no terceiro mundo milhares de crianças morrem de fome e a subnutrição afeta o cérebro de milhões de sobreviventes – não dá manchete. O fato é tão “natural” que passa despercebido, a não ser quando um grupo de famintos cata ossos e carne podre e são filmados a revolver o lixão. Sempre há seres humanos procurando comida nos lixões, qual a novidade?


De volta ao mapa da fome.


Um relatório da Ação da Cidadania, Ong fundada por Herbert de Souza (o Betinho, irmão do Henfil), informa que 100 milhões de brasileiros estão em “insegurança alimentar”: têm fome. O estudo foi feito por 106 especialistas que constataram a “destruição de direitos sociais, ambientais e econômicos, além de direitos civis e políticos, arduamente construídos nas últimas décadas” – e não há perspectiva de melhora, pelo contrário. A FAO (Organização das Nações Unidos para Agricultura e Alimentação), em 2013 premiou o Brasil por ser referência mundial na redução da pobreza e fome. Com Temer e Bolsonaro o Brasil voltou ao mapa da fome: considera-se “faminto” o país com 5% da população em situação de insegurança alimentar: o Brasil tem 9% (provavelmente já ultrapassou os 10%).


Duplicando os famintos.


O governo “ataca” com o auxílio emergencial, que ameniza, mas não resolve, pois a fome “não é uma criação da covid (…) vem crescendo desde 2022, quatro anos antes da pandemia, e isso se deve a fatores que não têm a ver com o vírus. Esses fatores têm a ver com decisões políticas e ideológicas a partir de 2022. A covid só agravou a situação, mas a política de proteção a essas pessoas já estava desmantelada. Quando terminar a pandemia, se nada mudar, continuaremos nesse processo de degradação e de aumento da fome no Brasil”, afirma Rodrigo Afonso, diretor da Ação da Cidadania, que completa: “As medidas tomadas por Bolsonaro foram absolutamente trágicas”, como a extinção do Consea (Conselho Nacional de Segurança Alimentar), logo ao tomar posse. Resumo: em 2014 existiam cerca de 8 milhões de pessoas em insegurança alimentar, número que decrescia. Em 2022 esse número dobrou e hoje existem 20 milhões de pessoas em situação de fome no Brasil.


A consciência de cada um.


A fome é normal no Brasil Crianças morrendo de subnutrição também. Mas a pane no Whattsap, deus nos acuda…


Pequenas Notas – 25-09-2021.


Mais uma do Bolsonaro: ele disse que Boris Johnson, primeiro ministro do Reino Unido, pediu-lhe “um acordo emergencial” para suprir a escassez de um alimento. O premiê britânico desmentiu. Para não chamá-lo de mentiroso informou que as declarações de Bolsonaro “não condizem com a lembrança dos eventos”. Os políticos ingleses sequer ficaram irritados: sabem que o presidente brasileiro mente como regra e que suas mentiras são inconsequentes. Inconsequentes pra eles, pra nós…


A Prevent além das fraudes.


Além das fraudes, corrupção, abuso contra médicos e pacientes, o caso da Prevent deveria ser investigado para apurar porque a formação tecnocientífica brasileira falha na preparação do profissional para o exercício da cidadania. Na Alemanha nazista a ciência submeteu-se à ideologia. Se a CPI da covid estiver certa, no Brasil (que está longe do nazismo), a empresa que vende planos de saúde pôs em prática as ideias de um governo recheado de ignorantes e potenciais criminosos contra a humanidade. Mais do que denunciar a corrupção, será necessário investigar as motivações que levam pessoas teoricamente aptas para defender a vida a comportamentos inomináveis.


Corrupção generalizada.


Evidência desde que o capitalismo se impôs como base dos sistemas políticos e sociais: não existe capitalismo sem corrupção. Do Japão à Noruega. Onde o capital é mais forte, maior a corrupção e as distorções sobre a democracia, como nos Estados Unidos, que chegou a Trump, o que seria impossível sem a corrupção sistemática. Com Biden a valsa continua – basta ligar a televisão para ver. Estruturalmente não há solução: assistam Nomadland , filme vencedor do Oscar desse ano.


Cadê os contrapesos?


Não há contrapeso que contenha os abusos. A legislação ambiental brasileira era considerada uma das melhores do mundo. Nesse século tivemos avanços e conquistas consideráveis. Da Constituição às leis específicas, o meio-ambiente estava protegido e o Estado contava com organismos sociais, políticos, técnicos e científicos invejáveis. Porém, em alguns meses do governo Bolsonaro tudo desmoronou. Não é preciso lembrar as várias etapas da degradação legal. Como vimos, a boiada passou. E os contrapesos? Diluíram-se, tornaram-se inúteis diante da boçalidade de Bolsonaro.


Quando se perde os limites.


Tanto na questão ambiental, como na econômica e social, não basta investigar o aparente, aquilo que está à vista, como o desmatamento, a inflação, a perda de poder de compra dos salários etc. É preciso ter a consciência de como surgem esses “males”. Qualquer investigação, mesmo que não seja profunda, leva ao problema ético – o capitalismo não tem limite e favorece aos que, ao atingirem o poder, não tem escrúpulos. O “caso” Bolsonaro e seus filhos, mais a caterva do seu entorno e a bovinidade dos seus apoiadores provam que vivemos em um sistema desumano e irracional.


Pequenas Notas – 21-09-2021.


Projeto do submarino nucelar brasileiro “Alvaro Alberto”, SN10, que já teve a montagem de um reator. A construção do SN10 desenvolve-se com tecnologia francesa.


A Austrália também vai à guerra.


A mídia comentou a rasteira dos EUA na França, no caso do submarino nuclear. A parceria estava fechada entre franceses e australianos. De repente, a Austrália optou pelo Tio Sam. Mas ninguém perguntou para que os australianos querem um submarino nuclear. O custo e o preço dessa “arma tática” são enormes. Os benefícios, duvidosos. Enquanto milhões morrem de fome e crianças têm o cérebro lesado por falta de proteína – e faltam vacinas para as vítimas da pandemia – as grandes potências convencem sua periferia a torrar dinheiro com armamento. Quem se espanta com a incongruência desse mundo é tratado como o ingênuo por não entender o jogo geopolítico que, invariavelmente, provoca calamidades.


Nada de estranho nas mentiras.


Ninguém deveria estranhar as mentiras de Bolsonaro, na ONU. Além do seu histórico, é próprio do trapaceiro mentir cada vez mais. Sempre há quem acredite. Aliás, é mais fácil crer no mentiroso do que em quem diz a verdade. A verdade pode exigir um esforço de interpretação do mundo, motivando à ação. A mentira conforta e consola. O mentiroso sabe a quem mentir: Bolsonaro não mentiu para centenas de representantes de países, mas disse a “verdade” para os seus seguidores: se eles creem, avalizam a mentira como verdade. Qual bolsonarista discorda das falácias de Bolsonaro sobre o “tratamento precoce” e da inutilidade das vacinas?


O mito com alvará para mentir.


O trabalho do jornalista é contar a verdade. O político embusteiro mente, lucra com a mentira e vende ilusões. Há quem recuse a verdade grátis e pague caro pela mentira – no caso de Bolsonaro todos pagamos. Se o jornalista mente perde seu único capital: a credibilidade. O político flagrado a mentir inventa nova mentira. Trata-se de mendacidade, a tendência “natural” para enganar. É diferente da mitomania, característica daqueles que fantasiam a realidade ou inventam fatos fabulosos. Mas Bolsonaro é mendaz é mitômano ao mesmo tempo. Engana e inventa uma fantasia que só existe na sua mente.


Há quem defende o mentiroso.


Há jornalistas que mentem e políticos que dizem a verdade. A diferença é que o jornalista pode ser processado e condenado, enquanto o político que faz da mentira profissão não é punido pelos eleitores – pelo contrário, quanto mais mente, mais “entusiasmo” provoca: os bolsonaristas saem em motociata, aglutinam-na em manifestações e entopem os canais de comunicação da ONU para defender as mentiras do seu mito, como aconteceu ontem.


Da mentira ao cinismo.


O continuado exercício da mentira esgota o arsenal do mentiroso. Então, ele “evolui” para o cinismo e fica a um passo do deboche. O jornalista crítico, limitado pela ética e pela lei, tem de recorrer à ironia. Porém, a ironia é a arma dos fracos, que quanto mais irônicos, mais fracos. Já o cinismo é o canhão dos poderosos, que quanto mais cínicos, mais fortes. O jornalista precisa provar a verdade, mesmo quando ela é evidente. O mentiroso vale-se do cinismo e da presunção de inocência para safar-se com a mentira. A mentira exaltada pelo cinismo leva ao deboche.


Uma doença que pega.


O caso da família presidencial é “instrutivo”. O pai mente com cara séria. Seus filhos reproduzem a mentira cinicamente. Segunda-feira o 04, no alto dos seus vinte aninhos, postou nas redes sociais um cínico deboche ameaçando a CPI, ao exibir armas de uma loja. Mas a doença pega e hoje vimos a calhordice de uma comitiva oficial brasileira, em Nova York: o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, brindou manifestantes com um gesto cafajeste, mostrando-lhes o dedo médio, o “fuck you” dos norte-americanos.


A pizza comida na sarjeta.


A realidade é irônica e cruel: a nação está pagando a conta pela escolha desvairada do eleitorado que consagrou o ódio. O desastre bolsonarista ainda não chegou ao limite: pode piorar e, certamente, veremos o impensável – quem poderia imaginar que um presidente do Brasil fosse proibido de entrar em um restaurante nos EUA, por burlar as regras sanitárias e fosse obrigado a comer pizza na rua?


Pequenas Notas – 17-09-2021.


Um novo tempo político. O desenho (pastel) é de Gelly Korzhev (1925-2012) interpretan-do o que viria com o fim do socialismo na Rússia. Ainda não chegamos lá, mas…


E se ele fosse do PT?


Bolsonaro baixou para 22% de aprovação contra 53% de reprovação, segundo o Datafolha. Se ele fosse do PT morderia o pó. Mas é o escolhido pelas elites econômicas e abençoado pela classe média vassala. Se hoje todos estão arrependidos é um detalhe (atenção: eles não se arrependeram, “ estão arrependidos”). Acreditem: eles ainda creem no capitão, esperam um milagre, que pode ser a terceira via ou um general arrastando esporas. As cartas não mentem jamais, mas as pesquisas e as estatísticas…


O mito revelou quem eles são.


Essas “pessoas do bem” renegam o presidente, mas não aderem a nenhum movimento progressista, porque ninguém os representou melhor do que ele. O capitão mostrou-lhes quem eles são. Eles não sabiam que eram tão violentos, até que Bolsonaro fez tudo o que eles admitem no fundo da alma. O mito debochou dos quilombolas dentro de um clube judaico e foi aplaudido. Querem melhor prova de “identificação” das “pessoas do bem” do que essa anuência à brutalidade racista pelos descendentes das vítimas do Holocausto?


Assustaram-se com seus anseios.


Então, deram-lhe poder. Com a faixa presidencial e a caneta para comprar deputados Bolsonaro partiu para a ação. De repente, a pandemia mostrou um genocida em potencial. A mesma “boa gente” que só pedia o fim do PT e que os negros, pobres e homossexuais fossem colocados “nos seus lugares”, assustou-se com vileza da tarefa que Bolsonaro começou a executar.


Primeiro, ouvem “Mateus”


Moro em um bairro de classe média baixa. Nas imediações da minha casa existem seis igrejas evangélicas (e uma católica e outra menonita). A maioria dos moradores tem medo da “volta do comunismo” e inconscientemente (ou nem tanto) está pronta para apoiar outro Bolsonaro (ou o próprio). As pesquisas não mostram o “’fundo do coração”. O instinto primitivo, a gula pela propriedade (de qualquer coisa) e o velho ditado – Mateus, primeiro os teus – explicam como funciona a “(in)consciência política”.


E se o juiz vier fardado?


Se isso não quer dizer que Bolsonaro pode virar o jogo, demonstra como é difícil chegar ao fim da partida sem que um juiz ladrão mude o resultado. Se esse juiz ladrão aparecer fardado a população vai “compreender” que é preciso “por ordem na casa”. O Brasil, nascido sob o signo da violência e da usurpação, expandido pelo genocídio do índio e enriquecido por outro genocídio, que começou na África, sempre esteve pronto para aceitar o jugo dominador das oligarquias.


Parênteses para me queimar…


(Nos bairros da classe média baixa a solidariedade está na sua periferia: nas favelas. Favelados são solidários e dividem tanto a comida como os “gatos” (luz, água, internet); mesmo os traficantes têm uma relação social mais humana com os necessitados do que as “pessoas de bem” que lotam os templos – a “normalidade” só sai de controle em caso de guerra entre as milícias, raras no interior.)


Às vezes, o que parece não é.


Lukács, o filósofo húngaro que se debatia entre o comunismo, o estalinismo, Marx e Hegel, aos 87 anos, sentindo-se mentalmente frágil, confessou estar incapaz de desenvolver seus textos, cada vez mais complexos. Ao contrário do que parece, a confissão de Luckács não foi um atestado de impotência diante da velhice, mas o entendimento de que o diabo fica velho e saca as coisas mais rápido… Quem já viveu, sabe pela experiência; quem ainda não viveu afoga-se na esperança.


Sobre a esperança e o esperar.


Não apresse o julgamento: a esperança não é a última que morre, porque nunca morre. Só perde a esperança quem cansou de esperar. Por isso a classe média que se decepcionou com Bolsonaro “espera” outro mito, pois nunca teve esperança em nada diferente. Se é que me entendem, se não, azar (não o meu).


Pequenas Notas.


O Brasil adotou o canalhismo.


O canalhismo brasileiro é rápido. Em menos de 48 horas Bolsonaro anunciou o golpe, chamou Moraes de canalha e a turba aplaudiu. O STF ameaçou o presidente de prisão por crime de responsabilidade. Bolsonaro pediu a Temer uma carta de retratação. O “canalha” do STF atendeu ao telefonema do presidente, encontrou-se com o ministro da Justiça e confabularam quatro horas. Gilmar Mendes deu o aval à boa-fé de Bolsonaro. A imprensa, que pedia a cabeça do tresloucado golpista, acalmou-se e elogiou a conciliação. O dólar caiu e subiu, a Bolsa idem. Agora todos acreditam que Paulo Guedes pode consertar o desastre econômico. Tudo em menos de 48 horas.


Pode ser cafajeste ou falastrão.


Esse “regime” político não é democrático ou coisa semelhante – é o tradicional canalhismo conciliatório. Bolsonaro pode passar de cafajeste a simples falastrão: para a imprensa é a mesma coisa, depende do uso que se faz dele. Cafajeste e golpista ao ameaçar o sistema. Apenas falastrão, quando as oligarquias que o usam o colocam no seu lugar.


A volta do Posto Ipiranga.


Paulo Guedes, o ministro que já foi Posto Ipiranga, vai de incompetente a vítima das besteiras de Bolsonaro. Se as coisas se acalmam politicamente, ele ressurge como o menino de Chicago, capaz de salvar a pátria com as privatizações e “desonerações” (entenda-se: os trabalhadores pagam a conta dos bacanas). É a geleia geral brasileira.


O golpe já foi dado.


O entendimento é que Bolsonaro acovardou-se e não houve golpe. É despiste. O golpe está dado há tempos, só falta ser oficializado com a turma do centrão e os doutores de toga, abençoados pelos milicos, à espera da hora certa de livrar-se de Bolsonaro. Por enquanto o centrão pode mamar mais um pouco e o agronegócio apoia na esperança de o mito desaparecer com os índios. Os militares, encastelados no governo, com salários nos escalões médio e alto de R$ 46 mil a R$ 260 mil, esperam o ambiente clarear e um “civil responsável”, tipo Temer, Sarney, por aí, ser ungido defensor da moral e dos bons costumes. Bolsonaro não dá golpe: atrapalha o golpe em curso.


Cadê a cornucópia da Globo?


Cadê a cornucópia? A rede Globo, que repete dezenas de vezes diariamente que “tá na Globo, agro é tudo”, para derrubar Dilma inventou uma cornucópia que jorrava dinheiro roubado, no Jornal Nacional, toda noite, durante meses. Para a emissora os petistas seriam os maiores ladrões da história. Deu no que deu: de Temer a Bolsonaro chegamos às rachadinhas, Queiroz, milícias, desmatamento, inflação, feminicídio em alta constante & outras diabruras de uma direita esquizofrênica. Cadê a cornucópia da Globo, que antes dos anúncios do agronegócio era tão “revoltada” com as maluquices de Bolsonaro?


A farsa executada às claras.


O Supremo e a Lava Jato demonizaram e puseram Lula na cadeia, facilitando a eleição de Bolsonaro, o preferido do pato da Fiesp e das “classes produtoras” – banqueiros incluídos. A classe média cumpriu seu papel de vassalagem. De repente, Lula é livre de quase tudo, a Lava Jato desmorona, Sérgio Moro é desmascarado e o Supremo finge “equidade”. Tudo aconteceu e acontece às claras, mostrando a farsa democrática aos que não se distraem.


Os salários de uns e de outros.


Enquanto isso ninguém parece se incomodar com os salários, bônus e vantagens do judiciário e das forças armadas. Um trabalhador que recebe o salário mínimo ganha até 12 vezes menos que um juiz ou oficial do Exército. Quem paga o salário dos privilegiados? Justamente os trabalhadores que recebem o salário mínimo e produzem o PIB que engorda os milionários.


Acredite: há quem goste.


Assim é o Brasil. Dominado pelo canalhismo político e alienado pela mídia que alimenta a farsa. A pobreza aumenta, a educação se degrada, a vida cotidiana é um atropelo para pobres e negros – a fome torna-se “normal” e crianças são assassinadas frequentemente. As mulheres são ameaçadas e a diversidade de gênero é punida com violência física, psicológica e moral. Há quem goste.


Pequenas Notas – 07-09-2021.


Avanti bestia gente, il nostro capo è un imbecille, la benzina è molto cara e la disoccupazione aumenta, ma compriamo fucili perché non mangiamo fagioli. Amata patria, Brasile!


Os políticos e o burro desembestado.


Intelectuais, artistas, jornalistas e o “povo em geral” cobram uma atitude mais vigorosa dos políticos contra o golpismo de Bolsonaro. Leda esperança: políticos brasileiros são covardes por natureza, salvo uma ou outra exceção. Tratando-se da malta que navega no centrão, nem pensar. Um simples sopro do centrão desmontaria o governo Bolsonaro e poria a correr toda a milícia do seu entorno. Mas esse pessoal, tradicionalmente, é cúmplice das ditaduras e fatura com os golpes, embora engane seus eleitores mentindo a valer. Portanto, nada a esperar da “classe política”. Mas se os políticos não freiam o burro desembestado, quem?


A quem poderíamos apelar?


A eu, tu, nós, vós, eles. Mas esses pronomes sem verbo estão perdidos, abandonados desde que os partidos perderam o rumo e a ideologia – alguns nunca tiveram ideia disso. Sem força partidária e ideológica que aglutine a oposição, nada feito. Tudo é disperso e morre no voluntarismo verborrágico. Por isso Bolsonaro pode fazer o que faz: a “política”, entendida no seu aspecto majoritário – deputados, senadores, governadores, prefeitos etc. – espera para ver o que pode lucrar. Sua “ideologia” resume-se ao jogo do ganha e perde. Se o golpe vingar, o centrão e adjacências sabem que nenhum ditador sobrevive sem o apoio do “jeitinho” político, que eles vendem a bom preço. O negócio tem sido historicamente bom para ambas as partes, pois o povo sempre paga as contas.


Quem trabalha e quem explora.


Os trabalhadores pagam as despesas de ditadores (militares ou civis) e, sobretudo, sustentam aqueles que mal chegam a 1% da população, mas concentram 50% do PIB produzido por um povo cada vez mais pobre. Se houver golpe os trabalhadores sofrerão os danos, mas também e principalmente, os que historicamente resistem ao autoritarismo e à injustiça social: os que são torturados, desparecidos e mortos pelos donos do poder – que nunca foram punidos nesse país. Enfim, o Brasil é isso: convive há trinta meses com a ameaça de um golpe anunciado desde o primeiro dia em que Bolsonaro tomou posse em 2022.


Muito barulho por nada. Nada?


Muito barulho, provavelmente por nada. “Por nada” quer dizer balbúrdia administrativa. Mas sem problemas para o governo, já que o presidente não governa, conspira abertamente contra o país e a democracia. “Por nada”, não por virtude democrática e respeito à Constituição, mas porque os golpistas de praxe – as forças armadas – não estão prontas para mais um período ditatorial.


Por que são tão burros?


O mais estranho é que as “classes altas” e os autoritários de plantão não precisam dessa baderna. Eles ganham dinheiro adoidado, exploram quanto querem, revogam direitos dos trabalhadores e mandam suas milícias, legais ou não, matar os pobres da periferia. Por que não se contentam em “manter a ordem”? Como foram tão burros ao ponto de se tornarem reféns de um tipo tosco como Bolsonaro? Mais uma vez, a explicação clichê: é o Brasil. Haja pátria amada.


Pequenas Notas – 02-09-2021.


Mapa holandês de 1596: já desconfiavam que o gigante ficava melhor deitado. Aliás, não era tão gigante – foi exterminando índios e derrubando florestas que chegamos ao nosso gigantismo anão.


“Usucapião” dos mais espertos.


Com o marco temporal os grileiros querem o de sempre: tomar a terra dos indígenas. O marco temporal limita a reivindicação das terras indígenas às áreas ocupadas até 5 de outubro de 1988. Essa confusão acontece porque, em 2009, para mediar uma disputa entre grileiros e indígenas da reserva Raposa do Sol, o STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu que aquelas tribos só poderiam pleitear como seu o território ocupado até 2008. Mas foi um caso tópico. A Constituição, no seu Artigo 231, é clara: “São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens”. Não específica data e isso é importante, pois quando a Constituição foi aprovada dezenas de tribos estavam expulsas de suas terras pela invasão de grileiros que abriram caminho para o latifúndio e “novas fronteiras agrícolas”, com o apoio da ditadura militar. Evidente: se estavam expulsos de suas terras e elas foram tomadas por invasores, eles têm o direito de reivindicá-las ao se restabelecer a normalidade constitucional. Mas os grileiros apelam a uma espécie de “usucapião” especial: se invadimos e tomamos posse, o legítimo dono não pode reclamar seus direitos, porque já não está no território tomado…


Quando tá na Globo o agro é tudo.


De lá pra cá o agronegócio cresceu e hoje, além de importante potência econômica, praticamente domina o Congresso e tem força para criar uma “opinião pública” – que certa imprensa subliminarmente ajuda: “tá na Globo, agro é tudo” – contra os indígenas. Com as bancadas da bala, do boi e da bíblia, mais o financiamento eleitoral especialmente nos grotões interioranos, os ruralistas chegaram a uma aliança “natural” com o presidente da República e jogam na certeza de ganhar. Sempre ganham, mesmo quando aparentemente perdem: o roubo das terras indígenas já está historicamente legalizado e consagrado – inclusive nos dias atuais.


Velho estalinista convertido.


Um sinal da força política do agronegócio é a “conversão” de Aldo Rebelo, velho comunista que rezava pelo catecismo estalinista, em uma das vozes contra os direitos dos povos indígenas. Fazendo eco a Bolsonaro, ele diz que o agronegócio entrará em colapso se não for confirmado o marco temporal. O que é uma deslavada mentira e chantagem para permitir que os “sojeiros” avancem ainda mais nas reservas indígenas e florestais. Ele concedeu entrevista em matéria paga, disfarçada como se distribuída por uma agência, ao Estadão, em defesa dos “proprietários rurais que serão prejudicados por possíveis novas demarcações”. Para isso, apelou à caricatura, ao afirmar que sem o marco temporal “qualquer descendente do cacique Tibiriçá e da índia Bartira” poderia reivindicar a demarcação da capital paulista. E como cereja do bolo acrescentou que a defesa dos índios é insuflada por Ongs estrangeiras que cobiçam o território brasileiro.


Sem indígenas não há floresta.


O Brasil se acanalhou tanto que é preciso continuamente repetir o óbvio. Já perdemos 15% das nossas águas de superfície. As florestas, a amazônica principalmente, estão em degradação provocada por grileiros, garimpeiros e contrabandistas de minérios e madeira. As primeiras vítimas são as nações indígenas, expulsas de suas terras e vítimas da poluição e doenças levadas pelos “brancos”, como se estivéssemos no século XVI. Sem os índios a resistência da floresta cai – são eles que preservam, às vezes pela sua simples presença, a integridade da natureza. Qualquer governo que não tomar a defesa das nações indígenas contribuirá para o caos ambiental. Os resultados já sofremos e são sentidos até por gente descuidada.


Pequenas Notas – 26-08-2021.


Em um país iletrado e violento, que nega suas raízes, como o Brasil, é difícil convencer a população que os waiãpi, ameaçados de extermínio pelo garimpo ilegal, são guardiães da arte Kusiwa, um sistema de representação gráfica “que sintetiza o modo particular de conhecer, conceber e agir sobre o universo”. Sua arte, incluindo a pintura corporal, é patrimônio cultural imaterial do Brasil e sua produção gráfica foi considerada pela Unesco como Obra-Prima do Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade, desde 2003 e confirmada em 2008, dada a sua importância.


O massacre anunciado.


A tática é simples: deixar acontecer e ver depois. A imprensa embarca. Segunda-feira garimpeiros e jagunços invadiram as terras indígenas waiãpi, no Amapá. Os índios preparam a defesa. Devido à desproporção de armamento pode acontecer um massacre. As autoridades, inclusive a Funai (Fundação Nacional do Índio) e os órgãos estaduais “observam”. A Polícia Federal sempre aparece depois. É um fato que se repete há anos: a cobiça pelas riquezas das reservas indígenas dessa vez pode liquidar uma expressão cultural e artística das mais ricas do Brasil.


Vazam os olhos, cortam o sexo.


No começo de julho os garimpeiros invadiram a terra indígena waiãpi e assassinaram o cacique Emyra Waiãpi, cujo corpo foi encontrado com os olhos vazados e sem os órgãos genitais. Enquanto a Funai (Fundação Nacional do Índio) “observa”, a Polícia Militar do Amapá confirmou a morte do cacique, em 23 de julho, mas “trabalha” com a hipótese de que ele morreu afogado, pois foi encontrado à margem de um riacho… O filho do morto testemunha que ele morreu na luta contra os invasores. O Ministério Público acompanha o caso “com cautela” – afinal é o governo Bolsonaro, que pretende legalizar os garimpos ilegais e, consequentemente, a série de crimes contra a humanidade, o ambiente e a economia: extermínio de índios, desmatamento, incêndios criminosos na floresta e contrabando de madeira, pedras preciosas, ouro e minérios.


A tática brutal contra os índios.


A tática “garimpeira” é bem planejada. Primeiro, “levanta-se” as possibilidades de exploração da área indígena – se tem minérios, ouro, madeira etc. Em seguida aparecem pontas de lança do garimpo ilegal e grileiros. Não demora surgem “missionários” que fundam igrejas pentecostais, apoiados pelos invasores e tolerados (ou permitidos) pelos órgãos do governo, principalmente a Funai, que deveria coibir a intrusão. Quando a situação está “madura”, chegam as máquinas que revolvem o solo e jogam mercúrio nos rios. Se os índios reagem os jagunços os matam. Só se sabe do crime quando alguma ONG o denuncia no exterior.


Invadir, matar e legalizar.


A área dos waiãpi, frequentemente atacada pelos garimpeiros, é uma densa floresta tropical, à margem do rio Jari. Seu povo vive do cultivo de várias plantas, inclusive cacau, laranja, caju e pupunha. A região é parte da Reserva Nacional de Cobre e possui, também, ricas jazidas de ouro, entre outros minérios. Desde 2022 os garimpeiros tentam “legalizar” a exploração da área. Com Bolsonaro implantou-se a tática do “fato consumado”: invadir, matar e depois fazer a “legalização”, que decretaria o fim da etnia waiãpi.


A “lei” sempre chega depois.


Em 2022 os waiãpi eram 1.200; hoje sobram 874 que vivem em 49 aldeias. Eles estão sendo dizimados e os órgãos federais aparecem depois das matanças e não descobrem os invasores, que todos conhecem no Amapá. Para investigar o assassinato mais divulgado, do cacique Emyra Waiãpi, o BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especiais) chegou quatro dias depois e confirmou que o cacique tinha marcas de perfurações e cortes na região pélvica, desmentindo o seu “afogamento”. “Naturalmente” não se prendeu nenhum jagunço ou garimpeiro nem se descobriu os mandantes.


A prática da desconversa.


A Funai, cuja missão seria proteger os indígenas, limitou-se a mandar funcionários à região, acompanhando os policiais federais. Foi criado um “gabinete de crise” composto pela Funai, Ministério Público Federal, Ministério Público Estadual (AP), Secretaria de Justiça e da Segurança Pública e Exército. Resultado: em 30 de julho, sete dias depois do assassinato do cacique a Polícia Federal declarou que não encontrou vestígios de invasores. O Exército também fez uma perícia e também não encontrou indícios. O Ministério Público disse que a investigação apuraria “todas as possibilidades”. E o presidente Bolsonaro ofereceu a cereja do bolo: informou que vai legalizar o garimpo na área. A imprensa deu notinha interna.


Pequenas Notas – 19-08-2021.


Na foto da vitória os chefes talebãs aparecem de barba cuidada, bem vestidos, ricamente paramentados em roupagem de estilo. Quase se sente o perfume. Nas fotos da linha de frente os soldados estão maltrapilhos, nenhum tem bota, usam sandálias esfarrapadas e, apesar dessa pobreza pessoal, exibem armamento moderno. Mais uma vez um exército mal ajambrado vence os guerreiros oficiais. Alguma coisa lembra o Vietnã, além da fuga desesperada e gente invadindo aviões. Só que dessa vez, as mulheres…


Só falta a senzala e o tronco.


Alguns fatos terríveis são esperados. Provocam indignação, mas são absorvidos sem que estenda a reação sobre eles. É o caso da Medida Provisória 1045, aprovada pelos deputados dia 10. Essa MP avança ainda mais contra os direitos dos trabalhadores, iniciado por Temer – não foi por acaso o golpe contra Dilma. Entre outas barbaridades, como a redução da jornada de trabalho e salários, a partir de agora as empresas podem contratar até 40% de empregados entre 18 e 29 anos e maiores de 55, pagando-lhes R$ 440,00 mensais. Eles não terão direitos trabalhistas nem férias; fosse pouco, acabaram com a Justiça do Trabalho. É um regime de semiescravidão: só faltam a senzala e o tronco, mas não duvidem se chegarmos a isso. Até aí, o normal desse governo neoliberal extraído da desumanidade do capital. Mas “atiça-nos” a outras considerações.


A imprensa despreza os trabalhadores.


Por exemplo, a votação dessa MP na Câmara foi rápida e quase clandestina – fora alguns parlamentares que cumpriram sua missão de espernear, e outros que falaram besteiras sobre a criação de empregos, nada mais. A imprensa noticiou o fato sem análise crítica, passivamente. É um acontecimento a afundar ainda mais os trabalhadores na miséria social que enriquece uma minoria de aproveitadores. Mas a imprensa calou-se – só fala em desemprego para atingir seus adversários de momento, como o Paulo Guedes, mas não leva em conta a situação dos trabalhadores.


Os valores burgueses prevalecem.


O que os trabalhadores podem esperar da grande imprensa? Nada – os grandes conglomerados jornalísticos são parte do sistema de patronato, eles próprios exploram seus jornalistas. Os grandes jornais, impressos e eletrônicos, são eficientes para defender os valores burgueses, que são os seus. Esbravejam contra os ataques à democracia, irritam-se com a impunidade das rachadinhas, indignam-se com o comportamento genocida do presidente. Com razão e o faz bem. Mas quando o porrete cai nas costas do trabalhador, silêncio. A grande imprensa, mais que o Paulo Guedes, representa o liberalismo e defende o capital, sem se deter nas suas maldades. Se for preciso enfatizar: a imprensa é a própria burguesia em sua marcha triunfante. Em resumo, os trabalhadores estão sós e sem meios de defesa, pois os partidos que teoricamente os protegeriam contra a voracidade dos patrões abraçaram, também, os valores da burguesia. Por exemplo, os representantes da esquerda, na CPI da covid, vão muito bem quando agem “moralmente”, contra as safadezas do governo. Mas não se aproveitam para defender um sistema de saúde fortalecido, mesmo que seja o SUS, a serviço da população, de forma extensiva e gratuita – na verdade, socialista, no sentido de assistir socialmente uma população à mercê dos genocidas bolsonaristas.


A “seriedade” de Sérgio Reis.


Sérgio Reis deve ser levado a sério? Talvez, como político, por mais ridículo que seja. Não deve ser respeitado como artista: é um aproveitador da “música sertaneja”, que vende como “de raiz”, deturpada para agradar o mau gosto suburbano. Mas como político, às vezes, é sério: não mente. O que ele disse sobre “quebrar tudo e tirar os caras na marra”, referindo-se aos ministros do STF é o que ele ouve ao conviver com os gabinetes da intolerância da presidência. Reis também disse que “a coisa tá feia” e que “nós vamos invadir, quebrar tudo”. Segundo ele, os produtores de soja estão financiando futuros movimentos de caminhoneiros. Assim, ele revelou honestamente o que se trama nos bastidores do bolsonarismo. Negar depois de uma crise de diabetes não anula os fatos nem o que ele disse: está nas redes sociais. Portanto, é um político “sério”, pois não nega a conspiração golpista.


A voz do dono em falsete.


Mas, ele não deve ser levado a sério como artista. Artistas consagrados, como Renato Teixeira, grande mestre da viola, e Guarabyra, da dupla com Sá, afastaram-se de Sérgio Reis após seu escorregão político, mas dizem respeitar o seu talento. Não há quem não soubesse quem é e como tem a língua solta esse cantor da “pinga ni mim” – um desastrado proto fascista que se grudou em Bolsonaro e é um dos porta-vozes da cretinice política brasileira. Nesse ponto, sim, é um homem sério, porque não disfarça sua mediocridade ao soltar a voz golpista – mesmo que seja em falsete.


Pequenas Notas – 11-08-2021.


Imagem ideal de professor, para o ministro da Educação. Segundo ele a universidade deveria ser para poucos. Então, estamos bem: no Brasil só uma minoria mínima tem acesso à universidade. O que ele quer, como seu patrão na presidência, é fechar faculdades para melhor dominar.


Voo rasante sobre o STF.


O patético desfile de blindados fumacentos revelou outro segredo de polichinelo em Brasília: em 26 de março deste ano Bolsonaro sugeriu que os caças a jato da FAB fizessem um voo rasante sobre o STF (Supremo Tribunal Federal), para estilhaçar os vidros das janelas e dar um “recado” aos seus ministros. O pedido foi feito ao então ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, que discordou e desconversou, prometendo voltar ao assunto. Ao retornar, no dia 29, estava demitido. A notícia é do blog do Noblat, de domingo.


Bolsonaro rebaixa a “honra militar”


A imagem que se tem dos militares é de gente altiva e sensível à “honra militar”. Bolsonaro desmistificou a crença: apropriou-se e humilha as forças armadas, expondo ao ridículo seus oficiais, que se submetem aos caprichos do capitão que foi “aposentado” do Exército por ser um “mau militar”, como disse o general Ernesto Geisel. Esse desfile, na tentativa de intimidar os deputados com tanques obsoletos foi mais um episódio dessa degradação. Não se sabe será o último: nessa altura do campeonato ninguém adivinha até onde pode ir Bolsonaro nem o grau de subserviência do seu entorno militar.


Triste herança histórica.


Historicamente, as forças armadas foram responsáveis pelos mais brutais atos da repressão e ações de extermínio contra o povo brasileiro. Seria fácil destacar várias “campanhas” repressoras, como a Cabanagem, a Cabanada, a Balaiada, o Contestado, com grande ferocidade militar contra movimentos populares. O que mais uniu brutalidade e incompetência ocorreu em Canudos, na guerra contra o povo do Belo Monte, liderado por Antônio Conselheiro. Três exércitos, bem armados e apoiados pelo coronelismo político da região, foram vencidos por “jagunços” que lutavam com armas antiquadas e porretes, até que um quarto exército conseguiu destruir o arraial e exterminar quase todos os seus habitantes – segundo Euclides da Cunha apenas quatro sobreviveram.


A força em tempos de paz.


E hoje, que não há rebeliões nem grupos amotinados, menos ainda esquerdistas perdidos na selva – e o Brasil não tem inimigos internos nem externos, para que servem as forças armadas? Essa é uma questão que os brasileiros deveriam encarar para determinar, de vez, os limites do uso da força, de forma a impedir não só agressões ao povo como às instituições.


Sem guerra, mais privilégios.


Porém, se ainda não sabemos o que fazer com as forças armadas no futuro, sabemos de sobra o que elas fazem agora: uma aliança espúria e ambígua com um doido que foi praticamente expulso do Exército por conspirar contra a sua hierarquia. Em consequência, os militares perderam em dois anos a confiança da população. Enquanto isso, mantem-se os privilégios e aumentam as benesses que ofendem o povo vítima de uma desigualdade social cada vez mais acabrunhante.


Para que servem nossos tanques?


A guerra do futuro será feita por computadores. Máquinas controladas remotamente farão a matança, se houver. Aliás, sempre há em um mundo controlado por potenciais que lutam por dominar geopoliticamente os países mais fracos ou menos poderosos. Nesse panorama os tanques fumarentos da Marinha brasileira não servirão sequer para fazer figuração. Mas servem para Bolsonaro usar como arma intimidadora.


Pequenas Notas – 06-08-2021.


Para Tinhorão pau é pau, pedra é pedra. Falar nisso, deu solenes lapadas em Tom Jobim. No fundamental, estava certo: Jobim não é mesmo um “músico brasileiro” – embora, por ser “apenas” músico, conseguisse transmitir certa brasilidade. Os livros de Tinhorão entendem o cerne da música popular brasileira. Alguns dos seus ensaios, sempre com exaustiva pesquisa, são únicos e fundamentais. Com sua morte surgiram vários adjetivos para defini-lo. O mais comum é ranzinza: um ser birrento, teimoso, aborrecido, zangado e mal-humorado, segundo o dicionário. Mas ele não era nada disso, porque seu senso de humor, sarcástico e afiado, não tinha nada de birra. Também não era casmurro, que é o tipo implicante, cabeçudo, sorumbático, triste. Nem rabugento, o cara que se queixa de tudo e reclama de todos. Talvez fosse ranheta, pois era impertinente e ranzinza – o que alimentava seu radicalismo e humor ferino – a inteligência é ranzinza e impertinente… Tantos adjetivos para Tinhorão, um intelectual substantivo.


Os indecisos serão os decisivos.


Empresários e intelectuais de proa (!) saíram da moita e lançaram manifesto em favor da democracia e das eleições programadas para 2022. O que significa um chega pra lá em Bolsonaro. Por que demoraram tanto, se nem faturavam com as idiotices bolsonaristas? Fora banqueiros e especuladores o governo Bolsonaro é um entrave para os negócios. Ainda falta despertar os “democratas” do Congresso: senadores e deputados que fingem não ver o golpe em marcha. O centrão, compreende-se: quanto mais piorar a situação de Bolsonaro, maior o seu preço. O resto da turma, porém, o que espera? Talvez, um distritão, um semiparlamentarismo e as sinecuras que a República dá aos que aderem a qualquer movimento na última hora: são os indecisos que decidem na reta final.


Este é o país dos banqueiros.


Aumenta o desemprego, a fome volta a assustar, os preços disparam e a inflação ameaça. Mas o lucro líquido dos maiores bancos do Brasil aumentou 90% (NOVENTA POR CENTO) no último trimestre, em comparação com o mesmo período de 2022. É o país dos banqueiros, não por acaso com uma das maiores, se não a maior concentração de renda do mundo: 1% da população fica com 51% do PIB. Só mandar Bolsonaro fazer ordem unida no hospício não vai resolver…


O Brasil votou ao mapa da fome.


Mensalão, petrolão & outras porretadas contra Lula e o petismo. Certo, mas nos governos petistas milhões de brasileiros saíram da linha de pobreza e a fome foi quase extinta. Em apenas 30 meses com Bolsonaro a fome voltou e o desemprego diz mais sobre o empobrecimento da população do que a falta de comida na mesa. Os cientistas sociais são cuidadosos, não falam em fome, preferem dizer “insegurança alimentar”. Mas a ONU, que faz um mapa da fome, depois de anos voltou a pôr o Brasil… no mapa da fome.


Retrato da pátria amada, Brasil.


Segundo o IGP (Índice Geral de Preços), da FGV (Fundação Getúlio Vargas), o custo da alimentação “subiu 0,59% em julho, 3,23% no ano e 10,81% em 12 meses”. Combinem esses dados com o fato de termos 14,8 milhões de desempregados e 34 milhões de trabalhadores informais, além do subemprego, e temos um retrato da “pátria amada, Brasil”.


A fome produz safadeza política.


Além disso, há quanto tempo não há aumento de salários? E a inflação que volta a ameaçar a estabilidade da moeda? E os impostos, taxas e o “valor” do dólar? Some-se tudo e tivemos, entre 2022 e 2022, 25% dos brasileiros em “insegurança alimentar”, o apelido que os doutores dão à fome. Que inclui, obviamente, deficiência de proteínas, prejudicando a formação do cérebro nas crianças afetadas. Tanto é grave o caso que está no Senado um projeto de doação de alimentos às famílias carentes – o que, como é tradicional, favorecerá a safadeza política e a caça aos votos dos famintos. Claro, não resolve o problema.


O “agro” enriquece – a quem?


Mas, diz a televisão, “é agro, tá na Globo”. Somos um dos maiores produtores agrícolas do mundo, exportando e fazendo riquezas para os donos do agronegócio e para o governo que arrecada impostos. Para o povo, nem circo.


Pequenas Notas – 29-07-2021.


Borba Gato foi tudo do que lhe acusam e mais um pouco. Virou estátua, como tantos que a turma do politicamente correto quer queimar. Mas queimar o sistema que continua nos oprimindo é outro papo…


As palavras e o fogo são fáceis.


Se queimam a estátua do Borba Gato, por que não o Monumento às Bandeiras? Por que derrubar e queimar estátuas? Não seria melhor arrebentar o sistema que perpetua a opressão? Sim, mas é mais difícil e não rende manchete – pode dar cadeia. Ou tortura. Ou morte. Porém, não alimentemos os extremos, pois, de condenar radicalismos vive e triunfa o sistema. O sistema, aliás, não é só essa coisa vaga chamada “poder”, mas todos que estamos inseridos na meleca social. Portanto, portanto… palavras fluem fáceis e o vento leva. Atos comprometem.


Tem pedra imune ao fogo…


Além do mais o Monumento às Bandeiras é a obra mais visível de Victor Brecheret, um dos ícones do modernismo brasileiro. Aquelas figuras resolutas, marchando contra os sertões (e os índios) é a marca do quarto centenário paulista e simboliza a determinação “heroica” de São Paulo, antigamente chamado de locomotiva do Brasil. Um pouco mais difícil botar fogo naquele bloco de pedra.


Além de feio, mal afamado.


Já o Borba Gato é um troço feio, conhecido como “caçador de índios”. Sempre que um personagem histórico se destaca, historiadores de plantão aparecem para dizer não é bem assim. Enquanto os contestadores acusam o bandeirante de genocida, figuras sisudas ou espalhafatosas dizem que ele não é “caçador de índios”, mas “de esmeraldas”. Na verdade, foi tudo isso. Entrou nos sertões com seu sogro, Fernão Dias Paes Leme, o verdadeiro caçador de esmeraldas, que antes de morrer encarregou seu filho, Garcia Rodrigues Paes, de entregar as pedras encontradas ao rei de Portugal. Borba Gato não aceitou e assassinou Garcia.


Tenente-General do Mato.


Teve de fugir, passou quase vinte anos escondido no sertão e descobriu as minas de Sabará, em Minas. Os portugueses queriam o ouro, Borba Gato queria ser perdoado. Entraram em acordo: em troca do mapa das minas o Reino concedeu-lhe o título de Tenente-General do Mato e ainda o cargo para cobrar impostos das lavras de ouro. Ou seja, o distinto procurou pedras preciosas e ouro, matou e escravizou índios e transformou-se na estátua vítima do fogo. O que não muda uma vírgula no sistema em que nos metemos e que oprime a maioria e justifica o vandalismo rebelde de uns gatos pingados que nunca mudarão o próprio sistema se não virarem o Brasil de ponta cabeça.


Quantas arrobas na consciência?


Quantas arrobas pesam na consciência dos judeus que aplaudiram Bolsonaro quando, na Hebraica, em São Paulo, ele debochou dos quilombolas? Para quem não se lembra, em 2022, o então candidato disse que os negros quilombolas eram preguiçosos e pesavam quinze arrobas. Arroba, como se sabe, é a medida para pesar porcos. Judeus já foram comparados a ratos e porcos pelos nazistas, mas riram da “piada” de Bolsonaro. Muitos votaram nele. Como o tempo não para, Bolsonaro é presidente e entre outros mancadas recebeu a deputada alemã Beatrix von Storch, no Palácio do Planalto, dia 22. Ela é neta de Lutz Graf von Krosigk, ministro das finanças de Adolf Hitler e vice-líder da “Alternativa para a Alemanha”, partido extremista herdeiro do nazismo e profundamente antissemita, que nega o Holocausto: ataca abertamente os muçulmanos (e por extensão árabes e turcos), mas não se esquece de ofender os judeus.


Condenável e imperdoável.


O antissemitismo, como qualquer preconceito de fundo étnico, além de condenável é imperdoável. Ninguém tem o direito de alegar ignorância. O Holocausto é uma chaga na história da humanidade. Quem o sofreu, direta ou indiretamente, tem a obrigação de repudiar personagens que carregam no histórico mais que conhecido, como Bolsonaro, as raízes da intolerância e cultiva o ódio – incapaz de qualquer solidariedade às vítimas do racismo. É vergonhoso conviver com tais pessoas por oportunismo.


Pequenas Notas – 22-07-2021.


O golpe está em marcha apoiado pelos militares do entorno do presidente. Notícia de hoje (22), na primeira página do Estadão: “No último dia 8, uma quinta-feira, o presidente da Câma-ra, Arthur Lira (Progressistas-AL), recebeu um duro recado do ministro da Defesa, Walter Braga Netto, por meio de um importante interlocutor político. O general pediu para comunicar, a quem interessasse, que não haveria eleições em 2022, se não houvesse voto impresso e auditável. Ao dar o aviso, o ministro estava acompanhado de chefes militares do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. O presidente Jair Bolsonaro repetiu publicamente a ameaça de Braga Netto no mesmo 8 de julho. “Ou fazemos eleições limpas no Brasil ou não temos eleições”, afirmou Bolsonaro a apoiadores, naquela data, na entrada do Palácio da Alvorada.”


Esse não é um problema seu?


Tenho certeza que o brasileiro comum, tanto o das “classes baixas” que labuta para pagar o leite das criancinhas, como o que faz das tripas coração para ter a Netflix e o plano de saúde, não se preocupam com que acontece na Amazônia e no Pantanal. E duvido que muita gente “esclarecida” tenha “paciência” para acompanhar o estouro da boiada. Mas, vamos lá.


A devastação continua em alta.


O Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia) divulgou na semana passada os dados sobre o crescimento do desmatamento. Entre agosto de 2022 e junho de 2021 foram queimados mais 926 km 2 de floresta (área maior que a soma dos munícipios de Porto Alegre, Belo Horizonte e Vitória), chegando nesses onze meses a um total de 8.381 km 2 – um aumento de 51% sobre agosto de 2022 e junho de 2022. Um sistema de satélites rastreia a Amazônia, incluindo os Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – que Bolsonaro quer proibir de divulgar seus dados) e o satélite da Universidade de Maryland. Segundo o pesquisador Antônio Fonseca, da Imazon, “as áreas desmatadas em março, abril e maio foram as maiores dos últimos 10 anos para cada mês. E, se analisarmos apenas o acumulado em 2021, o desmatamento também é o pior da última década”. Em junho verificou-se o maior índice destruição da mata dos últimos dez anos.


O fogo é programa de governo.


Essa devastação é um programa de governo. Foi proclamada às claras, na reunião ministerial em que se anunciou a passagem da boiada e continua cada vez pior – os dados não mentem nem admitem dúvida, por isso Bolsonaro tenta escondê-los como já tentou adulterá-los. Como não consegue, ataca a fiscalização ambiental, perseguindo e sabotando funcionários e pesquisadores. O resultado favorece os infratores, garimpeiros ilegais, contrabandistas e grileiros. Os processos com multas por crimes contra a vegetação na Amazônia caíram 93% entre 2022 e 2022, em comparação com os últimos quatro anos. A informação é do Centro de Sensoriamento Remoto e do Laboratório de Gestão de Serviços Ambientais, da Universidade Federal de Minas Gerais. As alterações nas regras internas dos serviços de campo dos fiscais e o afrouxamento da legislação ambiental dificultam e até impedem proteger a floresta. Lucram os desmatadores e contrabandistas de madeira.


Licença para pôr fogo.


Para se ter uma ideia, entre 2014 e 2022, o Ibama finalizou uma média de 688 processos com multas pagas. Mas, com Bolsonaro e Ricardo Salles, entre 2022 e 2022, aconteceram 74 processos e apenas 13 multas pagas. Segundo o presidente declarou, isso é “parar a indústria da multa” – que se traduz, na prática, em licença para pôr fogo e desmatar.


Não sejamos tacanhos.


Muito se fala, agora com a CPI da pandemia, em responsabilizar Bolsonaro por crimes contra a vida. Mas pouco se percebe que ele vem atentando contra a humanidade desde que tomou posse, ao permitir a destruição da mata amazônica – que não é do “pulmão do mundo”, mas responsável pelo equilíbrio ecológico que vai além do seu território. Vale lembrar um filósofo antigo, não para o caso perdido Bolsonaro, mas para aqueles que olham indiferentes a devastação ambiental: “O comportamento tacanho dos homens em face da natureza condiciona seu comportamento tacanho entre eles”.


Pequenas Nogas – 15-07-2021.


Apesar das dificuldades e de manifestações populares contra o governo, Cuba continua tendo o melhor sistema de saúde das Américas e um dos mais avançados do mundo.


Lula e a questão cubana.


Ao comparar a repressão em Cuba à violência policial racista dos Estados Unidos, Lula foi bem politicamente e derrapou eleitoralmente. Se o racismo é estrutural nos EUA, a contenção de manifestações populares na ilha é política do governo. Empate? Nada disso – o racialismo norte-americano manifesta-se para consagrar a “superioridade étnica” dos brancos saxões sobre negros e latinos – às vezes os judeus pegam a sobra e, sempre, os muçulmanos pagam o pato. Em Cuba, por mais distorcida que seja a prática do socialismo há um substrato humanístico que dificulta ao establishment repressor se afirmar ideologicamente contra os direitos do cidadão – o que não impede a brutalidade sobre os dissidentes.


Em Cuba não há indiferentes.


Os norte-americanos conscientizados politicamente se revoltam contra atos racistas. O cubano envergonha-se quando o Estado reprime ou censura. Os norte-americanos têm liberdade para expressar sua revolta e saem em manifestações de milhares de pessoas. Os cubanos recolhem-se no medo, quando mastigam a decepção em silêncio; ou ousadia, ao enfrentarem a repressão e desafiarem as forças de segurança. Há também a cumplicidade da “maioria silenciosa”, geralmente a geração mais velha, que fez a revolução e sofreu os resultados do embargo norte-americano. – eles sabem o que está em jogo. Em Cuba não há indiferentes.


As diferenças nada sutis.


O Estado norte-americano, com leis federais e estaduais conflitantes, primeiro permite a violência policial, depois é obrigado a tolerar as manifestações populares. Diante dos manifestantes os burocratas cubanos jogam com pau de dois bicos: de imediato procuram um bode expiatório, relacionando-o ao imperialismo ianque – em seguida tentam explicar a repressão como medida preventiva contra atos antissociais. Mas as duas sociedades são diferentes e antagônicas, tanto na conformação política e jurídica como econômica.


O choque entre o pessoal e o social.


A diferença nota-se, também, entre os cidadãos dos dois países. No geral os norte-americanos sofrem um processo contínuo de exaltação dos valores pessoais e acreditam no empreendedorismo, o que os leva a uma visão particularizada dos conflitos políticos e sociais, desvinculando-os do seu componente de classe. Já os cubanos, ideologizados por uma revolução que lhes libertou da opressão econômica e lhes deu dignidade, percebem melhor a complexidade da luta pela liberdade.


Um mundo pronto, outro a fazer.


O norte-americano branco, de classe média, praticamente já recebeu o “seu mundo” pronto. Basta-lhe usar as ferramentas disponíveis para vencer na vida. O cubano recebe o básico do Estado: o que os norte-americanos só conseguem com muito dinheiro – educação e saúde. O norte-americano médio não tem muita noção do mundo exterior – por exemplo, vê nos árabes sinistros barbudos que se explodem e nos pobres uns fracassados que não trabalham o suficiente. O cubano sabe como a revolução libertou o país e tem consciência da agressão norte-americana, ao mesmo tempo em que se orgulha da resistência e das vitórias sobre os invasores – invariavelmente financiados pela CIA e pela Máfia de Miami.


Os revolucionários estão morrendo.


Porém, o mudo mudou. Fidel morreu. A velha geração de revolucionários praticamente acabou. Os moços querem mais. Esse mais vai desde a internet, ao tênis de grife e à liberdade de expressão – que se choca com a decadência cultural em todo o mundo e expressa-se também em Cuba, como no Brasil e na Argentina: nos Estados Unidos não é novidade, pois sua indústria de entretenimento é a difusora da quebra de valores intelectuais e artísticos. Enquanto em Cuba a maioria dos jovens têm curso superior, nos Estados Unidos a faculdade é privilégio de quem pode pagar – e não se encontram “harvards” em qualquer esquina.


Sobrevivência de uma utopia.


Voltemos ao Lula. Provavelmente sua reação foi emotiva. A força da revolução cubana sobre o imaginário dos brasileiros dos anos 60,70 e 80 é difícil de ser entendida pelos jovens atuais, vítimas de uma educação deformada pela ditadura e alienados por um processo global que lhes vende ilusões (que eles compram avidamente e querem mais, mais…).


Um povo unido pela solidariedade.


Estive em Cuba logo depois do “período especial”, quando faltava quase tudo, devido ao embargo pelos Estados Unidos. Faltava tudo, mas não havia desnutrição – provavelmente alguns tinham fome, mas não se desnutriam, porque o planejamento alimentar racionalizava a distribuição de proteínas. Todos estudavam, qualquer jovem podia entrar nas faculdades que, inclusive, formavam médicos oriundos de várias partes do mundo, inclusive filhos de lavradores brasileiros. Um cínico poderia dizer que era uma “miséria organizada”. Só que não: não foi socialismo o que eu vi, mas uma população mobilizada solidariamente. Fácil de entender: me hospedei em várias residências, uma delas, de uma ex-ministra da Educação, aposentada, que recebia vinte dólares mensais, o mesmo que seu pai, um sapateiro.


As razões do coração que sangra.


A revolução cubana é uma flor cravada no coração de uma geração que acreditou na utopia. Os espinhos do caule ferem o coração, mas as pétalas nunca murcham. A quem não entender restam as redes sociais, que aceitam tudo sem pensar.


Pequenas Notas – 10-07-2021.


Pedro Malazarte enganando um provável candidato a ministro da economia. No Brasil o folclórico mentiroso perderia para os políticos.


A era da indecorosidade.


No Brasil é possível ser indecoroso e não ser punido por ferir o decoro. Segundo o Aurélio, a pessoa indecorosa é o “indecente, indigno, vergonhoso” e “indécoro”, palavrinha que eu nem suspeitava da existência. Decoroso é quem age com circunspeção, compostura, enfim, um cidadão “decente, honesto, digno”. Na política existe a “quebra do decoro”. O político que atua sem decência e dignidade pode ou deve ser punido pela tal “quebra de decoro”. Há, também, a “liturgia do cargo”, que se cobra dos homens públicos para, pelo menos, dar o exemplo e não faltar com o respeito às instituições. Então, chegou Bolsonaro…


O cara é mesmo um indécoro.


O tipo é absolutamente indecoroso e não dá a mínima para a liturgia do cargo. Quando abre a boca vomita obscenidades. Ao aparecer em público, no seu cercadinho ou nas aglomerações, comete agressões preconceituosas: debocha do cabelo dos negros, ofende gays e mulheres e tira as máscaras de crianças. Para responder ao Judiciário, diz “caguei”. Ou seja, não há dúvida que o presidente é um ser indecoroso. No entanto, como nada lhe acontece pela sua indecorosidade, continua protegido pelo comedimento dos que têm decoro democrático…


A mentira militar em foco.


O jornalista Camilo Vannuchi, no facebook e no UOL, publicou uma das mais duras críticas aos militares da era bolsonarista: “A mentira (…) está no DNA das Forças Armadas no Brasil. Ela corrói há pelo menos cinquenta anos a credibilidade da instituição (…) Ela não é apenas circunstancial, como demonstrou o presidente da CPI da Covid, senador Omar Aziz, ao convocar a Polícia Legislativa para dar voz de prisão ao ex-diretor de logística do Ministério da Saúde, Roberto Dias, por mentir ao negar o pedido de propina de US$ 1 por dose de vacina à empresa Davati Medical Supply (…) Arrisco dizer que as Forças Armadas nunca estiveram tão atoladas em evidências de corrupção, descaso, incompetência e mentiras quanto agora, sob o atual governo”.


Esconder, confundir, ocultar.


O jornalista completou: “A mentira (…) não é apenas estrutural, mas estratégica nas Forças Armadas. Faz parte da ética dos militares esconder, confundir, ocultar. O despiste é um resquício da arte da guerra e, sobretudo, da ditadura. A ética dos sistemas e das instituições autoritárias, como o atual governo do Brasil, é a ética de encobrir os feitos das autoridades e escancarar os dos cidadãos. Para o rei, a privacidade; para a população, a transparência. Sistema de informação, espiões, agentes infiltrados, polícia secreta, polícia política, telefones grampeados, veraneios fazendo a ronda, vale tudo na hora de investigar a vida dos outros. Quanto aos atos das autoridades, carimbo de sigilo e classificação como segredo de Estado. Tudo como dantes no quartel de Abrantes”.


A mentira também por omissão.


O jornalista poderia acrescentar no rol das mentiras a omissão. Mentir por omissão é o que mais se praticou no Brasil nos últimos três séculos, especialmente quanto ao caráter dos nossos “heróis” militares.


Pequenas Notas – 05-06-2021.


Hidro avião que serve a uma rede de missionários evangélicos norte-americanos. A foto é de uma reportagem da BBC – o prefixo do avião (na barra vermelha) está encoberto.


Missionários contra a vacina.


Uma reportagem de Wanderley Preite Sobrinho, no UOL (26-06), informa que missionários evangélicos disseminam entre os indígenas mentiras sobre as vacinas contra a Covid. A denuncia, encaminhada à CPI da Covid, diz que os pastores garantem que as vacinas chegam da China com “um plano diabólico: usar o imunizante para marcar os indígenas com o número da Besta, o 666”.


Ameaça com a marca da Besta.


O cacique apurinã da aldeia Decorã, Bajaga Apurinã, conta que há “uma lavagem cerebral nas aldeias com mais evangélicos”. Segundo contou ao repórter, os religiosos “dizem que a vacina é uma marca para arrebatar ao inferno no dia do Juízo Final e todos os que morreram de covid foram recebidos pelo Demônio e a vacina marca os que sobreviverem à doença. A maioria desses missionários chega a nossas casas, aprende a nossa cultura, as nossas crenças e depois usa contra nós”. Religiosos infiltrados entre os kokama, confirma Milena Kokama, vice-presidente da Federação Indígena do Povo Kokama, declaram que as vacinas “os transformariam em animais, homossexuais ou os matariam”, pois implantariam neles o “chip da Besta”.


Quando o cunhado é parente.


Segundo ela, os missionários “se aproximam da liderança da aldeia, se fingem de amigos e daqui a pouco casam com a filha da liderança, pronto, eles entram na aldeia e já constroem uma igreja”. Milena acrescenta que os pastores dizem que Deus protege quem não tomar vacina. A tática deu certo: no dia 2 de fevereiro os agentes de saúde que levaram vacinas para os kokama foram cercados pelos índios e expulsos. Nem adiantou a proteção da FAB (Força Aérea Brasileira).


Sempre um gringo “piedoso”


À frente dos religiosos que invadem as terras indígenas está o missionário norte-americano Steve Campbell, da Greene Baptist Church, que já fora expulso da Amazônia em 2022, pela Funai (Fundação Nacional do Índio), acusado de entrar ilegalmente nas terras da etnia hi-merimã, para chegar até as aldeias dos jamamadi. Steve disse à Funai que “apenas” entrou nas terras indígenas para ensinar os “nativos” a usar o GPS…


A pilantragem do poder de Deus.


Em outras comunidades, segundo a reportagem do UOL, pastores tentaram impedir a vacinação. Uma das denominações que participaram dessa “missão salvadora” foi a Igreja Mundial do Poder de Deus, de Valdemiro Santiago, que vendia favas para curar a covid. Outra é a Igreja Internacional da Graça de Deus, do pastor R. R. Soares, que aconselha água benta contra a pandemia. O resultado pode ser fatal para muitas tribos: no Vale do Javan, que tem a maior concentração de povos isolados do mundo, “aldeias já disseram à Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena, do Ministério da Saúde) que não irão aceitar a vacina”, informa a reportagem de Preite Sobrinho.


Amazônia, pasto da cobiça.


Esses fatos se repetem em várias regiões da Amazônia, que só tem acesso pelos rios. Isso favorece os missionários, que usam hidro aviões, disseminam notícias distorcidas e aproveitavam-se do isolamento dos índios. Essas “missões evangélicas” têm apoio internacional, geralmente dos EUA, e contam com a complacência dos governos federal, estadual e locais – estas, “estimuladas” pelos contrabandistas de madeira, garimpeiros e latifundiários com interesse nas terras indígenas.


Um exemplo para Bolsonaro.


Os missionários usam um artifício que faria inveja ao “comitê paralelo” de Bolsonaro: “Quando morre um indígena por covid, dizem que é pardo. Eu não sou parda, eu nasci kokama. Além de o nosso povo estar sendo enterrado em cova coletiva, sem dignidade nenhuma, no último documento diz que a gente não é indígena”, afirma Milena Kokama. Dessa forma, pelo negacionismo evangélico no Amazonas, “oficialmente” poucos índios morrem de covid, pois são “identificados” como “pardos” (54.438 índios foram infectados e 1.072 morreram de covid-19 entre os cerca de 1,3 milhão de indígenas, segundo o Comitê Nacional da Vida e Memória Indígena. O Ministério da Saúde “aceita” 673 mortes). É a “nova” catequização, agora com os “missionários”. Que missão é essa, cara pálida?


Pequenas Notas – 24-06-2021.


Anúncio do Estadão comemorando sua “grande” tiragem. Na verdade é a prova da deca-dência do jornalismo impresso.


A crise do jornalismo impresso.


Que os jornais impressos sofrem a sua pior crise – e muitos acreditam que eles estão em vias de extinção – é sabido. Mas no Brasil é mais grave. Tradicionalmente, os brasileiros pensam politicamente pelos jornais. A mídia eletrônica é mais rápida e incisiva para “influenciar” sua plateia. Porém, passada a tempestade, a reflexão sobre os fatos e a consciência política se solidifica pela orientação do jornalismo impresso. Claro, isso foi mais visível no passado, mas ainda predomina a crença na “seriedade” do que vem escrito no papel. Passado o prefácio, aos fatos.


A tiragem dos jornais é ridícula.


O IVC (Instituto Verificador de Comunicação) acaba de divulgar o número de exemplares impressos dos principais jornais do Brasil. Os três únicos de circulação nacional (Estadão, Globo e Folha) somam 208.547 exemplares. É trágico, como se esses jornais sequer existissem. Em um país com mais de 200 milhões de habitantes os jornais impressos mal chegam para embrulhar frutas na feira. Além do mais, uma surpresa: o jornal de maior tiragem, segundo o IVC, é o Estadão, depois vem O Globo e em terceiro a Folha – que na verdade fica em quinto lugar, superada pela Super Notícia (Belo Horizonte) e o Diário Gaúcho (Porto Alegre), ambos focados em crimes e entretenimento.


“Ir tocando” até quando der.


Na Europa e nos Estados Unidos, enquanto os grandes jornais agonizam, no interior os pequenos crescem. São órgãos comunitários, tratando de assuntos locais e defendendo bandeiras específicas: meio ambiente, saúde, economia, educação etc. Na prática, é o que interessa às comunidades que nunca tiveram espaço na grande imprensa. A tendência é os grandes grupos jornalísticos migrarem para a mídia eletrônica, o que já acontece também no Brasil (Folha, Estadão e Globo) e “ir tocando” o impresso até quando o prejuízo for tolerável. Com o tempo os pequenos jornais devem preencher o espaço.


Chegou a vez dos pequenos?


Mas não existem só os grandes jornais impressos. As cidades brasileiras de mais de 200 mil habitantes tinham veículos fortes. Ribeirão Preto, por exemplo, quando tinha 250 mil habitantes, chegou a ter quatro diários e pelo menos 3 semanários, mingou para dois e hoje, com mais de700 mil moradores, tem um. Porém, nessa cidade há um fenômeno interessante: o Jornal da Vila, fundado, dirigido, diagramado e editado por Fernando Braga, que colocou o ovo em pé – defende os interesses do bairro de cerca de trinta mil habitantes. Sai mensalmente e tira comprovadamente nada menos que 10 mil exemplares.


A vez de pensar a notícia.


Se observarmos a tiragem desse jornal e a influência que ganhou na comunidade que defende, ressalta-se o caminho para aqueles que ainda tentam manter vivos os impressos. Por outro lado, outra saída é deixar o noticiário para a mídia eletrônica e centrar-se na análise dos fatos e na defesa dos direitos fundamentais do homem: educação, saúde, segurança social.


Pequenas Notas – 17-06=2021.


Os mares são um caldo tóxico.


Enquanto a Amazônia arde e indígenas são atacados com bombas de gás em Brasília, mais da metade do Brasil não tem saneamento básico, o clima se altera e o centro da Terra começa a se “desestabilizar” – os oceanos estão um pouco esquecidos. A indústria pesqueira já liquidou 90% dos grandes peixes e “recolhe” cinco milhões de peixes por minuto. Segundo o documentário Seaspiracy (disponível na Netflix), de Ali Tabrizi, 30 mil tubarões são pescados por hora e morrem 500 mil tartarugas marinhas a cada ano. O mar é um caldo tóxico, recebendo dejetos industriais e esgotos, além de ser um cemitério de resíduos plásticos que podem continuar poluindo o ambiente por centenas de anos.


A “casinha” ao lado da fossa.


Já fomos e voltamos à Lua e planejamos viver em outros planetas. Até o Brasil tem o seu astronauta, figura decorativa no governo Bolsonaro. Porém, 2,3 bilhões de pessoas não têm nenhum serviço de saneamento básico. Analisado com rigor, esse número sobe para 4,5 bilhões de seres humanos, cujas instalações mínimas de saneamento são precárias. Grandes capitais brasileiras não cumprem a Lei 11.445/2007, para o tratamento de esgoto. As cidades litorâneas jogam fezes no mar. Em muitas cidades do “Brasil profundo” – no Norte, principalmente – a fossa da “casinha” está ao lado da cisterna que abastece a família.


Da sarjeta para os mares.


Anualmente, quase 400 milhões de toneladas de plástico são produzidas em todo o mundo. E apenas 16% dos plásticos são reciclados; 40% vão para aterros sanitários; 25% são queimados; os restantes 19% ficam pelas ruas e terrenos baldios. Boa parte dos plásticos deixados nas ruas e em aterros são levados pelo vento ou pela enxurrada e acabam nos rios e, daí, aos oceanos.


Não basta saber.


Como solucionar esses problemas? Não adianta tecnologia, legislação ou campanhas educativas. Isso já temos. Se a tecnologia disponível praticamente em todos os países fosse usada racionalmente, não teríamos fome nem poluição. Se as leis fossem cumpridas os danos ambientais se reduziriam significativamente. Se o povo aceitasse o que cientistas e campanhas de proteção ambiental ensinam, teríamos ar puro, chuvas no tempo certo etc. Mas, como já observou um filósofo do século 19, “o comportamento tacanho dos homens em face da natureza condiciona seu comportamento tacanho entre eles”. Isto é, não basta saber, se não tivermos a convicção para fazer a coisa certa. E não fazemos a coisa certa porque, lembra o mesmo filósofo, “A propriedade privada tornou-nos tão néscios e parciais que um objeto só é nosso quando o temos, quando existe para nós como capital ou quando é diretamente comido, bebido, vestido, habitado etc. Em síntese, utilizado de alguma forma. (…) Assim, todos os sentidos físicos e intelectuais foram substituídos pela simples alienação de todos eles, pelo sentido de ter”.


O conflito ente o ser e o ter.


Uma das falhas da educação ambientalista é não procurar as raízes filosóficas e políticas que levam o homem a depredar o planeta. A questão, se olharmos radicalmente o problema – “e para o homem a raiz é o próprio homem” – não é técnica nem ideológica: está no conflito entre o ser e o ter , algo tão velho como a humanidade.


Pequenas Notas – 10-06-2021.


A boiada aumentou o trote.


A insistência em um tema é convite para não ser lido. Corro o risco, pois a boiada continua passando. Em maio, informa o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), os focos de queimadas na Amazônia legal foram 49% a mais do que no mesmo mês do ano passado. Este número é 34,5% superior à média mensal histórica. Deve piorar: a temporada de queimadas começa nos meados desse mês (junho) e vai até outubro. Quanto ao desmatamento, a Amazônia vem batendo recordes nos últimos três meses.


É recorde em cima de recorde.


Em maio de 2022 ocorreram 1.798 focos de incêndio na floresta. Em maio de 2021 eles chegaram a 2.679, informa o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Segundo o pesquisador Paulo Brando, do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) e professor da Universidade da Califórnia, “Maio traz números alarmantes para a atividade de fogo para a região. (…) Isso indica que as condições de fogo na Amazônia, as queimadas de desmatamento vão ser bastante catastróficas esse ano, a não ser que algo seja feito e que haja uma redução do desmatamento” . Pelos cálculos dos cientistas do IPAM, se o desmatamento continuar nesse ritmo , nos próximos meses 9 mil km 2 poderão virar cinzas. Para o físico Paulo Artaxo, da USP, “na temporada de fogo na Amazônia a qualidade do ar piora em São Paulo, com forte efeito na saúde, especialmente em crianças e idosos, que são as populações mais vulneráveis”. A boiada não se detém se o povo é bovino.


Eles podem mentir à vontade.


Políticos bolsonaristas descobriram que podem mentir. Ninguém liga. Na CPI eles extrapolam. E as redes sociais perseguem os jornalistas: se os repórteres falam verdades inconvenientes, são chamados de mentirosos. Da intolerância partem para a difamação e calunia. No jornalismo, ao contrário da política, não se pode mentir; quem mente é desmoralizado e perde o emprego. Já na política os mentirosos provam que a mentira é verdade. Sempre há quem acredite. Essa semana, Bolsonaro, ciente que suas mentiras soam como verdade para milhões de seguidores, afirmou, em um culto pentecostal, que ninguém sabe se as vacinas são boas e surtem efeito, pois estão em fase experimental. Falou em um templo, aonde, supostamente, as pessoas vão em busca da verdade. Em “nome de Jesus” os crentes acreditam, pois é da sua natureza assumirem a “palavra”, pela crença. Quem pode com essa turma?


Uma pontinha de tragédia.


Hitler, talvez o maior mentiroso da história moderna, antes de invadir a Polônia disse que os poloneses concentravam tropas na fronteira, para atacar a Alemanha. O disparate era gritante, mas ele fez “amargurados e sinceros” discursos, quase chegando às lágrimas, pedindo aos poloneses que não atacassem, pois ele queria a paz. Enquanto seus soldados massacravam poloneses e judeus ele clamava ao mundo que a Polônia assassinava cidadãos de origem alemã. Os jornalistas estrangeiros que noticiavam o contrário, isto é, a verdade, foram acusados de mentirosos e expulsos da Alemanha. Se acham que há exagero ou não tem sentido lembrar o nazismo pelas mentiras ditas na CPI, lembrem-se: a história, mesmo se repetindo como farsa traz uma pontinha de tragédia.


Prêmio à prevaricação.


Provavelmente Marcelo Crivela, sobrinho de Edir Macedo, será o embaixador do Brasil na África do Sul, como quer o presidente Bolsonaro. Está certo o capitão: Crivela é a cara do seu governo – bispo da Igreja Universal, que em Angola é suspeita de lavar e desviar dinheiro, em dezembro de 2022 ele foi preso, denunciado como chefe de um esquema para cobrar propina, na prefeitura do Rio. Ficou um dia no presídio e foi “agraciado” com prisão domiciliar. Como embaixador na África do Sul ele poderá trabalhar para conter as denúncias angolanas contra a Universal. Se for precavido, deve viajar de tornozeleira.


Quando ser bispo era sério.


Antes da proliferação das seitas pentecostais no Brasil, levava-se a sério a palavra bispo. Como se sabe, episcopado vem do grego, formado por epi (sobre) e scopeo (olhar). Epi é uma preposição e scopeo é a raiz do verbo olhar. Em latim deu inspector – ou vigilante. Os historiadores antigos não usavam a palavra no sentido religioso. Na versão russa do Novo Testamento a palavra grega epíscopoi é traduzida como vigilante. No Novo Testamento, em alguns textos bispo indica os chefes de comunidade, com direito a nomear os anciãos. Paulo nomeou Tiago e Timóteo bispos. Como tudo “evolui”, Crivela também é bispo…


Haja grana para eles.


Se a União tivesse que pagar, hoje, os benefícios futuros aos militares, gastaria R$ 703,8 bilhões. É o chamado déficit atuarial, calculado pelo Ministério da Economia, depois que o TCU (Tribunal de Contas da União) abriu o sigilo “dos dados do sistema de proteção social das tropas”. As forças armadas destinam benefícios a 369,4 mil militares da ativa, 162,9 mil inativos e 199,9 mil pensionistas. Mas o governo quer é reexaminar todas as aposentadorias de trabalhadores contribuintes do INSS, desde o Plano Real…


Pequenas Notas – 03-06-2021.


Sérgio Mascarenhas, em setembro de 2003, entrevista à revista Gutenberg, dizia que a ciência está a serviço da vida.


Uma grande perda.


Morreu Sérgio Mascarenhas (02-05-1928/31-05-2021), cientista de renome mundial. Foi professor titular do Instituto de Física e Química de São Carlos (USP), professor visitante das universidades de Princeton, Harvard e do MIT, nos EUA; do Instituto de Pesquisas Físicas e Químicas, no Japão; na London University – e em mais uma dezena de instituições.


Um semeador de ideias.


Nesse tempo em que a ciência é sabotada por um governo insano, vale lembrar a entrevista que Sérgio Mascarenhas concedeu à revista Gutenberg, em setembro de 2003. Sobre as dificuldades da pesquisa no Brasil e a incompreensão do trabalho científico, afirmou: “Na história da ciência no Brasil, uma das coisas mais fundamentais foi a luta contra a febre amarela. O Oswaldo Cruz fez a campanha da vacinação e contra o mosquito transmissor da febre. Ele foi causticamente atacado pelos militares e pelo povo, que consideravam aquilo uma invasão de privacidade… dar vacina numa pessoa era um absurdo. Tinham medo da vacina”.


Ciência, sociedade e cultura.


Na mesma entrevista Sérgio Mascarenhas disse: “Eu não acredito em ciência que não tenha uma função social, em ciência só para publicar trabalhos (…) Isso não tem sentido social, o Brasil é um país que precisa da ciência para o desenvolvimento, para sair dessa colonização vergonhosa que estamos há quinhentos anos. (…) Nós, cientistas, não podemos ser arrogantes e dizer que a ciência é importante por ela mesmo. Não, a ciência tem de ter um valor social. Tem de ter um valor econômico, de sustentação do ambiente, da agricultura (…) O poeta diz, ‘liberdade, abre as asas sobre nós’ (…) Eu acho que a ciência somente, não resolve. Tem de ter a ciência dentro da cabeça de pessoas que respeitam as humanidades, a literatura, as artes que são os aliados da ciência e da tecnologia.”


Antes, intocável, hoje…


Durante a ditadura o Exército brasileiro foi intocável. Qualquer crítica aos militares, embora velada, provocava uma reação que podia ir de um “pito” a umas pauladas. Hoje, com a desmoralização em curso promovida por Bolsonaro, até general virou piada. Pazuello foi ao ato político do presidente, o que é proibido. Agora surge a história de um terceiro sargento, da ativa, em uma live do major deputado Vitor Hugo, pedindo aumento de salário. O comando tem três oposições: punir os dois, punir um e não o outro, não punir ninguém – e está autorizada a baderna (termo que os militares gostavam de usar). De qualquer forma, o que deveria ser grave virou piada. Ou: ninguém manda em quem obedece…


Cloroquina a dar com pau.


Por falar em Exército a CPI mostra dados interessantes. Em 2022 o Exército gastou R$ 1,14 milhão na produção de 3,1 milhões de comprimidos de cloroquina, segundo confirma o Ministério da Defesa. E, segundo o noticiário, continua negando vagas nos seus hospitais para civis vítimas da covid.


O homem mente adoidado.


Bolsonaro falou à nação e mentiu o quanto pôde. Ele pode. O mentiroso pode mentir, pois é da sua natureza “levar vantagem” com a mentira. O mentiroso é crível quando a mentira acalenta alguma ilusão. O presidente mentiu sobre a cloroquina e o isolamento social, mas existe uma crença popular na cloroquina e contra o isolamento. Portanto, a mentira não é apenas de Bolsonaro – ele vale-se da ignorância e alienação para transformar a mentira em arma política. Se ele disser que os comunistas vão invadir o Brasil não estará mentindo – estará aproveitando-se da paranoia que é a antessala das ditaduras.


Pequenas Notas – 30-05-2021.


Nas livrarias: A bastarda de Deus.


Acaba de sair mais um livro meu: A bastarda de Deus (A Bíblia e a cultura da violência contra a mulher), pela Editora Noir. Peço desculpas, mas preciso vender meu peixe. É uma pesquisa mostrando que os preconceitos atuais contra a mulher – da misoginia ao feminicídio – projetaram-se da Bíblia para a sociedade. Na primeira parte há uma ampla investigação sobre os textos bíblicos referentes à condição da mulher. Na segunda, os seus reflexos entre filósofos, santos, políticos etc., com sua repercussão social.


O papa e a cachaça nacional.


O papa disse que nós não temos jeito. Somos um país de cachaceiros. Estava brincando. Mas, como dizem no Vaticano, “ridendo castigat mores”. O papa faria mais pelo Brasil se em vez de implicar com os bebuns prestasse atenção na gente fogosa que assumiu o governo. Acontece que no Brasil, quem brinca com fogo nem sempre está de fogo. O ministro do Meio Ambiente não precisa estar de fogo para ver o circo pegar fogo. Infelizmente ele não brinca em serviço, como o papa. Tanto, que começa a ser investigado porque apareceram nas suas contas bancárias uns trocados a mais.


O ministro e sua mamãe.


Ricardo Salles está investigado pelo Ministério Público de São Paulo, por movimentações “atípicas” do escritório do qual é sócio. Ele é alvo de inquérito no STF (Supremo Tribunal Federal) e tem suas contas abertas: segundo a Polícia Federal as suspeitas entendem-se à sua mãe. Ambos tiveram os sigilos bancários e fiscal quebrados. Ainda há suspeitas sobre as exportações irregulares e contrabando de madeira.


O lockdown e a letra da lei.


Em Ribeirão Preto o lockdown é um fiasco. Pouca gente respeitou e alguns supermercados conseguiram liminares para abrir. O juiz que autorizou a abertura dos supermercados em pleno lockdown, certamente agiu dentro da letra da lei. A “letra da lei”, no Brasil, se ajusta a quem tem bons advogados. O que não vale e não tem poder, é a letra da ciência. Por mais que os cientistas mostrem e os infectados e mortos exemplificam, poucos se convencem que é preciso isolar-se e usar máscara.


O freguês sempre tem razão.


Os maiores anunciantes da televisão na região de Ribeirão Preto são os supermercados. Coincidentemente, os jornais televisivos não dedicaram um segundo sequer sobre a decisão da justiça que os autorizou a funcionar em pleno lockdown, quando o sistema de saúde de toda a região está em colapso. Tudo nos conformes: na imprensa provinciana quem paga os anúncios fala de pandemia…


Um novo antropólogo.


Quem duvida da cultura abrangente de Bolsonaro ficou chupando o dedo. Ele mostrou seu conhecimento antropológico ao descobrir uma nova nação indígena. Trata-se do povo balaio, que ninguém nunca viu e todos suspeitam não existir. Mas Bolsonaro inventou essa etnia e tornou-se o mais novo indigenista brasileiro.


A milícia oficial de Bolsonaro.


Os descuidados não perceberam que, logo ao tomar posse, Bolsonaro fez um pacto com as polícias militares. O plano é mais claro do que água cristalina: transformar as PMs em milícias políticas que podem interferir em todo processo democrático que atrapalhe o presidente. Sábado, no Recife, a PM agrediu os manifestantes anti-Bolsonaro. A intimidação ocorreu em todas as capitais onde aconteceram manifestações da oposição.


O exemplo vem do alto.


A base das SS nazistas, a partir de 1931, foi formada pelas policias civis. Primeiro, Hitler conquistou os policiais, depois os acolheu em grupos armados e, em 1934, quando assumiu o poder e praticamente fechou os tribunais, transformou as SS em força de “persuasão política”, empregadas do Estado. Mais ou menos o que também fez Mussolini. Nos tempos atuais, Trump tentou usar as forças de defesa dos EUA em milícias. Na Rússia, na Turquia e em Belarus o processo foi o mesmo. Já não adianta denunciar repetidamente as boçalidades de Bolsonaro, é hora de perceber que a loucura tem um método. E que o processo de milicianização está em curso.


Pequenas Notas – 25-05-2021.


Medalha de honra ao mérito, da Ordem dos Cavaleiros de Pinóquio, concedida pelas altas autoridades da República para homenagear quem só diz que disse que não disse o que disse.


A apoteose do general.


Um general trapalhão obedece as “ordens superiores” e contribui para a mortandade. Em seguida, mente na CPI até esgotar a mentira. Depois é aplaudido pelo governo porque aumentou a matança e mentiu adoidado. Então, comemora: vai a uma manifestação política ilegal (pelo menos para ele), sem máscara, aglomerando-se ao lado de quem lhe deu as ordens. O que acontece? Histerismo na imprensa: clima de “agora vai”, na expectativa de que o comando superior do Exército dê uma paulada na loucura. Ninguém se lembra de qual hospício saem os dementes que pensam mandar no Brasil?


Qual coelho sairá da cartola?


Mas existe o mundo dos que esperam o coelho sair da cartola e o mundo dos donos da cartola – que, aliás, controlam o mágico. E a história ensina: o Brasil é o país da conciliação. Aqui, a polarização entre direita e esquerda é pra inglês ver e as oligarquias desfrutarem. Não vai acontecer nada com Pazuello: os “homens” acharão uma saída “democrática”. Alguns até acham que já está de bom tamanho o general Santa Cruz, ex-ministro de Bolsonaro, posar de indignado com a quebra de hierarquia e acusar Pazuello de cometer ato “irresponsável e perigoso”. Outros dizem que o vice Mourão já fez o serviço, ao dizer que Pazuello “provavelmente” será punido. O fim da história é o atrapalhado trapalhão passar à reserva e tudo fica em paz no arraial.


Da conciliação à reconciliação.


O Brasil, além de ser o país da conciliação é, também, o da reconciliação. Nossa história mostra com clareza: posições duras e firmes, inconciliáveis com o “outro lado”, só acontecem quando do outro lado estão negros e pobres. Ou trabalhadores exigindo salários justos. No mais, o arreglo é geral e generalizado, inclusive ou principalmente entre os generais.


Tempo de esperteza safada.


Quem ganha com toda essa confusão é Bolsonaro. Ele consegue desviar a atenção das denúncias contra o crime de lesa humanidade cometido no Brasil: ele está determinado a ampliar a epidemia para evitar manifestações de rua contrárias ao seu governo (só se aglomeram os seus seguidores, que desprezam a morte, especialmente a dos outros). E faz a imprensa esquecer as infrações ou os crimes de seus filhos; e a boiada, que continua passando. O contrabando de madeira, tácita e taticamente permitido pelo Ministério do Meio Ambiente, deveria estar nas manchetes, mas é notinha interna nos jornais. A imprensa confunde boçalidade com falta de inteligência. Aliás, uma “política antipopular” não precisa de inteligência: se faz com esperteza safada. Antigamente existiam raposas sutis (Getúlio, Tancredo Neves, Benedito Valadares, etc.). Hoje, são abutres que não se incomodam com boas maneiras e, por isso, têm mais sucesso. Bolsonaro vem aí (2022).


Enganam até quando acertam.


Os prefeitos de Ribeirão Preto, Franca, Batatais, Bebedouro, Viradouro – entre outros do estado – foram obrigados a impor uma espécie de lockdown, depois que a situação ficou crítica. Eles “abriram e fecharam” sob pressão de comerciantes, só ouviram especialistas quando perderam o controle e o sistema de saúde entrou em colapso. E sempre saíram pelo desvio ao explicarem o fracasso: culpados, sempre, são os outros. E preferem, como o prefeito de Ribeirão Preto, chamar o lockdown de “fase emergencial restritiva” – não por apego à língua portuguesa, mas para não dar o braço a torcer.


Pequenas Notas – 17-05-2021.


Gentis senhoras funcionárias das empresas de diamantes, em Angola, em 1920. Os portu-gueses, ingleses, holandeses & aliados levaram os diamantes, mas deixaram o Evangelho de Cristo, que a Igreja Universal do Reino de Deus lutou para ampliar, com o apoio do ex-chanceler Ernesto Araújo. Agora, deu ruim.


O esporte de matar preto e pobre.


Dia 6 a Polícia Civil invadiu o Jacarezinho e matou 27 pessoas. Um agente morreu. Matar “bandido” não elimina nem diminui a criminalidade. A prova é a própria polícia carioca, campeã de matança. Em 2022 os policiais mataram 1.534 pessoas; em 2022, 1.814; em 2022, 1.245. Média de três mortes por dia. 2021 promete mais matanças. O crime aumentou.


Enfim, um general covarde.


Não é novidade um general brasileiro ser chamado de covarde. Mas, nenhum deles, pelos motivos de Pazuello. É a primeira vez que um general apela a artimanhas legais para não responder pelos seus atos. Não é medo diante dos canhões, nem de enfrentar uma guerra civil (como Brizola acusou alguns militares ligados a Jango, em 1964). É a fuga, com medo de ser obrigado a dizer a verdade. Se fosse permitido mentir, ele negaria fogo?


Presidente reprovado: é normal.


O Datafolha continua alimentando a esperança da oposição. Segundo sua última pesquisa, 49% dos brasileiros apoiam o impeachment de Bolsonaro; mas 46% são contra. 51% reprovam sua conduta na pandemia, mas 21% aprovam. 58% acham que ele não tem condições de governar o país; 38% pensam que sim. Seu governo é reprovado por 45% e aprovado por 24%. Com esses números qualquer governo, em outro país, pediria o boné. No Brasil tudo continua “normal”.


Deputado assassino confesso.


O Brasil, aliás, está cada vez mais “normal”. O deputado Éder Mauro (PSD), naturalmente bolsonarista, em pela sessão da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, interrompeu aos gritos as deputadas Maria do Rosário (PT) e Fernanda Melchionna (PSOL), desejando-lhes a morte a afirmando que já matou muita gente. “Pode se fazer de vítima, espernear, fazer o cacete nessa porra dessa sessão (…) E vou dizer mais, senhoras deputadas de esquerda: eu, infelizmente, já matei sim, não foi pouco, não, foi muita gente. Tudo bandido. Queria que estivessem aqui para discutir olho no olho. Vão dormir e esqueçam de acordar!”, disse o deputado, que Maria do Rosário de “Maria do Barraco”. Tudo normal e nada aconteceu; a imprensa praticamente ignorou o destempero do parlamentar, como se não fosse mais um sintoma da “naturalidade” da violência.


Um, na boa; outro, no limbo.


Nada como ter bons amigos no poder. Que o diga Silas Malafaia, cuja editora e igreja devem R$ 4,6 milhões de impostos e vai levando, com um apoio aqui ao presidente Bolsonaro e uma paulada ali na oposição. Só a Igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo, propriedade do famoso bispo, segundo a Procuradoria Geral da Fazenda deve R$ 2,89 milhões de impostos, mas não é perturbada. Já o bispo Macedo entra em queda livre com a saída de Ernesto Araújo do Ministério das Relações Exteriores: o ex-chanceler apoiava a “evangelização” da Igreja Universal em Angola. Mas, com o conflito entre os angolanos e os pastores brasileiros, e alguns escândalos financeiros em Angola, o Itamarati deixou de apoiar a “política religiosa colonialista” na África e a “evangelização” mingou. Entre várias denominações, seitas ou “credos” pentecostais começa um sério racha no núcleo bolsonarista. Eles querem mais…


Pequenas Notas – 09-05-2021.


Presidente faz o seu jogo.


A notícia completa pode ser lida no Estadão, de hoje (domingo): “Bolsonaro cria orçamento secreto para ter apoio no Congresso; esquema financia compra de trator superfaturado. Manejo do governo destina R$ 3 bilhões em emendas. Parte é gasta na compra de máquinas com preços até 259% acima dos valores de referência”. É assim que se enfrenta uma CPI…


A CPI ajuda a boiada a passar.


A pandemia facilitou a boiada a passar. A CPI está distraindo os distraídos e encobrindo os malandros que lutam para ampliar o desastre ambiental. Parece que ninguém está percebendo que Bolsonaro trabalha ativamente para mudar a legislação e permitir que áreas protegidas, santuários como a Mata Atlântica e Angra dos Reis, por exemplo, sejam invadidas por cassinos e resorts. Jogos de azar em palácios de alto luxo são, internacionalmente, o topo da cadeia de prostituição e lavagem de dinheiro das máfias. Dos gangsteres de Nevada, às dinastias dos Grimaldi, em Monte Carlo, a dos Rainier, em Mônaco – além dos transatlânticos e dos hotéis em emirados árabes – esse tipo de “turismo” rende milhões ao crime organizado, financia políticos corruptos e alimenta o tráfico de mulheres. A boiada está passando em trote pesado…


Todo mundo rezando no STF.


Vem aí mais um ministro crente. Ontem, falando aos seus seguidores, que babavam de admiração, Bolsonaro anunciou que indicará um novo ministro terrivelmente evangélico para o Superior Tribunal Federal. E mais, quer que as sessões do STF comecem com uma oração desse ministro. O vídeo completo é um retrato fiel da indigência mental brasileira; está em vários canais, inclusive no do presidente, é fácil encontrar. Mas a coisa não será tão simples; politicamente Bolsonaro não terá problemas, mas na família o pau está comendo. A primeira dama, Michele, apoia e faz campanha para a nomeação de André Mendonça, que é advogado geral da União. O senador Flávio, porém, prefere Humberto Martins, atual presidente do Superior Tribunal de Justiça. Tudo em família, como convém às pessoas de bem.


Operações milionárias do PCC.


A Polícia Federal informa que o PCC movimentava dinheiro entre a Holanda, o Paraguai e o Brasil, com “o tráfico doméstico e o internacional”. Essas operações financeiras superaram R$ 3 bilhões. As investigações mostram a ligação de alguns líderes do tráfico com figuras de destaque no mundo financeiro. E daí? Ora, todos têm bons advogados.


O caráter do general de pijama.


Alguém já viu uma foto de um general de pijama? A única que eu conheço é a do general Lott, depois que foi para a reserva. Saiu em “O Cruzeiro”, revista que não existe mais. De pijama, Lott impunha mais respeito que muito fardado cheio de medalhas. Se não fosse ele Juscelino não tomaria posse. Ele acabou com o golpe em marcha e garantiu a posse do eleito pelo voto. Por isso ficou na história como o general da legalidade. Foi hostilizado pela ditadura de 1964. Seu enterro, em1984, aconteceu sem as honras militares de costume. O então governador do Rio, Leonel Brizola, decretou luto oficial e Sobral Pinto declarou que se ele tivesse sido eleito presidente, em vez de Jânio Quadros, o Brasil “teria instaurado um governo de legalidade e de respeito à pessoa humana. (…) Com Lott na presidência não teríamos ditadura militar durante vinte anos, não teríamos a falência nacional”. Lott não teve medo de ser fotografado de pijama – seu caráter e sua autoridade não estavam na farda.


Pequenas Notas – 27-04-2021.


Agora o vilão é o herói.


Aonde chegamos: Renan Calheiros é a esperança da oposição para desmascarar Bolsonaro. E o presidente teme o alagoano como se ele fosse o paladino da justiça. Diante do assalto à lógica, chamem o ladrão… Melhor não: se chamar pode assanhar as milícias.


O general de bermudas e o pastor.


O patético general de bermudas, passeando sem máscara no shopping, para muita gente é o retrato do governo Bolsonaro. Na verdade, é uma caricatura grotesca. O retrato tosco vem com a declaração (dia 26) do ministro da Educação, Milton Ribeiro: “a política do MEC (Ministério da Educação) deve vir e tem que vir em consonância com a visão educacional, do projeto, do senhor presidente da República”. E confessou: “É com ele que eu troco ideias quando quero fazer uma mudança”. Junte-se o general que despreza a morte de quase meio milhão de brasileiros e o ministro terrivelmente evangélico que tem como “guia educacional” o iletrado presidente, e o novo Brasil está servido. Aos idiotas e indiferentes, bom apetite. (Eles não sabem que serão engolidos.) Sorte se esse pastor posando de ministro ficar só no criacionismo. Duro será se ele atacar de calvinista – um modelo de poder ideal para Bolsonaro, embora ele não saiba. Esse ministro (de Estado e de Igreja) fala na “visão educacional de Bolsonaro”! Haja estômago para suportar tais arrivistas.


De repente, o rigor da Anvisa.


Com a desaprovação da Anvisa à Sputnik, o governo chega a onze recusas de comprar vacinas contra a covid. A primeira recusada foi a Coronavac, do Butantã, com alegações xenofóbicas de Bolsonaro. Hoje, se não fosse a “vacina chinesa”, estaríamos em pior situação. Depois foi a da Pfizer – foram feitas várias ofertas ao Ministério da Saúde, que não aceitou nenhuma até a queda de Pazuello e a pandemia se expandir. A decisão da Anvisa contra a Sputnik não “bate” com a maioria das pesquisas sobre a vacina russa em mais de oitenta países. O diretor do Fundo Soberano, responsável pela Sputnik, reagiu: “A Anvisa tem sido tendenciosa e não profissional. Para nós, usa exigência dupla ou tripla, mais sujeita a escrutínio e ataque. É muito estranho. Ao mesmo tempo, autoriza vacina no Brasil que tem casos de trombose severa, enquanto no caso da Sputnik o risco é zero”.


Entulho da era Trump.


Segundo o empresário russo a desaprovação da Anvisa é parte “de uma possível política orquestrada pelos Estados Unidos para não deixar a Sputnik entrar no país”. Ele lembrou que o ex-presidente Trump pressionou Bolsonaro para não comprar a vacina russa, o que foi noticiado há meses pela imprensa brasileira. Os russos poderiam fornecer 80 milhões de doses ainda este ano.


O ministro obediente.


Paulo Guedes é outro que faz o que seu mestre mandar. Nos próximos dias ele deverá modificar sua equipe. No centro do poder, entre os bolsonaristas a briga é de foice. O presidente atira para todos os lados e, quem pode, desvia-se das balas negociando cargos. Guedes já foi contestado, desmentido e desautorizado várias vezes por Bolsonaro. Agora, para se “acomodar”, troca seus principais assessores e rende-se, mais uma vez, ao gabinete do ódio.


Qual o sentido em espernear?


Qual o sentido em comentar notícias quando tudo piora de forma trágica: a pandemia está “estável” no acme da doença – e os governantes abrem botecos, salões de beleza e festejam a “liberdade” de ir e vir, um chavão que a direita alucinada maneja com tal burrice inteligente que o povo entende e acata. O Brasil chegou a um ponto em que mais que impotentes, somos a própria impotência diante da irracionalidade que produz a morte e reproduz a injustiça social. Já não há o que falar sobre o meio ambiente, quando o ministro responsável alia-se a desmatadores e protege ladrões de madeira. Como comentar as maluquices de militares infiltrados no Estado, se o Congresso fica indiferente à invasão? O Brasil virou a mesa: o “aparelhamento” que era atribuído a Gramsci para propósitos revolucionários é realizado pelo bolsonarismo para efeitos reacionários. Continuar falando e escrevendo, sem ir às raízes do fenômeno, é reduzir a tragédia a lamento inconsequente. Porém, todavia e contudo, entrementes e quem sabe – por que perdemos a visão da realidade e passamos a nos comportar como bobocas conformados apenas em resmungar?


Pequenas Notas – 20-04-2021.


O lado que se impõe.


A grande imprensa, mal ou bem, debate ideias. Confronta opiniões (o famoso “outro lado”). Mas poucos leem os grandes jornais, como a Folha e o Estadão, cuja maioria dos leitores está nas capitais. No interior o que funciona é o rádio, a televisão e os “jornais locais”, provincianos e atrelados às associações comerciais, Maçonaria, Rotary, Lyons e, naturalmente e com naturalidade, às forças econômicas predominantes. Sorte quando a mídia é apenas conservadora, pois quase sempre é reacionária. Um bom exemplo é como se comporta nessa pandemia. Abrem espaço e tempo aos grandes entendidos em covid-19: as cabelereiras, donos de bares e sacerdotes. Se o número de mortes cai um centésimo, ignoram os infectologistas e médicos e correm para os comerciantes. Assim, jornais impressos, televisão e rádio estão de orelhas abertas para o lado que lhes importa – o econômico. Só ouvem o “outro lado”, o da ciência, quando as mortes voltam a subir e há filas nos cemitérios. Então fingem que respeitam a ciência.


Basta abrir os ouvidos.


Em 22 de maio de 2022, há um ano, escrevi nesse blog que a pandemia seria a tragédia que enfrentamos hoje, porque temos governantes insanos para uma sociedade que não se compromete com a verdade. Afirmei, antes e depois de maio de 2022, que os políticos seriam cobrados em futuro nem tão distante, pela covardia administrativa. Destaquei que prefeitos e governadores rendiam-se ao poder econômico da forma mais abjeta, medrosos de represálias dos donos do dinheiro. Citei, evidentemente, Bolsonaro, além de Dória e o prefeito de Ribeirão Preto – perito em dizer uma coisa e fazer outra. Agora, com a nova liberação quase geral, do alto do meu cabotinismo que não errou sobre a pandemia em 2022, aviso aos navegantes: em dois ou três meses sentiremos o gosto da morte aumentado pela irresponsabilidade atual. Atenção: não sou profeta, inteligente, esperto ou sabido: apenas ouvi com atenção o que os cientistas prognosticaram.


O essencial na lei e na prática.


Criticar Bolsonaro é fácil: ele comete tantos disparates que não é preciso ousadia para chamá-lo de irresponsável – basta publicar as fotos dele, sem máscara, com crianças no colo etc. Porém, há coisas mais estarrecedoras, como os prefeitos e vereadores do interior que para burlar a “fase vermelha”, por exemplo, decretaram como “serviços essenciais” academias de ginástica, salões de beleza, bares, restaurantes e igrejas. Caminhamos para o caos sanitário e, aparentemente, dentro da lei.


A força do governo a mentira.


O TCU (Tribunal de Contas da União) acusa o Ministério da Saúde de falsificar documentos para encobrir a responsabilidade por não fornecer remédios de intubação e eximir-se da obrigação de combater o covid-19. Quando um ministério é acusado de falsificar documentos para escapar da condenação dos seus atos criminosos, o que resta ao governo? A mentira – é a mercadoria que o bolsonarismo usará na CPI.


Novo recorde de matança.


797 pessoas foram mortas nas favelas pela polícia do estado do Rio de Janeiro, nos últimos nove meses. 85% dos mortos eram da região metropolitana. Quase 100% pobres e negros. A notícia foi noticiada pelo The Guardian, de Londres e só então, “chegou” ao Brasil – o que é natural: favelados não contam.


O país docilmente acabado.


Existe um “povo brasileiro”? Darcy Ribeiro, apaixonado pelo Brasil e sua gente, no fim da vida teve suas dúvidas. O Brasil é uma mistura (que não chegou a ser amálgama) de culturas “nossas” (indígenas, africanas, caipiras), “atacadas” pelo colonialismo que nos invade em todos os setores. As classes escolarizadas preferem tudo que vem do “primeiro mundo”. Os de baixo estão desenraizados, perdidos na tempestade sem o guarda-chuva cultural que os defendam. Talvez por isso ainda não somos uma nação e não passamos de um país colonizado: não temos povo para se contrapor à barbárie atual. E como disse Churchill, “As nações que caem lutando voltam a levantar-se, mas aquelas que se rendem docilmente estão acabadas”.


Pequenas Notas – 11-04-2021.


A boiada passa e a carneirada vai atrás. Os lobos engolem o povo nos jantares com o presidente. A floresta morre e o povo não se importa: aglomera-se e festeja – o quê?


Novo recorde e ninguém liga.


A pandemia mata e a boiada passa. Com pouco destaque e praticamente ignorada, saiu a notícia de que o desmatamento na Amazônia foi recorde em março – o maior já registrado para o mês desde o começo da série histórica, informa o Inpe (Instituto de Pesquisas Espaciais). Mas o ministro do Meio Ambiente está preocupado com as multas e apreensões de madeira ilegal – não pela ilegalidade, mas porque descontenta grileiros e desmatadores.


A hora e a vez dos charlatães.


Quando nos deparamos com algo absurdo, por exemplo, um charlatão receitar remédio para doenças que desconhece, contrapondo-se à recomendação de cientistas especializados, a primeira reação é tentarmos entender. Acontece que não há tempo a perder: enquanto discutimos as (des)razões do trapaceiro as pessoas morrem. No caso da atual pandemia, aos milhares. Enquanto os brasileiros perdem tempo a denunciar o embusteiro, as pessoas continuam a morrer. As instituições rendem-se ao desvario, reagindo formalmente. Na verdade, nem é uma rendição: mas uma cumplicidade mal disfarçada, pois para anular o demente é preciso ter a coragem que os pais da pátria não têm. Paralelamente, o povo não acredita na morte se não for o defunto. O resultado é um país atrasado, vencido e entregue a militares ignorantes e políticos safados, aplaudidos por empresários irresponsáveis, como se viu no jantar oferecido pelo fanfarrão presidencial. As pessoas lúcidas não têm poder real, portanto, são forçadas a “perder tempo” ao estudar porque o país caiu nessa engrenagem de violência e brutalidade social.


O covid e aliado de Bolsonaro.


Quando eu trabalhava “oficialmente” na imprensa, em jornais e sites de empresas de comunicação, para desgosto de muita gente escrevi, há mais de um ano, que o Brasil seria a maior vítima da pandemia, porque o governo é necrófilo (inclusive com o componente sexual) e o povo… bem, o povo é a massa alienada ou a pequeno burguesia que diz amém aos donos do dinheiro. Hoje, reafirmo: enquanto Bolsonaro for presidente a pandemia será incontrolável. Ele e sua gente só pensam nas eleições de 2022 (e não apenas a politicanalha do seu entorno, mas os tontos que continuam com medo de Lula, e por isso, “corajosamente”, desdenham a pandemia). O covid-19 é aliado do capitão: primeiro, impede passeatas contra o governo; segundo, se nas vésperas das eleições diminuir um pouquinho o número de mortos, Bolsonaro dirá que foi o milagre que ele prometeu e “levantará” a população a seu favor – sobram idiotas para acreditar. Se a economia melhorar pifiamente, o bufão voltará a dizer: “conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. Não menosprezem a desfaçatez do bufão nem a burrice eleitoral.


O perigo da fé demais.


Se for preciso provar que a ciência é melhor do que a ignorância, comparemos Araraquara com Bauru no enfrentamento da pandemia. Depois do lockdown, Araraquara registrou a média de 11,9 mortes por 100 mil habitantes. No mesmo período, Bauru, que tem como prefeita uma cantora gospel que se diz protegida por Deus, e não levou a sério o isolamento social, teve 26,4 mortes por 100 mil habitantes (220% a mais). Araraquara é governada por Edinho Silva (PT) e Bauru por Suellen Rossim (Patriota).


O boca-suja e o antissemitismo.


No jantar que Bolsonaro ofereceu aos empresários paulistas, a dado momento o presidente disse: “O governador de vocês é um vagabundo, caralho”. Depois do constrangimento, vieram os aplausos. Entre os comensais estava Cláudio Lottenberg, presidente da Conib (Confederação Israelita do Brasil). O jantar aconteceu quarta-feira, na mesma hora em que os jornais televisivos anunciavam um novo recorde de mortes diárias (3.733) e o país chegava a 341 mil mortos. Não falemos em solidariedade humana, palavrão para os donos do dinheiro. Falemos da estupidez humana, que se segundo Einstein é infinita como o universo. Lottenberg é judeu, como aplaude um genocida? Lottenberg devia saber que Bolsonaro é, na raiz, antissemita – o discurso pró Israel, subliminarmente, mais denuncia o antissemitismo do que revela qualquer identidade religiosa ou social. Aliás, a “aliança” que os judeus aceitam ou toleram com o pentecostalismo é ultrajante para a tradição israelita. Um dia volto ao tema.


O mártir cristão entra na arena.


O advogado geral da União, André Mendonça, pulou na arena para enfrentar os leões. Segundo ele, “os verdadeiros cristãos estão sempre dispostos a morrer para garantir a liberdade de religião e de culto”. Foi sua reação à decisão do STF ao dar força aos governadores e prefeitos para proibirem cultos religiosos. Deduz-se que, para Mendonça, os cristãos estão dispostos a se aglomerarem e morrerem de covid para defender a “liberdade religiosa”. Alguém precisa dizer ao “mártir” que liberdade religiosa só existe em Estado laico.


Pequenas Notas – 01-04-2021.


Como não teve bolo nem cantaram parabéns a você, para agradar aos cidadãos de bem e não deixar em branco o aniversário do golpe de 1964, segue um relato sobre alguns fatos relevan-tes da ditadura militar.


Serviço incompleto.


Os militares dizem que o golpe de 1964 salvou o Brasil do comunismo. Segundo Bolsonaro o serviço não foi completo: ele queria que os golpistas matassem 30 mil brasileiros, mas eles foram maricas, assassinaram apenas uns 3 mil. Em compensação torturaram mais de 20 mil, até crianças. Ainda assim, segundo o presidente, os comunistas continuam a perturbar o sono das pessoas de bem. Em homenagem aos bons sentimentos dessa gente vamos lembrar alguns feitos da ditadura.


O ataque à educação.


Esqueçamos a perseguição a intelectuais e artistas, a agressão aos direitos humanos e constitucionais e outros mimimis. Destaquemos fatos documentados. Por exemplo, antes do golpe de 64 o governo federal era obrigado a investir pelo menos 12% do PIB na Educação; os estados e municípios tinham que aplicar 20% dos seus orçamentos no sistema educacional. Os militares acharam demais: em 1970 baixaram a verba federal para 7,6% do PIB e em 1975 cortaram para 4,31%. Aconselho aos distraídos lerem novamente esses dados para entenderem porque a Educação brasileira caiu tanto. As consequências: em 1980, 25,5% das crianças entre 10 e 14 anos eram analfabetas. (Finda a ditadura a alfabetização avançou e em 2010, segundo o IBGE, esse número caiu para 2,5%.)


Freio nos trabalhadores.


Os donos do dinheiro sabem que trabalhador é folgado e guloso. Sempre quer ganhar mais, sem considerar as dificuldades do patrão. Os militares deram um jeito nisso: acabaram com a estabilidade no emprego e a representação sindical, prenderam líderes classistas e impuseram censura à imprensa, para o povo não ter ideias subversivas. A partir daquele momento os salários foram “corrigidos” abaixo da inflação.


Tirar da saúde para a “defesa”


Para fortalecer nossa força militar contra os comunistas de olho na pátria amada, os militares “remanejaram” verbas da Saúde para a “defesa”. Os doentes que procurassem os planos de assistência médica privada. O descalabro sanitário foi terrível e a situação só começou a ser remediada (é a palavra) a partir da Constituição de 1988, com a criação do SUS (Sistema Unificado de Saúde). Muita gente ainda não se deu conta de que, sem o SUS, nossos 300 mil mortos nessa pandemia poderiam ser uns 3 milhões.


Sem concurso, muita “cunha”


No tempo dos militares a maioria dos empregos públicos não exigia concurso. Quem tinha padrinho (a famosa “cunha”), entrava. A máquina administrativa estatal era uma ação entre amigos e correligionários políticos. Resultado: quando a ditadura entregou os pontos, em 1985, 81% dos funcionários não tinham curso superior e 32% sequer completaram o quinto ano elementar. Hoje, metade dos servidores possui curso superior e apenas 6% não concluíram a quinta série.


Corrupção “cívico-militar”


Quem acredita em papai Noel crê que não havia corrupção no tempo dos militares. Porém, foi na ditadura que começou o “casamento” entre as grandes empreiteiras e o governo. No livro Estranhas catedrais , o historiador Pedro Henrique Pedreira Campos mostra como a “modernização” empresarial provocou a “aliança” entre generais, ministros e gestores governamentais com o alto empresariado nacional e do exterior. Para os que acreditam no patriotismo dessa turma seria bom lembrar suas “doações” de territórios ricos em minérios na Amazônia legal às multinacionais e o famigerado Projeto Jari. Além de vastos latifúndios doados aos frigoríficos internacionais. Então o general Geisel achou que a “revolução” virou bagunça e começou a acabar com a festa. O coveiro foi o general Figueiredo, que preferia o cheiro dos cavalos aos dos humanos.


Pequenas Notas – 23-03-2021.


Gravura de 1642, de Hondius, baseada em um desenho de Breughel, de 1564, sobre a mania de dançar, em Estrasburgo. No Brasil atual, guardadas as circunstâncias e o tempo, a coreomania manifesta-se em populações pobres, exaltadas e sem escolaridade. Veja em https://www.youtube.com/watch?v=3uqGLIc Xjs e também em https://www.youtube.com/watch?v=lE 4aH PTmY. O primeiro vídeo tem melhor qualidade, o segundo é uma reportagem que explica como funciona a “convocação” para o bonde da covid.


Vamos dançar até a morte.


Ao ver o vídeo de pessoas cantando e dançando nos trens da Central do Brasil, no Rio de Janeiro, em plena mortandade pela covid, pode-se pensar que essas loucuras só acontecem no Brasil. Ledo engano, é comum nos tempos de crise explosões de “alegria” e manifestações de “indiferença” ou “descrença” da morte. Na Idade Média, quando fome, pestes e epidemias dizimavam milhões, alguns grupos dançavam. O “baile” evoluía para uma paranoia coletiva e de repente, todos dançavam e cantavam sem parar. Perdia-se o controle sobre o corpo e a mente. Houve situações em que comunidades inteiras rodopiaram freneticamente; a dança acabava pelo cansaço e algumas mortes.


Coreomania: resposta dos loucos.


Os historiadores denominaram esse comportamento de coreomania (mania de dançar). No verão de 1518, em Estrasburgo (França), dezenas de pessoas começaram a bater bumbos e “tocar” instrumentos improvisados, dançando agitadamente na praça central. Era a resposta à fome, à peste e às injustiças sociais. Impotentes diante da vida, gritavam e pulavam. A dança perdurou um mês, até que acabou de repente, deixando sobreviventes enlouquecidos e alguns mortos.


O abominável eterno retorno.


Relatos da época falam de dançarinos com os pés ensanguentados, expressão enlouquecida e movimentos desarticulados, que não paravam de dançar nem amarrados. Ao lado das epidemias de tifo, por exemplo, ocorreram as de dança, pelo menos durante três séculos. Uma delas ao longo dos rios Reno e Mosela, em 1374. Trezentos anos depois, no século XVII, ainda ocorriam coreomanias. No Brasil, bondes da covid e pancadões, com o vírus no ar, não é uma forma abominável do eterno retorno de Nietzsche?


Surge a dança de São Vito.


Uma crônica de 1636 conta que em 1518 “ocorreu entre os homens uma doença notável e terrível, chamada dança de São Vito, na qual os homens loucos começaram a dançar dia e noite até que finalmente caíram inconscientes e sucumbiram à morte”. Segundo o cronista “(…) uma mulher começou a dançar. Ignorando os pedidos do marido para cessar, ela continuou por horas, até cair exausta. No dia seguinte voltou a dançar e no terceiro dia vendedores ambulantes, mendigos, peregrinos, padres e freiras assistiam ao espetáculo, bebendo e comendo”. Depois de cinco dias as autoridades prenderam a mulher e a enviaram para um mosteiro, para ser exorcizada. No entanto, as pessoas que assistiam a dança passaram a imitá-la e em pouco tempo dezenas de pessoas foram tomadas pela “doença de São Vito”.


Ou morre ou livra-se do pecado.


Os sacerdotes consideraram a mania de dançar uma ação vingativa de São Vito – mas não dizem do que ele se vingava, aludindo vagamente ao “pecado”. Os médicos e alquimistas diagnosticaram uma “doença natural”. As autoridades foram práticas: construíram galpões com tablados para dançar, contrataram músicos para animar os dançarinos e deixaram que eles se esgotassem… ou morressem. Não deu certo: em um mês quatrocentos cidadãos já dançavam até caírem exaustos ou morrerem e, segundo a crença predominante, livres da praga de São Vito.


Chegamos ao Brasil de Bolsonaro.


Aliás no Brasil, ainda é comum dizer que crianças agitadas estão com “a dança de São Vito”, mesmo sem saber o seu significado. Também se diz de quem se sai mal que ele “dançou”. São reminiscências de um tempo esquecido, mas cujas patologias se repetem pelos séculos. Conhecer as raízes históricas de certos comportamentos não muda os males atuais, mas ajuda a entender a aparente loucura do povo alienado pelo sistema que o domina. Por isso Bolsonaro pode dizer que o Brasil é um exemplo para o mundo no “combate” à pandemia. E, como se vê no vídeo dos cariocas, o povo dança…


Pequenas Notas – 17-03-2021.


Um dilema do século XXI.


Na Bélgica judeus e muçulmanos se uniram contra a “perseguição religiosa”. Em Flandres e outras regiões está proibido matar animais para consumo humano sem antes anestesiá-los. No caso, a “anestesia” é uma porretada na cabeça. Segundo judeus e muçulmanos, belgas, Alá e Jeová preferem que o gado comestível morra com dor. Faz parte do ritual religioso gastronômico das duas religiões uma série de cuidados para purificar a carne que o povo comerá. Os muçulmanos, por exemplo, exigem que o pescoço do animal seja cortado com o abatedor olhando em direção a Meca e orando. Todo cuidado é pouco: corta-se a carótida do bicho, deixando a medula intacta, para obter carne “halal”. Já os carniceiros judeus praticam um corte na garganta do infeliz, para dessangrá-lo rapidamente e ter carne “kosher”. A exigência de “anestesiar” os animais antes de matá-los deve se estender por quase toda a Europa. Judeus e muçulmanos estão possessos com a “heresia”. O rabino Pinchas, líder dos sacerdotes, reagiu: “É um dia triste para os judeus na Europa, um dia triste para a liberdade religiosa”. Os muçulmanos, pelo seu Executivo da Bélgica, acusou o governo belga de ameaçar “seriamente a festa anual do sacrifício”.


Matar pode, com porretada antes.


Os ativistas defensores dos animais não são contra o assassinato de vacas, cordeiros e frangos, mas defendem que eles morram “sem dor”, talvez felizes por alimentar piedosos comensais. Alguns ainda acrescentam que o “atordoamento” da animalada (isto é, a porretada na cabeça) não prejudica o rito religioso. A filósofa/ativista Anne de Greef declarou: “Cortar a garganta de um animal vivo é fazê-lo sofrer. É escandaloso dizer o contrário. Há pessoas que querem continuar vivendo na Idade Média”. Mas, com a porretada, pode matá-lo: tontinho, o bicho não sente o fio da faca na garganta.


A justiça exige a porretada.


Já em maio de 2022 o Tribunal de Justiça da União Europeia entendeu que “a obrigação de atordoar o animal antes de ser sacrificado não viola a liberdade de religião e é legítima para sua proteção”. Judeus e muçulmanos não concordam. O Executivo Muçulmano da Bélgica afirma “que o respeito pelo bem-estar animal é parte da própria essência da filosofia e prática islâmicas”. Deduz-se que cortar a garganta da bicharada não afeta o seu bem-estar. Já o rabino Pinchas avisou que “esta é a pior crise na Bélgica desde a segunda guerra mundial”. Os deputados belgas entraram na liça. Segundo eles a medida (porretada antes da matança) pode eliminar empregos, com o fechamento de alguns matadouros especializados em abate ritual.


Outro assunto “humanilesco”


Em 18 de dezembro de 2022, 900 vacas espanholas embarcaram em um navio libanês para serem abatidas na Turquia. Mas os turcos se recusaram a recebê-las, alegando que faltava um documento dizendo que elas não tinham a doença da língua azul. Os espanhóis retrucaram que as vacas eram sadias. O impasse durou três meses, com as rezes no navio, até que voltaram à Espanha. Agora serão abatidas por precaução, mas o ministério da Saúde espanhol afirma que ao sair, as vacas estavam sadias. 22 vacas morreram no navio e foram jogadas no mar. O drama das vacas comoveu os espanhóis, que tentaram uma liminar para evitar o abate. Mas o Superior Tribunal negou: serão mortas nos próximos dias.


Outra filósofa na rinha.


O caso das vacas acontece justamente quando a filósofa francesa Corine Pelluchon publica um livro denunciando a violência contra os animais. Mas ela é “realista”: diz que o fim do sofrimento dos animais tem que ser conseguido gradualmente, pois não é possível mudar hábitos entranhados socialmente há séculos. No seu “Manifeste Animaliste” ela “politiza a questão animal” e inspira-se no “Manifesto Comunista”, de Marx/Engels: “Animalistas de todo o mundo, de todos os partidos e de toso os credos, uni-vos”. Porém, ela não quer quebrar os grilhões da opressão, mas “salvar nossa alma e garantir nosso futuro”.


Cada cabeça, cada sentença.


Como dizem os que não têm nada a dizer: tirem suas conclusões.


Pequenas Notas – 09-03-2021.


A comitiva bolsonarista que está de quarentena em Israel, e por castigo usando máscara, pode se conformar comendo bananas. Em 2022 Israel produziu 144.000 toneladas de bananas. Perde feio do Brasil, que colheu nada menos que 6.812.708 toneladas, segundo a Embrapa. Se não conseguirem o spray milagroso podem ganhar uma banana.


As voltas que a justiça dá.


As sentenças do STF (Supremo Tribunal Federal) são frutos de um consenso dos ministros. Dessa forma, primeiro o STF (pelos seus ministros), julgou que a Lava Jato era competente para julgar Lula. Agora, diz (ou dirá) que não é mais. Simples: antes a grande burguesia precisava derrotar Lula; agora a quer se livrar de Bolsonaro. O raciocínio parece simplista. Para escapar desse “simplismo” que demonstra como a justiça pode ser manipulada por interesses políticos, a “reversão das expectativas” é explicada pelo vazamento das mensagens dos promotores e policiais da Lava Jato e, principalmente, de Sérgio Moro. Mas, nos poréns dos todavias, entrementes se desconfia que o vazamento das ditas mensagens aconteceu para chegar-se a anulação das provas contra Lula, beneficiado pela decisão de Fachin para cumprir um papel: derrotar Bolsonaro, assim como Bolsonaro beneficiou-se da prisão de Lula para derrotá-lo.


Lula ainda não está livre.


O Machiavel caboclo pode tecer outras considerações. Por exemplo, a sentença de Fachin, ao anular os processos contra Lula, isenta de julgamento Sérgio Moro – não é interessante julgar Moro, pois os ministros que o apoiaram, agora, teriam de condená-lo. Mas, é bom prestar atenção, Lula não se livrou de outros processos que podem, se for o caso e a necessidade (de quem?) impedi-lo de se candidatar novamente. Por exemplo, ele é réu por lavagem de dinheiro e corrupção junto com Palocci, Paulo Bernardo e Marcelo Odebrecht. E, por conta da Operação Zelotes, Lula e seu filho caçula são réus no caso da LFT Marketing Esportivo. Existem outros processos e ações que podem ser usados no “momento certo”. Assim se faz justiça e política no Brasil. Ser vilão ou herói depende da conveniência (de quem?).


Os patetas perdidos em Israel.


No começo eles acertavam, porque havia idiotas suficientes para gritarem “mito! mito!”. Agora, perderam o timing. O que aquela turma foi fazer em Israel? Talvez, aprender a usar máscara, como foram obrigados pelos seguranças. Esperavam suprir a falta de vacinas no Brasil com uma fotografia do aerossol milagroso que os israelenses testam? De qualquer forma, estão perdidos, o que não impede que voltem cantando vitória, enquanto aqui, Bolsonaro manda o povo comprar vacina “na casa da tua mãe”.


O antissemitismo que lhes falta.


Aliás, que estranha fixação em Israel. É uma contradição – a única peça que falta para a engrenagem bolsonarista rodar macia na máquina fascista é o antissemitismo. Toda a “filosofia” de Bolsonaro baseia-se em teorias da conspiração (os comunistas e o globalismo) e no racismo (quilombolas pesados em arrobas). A última estupidez que prevalece entre parcelas da população é que os judeus controlam o dinheiro do mundo. Portanto, para a “filosofia” de Bolsonaro o mais “natural” seria hostilizar os judeus e Israel e, assim, agradar a plateia racista. Mas, no meio do caminho estão os pentecostais, que se julgam escolhidos por Jeová para salvar o mundo e nutrem a fantasia de que também são parte do povo eleito. Mas Israel é um estado prático: empresta as águas do rio Jordão, mas não dará aos bolsonaristas nem banana (lá em Israel tem bananeira, sim).


Pequenass Notas – 04-03-2021.


Os políticos brasileiros mais espertos estão devendo uma homenagem a Al Capone, patrono e padroeiro dos corruptos.


O santo padroeiro: Al Capone.


O grande ideólogo dos políticos corruptos continua sendo Al Capone. Como alguns sabem e quase todo mundo esqueceu, ele sempre se dizia inocente. Debochava das provas, comprava juízes e promotores e mantinha a polícia bem recompensada. Até que sonegou tanto que foi preso e condenado: mas nunca foi pagou pelos assassinatos, exploração de mulheres, venda de bebidas ilegais e drogas. Seu segredo: não confessar e ameaçar quem ele não podia subornar. É estranho que os políticos brasileiros ainda não decretaram um feriado para ele. O resto dessas Pequenas Notas nada tem a ver com Al Capone e as ligações de políticos com milícias e juízes & etc.


Um bom cristão abençoado.


Como os jornais noticiaram o STJ (Superior Tribunal de Justiça) anulou as quebras de sigilo de Flávio Bolsonaro, no caso das rachadinhas. Com essa decisão fica praticamente impossível seguir com o processo e, provavelmente, se o filho do presidente não for inocentado, a papelada será arquivada e mofará para sempre. Flávio Bolsonaro vive um bom momento: ninguém mais fuça nas provas das rachadinhas e ele comprou uma mansão por R$ 6 milhões. Gente mal humorada junta as pontas para saber de onde vem o dinheiro. Pessoas de bem sabem: o senador é “abençoado”.


O futuro que nos espera.


O neurocientista Miguel Nicolelis traça um quadro sombrio para as próximas semanas: prevê 2 mil mortos por dia e o colapso generalizado do sistema de saúde, inclusive em São Paulo. Mais: a inércia do governo Bolsonaro indica que a média de 2 mil mortos diariamente, durante 90 dias, provocará 3 mil mortes diárias nos outros 90 dias vindouros. Nessa previsão, até o fim do primeiro semestre poderemos ter de 180 mil a 270 mil pessoas mortas a cada trimestre.


Tutelar o Ministério da Saúde.


A solução proposta por Nicolelis: “Os governadores sabem que o Governo Federal não vai fazer nada, quer empurrar a responsabilidade. Estou sugerindo, desde novembro, criar uma Comissão Nacional com a sociedade civil, governadores e Supremo, para decretar uma tutela judicial no Ministério da Saúde. Uma intervenção. E essa Comissão Nacional ficaria responsável por tomar decisões e supervisionar toda a logística.”


Louco, mas não rasga dinheiro.


Enquanto isso o capitão não se afoba e vai marcando seus gols. Hoje (04-03), afirmou que “chega de frescura, de mimimi, vamos ficar chorando até quando?”. Elogiou os que “não ficaram em casa, não se acovardaram”, pois “temos que enfrentar nossos problemas”. Qualquer pessoa sensata percebe a paranoia ou irresponsabilidade. Na verdade, é “sabedoria”: esse é o discurso que o “seu” gado entende. Não menosprezemos o louco que não rasga dinheiro.


O centrão vai tomando conta.


O centrão coloca o Brasil nos eixos. Arthur Lira está trabalhando para emplacar Aécio Neves na presidência da Comissão de Relações Exteriores. E Bia Kicis, da ultradireita, ganha apoio para presidente da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara. Aécio todos conhecem. Bia Kicis está sendo investigada por difusão de fake news e destacou-se por divulgar um vídeo, andando fagueira em um shopping, ensinando como burlar o uso de máscara.


The New York Times ataca.


Uma reportagem do The New York Times (hoje no site, amanhã no impresso) destaca que se a vacinação continuar no ritmo em que está no Brasil só será completada em quatro anos. A reportagem informa que o Brasil sempre foi competente nas campanhas de vacinação, mas “desde o início, o governo de Bolsonaro minimizou a gravidade da pandemia. O presidente lutou contras as máscaras e as medidas de distanciamento social, comparando o coronavírus à chuva que cairia sobre a maioria das pessoas e afogaria apenas algumas”. O texto lembra que Bolsonaro afirmou que “não adianta ficar em casa chorando” e que demitiu dois ministros da Saúde, médicos, para substituí-los por um general do Exército. Nada de novo, mas se “deu no NYT” as coisas se multiplicam em dano para a imagem do nosso presidente cloroquina.


Pequenas Notas – 25-02-2021.


O tamanho da agulha não influi na eficiência da picada, descobriu o doutor do século XIX, após picar essas animadas senhoritas.


Quer vacina? Vai pra Cuba.


Até o fim de março Cuba começará o último teste para duas vacinas contra o covid-19, produzidas na ilha. A Soberana 02 é a primeira completamente desenvolvida na América Latina e terá uma produção inicial de 100 milhões de doses, ainda neste ano. A outra vacina é a Abdala, que entrará na terceira fase de testes. A meta cubana é vacinar toda a população, com suas vacinas, até dezembro. Então, segundo o diretor da BioCubaFarma afirmou ao jornal argentino Pagina12 , “vamos oferecer a vacina a todos os países que necessitem”. Além da BioCubaFarma, o Centro de Engenharia Genética e Biotecnologia também produz vacinas.


Depois da boiada, passa o vírus.


Enquanto isso o Brasil briga com os laboratórios internacionais, sabota o Butantan e enfrenta o pior momento da pandemia. Temos a maior média de mortes desde o começo da pandemia, passamos 250 mil mortos e assistimos ao festival de besteiras que se mesclam com atitudes criminosas dos grandes da República. O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, depois de passar a boiada agora passa o vírus. Terça-feira, oito dias após testar positivo para o covid-19, participou de aglomerações e uma reunião com parlamentares representantes do agronegócio, naturalmente, sem máscara. Preocupados, os deputados alertaram: “A Frente Parlamentar da Agropecuária informa que não tinha conhecimento sobre o quadro acima (no qual o ministro teve teste positivo há oito dias) e pede que os convidados da reunião desta terça-feira (23/02) monitorem quaisquer sintomas. Pedimos desculpas por qualquer transtorno e seguimos à disposição para qualquer esclarecimento”. Não é fim da picada, pois o governo sequer tem seringas.


Nada que Deus não resolva.


Se a logística do general da Saúde confunde o Amapá com o Amazonas, só apelando a Deus. O Ministério da Saúde trocou as doses da vacina que seriam enviadas aos dois estados. Assim, em Manaus chegaram 2 mil doses, que deveriam ir para Macapá, que recebeu 78 mil doses. Não é tão ruim: as duas capitais estão distantes apenas 1.054 quilômetros… Por essas e outras o prefeito de Cabedelo, na Paraíba, está convocando o povo para um jejum em 15 de março, na “guerra espiritual contra a covid”. Se não matar o vírus, pelo menos emagrece.


Médicos negacionistas.


Pelo menos dois mil médicos brasileiros são negacionistas e defendem a cloroquina e a ivermectima contra o covid-19. A Associação de Médicos pela Vida, sediada no Recife, publicou anúncio nos grandes jornais defendendo o uso dessas drogas inócuas no combate à pandemia. A OMS (Organização Mundial de Saúde) já condenou a prática e a SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia) afirmou “que as melhores evidências científicas demonstram que nenhuma medicação tem eficácia na prevenção ou no ‘tratamento precoce’ para o Covid-19 (…) Atualmente, as principais sociedades médicas e organismos internacionais de saúde pública não recomentam o tratamento preventivo ou precoce com medicamentos, incluindo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)”. Mas o Ministério da Saúde ainda mantém no seu site o “conselho” para o “tratamento precoce” e o uso da cloroquina.


Que Deus nos acuda.


Diante dos fatos que mais nos espantam, os judeus dizem: que Deus nos acuda. A imprensa israelense comenta o livro da filha do escritor Amos Oz, Galia Oz, que denuncia o pai de espancá-la na infância. O livro, em hebraico, “Algo disfarçado de amor”, foi para as livrarias no sábado (20/02). Segundo Galia, “na minha infância, meu pai me batia, insultava e humilhava. (…) ele me arrastou para fora de casa e me expulsou. Ele me chamou de nomes. Não foi uma perda de controle passageira, nem uma bofetada aqui ou ali (…)”. Porém, a irmã mais velha de Galia, Fania Oz-Salzberger, diz que seu pai foi “um homem afetuoso, que amava a sua família com profunda ternura”. O jornal Haaretz resenhou o livro e concluiu que “um grande ponto de interrogação pairou durante anos sobre a relação entre pai e filha, aparente mesmo durante seu funeral e a cerimônia”. Amos Oz, morto em dezembro de 20218, foi pacifista, crítico da política de Israel para os palestinos e um ícone da esquerda israelense.


O coronel sai atirando.


Bolsonaro demitiu o coronel Luiz Carlos Marchetti da superintendência do Ibama, do Mato Grosso do Sul. O coronel sai atirando e denunciou que o instituto está “tomado” por policiais militares de São Paulo, cuja principal função é “sentar-se em cima de milhões de multas que não cobradas”.


Pequenas Notas – 19-02-2021.


No Brasil é possível ser maquiavélico mesmo sem nunca ter lido Machiavel. O que há por traz do deputado Daniel Silveira?


Machiavel não tira férias.


Desde o primeiro dia no governo Bolsonaro provocou o confronto com os poderes institucionais. Assim que emplacou Arthur Lira na presidência da Câmara, supostamente para o centrão aplainar seus excessos, surge o episódio do deputado Daniel Silveira, ameaçando os ministros do Supremo. Então, já que Machiavel nunca tira férias, por que não especular se o parlamentar espaventado não é pau mandado e fez o que seu mestre mandou? Bolsonaro é capaz de tudo e mais um pouco. Sem um cabo e um soldado dispostos a fechar o Supremo, uma crise que coloque o Congresso e as Forças Armadas contra o STF seria maná do céu para um maluco como o presidente.


Os rastros das milícias.


Porém, admitamos que Machiavel esteja errado e o presidente não mandou o deputado atacar o Supremo. Mesmo assim, há o fato: sem a “inspiração” em Bolsonaro esse doido sequer seria eleito. E não há dúvida de que ele cometeu o ato extremo que, desde a primeira hora, é o desejo nada secreto de Bolsonaro e sua trupe. Aliás, de que região do Rio saíram os mais de 31 mil que ele obteve? As milícias deixam rastro…


Cada um dá o que tem.


Bom retrato de Bolsonaro: em dois anos foi o governo que menos gastou em educação, desde 2010. O MEC (Ministério da Educação) recuou 47% nos investimentos, deixando de comprar equipamentos científicos, insumos, incentivar pesquisas e contratar professores. A educação básica foi afetada, com recursos retirados do custeio. No entanto, é o governo que relativamente mais investiu em armas e munição, salários e mordomias para as Força Armadas.


Voltou, com a bunda limpa.


Ontem, quinta-feira (18), Chico Rodrigues (DEM), aquele que escondeu R$ 33 mil entre as nádegas, voltou ao Senado, depois de uma licença de 121 dias. Ele disse que enfiou o dinheiro na cueca “pelo pânico e pelo medo”, quando foi alvo de uma operação da Polícia Federal, que suspeitou ser a grana desviada dos recursos públicos em Roraima. Mas o senador disse que a “verba” era para pagar funcionários e que “sofre enorme padecimento” com o escândalo. O Conselho de Ética lavou as mãos, enrolou e o então vice-líder de Bolsonaro no Senado está de volta. Alega inocência e diz que já foi punido “pela humilhação pública que sofri”. Mais nada a declarar, tudo volta ao normal. Pátria amada, Brasil.


Das quatro às duas patas.


Uncle Biden é o líder do maior conglomerado econômico e militar do mundo. A diferença entre ele e Trump é que ele não tem quatro patas. Só duas. E bastam. Em pronunciamento ontem disse que a Europa deve se unir aos Estados Unidos, contra as ditaduras da Rússia e da China. É o mesmo discurso da “defesa da democracia”, nos tempos da guerra fria. Mas o mundo mudou e os europeus já não embarcam na “ameaça comunista”. A França e a Alemanha afirmaram que a Rússia é parte da Europa e a China o principal parceiro do continente. A Europa, a China e a Rússia são outros. Os Estados Unidos continuam o mesmo: Trump mordia, Biden sopra antes de morder.


Jogando dinheiro fora.


O Citibank perdeu US$ 500 milhões em um “acidente bancário”. Por um erro transferiu a vários investidores remuneração indevida. Alguns devolveram o dinheiro, mas dez deles recusam-se e um juiz de Manhattan, afirmou que eles têm razão, pois o banco fez ”transações finais e completas, não sujeitas a revisão” e os destinatários não sabiam que se tratava de uma transferência acidental. O juiz tripudiou: “Crer que o Citibank, uma das instituições financeiras mais sofisticadas do mundo, cometeu um erro que nunca antes acontecera seria quase irracional”. Os “agraciados” pelo engano alegam que pensavam que fosse pagamento antecipado de lucros e já gastaram o dinheiro. O banco vai recorrer. A gozação é geral na imprensa norte-americana.


Só uma notinha no jornal.


Morreu Aruká, o último sobrevivente da nação Juma, que foi massacrada desde o início do século passado. Eles habitavam as margens do rio Assuã, na bacia do Purus, no Amazonas. Em 1964 invasores cometeram o último massacre, para roubar castanhas. Sete índios sobreviveram. O último vivo, o cacique Aruká, morreu quarta-feira, 17, vítima da covid, aos 86 anos, em um hospital de Porto Velho. A notícia saiu como uma notinha nos jornais brasileiros, sem lembrar que o extermínio dos indígenas tem sido uma norma, implicitamente tolerada pelos governos. A morte de Aruká teve mais destaque na imprensa europeia do que no Brasil. Atenção: não vale se desculpar lembrando que os europeus foram os maiores assassinos de nações indígenas – nosso problema não é o ontem, é o aqui e agora.


Pequenas Notas- 11-02-2021.


As Forças Armadas consolidaram sua superioridade sobre os cidadãos comuns: têm melhores salários, garantia no emprego, aposentadoria especial, assistência médica estendida à família e, agora, pelo menos em Manaus, hospitais reservados (e ociosos) para a eventualidade de contaminação pelo covid-19, enquanto a população sofre com a falta de leitos.


Pátria amada, Brasil.


Se alguém tem alguma dúvida sobre o sentimento de superioridade dos militares sobre a nação, leia a notícia do UOL, hoje (11-02): “Hospitais das Forças Armadas no Amazonas estão com mais da metade dos leitos para a covid-19 vagos, à espera de eventuais adoecimentos de militares ou familiares”. Como é sabido, a rede de saúde do Amazonas está em colapso: não há leitos nos hospitais e continua faltando oxigênio. No entanto, segundo a Secretaria da Saúde do Amazonas, “84 dos 116 leitos (ou 72,4% do total) destinados para pacientes de covid-19 estavam livres nos hospitais militares”, enquanto, à beira da morte 278 pacientes “comuns” aguardam leitos nos hospitais “comuns”.


Reserva técnica, uso indevido.


As Forças Armadas dizem que os militares custeiam seus hospitais “e o uso indevido prejudica a segurança”. O uso “indevido”, presume-se, seria atender pacientes condenados a morrer por falta de leitos e oxigênio, como acontece em Manaus desde o dia 6 de janeiro. O Ministério da Defesa afirmou ao UOL que estes leitos “constituem reserva técnica para garantir a saúde do pessoal militar e, assim, assegurar a possibilidade de seu restabelecimento para o pleno e pronto emprego das Forças Armadas”. Talvez para estarem alertas caso a Venezuela invada o Brasil. No mais, os militares alegaram que mantêm os hospitais com seus recursos privados. E não há expectativa de os militares cederam leitos para o SUS.


Mas tudo dentro da lei.


Enquanto isso, em Brasília, deputados do PSB pedem que a Procuradoria Geral da República investigue o “uso de recursos com ostentação e superfaturamento” das Forças Armadas. Eles denunciam abuso na compra de carne, cerveja e carvão para churrasco. Os deputados falam que foram compradas “toneladas de picanha, milhares de litros de cerveja e centenas de latas de Skol Beats”. Segundo esses deputados, em pregão eletrônico de 2022, “foram adquiridos 500 garrafas da cerveja Stella Artois (…) 3.000 garrafas de Heineken (…) 3.050 garrafas de Eisenbahn”. Tudo dentro da lei.


A pátria dos novos tempos.


Em um governo pelo menos racional, os militares seriam importantes para o desenvolvimento do país. Já aconteceu: houve tempo em que eles fiscalizavam a Amazônia, socorriam populações isoladas e eram, praticamente, a única “ponte” entre o Estado e os habitantes da floresta. A FAB (Força Aérea Brasileira) teve fundamental papel para proteger indígenas e transportar doentes para os hospitais. Em outros tempos os quartéis ofereciam aos recrutas educação básica e sanitária. A partir da ditadura os militares sentiram-se uma casta superior. Mas mantiveram as responsabilidades próprias das forças armadas. Com Bolsonaro a coisa desandou, justamente quando ele recita patriotismo com sua “pátria amada brasil”.


Mudando o nome do capeta.


Se mudarem o nome do capeta ele vira anjo? Divulga-se, agora, que em 2022 uma comissão que avalia o ENEM pediu para mudar o nome da ditadura para regime militar. O pedido foi de deputados da direita, ao Ministério da Educação. Não deu certo e ditadura continua sendo ditadura, militar ou não. Aliás, muito, muito antigamente, um coronel proibiu os jornalistas de escreverem favela. Sugeriu que se escrevesse “zona de baixa aculturação social”. Um repórter disse-lhe que “zona” poderia provocar dúvidas e ele remendou: “então escrevam área”. Perguntado se não poderiam escrever “região” ele virou a mesa e acabou o “diálogo” – ficou favela mesmo. Hoje, como todo mundo sabe, favela é comunidade, controlada pelas milícias ou pelo tráfico e, sempre, vítima das balas perdidas com direção certa: negros, homossexuais, crianças e pobres em geral.


Pequenas Notas – 06-02-2021.


Ao ler estas sábias Pequenas Notas saiba que Erasmo não tem culpa de um mano russo nem de cronista abusado. A gravura é de Durer.


O filósofo dá razão ao idiota.


Em tempos cínicos um pouco de ironia não faz mal. Portanto, pergunto: o que o filósofo Erasmo e Celso Russomanno têm em comum? Simples, a mesma opinião sobre os riscos da pandemia. Russomanno, quando candidato a prefeito de São Paulo, afirmou que os moradores de rua são mais resistentes ao covid-19 porque não tomam banho. Os epidemiologistas discordaram dele, porém, não são filósofos. Se estudassem filosofia aprenderiam com Erasmo que o banho facilita a entrada de vapores no corpo. Quem sabe mais: um filósofo que há quinhentos anos está em milhares de teses de doutorados ou esses cientistas que ainda nem morreram para se tornarem celebridades? Data vênia, filosoficamente Russomanno tem razão: a causa da pandemia é a mania de limpeza – se não acredita, vá discutir com Erasmo.


A santa com o nome certo.


Filósofos e políticos entendem de pandemias e mortes, apesar de não serem coveiros. Mas os santos são especialistas. Como Santa Corona, protetora contra as pestes. Há santidade com melhor nome para nos imunizar contra o corona vírus? Ainda mais que na Áustria e na Baviera ela é invocada também como padroeira dos caçadores de tesouro. Em Anzú, no norte da Itália, há uma basílica que guarda as relíquias da santa desde o ano 800. Já que pedem, conto a história do seu martírio. Em 165, com 15 anos, morava na Síria dominada pelos romanos e se converteu ao cristianismo. Os pagãos a penduraram pelos pés entre duas palmeiras e a esquartejaram. O papa a canonizou e até hoje ela nos protege contra as pestes. Em novembro do ano passado os católicos de Anzú cantaram em uma procissão: “Santa Corona, rogai por nós para nos libertar da pandemia”. Não deu certo, mas os padres disseram que sem a invocação da santa seria pior.


Milagroso anel de São Roque.


Como gostaram, contribuo com a rogação a São Roque. Nos tempos que já lá vão orava-se pedindo a São Roque para interferir com Jesus contra as pestes. Assim: “Peço-Vos humildemente a intercessão de São Roque, que, se é para Vossa maior glória e para o benefício de nossas almas, mantenhais a mim e toda essa família e pátria livres de qualquer doença contagiosa e pestilenta”. São Roque nasceu em 1215, com uma cruz vermelha no peito. Tinha uma ferida na perna que foi curada pela lambida de um cachorro, que também o alimentava, levando-lhe pão. O site CruzTerraSanta vende um anel de ouro, com o emblema de São Roque, por R$ 3.354,59 em dez prestações de R$ 354,59 ou no boleto, a vista, por R$ 3.191,35. Quem usar este anel “renova sua aliança com Deus” e ganha a Sua proteção, assim, livra-se do vírus.


O risco da fé de menos.


Infelizmente, as pessoas não têm fé verdadeira. Como dizia Santo Agostinho, “tão cegos são os homens, que chegam a gloriar-se da própria cegueira”. São Beda tinha razão ao dizer que “há três caminhos para o fracasso: não ensinar o que sabe, não praticar o que se ensina e não perguntar o que se ignora”. Eu, sabendo pouco, praticando um tanto e perguntando muito, soube que em 251, quando a peste castigava Cartago, então sob domínio romano, o bispo Cipriano consolou os fiéis dizendo que morrer era ser libertado desse mundo. Se era um castigo para os pagãos, que cairiam no inferno, era uma benção para os servos da Igreja, que entrariam no céu.


São Gregório contra a praga.


Sempre perguntando cheguei a São Gregório, que em 590 enfrentou a praga de Justiniano, na forma da peste bubônica. As pessoas de bem diziam que a peste era um castigo pela corrupção do governo. Mas quem morreu foi o papa Pelágio II; os políticos se safaram. São Gregório não se abalou: eleito papa afirmou ser blasfêmia consultar os médicos quando se podia ir à tumba do milagroso São Martinho. E completou: quem se lavou no sangue de Cristo não precisa lavar-se de novo.


Quem será contra nós?


Se isso ficou muito longo é porque o assunto é grave e uma coisa puxa a outra. Começamos com o perigoso banho de água e acabamos com a alma lavada pelo sangue de Cristo. Eis que lhes indago: se Deus é por nós, quem será contra nós? E afirmo: conhecereis a verdade e ela vos libertará.


Pequenas Notas – 02-02-2021.


No Egito arqueólogos encontraram uma múmia com língua de ouro, para fala com Deus. Em Brasília descobriu-se que os políticos têm cara de pau e língua de trapo, para falar com Bolsonaro.


Errei, mas Bolsonaro errou mais.


Do alto da minha infalibilidade profetizei que Baleia Rossi seria o presidente da Câmara. Deu errado, Lira ganhou. Mas o erro maior foi de Bolsonaro, um presidente tão burro que até justifica os erros alheios. Ele deveria escolher Baleia, que faria o que seu mestre mandasse. Lira é aliado “hasta cierto punto”. É menos maleável, tem o DNA traiçoeiro do centrão e cobra mais caro os favores que negaceia para dar com reticências. Bolsonaro arrisca-se com Lira, que pode repetir Eduardo Cunha: de aliado passar a algoz. Como no Brasil tudo se repete e a traição política é a regra, se Dilma caiu porque o PT apostou em Cunha, Bolsonaro pode tropeçar porque preferiu o espertalhão ao espertinho.


O risco dos réus “muy amigos”


O perigo de aliar-se com réu de corrupção não é manchar-se moralmente. No Brasil ninguém mais se importa com a ladroeira, nossos ladrões já nascem perdoados. Não é porque Lira bateu na mulher que a “amizade” com Bolsonaro é condenável – o presidente é do time dos misóginos e seus seguidores acham bonito. O risco é que os réus, quando ameaçados de condenação fazem acordos com todos os lados. Costumam entregar até a mãe em troca da redução das penas. As inúmeras delações premiadas provam o fardo do fado.


A rebelião das viúvas.


Bolsonaro conseguiu promover Dória a estadista. Não é façanha para qualquer um. É preciso ser muito estúpido para criar uma situação em que o manequim do Bandeirantes apareça como salvador da pátria – e de vacina na mão. Agora, realiza outra proeza: eleva Alexandre Frota a denunciador mor da República. Frota disse: “Entre conchavos, traições, armações, compras de votos, cargos e emendas, tudo foi feito de forma cirúrgica para dar a vitória de forma vergonhosa ao Jair Bolsonaro”. Personagens caricatas arreganham os dentes, depois que foram barradas no baile bolsonarista. Outra viúva é Kim Kataguiri. O garoto malcriado tascou: “Eu sei que não têm culhão para isso [me processar]. (…) É tudo venda de voto”. E completou: “Quando se vende a alma ao demônio, aprende-se que o capeta cobra juros”. Os expulsos do barco bolsonarista soltam fogo pelas ventas, mas “la nave va”.


A oposição dado por Deus.


A oposição de esquerda pensou que fazia parte do jogo e terminou falando sozinha. Já sofre o ônus da derrota: além de perder no principal ficou sem as sobras que os vencedores dão aos derrotados. Só resta espernear. Vai pagar o pago, especialmente o PT, pela “aliança” com Baleia Rossi. Só os ingênuos acreditaram na “esperteza” de que o apoio a Baleia seria a ponte para derrubar Bolsonaro. Uma oposição que se deixa liderar por Rodrigo Maia, aceita Baleia e é engolida pelo tosco bolsonarismo é o que o Mito pediu a Deus. E Deus deu. E dará.


A língua que nos falta.


Arqueólogos da Republica Dominicana, trabalhando no Egito, encontraram uma múmia com a língua de ouro: para falar com Deus. O deus que a múmia queria engabelar com sua língua de ouro é Osíris, juiz do mundo dos mortos. Não precisamos de uma língua de ouro na política brasileira. Quem sabe uma língua de seda, como a de Tancredo Neves. Ou de aço, como a de Ullysses Guimarães. Talvez uma língua de guasca, como a de Leonel Brizola. Porém, atualmente só temos línguas de trapo.


Pequenas Notas – 26-01-2021.


Eduardo Cunha sai das catacumbas e vem assombrar os vivos que disputam as presidên-cias da Câmara e do Senado. (Ilustração de Posadas)


Jornais caem no conto de Cunha.


Eduardo Cunha está de volta com um livro informando o que já sabemos: o impeachment de Dilma foi golpe, Temer era o grande conspirador, Rodrigo Maia e Baleia Rossi juntaram-se à quadrilha. Claro, Cunha não dirá que traiu, mentiu, comprou e vendeu. A imprensa comenta o livro como se o autor merecesse respeito ou trouxesse alguma novidade. Cunha não dá ponto sem nó e é vingativo: seu livro veio para bagunçar as eleições na Câmara e no Senado. A imprensa vai requentar os fatos e tratá-los como revelação importante. É assim que a mídia prostitui a notícia: se “der ibope”, embarca e faz o jogo dos espertalhões de sempre – por atalhos e desvios que tratam do acessório e relegam o principal.


Povo que não aguenta, aguenta.


Estão dizendo que “o povo não aguenta mais”. O que o povo não aguenta? O Bolsonaro, o povo aguenta. As rachadinhas, o povo aguenta. O ministro da Saúde, o povo aguenta. A carestia, o povo aguenta. A exclusão social, o povo aguenta. O que o povo não aguenta é usar máscara e se prevenir contra o covid-19. E se não aguenta, aglomera-se, faz festa e contribui para a disseminação do vírus. Se entendermos por “povo” os jovens, piora. Eles não se importam que seus pais e avós morram – depois, choram lágrimas de crocodilo à beira da cova (e lamentam o fim da mesada roubada da aposentadoria da vovó).


A minoria é a exceção que importa.


Não é o pancadão nem a festa clandestina que “marcam” o momento atual; episódios isolados são mais significativos. Uma mulher do grupo de risco andava pela calçada, com máscara e a proteção de plástico cobrindo o rosto. Ao seu encontro caminhava um casal de uns 16 anos. A namoradinha não teve dúvida ao ver a senhora: aproximou-se e cuspiu no plástico que lhe protegia a face. Esse “incidente”, mais que os pancadões e os bailes funk, revela o estado de espírito dos jovens brasileiros. Claro, o casalzinho pode ser exceção, mas, no caso, são as exceções que importam. Os irresponsáveis que se aglomeram em festas clandestinas são exceções: somados, não chegam a 10, 20 mil. A maioria dos jovens são os milhões que estudam e trabalham. Mas na pandemia são as exceções que importam: algumas centenas de idiotas podem, na multiplicação da idiotice, contaminar milhões de pessoas vulneráveis.


O narcotráfico “cuida” da pandemia.


Deu no New York Times, de hoje: na Colômbia, em Medellín, Tumaco e regiões vizinhas, o narcotráfico assumiu o controle no combate ao coronavírus. Os traficantes impuseram toque de recolher e seus “vigilantes” controlam a população, “aplicando algumas das medidas de bloqueio mais rígidas do mundo”. Em Tumaco o narcotráfico espalhou cartazes avisando que quem não respeitar o toque de recolher será considerado alvo militar. Até médicos em atividade podem ser fuzilados. Uma ambulância que circulava depois do toque de recolher foi incendiada, o médico e seu paciente morreram. Segundo a reportagem do NYT a pandemia serve de pretexto para os traficantes ampliarem o domínio sobre suas áreas de influência.


O coronavírus e a cocaína.


Com a pandemia o preço da coca caiu e teve reflexos na produção de cocaína, desestabilizando o mercado. As consequências foram sentidas em todo o mundo, do Taleban, no Afeganistão (que comercia principalmente heroína), ao MS-13, em El Salvador e ao Comando Vermelho, no Rio. Na Colômbia, onde o governo não superou o trauma das guerrilhas, os grupos de narcotraficantes tentam tomar de vez o controle sobre o sudoeste do país. No Brasil, é no Rio de Janeiro, com o Comando Vermelho, que o tráfico aproveita-se da pandemia. O CV disputa a supremacia bélica com as milícias e protege os seus “soldados”, forçando o isolamento de áreas pobres, já sob seu controle há anos. Em São Paulo o PCC ainda não adotou uma política definida sobre a pandemia.


Pandemia é melhor que guerrilha.


A Human Rights Watch constatou que grupos armados de traficantes já “impuseram bloqueio de coronavírus em 11 dos 32 estados da Colômbia, causando pelo menos oito mortes e 10 feridos desde o início do surto”, segundo o NYT. Esses grupos controlam a distribuição de remédios e desinfetantes à população, priorizando os seus membros.


Pequenas Notas – 19-01-2021.


Bolsonaro fazendo o que o povo gosta: “junto e misturado” na sinuquinha que rola adoi-dada em todo o Brasil. É uma fonte de apostas com sites especializados.


Nova cepa ou um novo vírus?


No Brasil é fácil ser profeta. Basta atentar às notícias que os jornais desprezam ou descartam. No dia 12, comentei que novos vírus, latentes na floresta amazônica, poderiam invadir a “civilização”. Hoje (19-01) a internet noticia que uma variante do covid está matando rapidamente jovens em Manaus. Segundo o infectologista Noaldo Lucena, que trabalha no olho do furacão: “Algo de muito diferente está ocorrendo em Manaus. Não sei informar se é uma cepa nova ou se é algo diferente. Mas quem está na linha de frente está vendo um aumento da gravidade dos casos”. É a confirmação do que se temia há anos, antes dessa pandemia. Então, acusavam quem levantava a questão de profetas da catástrofe. Era a primeira onda do negacionismo que hoje é quase a política oficial do governo Bolsonaro. Há mais de cinco anos, pelo menos, cientistas alertam sobre as consequências do uso criminoso das florestas amazônicas. Mesmo com a tragédia atual pouca gente quer encarar o problema.


Já morrem por asfixia no Pará.


No Pará ocorreram hoje (19-1), as primeiras mortes por falta de oxigênio. A tragédia de Manaus foi anunciada pelo menos cinco dias antes ao ministro da Saúde e agora repete-se em Belém. O ministro é um abobado, não se trata apenas de incompetente. Morrer por falta de oxigênio nos hospitais é algo inacreditável até nos confins da África – não se tem notícia, nem nas guerras no Oriente Médio e da Bósnia, que faltaram medicamentos em hospitais de campanha. No Brasil, será corriqueiro: é uma questão de logística burra – o general, que se disse especialista no ramo, não consegue sequer fretar um voo. E tomem nota: se já não morreram, essa semana devem morrer pacientes por falta de oxigênio também em Rondônia.


Tínhamos esquecido a burrice deles.


Os militares mais suscetíveis podem acusar Bolsonaro de ter feito a população voltar a acreditar que eles são burros. A partir do governo Costa e Silva, na ditadura militar, a opinião pública passou a ver nos militares a imagem da burrice. Piadas da época encheriam vários livros. Tivemos ainda a Junta Militar, que Ulysses Guimarães chamou de “os três patetas”. Depois de Medici, veio Geisel, que acrescentou à fama de burro a de turrão. Por fim, Figueiredo, o grosso que preferia o cheiro de cavalo ao de gente. A partir da democratização, em 1985, apagou-se a fama da burrice militar. Eles até subiram no conceito popular, como uma “classe” respeitável e honesta. Em dois anos Bolsonaro estragou tudo. O símbolo é o general da Saúde, o homem do dia D e da hora Agá e que se desculpa por não comprar vacina da Índia por causa do fuso horário. Já está na hora de reinventarem o Pasquim…


Pela porta da cozinha.


Em um país sério uma notinha de jornal complica o presidente. No Brasil, não. Elio Gasperi, na Folha de domingo, conta que Bolsonaro e Paulo Guedes encontraram-se, no Copacabana Palace, com o bilionário Sheldon Adelson. Os dois entraram pela porta da cozinha. Esse magnata financiava políticos de direita. Além do compromisso de transferir a sede da embaixada brasileira em Israel para Jerusalém, não se sabe o que conversaram. Mas a partir desse encontro Bolsonaro e Guedes defendem a abertura de cassinos no Brasil, inclusive em reservas ambientais. Adelson, recentemente falecido, era dono de cassinos em Las Vegas, Macau e Singapura. Como dizia Bolsonaro, “tire suas conclusões”.


O país da sinuquinha.


Bolsonaro postou nas redes sociais uma foto jogando sinuquinha. Ele não é bobo: sacou que o Brasil joga sinuquinha, aposta míseros centavos e vultosos dólares, com cambistas no local dos jogos e casas de apostas controlando os “partidos” de longe, via internet e guarda-costas. Todos os dias acontecem campeonatos de sinuquinha. Não há cidade brasileira, das capitais às aldeias ribeirinhas, que não tem mesas nos botecos e profissionais do taco. Tudo que é marginal e cai no gosto do povo, Bolsonaro manipula. Não é preciso escrever mais: digite no Google, “sinuquinha you tube”, e aparecerão dezenas de canais transmitindo centenas de jogos, ao vivo ou gravado, com indicação e bolsa de apostas.


Pequenas Notas – 16-01-2021.


Bolsonaro acumulou incompetência e incompetentes. Na pandemia acontece o efeito dominó: os idiotas foram soltos e o resultado é milhares de mortes – até por falta de oxigênio.


O facínora e o moleque.


Dória chamou Bolsonaro de facínora. Bolsonaro disse que Dória é moleque. Quem tem razão ou os dois dizem a verdade? Como substantivo, facínora é “homem perverso e criminoso”. Como adjetivo é quem “cometeu grandes crimes, perverso, cruel, desalmado”. Nos dois casos Dória acertou pela metade. Bolsonaro “quase” cometeu um crime ao tentar atos terroristas quando estava no Exército. Perverso, cruel e desalmado ele certamente é, se atentarmos para o que diz sobre mulheres, negros, quilombolas, homossexuais, petistas em geral e adoradores de piroca em particular. E Dória, seria um moleque? Moleque vem do quimbundo, língua dos bundos de Angola, onde significa menino ou negrinho. O racismo fez a palavra “evoluir” para canalha, patife, velhaco, engraçado. Não se sabe em qual categoria Bolsonaro quis enquadrar Dória, talvez em todas. O nível é esse. Mas não nos percamos pela elegância dos dois: o que está em questão é a pandemia, usada facinorosamente e molecamente por ambos.


Osa bons velhos tempos.


Como lamentou alguém, no tempo do Serra tinha vacina, com Palocci a economia ia bem. Agora há negacionismo, volta da inflação (para o pobres, rico ri à toa) e só falta a Venezuela socorrer Manaus mandando oxigênio. Hoje, pobre só “anda de avião” para sair de Manaus e procurar hospital onde possa respirar para não morrer. No Amazonas, quem morre entra na fila do sepultamento: os cemitérios estão lotados e o presidente não é coveiro, portanto, falta gente para abrir covas.


O avião foi um factoide.


A imprensa não observou bem. O governo exibiu um avião da Azul saindo de Guarulhos para a Índia, de onde traria as vacinas. O voo parou no Recife. Bolsonaro disse que haveria um atraso de dois ou três dias. Passados os dias, os indianos disseram que não podiam enviar as vacinas. Tradução: tudo foi uma farsa ou jogada de Bolsonaro, tentando comprar as vacinas no chute, sem combinar antes com os laboratórios da Índia. Já não é incompetência, é total maluquice.


A idiotia pode ser criminosa.


Se desviarmos a atenção da tragédia provocada por um presidente incapaz e um ministro da Saúde fora de órbita, as falas e ações deles revelam uma total falta de constrangimento para dizer as maiores besteiras com ar de sabedoria. O ministro e seu ministério insistiram com o prefeito de Manaus para usar cloroquina. O presidente mentiu ao vivo e não ficou vermelho, ao dizer que foi proibido pelo Supremo Tribunal Federal de tomar à frente do combate à pandemia. O que parece ser idiotia compulsiva, porém, tem efeito “positivo” para o governo: é reproduzido nas redes sociais e boa parte da população acredita e “repercute”. Confirma-se: a ignorância e a incompetência têm um teor criminoso na tentativa de encobrir o crime e justificar os criminosos.


Já temos até vacina falsa.


Como era de se esperar, já vendem vacinas falsas. Não faltarão compradores. A Polícia Federal promete combater os falsificadores, mas deveria também punir os compradores. Nessa altura da pandemia só cai no conto do vigário… o vigário. Já os vigaristas ricos são mais espertos: viajam clandestinamente aos países que estão vacinando. Até os mafiosos de Miami estão protestando.


Bandidos ontem, heróis hoje.


Agora todos são heróis. Mandetta voltou à cena para dizer que avisou Bolsonaro da falta de oxigênio em Manaus. Como Sérgio Moro, acusa o presidente de negligência e insensibilidade. Dória fez pronunciamento incitando a derrubar Bolsonaro. Esqueceu o “bolsodória”. O governador de Goiás, Ronaldo Caiado, morde e assopra, mas foi um dos ajudaram a carregar o andor do mito. Esses heróis estão de olho nas eleições de 2022. Provavelmente teremos um bolsonarismo requentado.


Está ruim, mas deve piorar.


Como diria o Adoniran Barbosa, não estou “me gambando”, mas previ o caos que está acontecendo. Repeti algumas vezes, aqui nesse blog e no jornal em que trabalhava, que o povo não iria colaborar, haveria ajuntamento e a contaminação provocaria o caos. Reforço a dose: vai piorar. O povo quer o que tem e detesta “focinheira”, como é chamada a máscara nos bairros periféricos. Bolsonaro será reeleito – um acidente de percurso só com outro animal da sua raça. Baleia Rossi será o presidente da Câmara e fará o jogo de Bolsonaro, via Temer.


Pequenas Notas- 12-01-2021.


Mayra Pinheiro, última à direita, vaiando os médicos cubanos que chegavam para o Pro-grama Mais Médicos. Nessa foto ele grita ao cubano: “Volta para a senzala”. Candidata derrotada ao Senado pelo PSDB do Ceará, foi premiada com o cargo de secretária da Educação e Saúde por Bolsonaro. Agora, quer forçar a Prefeitura de Manaus a usar cloro-quina enquanto não tem vacina…


Não só a nova cepa: novo vírus.


Enquanto o general da Saúde não sabe o que diz nem o que faz, os cientistas descobriram o que pode ser uma nova cepa do covid no Amazonas. É só o começo, tanto da incompetência do ministro quanto das tragédias anunciadas. Faltarão vacinas, as populações mais pobres devem morrer às pencas e esta nova cepa é o anúncio do que pode acontecer. Nas florestas amazônicas existe uma variedade de vírus “adormecidos” que os cientistas ainda não estudaram e não conhecem seu potencial. Nem quando sairão das matas para as cidades e se espalharão pelo país. Não se trata de alarmismo, é uma realidade conhecida há muitos anos. Uma nova cepa do covid era esperada. Novos vírus são temidos e, talvez, fatalmente saiam das florestas.


À espera do primeiro hospedeiro.


Uma das formas de novos vírus saírem das matas amazônicas para a “civilização” é o desmatamento e a invasão de áreas antes desabitadas pelos humanos. O contato de pessoas estranhas à região com a vegetação e animais pode provocar a “viagem” de viroses até então desconhecidas. Os cientistas sabem que existe grande variedade de vírus à espera do primeiro hospedeiro predador que invada seus habitat.


O ambiente e o homem tacanho.


Se o homem não respeita nem protege a natureza torna-se vítima das suas ações destrutivas. As agressões ao Pantanal e à Amazônia terão consequências maiores do que as anunciadas pelos jornais. Não se trata “apenas” da morte e extinção de animais e da perda da floresta, mas de distúrbios que vão das alterações climáticas à disseminação de doenças. Com um governo negacionista e dócil à cobiça de vândalos, a situação piora. Um filósofo já observou que “o comportamento tacanho dos homens em face da natureza condiciona seu comportamento tacanho entre eles”. A frase é do século 19, mas parece escrita para Bolsonaro e seus comparsas.


Não há vacina contra a tacanhez.


Antigamente se dizia que se o Brasil não acabasse com a saúva a saúva acabaria com o Brasil. A pobre saúva foi execrada, em um tempo que não se sabia que as “pragas” eram decorrência da tacanhez dos homens. Hoje, a tacanhez chegou ao poder e desdenha da ciência. Se a vacina contra a covid pode vir, mesmo com atraso, não existe contra a tacanhez.


Acredite: há médicos inhenhos.


Além disso a tacanhez é premiada no governo Bolsonaro. Tacanho, diz o Aurélio, é quem “não revela visão, largueza de vista nas ideias, estúpido, inhenho”. Inhenho é o “palerma, imbecil”. Deve ser quem se forma em medicina e com cargo no Ministério da Saúde, nega a ciência e faz militância pela credulidade que beira o curandeirismo. Falando nisso, a secretária de Gestão do Trabalho e da Educação da Saúde, que ficou conhecida em 2013 por hostilizar os cubanos do programa Mais Médicos, Mayra Pinheiro, enviou ofício à Prefeitura de Manaus pressionando para usar cloroquina e ivermectina contra o covid. Segundo a nota do Ministério da Saúde é “inadmissível” não usá-las. Como já disse, não há vacina contra…


Pequenas Notas – 07-01-2021.


Folhetos, rosários e imagens de Nossa Senhora de Fátima são enviados pelo correio em pedindo doações que acabam nos cofres da TFP (Tradição, Família e Propriedade).


Siga o dinheiro.


De onde vem o dinheiro que financia grupos direitistas ligados à Igreja Católica brasileira e sustenta a TFP (Tradição, Família e Propriedade)? Vem da Polônia, como mostra a reportagem de Juliana Dal Piva, no UOL Doações recolhidas pela Instituição Ordoluris são distribuídas a organizações extremistas, para combater o comunismo, a luta contra o aborto e financiar políticos e entidades direitistas, como a TFP. A instituição polonesa distribuiu mais de 10 milhões de euros nos últimos anos; desde 2004 enviou 500 mil euros anualmente só para o Brasil e a França. A informação, passada pela repórter do UOL, é fruto de uma investigação de jornalistas franceses e poloneses da Reporter’s Foundation.


Faturando com imagens da santa.


A Ordoluris consegue dinheiro vendendo imagens e rosários de Nossas Senhora de Fátima. Os crentes que vão à Fátima, em Portugal, e compram os rosários, contribuem para o obscurantismo patrocinado por uma ala trevosa do catolicismo. Trecho da reportagem: “O modelo de arrecadação de fundos se baseia em um conceito desenvolvido no Brasil e posteriormente expandido na França e reaplicado nos países centro-europeus”.


A TFP agora é uma rede mundial.


Para muita gente a TFP é coisa do passado e já não tem influência. Mas a reportagem demonstrou que “a TFP se transformou em uma rede global de organizações que promovem valores católicos ultrarradicais, como a condenação de relações de mesmo sexo, divórcio, contracepção e o direito ao aborto. Nos últimos anos, esta rede provou ser particularmente eficaz na Europa Central, inclusive em alguns países pós-comunistas, que até 1989 faziam parte da União Soviética”.


A “evolução”: clube do Bolinha.


No Brasil a TFP “evoluiu” para o IPCO (Instituto Plínio Corrêa de Oliveira), que, hoje, “é um clube de homens, de forma que as mulheres, em regra, não são autorizadas a entrar no prédio e não podem ser membros da organização. O Instituto foi criado em 2006, quando um grupo de associados entrou em disputa em torno do legado de Plinio Corrêa de Oliveira e do controle do nome da TFP. O conflito que sacudiu a divisão brasileira da TFP teve início após a morte do fundador do movimento, em 1995. Seus membros mais velhos entraram em atrito com os líderes jovens, ávidos por poder. Os fundadores originais, expulsos por seus próprios alunos, formaram a Associação dos Fundadores da TFP e agora se concentram desde então na construção de alguma influência no mundo da política brasileira. Os rivais dos fundadores, que chamam a si mesmos de Arautos do Evangelho”.


O insidioso “perigo comunista”


O IPCO usa o “perigo comunista” para atemorizar os crentes: “Ajude-nos a libertar o Brasil do aborto, da agenda homossexual e do comunismo” é uma mensagem frequente. Na captação de recursos o IPCO age de maneira insidiosa, como revela o historiador Victor Gama, da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais: “Pessoas em muitos países encontram imagens de santos em suas caixas postais e uma carta pedindo a realização de doação para fins religiosos. Elas acham que estão apoiando instituições católicas locais, mas caso decidam doar, o dinheiro delas alimenta a TFP global. O dinheiro é então canalizado para pessoas associadas ao movimento e às suas divisões”.


Franquias contra o a aborto.


A técnica é eficiente e segura, alimentando, também, uma rede de franquias internacionais para campanhas contra o aborto. Essas “franquias” enviam pelo correio medalhas, rosários e calendários, especialmente com a imagem de Nossa Senhora de Fátima e pedem doações para fins religiosos. A maior parte do dinheiro é canalizada para a TFP.


Um poder “invisível”


Se o dinheiro de Edir Macedo pode ser visto nos “templos de Salomão” que sua igreja constrói e seu poder político espelha-se em Marcelo Crivella, o poder financeiro e ideológico da TFP é invisível e muito, muito mais eficiente…


Pequenas Notas – 28-12-2022.


Previsões previsíveis.


Não se preocupe, 2021 será igual a 2022. Apenas um pouco pior. Mas sempre há trabalho temporário no natal e na páscoa. O problema será o Guedes privatizar o ar que respiramos e criar o Imposto Aeronasal. Ou uma ordem unida na Saúde: quem ficar doente será rebaixado a marica. Em compensação é ano pré-eleitoral e Bolsonaro ressuscitará o PT para assustar as pessoas de bem.


A esquerda do sorriso amarelo.


O PT quase apoiou Arthur Lira para presidente da Câmara, unindo-se aos bolsonaristas. Mas desistiu e vai a reboque de Rodrigo Maia, apoiando Baleia Rossi. Todos unidos pelo fim da ficha limpa e para sujar de vez a Lava Jato, já emporcalhada pelo Moro, agora defensor dos pilantras que ele condenava e recebe os salários em dólar, pago por um escritório advocatício dos Estados Unidos. A esquerda com sede em Brasília sorri amarelo.


O futuro promissor do 04.


A grande questão do novo ano será o que fazer com o 04, promissor filho presidencial. Ele estreou garfando uma grana de empresa que tem negócios com o governo. Dizem que é logística, nada de imoral. Bolsonaro justifica com aquele sorrisinho torto no canto da boca, lábios contraídos. O doutor Freud explica o que o esgar presidencial revela da psique.


Lições do filósofo Golias.


Minhas penúltimas palavras copio do filósofo Ronald Golias: a humanidade não se comportou. Por essa e outras, atentem: a população não vai colaborar e o vírus fará a festa dos malucos. Churchill prometeu sangue, suor e lágrimas; no Brasil o negócio é emprego informal, churrasquinho de gato e cerveja (senão tiver, cachaça de corote). 2021 será o ano da peste, com ou sem vacina.


O metrô dos suicidas.


Em 2022, até hoje 58 pessoas morreram atropeladas por trens do metrô de Nova York. Foram 47 suicídios e 11 acidentes. No ano passado aconteceram 62 mortes. A técnica preferida dos suicidas é esconder-se atrás de um pilar e pular nos trilhos quando o trem se aproxima. Os tabloides de Nova York acreditam que os fiscais do metrô impediram pelo menos outras 80 ou 100 mortes. As mortes no trânsito em Nova York estão perto de 200, a informação ainda não é oficial. Proporcionalmente ao número de trens e automóveis o metrô mata mais. Mas Nova York, com um número muito maior de carros, perde para São Paulo. O trânsito da capital paulista “mata” 4 vezes mais pedestres, 3 vezes mais motoristas e passageiros, 12 vezes mais motociclistas e 3 vezes mais ciclistas do que Nova York.


Previsões previsíveis.


Não se preocupe, 2021 será igual a 2022. Apenas um pouco pior. Mas sempre há trabalho temporário no natal e na páscoa. O problema será o Guedes privatizar o ar que respiramos e criar o Imposto Aeronasal. Ou uma ordem unida na Saúde: quem ficar doente será rebaixado a marica. Em compensação é ano pré-eleitoral e Bolsonaro ressuscitará o PT para assustar as pessoas de bem.


A esquerda do sorriso amarelo.


O PT quase apoiou Arthur Lira para presidente da Câmara, unindo-se aos bolsonaristas. Mas desistiu e vai a reboque de Rodrigo Maia, apoiando Baleia Rossi. Todos unidos pelo fim da ficha limpa e para sujar de vez a Lava Jato, já emporcalhada pelo Moro, agora defensor dos pilantras que ele condenava e recebe os salários em dólar, pago por um escritório advocatício dos Estados Unidos. A esquerda com sede em Brasília sorri amarelo.


O futuro promissor do 04.


A grande questão do novo ano será o que fazer com o 04, promissor filho presidencial. Ele estreou garfando uma grana de empresa que tem negócios com o governo. Dizem que é logística, nada de imoral. Bolsonaro justifica com aquele sorrisinho torto no canto da boca, lábios contraídos. O doutor Freud explica o que o esgar presidencial revela da psique.


Lições do filósofo Golias.


Minhas penúltimas palavras copio do filósofo Ronald Golias: a humanidade não se comportou. Por essa e outras, atentem: a população não vai colaborar e o vírus fará a festa dos malucos. Churchill prometeu sangue, suor e lágrimas; no Brasil o negócio é emprego informal, churrasquinho de gato e cerveja (senão tiver, cachaça de corote). 2021 será o ano da peste, com ou sem vacina.


O metrô dos suicidas.


Em 2022, até hoje 58 pessoas morreram atropeladas por trens do metrô de Nova York. Foram 47 suicídios e 11 acidentes. No ano passado aconteceram 62 mortes. A técnica preferida dos suicidas é esconder-se atrás de um pilar e pular nos trilhos quando o trem se aproxima. Os tabloides de Nova York acreditam que os fiscais do metrô impediram pelo menos outras 80 ou 100 mortes. As mortes no trânsito em Nova York estão perto de 200, a informação ainda não é oficial. Proporcionalmente ao número de trens e automóveis o metrô mata mais. Mas Nova York, com um número muito maior de carros, perde para São Paulo. O trânsito da capital paulista “mata” 4 vezes mais pedestres, 3 vezes mais motoristas e passageiros, 12 vezes mais motociclistas e 3 vezes mais ciclistas do que Nova York.


A presidência da Câmara em 2021 ficará entre uma baleia e uma raposa.


Pequenas Notas – 15-12-2022.


Estas pequenas notas mostram que o diabo está à solta e é o Rei do Mundo. Escolheu o Brasil para sede do Novo Reino Unido dos Salafrários. Ninguém sabe porque ele veio para o eterno país do futuro nem o que pretende fazer.


O normal do bolsonarismo.


O deputado Arthur Lira, réu e suspeito de corrupção, é o preferido de Bolsonaro para ser presidente da Câmara. O ministro da Justiça, André Mendonça, acha que não tem nada de mais: “O fato de ser réu não significa que foi condenado”. Essa elasticidade moral dá o tom do governo e rebaixa o ministro ao que ele realmente é. O que é um ministro da Justiça que não repudia a corrupção?


Na nossa frente, só os africanos.


O Brasil aumenta a concentração de renda e pelo jeito deve desbancar os mais atrasados países da África na disputa pela desigualdade social. Só ficamos atrás da África do Sul, Namíbia, Zâmbia, São Tomé e Príncipe, República Centro-Africana, Suazilândia e Moçambique. Somos, “orgulhosamente”, o oitavo país do mundo em desigualdade social. E o segundo em mortes na pandemia. Mas aí a disputa é dura: o Tio Sam está em primeiro. Mas vamos à luta, “morra quem morrer”.


Nossa polícia mata crianças.


Estamos subindo também em outro campeonato: a polícia brasileira, corajosamente, é a que mais mata crianças em todo o mundo. Entre 2022 e 2022 os policiais assassinaram 2.215 crianças e adolescentes. O Fórum Brasileiro de Segurança Pública informa que em 2022 as mortes de crianças e adolescentes eram 5% do total dos mortos pela polícia; em 2022 subiram para 16%. Segundo especialistas nacionais e observadores da ONU os dados são subestimados: muito estados nem divulgam as mortes.


As exceções que fazem a regra.


Não é preciso comentar. Basta reproduzir o noticiário dos jornais: “Aposentado em setembro deste ano, o ministro do Superior Tribunal Militar, William de Oliveira Barros, recebeu em novembro R$ 699,2 mil (rendimento líquido). William Barros ocupava uma das três cadeiras reservadas a oficiais-generais da Aeronáutica. O valor inclui, entre as vantagens eventuais, R$ 671,9 mil de licença-prêmio; subsídio mensal (R$ 37,3 mil); indenização de férias (R$ 4,9 mil) e desconto do adiantamento da gratificação natalina (R$ 18,6 mil). Aposentado em abril deste ano, o almirante de esquadra Álvaro Luiz Pinto também recebeu em junho R$ 671,9 mil de licença-prêmio”. Esses honorários são comuns na cúpula dos tribunais militares. O que um general ou brigadeiro recebe de “licença prêmio” é dinheiro que um trabalhador que ganha salário mínimo só acumula se trabalhar 55 anos sem gastar um centavo. Se isso não é suficiente para provar que ultrapassamos o fundo do poço da imoralidade, só enfiando a cara na lama e respirando fundo.


O racismo português mata.


O racismo de vez em sempre arranha a “cultura superior” dos europeus. O aeroporto de Lisboa tem uma “salinha da imigração” para os suspeitos de entrarem ilegalmente no país. O tratamento é brutal, das ofensas racistas é comum os funcionários partirem para as ameaças e chegarem à agressão física. A cultura portuguesa foi arranhada com o assassinato de um ucraniano por agentes do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras. O ucraniano foi assassinado por espancamento, na referida salinha do aeroporto. Nas universidades portuguesas, que os abobados teimam em considerar melhores que as nossas – em algumas áreas nem chegam perto – alunos incentivam o racismo e até oferecem pedras para atirar nos “brazucas”. A notícia é velha, o fato aconteceu no começo deste mês, mas a realidade é presente.


Pequenas Notas – 4-12-2022.


As baterias dos carros elétricos precisam de lítio. Elon Musk, o segundo homem mais rico do mundo cobiçou as minas bolivianas de lítio. O “atalho” foi financiar o golpe que derrubou Evo Morales, na esperança de controlar as maiores reservas de lítio do mundo. Não deu muito certo: os “índios” voltaram ao poder. Mesmo assim, foi o golpe que alavancou sua fortuna.


O golpista mais rico do mundo.


Elon Musk, fundador da Tesla, empresa que fabrica baterias para os carros elétricos, agora é o segundo homem mais rico do mundo, superando Bill Gates. Ele é dono de US$ 128 bilhões e só Jeff Bezos, da Amazon, tem mais grana do que ele. A fortuna de Musk pulou de US$ 84,8 bilhões para os atuais US$ 128 bilhões, nos meses seguintes ao golpe na Bolívia, em 2022. Para quem não se lembra ou não sabe, pois a grande mídia não noticiou, Tesla foi o “financista” do golpe que derrubou Evo Morales. Ele queria as minas bolivianas de lítio, insumo fundamental para a fabricação de baterias. Assim que Evo caiu as ações da Tesla dispararam nas bolsas de todo o mundo, pois se tinha como certo que ele seria o dono da maior reserva de lítio do mundo. Entusiasmado pelo golpe que financiou, disse pelo twitter (@elonmusk, mais de 40 milhões de seguidores) que “vamos dar golpe em quem quisermos”, respondendo às acusações da imprensa norte-americana de ter “ajudado” a deposição do governo eleito da Bolívia. Se eu sei, se deu no The New York Times e no Washington Post, porque os jornais brasileiros, tão pertinho da Bolívia, não souberam ou não noticiaram?


Tão Brasil!


A desembargadora Marília de Castro Neves, que acusou mentirosamente Marielle de ser ligada a facções do crime organizado e pediu um “paredão profilático contra” o ex-deputado Jean Willis, e que na campanha eleitoral difundiu ódio pela internet, apoiando Bolsonaro, foi eleita para o Órgão Especial de Justiça do Rio, que deve analisar a denúncia do Ministério Público contra Flávio Bolsonaro, no caso das rachadinhas. É o Brasil a todo vapor.


O gambito que poucos viram.


A série da Netflix, “O gambito da rainha”, foi muito comentado e recebeu merecidos elogios. Mas ninguém prestou atenção em um detalhe: a série mostrou que os Estados Unidos faziam tudo o que acusavam a União Soviética de fazer. Policiava a heroína, obrigando-a a ter um “acompanhante” da CIA quando disputou o campeonato em Moscou, proibia a moça de atender ao telefone sem antes passar pelo seu “protetor”. & etc. A personagem do “Gambito” foi inspirada em Bobby Fischer, o campeão mundial de xadrez que venceu os russos, o que parecia impossível. Quem foi Fischer? – leiam no capítulo aí embaixo.


Se for do contra, só pode ser louco.


Bobby Fischer foi um gênio precoce que venceu o campeonato de xadrez dos Estados Unidos, aos 14 anos, em 1957. Pulando suas conhecidas façanhas enxadristas, chegamos ao seu relacionamento com o governo norte-americano. Foi perseguido e chegou a ser preso no Japão, onde lutou nos tribunais para não ser extraditado para os EUA. Finalmente recebeu passaporte islandês e mudou-se para a Islândia, em 2005, onde morreu em 2008. Algumas das suas opiniões sobre os EUA: “Os Estados Unidos são baseados em mentiras (…) em roubo. Mataram quase todos os indígenas (…) mesmo quando garoto eu não tive o menor interesse em história americana. Eu sabia que havia algo de podre no Reino da Dinamarca”. Não foram poucas as declarações desse tipo; nem a simpatia que ele demonstrou pelos enxadristas russos, o que não ia bem na guerra fria. Até que ele venceu os russos e o Tio Sam quis transformá-lo em garoto propaganda do “american way of life”. Ele recusou e as rusgas começaram. Então, fizeram com ele o que acusavam os russos de fazer com os seus dissidentes: acusaram-no de louco. Na série da Netflix, explicita ou indiretamente, mostra-se como os Departamento de Estado agia. Mas, como a mocinha enxadrista olhava para o teto quando imaginava jogadas, nossos comentaristas olham a paisagem sem ver o tabuleiro no confronto da guerra fria.


Pequenas Notas – 21-11-2022.


O quadro de Debret reproduz o “ideal” da família patriarcal brasileira, que se consolidou através dos tempos: a “paz” familiar, com as crianças negras tratadas como bichinhos de estimação e seus pais a cuidar da “classe superior”, esconde a realidade das senzalas, dos maus tratos, do genocídio e construiu o mito da “escravidão benévola”. Secularmente isso resultou em violência contra os negros.


Parte do processo genocida.


A televisão mostrou e os jornais publicam: mais um assassinato de negro para compor a história do racismo genocida brasileiro. Foi um ato “particular”, mas é sequência do genocídio de quinhentos anos que, agora, recrudesce. Esse é o ponto: o espancamento e morte são brutais, como criminosa é a reação de Bolsonaro ao negar o racismo e condenar os protestos. O racismo, como o feminicídio, a homofobia e as demais taras que compõem a sociedade excludente, sempre existiram e garantiram a “ordem” que beneficia os poderosos, mesmo que, às vezes, abale o controle sobre os cidadãos. O que não deve ser relegado é que tais aberrações aumentaram muito desde que Bolsonaro se tornou presidente. Com sua insensibilidade humana e desumana convicção fascistóide, ele estimula o que há de mais doente na sociedade.


Como sempre: a vítima é culpada.


Para quem acompanha o noticiário há muitos “sustos”: as cenas do espancamento e nenhuma ajuda à vítima, a fúria incontrolada dos “seguranças” e, o mais sintomático: a desgraça racista pode aumentar – são muitos os comentários nas redes sociais desqualificando o morto e justificando o assassinato. A pergunta deixou de ser “que país é este?”, mas, como chegamos a tal ponto? Matar negros e violentar mulheres é “normal”, já sabemos por quê. Que parte da nação está anestesiada e tolera os atos mais violentos, sabemos. Mas como chegamos, em tão pouco tempo, à exacerbação doentia? Em menos de dois anos de Bolsonaro caímos em um poço aparentemente sem fundo.


Para que servem os “serviçais”?


Está embutido no inconsciente coletivo brasileiro que preto… é preto. Isto significa: é o “serviçal” histórico dos brancos, desde a mãe-de-leite colonial ao catador de latinhas. Eles enchem as cadeias e morrem entorpecidos pela pobreza e drogas. Quando levantam a voz e reagem são considerados revoltados e ressentidos. E por que não?


O estopim à espera da chama.


Uma lição histórica: não se acaba com o racismo da noite para o dia. Nem mesmo quando cenas como o assassinato de João Alberto são chocantes. Mas, a história ensina: o racismo aumenta rapidamente quando o autoritarismo de direita chega ao poder. A Alemanha, por exemplo, não tinha antissemitismo explícito até o nazismo. Mas, quando em 1922 Hitler começou sua “cruzada” raivosa contra os judeus, rapidamente o antissemitismo tomou conta das massas: serviu de bode expiatório para justificar o fracasso econômico. Com a posse de Hitler, o ódio explodiu a partir de 1935 – em cinco anos já existiam campos de concentração, que culminaram com os fornos crematórios. É claro que não estamos comparando o hitlerismo com o bolsonarismo – Bolsonaro é tão ridículo que não serve nem para caricatura de ditador, mas expondo que, se o fim do racismo é um processo lento, o seu “progresso” é rápido e incontrolável.


Para ver, abra os olhos.


Contra o racismo e toda forma de discriminação social não basta o repúdio. É preciso desmontar o mecanismo que permite a reincidência de fatos deploráveis. Tudo muito óbvio, como a obviedade de que todos somos feitos da mesma matéria. Precisamos “ver” o que está ocorrendo. Como disse o padre Vieira, “A cegueira que cega cerrando os olhos, não é a que cega deixando os olhos abertos, esta é a mais cega de todas”. Se não abrirmos os olhos para ver o fascismo que se manifesta em atos racistas, ele nos cegará de vez.


Pequenas Notas – 11-11-2022.


Bolsonaro não é o fundo: é o poço.


Com Bolsonaro o fundo do poço não tem fundo. Suas últimas “intervenções” são o desastre total, começando pelo pior: o desprezo à ciência e a covardia ao afrontar as vítimas e os mortos pela pandemia. Primeiro, festejou a inexplicável interrupção ordenada ao Butantan, pela Anvisa, das pesquisas sobre a Coronavac, vacina com tecnologia chinesa. Assim que foi anunciada a proibição ele afirmou: “Mais uma que Jair Bolsonaro ganha”. Em seguida, ignorando a provável segunda onda que já se anuncia, disse que “o Brasil tem de deixar de ser um país de maricas” e enfrentar a covid-19 “de peito aberto”. Até aí tudo dentro do besteirol bolsonarista, mas como se fosse pouco, extrapolou ao comentar o inconformismo de Trump diante da derrota eleitoral e do anúncio de Biden sobre as queimadas na Amazônia: “quando acabar a saliva, tem que ter pólvora”. Não é cômico nem trágico: é o prenúncio do que nos aguarda se a nação continuar passiva diante do populismo triunfalista.


Todos têm uma face oculta.


Todos morrem de amores por Joe Biden. Além de derrotar Trump ele deu um sopapo na arrogância de Bolsonaro. Mas quem é ele? É mais um democrata com pinta de bonzinho que trabalha com a CIA se for preciso. Em 2002 foi. Se ele resistisse à sanha imperialista de Bush o Iraque não seria invadido em 2003 e nem haveria a carnificina que continua ainda hoje. Para “legalizar” a farsa das “armas biológicas” os republicanos precisavam do apoio democrata. Foi Biden quem articulou a manobra que permitiu o financiamento da guerra. Se ele ficasse com a base dos deputados democratas Bush não conseguiria a permissão do Congresso para invadir o Iraque e desestabilizar de vez o Oriente Médio. Biden condena o racismo e ao mesmo tempo defende os bancos e as grandes corporações financeiras. Mas até a esquerda festeja a queda de Trump e acha que nada pode ser pior. Será que não?


O nome certo do patrão.


Por que baiden se está escrito biden? Com a televisão e as eleições na matriz os brasileiros aprendem inglês rapidamente, fazendo os ossos de Ariano Suassuna se revolverem no caixão. Ele embirrava quando o cidadão monoglota pronunciava certinho as palavras inglesas, especialmente as que não sabia o sentido. Em uma das suas aulas espetáculo ele informou que não falaria “panqui’ por que estava escrito punk – então é punque, como funk é funque. Se ele fosse vivo certamente não deixaria por menos e avisaria: o nome do patrão é bidem, baiden só pros gringos.


O nome do vate era Guillermo.


Há muito tempo em Buenos Aires comprei as obras de Shakespeare, em edição bilíngue inglês-espanhol. O livreiro dizia sem nenhum cuidado: Guillermo Cheisquipiro. Também falava Federico Guillermo Nitisqui e Edgar Alhan Pói. Até os intelectuais espanholizavam os nomes estrangeiros. Não sei se ainda é assim. O interessante é que no teatro os atores pronunciavam os nomes dos personagens num inglês correto. Mas quando se referiam aos autores, espanholizavam. Aliás, o Brasil é interessante: não poucas vezes fui corrigido pela péssima pronúncia de palavras inglesas, por pessoas incapazes de traduzir cinco linhas do Guillermo…


Uma coisa, a campanha, outra…


Os cidadãos norte-americanos democratas são pessoalmente diferentes dos políticos democratas que eles elegem. Já os republicanos são a cara dos seus líderes. Os cidadãos democratas têm a cara limpa, o riso aberto e defendem sinceramente as minorias, posicionam-se contra o racismo e raramente são violentos. Chegam a não portarem armas, coisa estranha nos Estados Unidos, onde os republicanos desfilam até com metralhadoras. Mas, os políticos democratas, uma vez eleitos afastam-se das pessoas do povo e falam com elas através de “comitês”. É uma característica dos caciques democratas, que usam um discurso na campanha e uma atitude “responsável” no poder.


Caminhante, não há caminho.


Mais uma vez a esquerda pode perder uma eleição por teimosia e burrice. Se em São Paulo o PT apoiasse Boulos já agora, o segundo turno estaria garantido. Com a insistência petista em manter um candidato sem expectativas de sucesso, deve amargar nova derrota. Do poeta Antônio Machado:


Ao andar se faz caminho.


e ao voltar a vista atrás.


se vê a senda que nunca.


se há de voltar a pisar.


Quem teima em não achar o caminho fica perdido para sempre.


Pequenas Notas – 03-11-2022.


O diabo tem muitas faces e vários nomes. Mas quando entra na política sempre age de um jeito só: pau no povo. Não existe diabo bonzinho.


O diabo é sempre o mesmo.


Demônio, diabo, satanás, tinhoso e quase uma centena de sinônimos nomeiam os anjos caídos – Belzebu, Abadon, Lúcifer e assemelhados. Dizem que eles infernizam nossas vidas. Mas só se acreditarmos neles. Se o encararmos, são ficções: embora vitoriosas e, paradoxalmente, a serviço de Deus, que é outra ilusão. Entre Trump e Biden, qual o diabo preferido?


Críticos saem pela tangente.


Os críticos dos grandes jornais dizem que a democracia norte-americana vive o seu grande teste nessa eleição. Qual democracia? Qual eleição? Qual teste? Vamos dissecar o cadáver. Historicamente o país se fez em cima da escravidão e do roubo de terras indígenas. Criou o mito da liberdade republicana. Depois de se fortalecer economicamente passou ao “big stick”, o grande porrete contra os povos latinos. Hoje, sua polícia mata negros e a população supremacista festeja. Conseguiu eleger um presidente mentiroso que se não fosse a pandemia se reelegeria. E o formato eleitoral é uma fraude criada no século XVIII para impedir que os pobres e os negros votassem. Claro, modificou-se, mas não substancialmente: qualquer entrevero provocado por fanáticos pode levar a decisão para a Suprema Corte, com juízes nomeados pelo presidente interessado em “melar” o processo. E por fim, não há teste algum: a crise é do sistema econômico que já não se sustenta fazendo guerras imperialistas e vê os chineses comendo pelas beiradas e preparando-se para engolir o bolo inteiro.


Obama era tão bonzinho…


Os entendidos dizem que seria bom para o mundo se Biden vencesse. Ele é democrata e mais moderado. Falta olhar o passado: um dos presidentes democratas mais badalados é Barack Obama. Vejam o que ele fez na Líbia e no Iraque. A Líbia foi destruída pela geopolítica de Obama, obediente aos oligopólios petrolíferos. Todos os presidentes, republicanos ou democratas, seguem a lógica do imperialismo. Não vacilam em bombardear populações civis (Japão, Vietnã, Iraque, Irã, Líbia) e derrubar governos (especialmente na América Latina).


Diferença apenas de estilo.


Os Estados Unidos não são e nunca foi um país democrático. É uma república concebida para o bem-estar da sociedade branca e protestante, que tolera imigrantes de pele mais clara e explora negros e latinos, usando-os inclusive como bucha de canhão nas suas intervenções armadas no terceiro mundo. Republicanos e democratas diferem apenas no estilo. No fundo, defendem a supremacia dos EUA e não vacilam em cometer crimes contra a humanidade.


O tumor pode ser coletivo.


As grandes conquistas científicas e culturais, progresso econômico incluído, não amenizam o fundamental: o desrespeito aos valores humanos, só válidos para o núcleo populacional WASP (White Anglo-Saxon Protestants). Os EUA são um fenômeno capitalista que já atingiu sua mais alta performance e entrou em decadência. Talvez passe por um processo de depuração – Trump pode ser o tumor que arrebentou. A tragédia será se a nação arrebentar junto…


A história como farsa.


A Europa, enquanto massacrava povos no Oriente, nas Américas, na Ásia e na África, criou grandes monumentos culturais e artísticos. Cometeu vários genocídios que até hoje infelicitam dezenas de povos, especialmente os africanos. Deixou-nos uma herança de catedrais, literatura e arte de todas as formas, a grande música etc. Sua decadência provocou as duas maiores guerras mundiais e revelou-nos a desumanidade em estado puro. Hoje, tenta reerguer-se e enfrenta os percalços de um passado que não consegue apagar. Os EUA devem repetir a história europeia como farsa – mas é inegável suas grandes conquistas culturais e científicas, que não podem ser negadas pelo desastre político. Trump e Biden não duas pecinhas ridículas diante do quadro geral: nem chegam a ser anjos caídos.


Pequenas Notas – 28-10-2022.


Bolsonaro queria privatizar o SUS. O decreto que permitiria a “parceria privada” não durou 24 horas. Foi revogado depois das críticas. Este governo quer vender o que resta do país e agora ameaça as “políticas públicas”. Não fosse o SUS a pandemia seria um desastre maior. Sem a experiência dos seus profissionais no atendimento à população mais carente teríamos uma tragédia. Milhões de brasileiros dependem do SUS e sua privatização poderia encerrar dezenas de programas de saúde pública que são ou foram referência mundial.


Foi-se o brio dos generais.


As duas últimas semanas foram pródigas para mostrar a degradação do brio do Exército. Primeiro, Bolsonaro desautorizou o ministro da Saúde, general Pazuello, e avisou que ele, o capitão, era quem mandava. O general encolheu e disse a frase que marcará a sua biografia: uns mandam, outros obedecem. Dias depois outro general, Luís Eduardo Ramos, coordenador político do governo, foi desacatado pelo ministro do Meio Ambiente. Ricardo Salles chamou-o de “maria fofoca”. O general fingiu que não escutou e o ministro, que em outros tempos seria tratado como moleque, pediu desculpas. O que mudou no Exército depois do golpe contra Dilma?


Disciplina e hierarquia.


Na ditadura militar os oficiais tinham excessivo amor próprio. À mínima crítica a turma da farda reagia com chumbo grosso. Embora autoritários e avessos à liberdade de expressão, eles se davam ao respeito e não admitiam indisciplina. Geisel, por exemplo, arriscou várias vezes seu governo ao enfrentar generais dissidentes – naqueles tempos era impensável chamar um general de “maria fofoca” e sair saltitando com um pedido de desculpas. A única exceção deu-se quando Ulisses Guimarães chamou os ex-ministros do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, que compuseram a Junta Militar e outorgaram a Carta de 1969, de “três patetas”. Mas isso foi no fim da ditadura, quando se trabalhava na Constituição de 1988.


Aboletaram-se no Estado.


Acabada a ditadura os militares deixaram a política, mas aboletaram-se nas benesses do Estado. Os governos do período democrático deram-lhes benefícios negados aos cidadãos comuns: altos salários, aposentadoria bem remunerada com poucos anos de serviço, imunidades e vantagens no atendimento familiar etc. Pareciam contentes, até que novamente “tomaram o poder”, com Bolsonaro.


Quem tudo tem, quer mais.


As mudanças na Previdência que penalizam a maioria dos brasileiros nem arranharam os privilégios dos militares. Parece que eles acharam justo e gostaram. Aderiram à boçalidade governamental de Bolsonaro, afinal, estavam e estão nos postos chaves do governo. O presidente desandou a falar e fazer bobagens e eles ficaram quietos. Até que um ministro de língua solta e miolo mole tascou a frase da “maria fofoca”.


Onde mora o perigo.


O mundo continuou a girar e o Pantanal e a Amazônia a queimarem. Não existem mais generais como antigamente, dos quais se discordava, mas não se podia debochar sem o risco de uma paulada certeira. Hoje, Ricardo Salles mostrou que o santo é de barro. É aí que mora o perigo.


E se a “tropa” rachar?


Conscientemente ou não, Bolsonaro experimentou os desafetos de farda e foi subindo o tom, até que um dos generais mais graduados baixou o topete e conformou-se: uns mandam, outros obedecem. Mas nem todos têm o sangue frio dos colegas que estão no palácio. Podem reagir mais duramente ao se considerarem ofendidos por algum falastrão palaciano ou os filhos do presidente. Então, arma-se o fuzuê: a “tropa” pode rachar e na escolha de um lado, quem sabe o que acontecerá?


O risco da ordem unida.


Em outros tempos seria possível entender a fala de Ricardo Salles como provocação. Não teria ele, que é “peixinho” de Bolsonaro, instigado uma reação dos militares? Parece que não, porque uma semana antes o próprio capitão deu um cala-boca no general ministro da Saúde. Então, qual o perigo? O perigo é justamente não sabermos como estão os ânimos dos generais fora do governo. Se eles endurecerem não será para restabelecer o equilíbrio entre os poderes e proteger a democracia, mas para “garantir a ordem”. Precisamente, a ordem unida.


Pequenas Notas – 19–10-2022.


O gráfico, produzido pela SBPC (Sociedade Brasileira Para o Progresso da Ciência) mostra evolução do orçamento da pesquisa científica e tecnológica no Brasil. Em rosa destaca-se a ascensão significativa dos investimentos nos governos do PT, de 2003 a 2022. A partir do governo Temer (azul) a queda foi vertiginosa e com Bolsonaro (verde) despencou. Atualmente o Brasil é um dos países que menos investe em ciência e mais corta verbas de pesquisas.


A evasão de cérebros.


O Brasil é o grande exportador de mão de obra científica para o primeiro mundo. Principalmente de jovens pesquisadores. O ambiente, que nunca foi fácil para eles, piorou com Bolsonaro. O corte de verbas praticamente anulou o desenvolvimento da pesquisa brasileira. A saída é o aeroporto: Europa e EUA aproveitam. Assim que a pandemia for controlada teme-se uma evasão em massa de jovens cientistas brasileiros.


O país cloroquinado.


Não há país que progrediu sem investimento científico. Os Estados Unidos, a União Soviética e o Japão eram exemplos clássicos, agora se junta a eles a China, cujo espetacular salto econômico foi alavancado pelo progresso científico e tecnológico. Na contramão, o Brasil, que produz com relativa facilidade novos cientistas a cada geração, nega-se a apoiá-los e abastece os países que nos vendem tecnologia e conhecimento – o caso das vacinas contra o covid-19 é evidente: em vários países cientistas brasileiros contribuem nas pesquisas em andamento. Eles poderiam trabalhar no Brasil, mas aqui o governo apostou na cloroquina…


A ciência negada.


Países em desenvolvimento (?) como o Brasil sofrem os preconceitos dos seus líderes e desconfiam mais da ciência. O negacionismo do governo Bolsonaro é compartilhado por boa parte da população, que não acredita, dúvida ou sequer entende o aquecimento global, por exemplo. Além disso há uma avalanche de informações falsas que fortalecem as crenças pessoais, favorecem as teorias da conspiração e manipulam a mentira de tal forma que a verdade passa a ser negada.


O mundo emburrou.


O fenômeno não é só brasileiro. Uma pesquisa do Wellcome Global Monitor apurou que 54% dos habitantes dos países com renda média e alta não confiam totalmente na ciência. Ao lado disso há a descrença com os políticos e as instituições democráticas. Assim, fica mais fácil a emergência de demagogos e populistas e cada vez mais difícil divulgar fatos perigosos para a humanidade, como o desmatamento, a escassez de água, fome etc.


Fogo vivo e despacho.


Nos países de economia em crise, com alto desemprego, como no Brasil, a desconfiança na tecnologia é bem forte. 42% dos brasileiros temem que os avanços tecnológicos excluam vagas de trabalhão, em vez de criá-las. Como boa parte consola-se com a religião, o quadro piora. A pesquisa da Wellcome Global mostrou que 75% dos brasileiros dão mais crédito a pastores, padres, irmãos, pais de santo etc., do que a cientistas.


A “nocividade” dos imbecis.


A Funag (Fundação Alexandre de Gusmão) é um órgão do Ministério de Relações Exteriores. Portanto, “oficial”. A Funag divulgou uma série de seminários pelo YouTube questionando evidências científicas e atacando cientistas, médicos e jornalistas. Em um deles, Carlos Ferraz, que é professor da Universidade Federal de Pelotas, discorrendo sobre “a nocividade das máscaras”, afirmou que “a máscara não só é inócua no combate à pandemia, mas é também nociva, causa problemas de saúde”. O YouTube removeu o vídeo por considera-lo perigoso para a saúde pública. O mundo riu. O Brasil parece que nem ficou sabendo. Se ficou, não deu importância à patacoada de um professor universitário “federal”.


Pequenas Notas – 08-10-2022.


Doutor bolsonarista, terrivelmente evangélico, a caminho de sua vaga no Supremo. O desenho é de Francisco Aurélio de Figueiredo, para “A comédia social”, de 1870: o chargista já sabia como seria o andar da carruagem.


Doutores da empulhação.


Para fazer doutorado no Brasil o doutorando queima as pestanas durante anos, tem que provar a originalidade da tese e submeter-se às impertinências dos professores (é o que dizem). Por fim, precisam defender a tese “contra” uma banca que às vezes joga cascas de bananas para o infeliz. Os bolsonaristas descobriram que nada disso é necessário. Os seus candidatos a ministros vão à Europa, como o doutor Kassio Nunes, assistem uma palestra e voltam doutoríssimos. Não é o primeiro e pelo histórico desse pessoal não será o último. Até o (ex?) governador Witzel deu uma passadinha nos jardins de Harvard e voltou doutorado. Está no DNA deles a mentira e a empulhação.


Basta uma foto em frente à fachada.


Mas esse doutor das lagostas é um caso especial. Ele pôs no seu currículo pós e doutorados que teriam sido feitos em dez dias, quando exigem ao menos três anos. Depois de ser desmentido pela Universidade de La Coruña, agora há dúvidas sobre um doutorado na Universidade de Messina, na Itália. Para acabar com as dúvidas o “doutores” Kássio mostrou uma foto dele em frente à fachada da universidade… Em todo caso, para calar as más línguas afirmou que para ser desembargador “não há requisitos mínimos acadêmicos”. Portanto, não lhe chateiem com picuinhas.


Os títulos das compensações.


Em outros tempos e governos seria caso de polícia. Hoje, no máximo é piada. Mas Freud explica. Por que essa gente não tem medo e nem se abala quando desmascarada? Por necessidade de compensações. Eles são tão inseguros do seu “saber” que precisam inventar títulos que escondam suas deficiências intelectuais. Mas como não “adivinham” que as universidades citadas não compactuariam com a farsa? Pensam que todos são idiotas como eles?


Do bacharel ao “doutores”


O Brasil é o país dos bacharéis. Hoje, a palavra está quase extinta. Afinal, bacharel era quem completava o ensino médio. Agora a moda é ser doutor. Ou doutores. Em um romance de Jorge Amado, um baiano pernóstico mandou imprimir no seu cartão de visita: “Doutores Fulano de Tal”. Dizia que era “doutor farmacêutico” e “doutor advogado”, portanto, tinha direito ao título de “doutores”. O Brasil muda pouco, sempre para pior.


Credo quia absurdum.


Nada menos do que 8 mil e 700 candidatos acrescentaram aos seus nomes títulos religiosos. O titulo mais utilizado, segundo o levantamento do G1, é de pastor/pastora: são 4.426, seguido de irmão/irmã, 3.561. Pastores, pastoras e bispos entram com tudo na campanha para vereador, além de 76 candidatos a prefeito que se apresentam como pastor ou irmão. Seus vices, com o mesmo título, chegam a quase 300. O eleitor não é apenas crente, é crédulo. Credo quia absurdum, chora o descrente.


Ministra financia sites religiosos.


Damares não brinca em serviço. Ela gastou quase R$ 800 mil em sites e canais religiosos para fazer propaganda contra a violência doméstica. Claro, sem licitação nem prestar contas, pois está acima de qualquer suspeita. Como duvidar de alguém que viu Jesus na goiabeira? A maioria dos anúncios foi veiculada pelo Facebook, Instagram e Twitter, em quase 300 canais ligados a seitas evangélicas. O Ministério Público investiga: pelo menos oito desses canais foram considerados “desinformativos”, por divulgarem notícias falsas: seis deles religiosos, banidos do YouTube.


Sem dilema nas redes.


A Agência de Jornalismo Investigativo apurou que o ministério de Damares usou o Google Ads para divulgar seus anúncios no YouTube, onde os anunciantes “podem delimitar o público-alvo para suas campanhas”. Segundo o professor Ildeberto Rodello, da FEA-RP, “você pode segmentar para quem você quer que o anúncio apareça. Você consegue segmentar idade, pessoas, região, assuntos e uma série de segmentações que o Google oferece”. O público-alvo da Damares foi o evangélico, especialmente dos canais de música gospel.


Escolha a sua opção.


Por que os mecanismos de defesa da democracia são tão frágeis que não conseguem impedir as façanhas de uma pessoa simplória como Damares? 1- Porque não existe democracia autêntica; 2 – Porque Damares não é tão tonta como parece; 3 – Porque o bolsonarismo é mais esperto do que toda a oposição junta; 4 – Porque a ministra sabe que nada vai lhe acontecer; 4 – Porque o povo acha que é assim mesmo e bola pra frente.


Pequenas Notas – 05-10-2022.


Senhoritas da mais fina sociedade queimando livros perigosos na Alemanha nazista. Para ver como está a coisa no Brasil procure no Google: Bolsonaristas queimam livros de Paulo Coelho e o confunde com Paulo Freire.


De volta à pré-história.


O fogo foi a maior conquista da pré-história. Como os velhinhos que incendiaram o livro de Paulo Coelho estão na pré-história política, devemos reverenciá-los como agentes de uma grande façanha técnico-científica. Desde que Prometeu roubou o fogo surgiram inúmeros mitos, lendas e crenças. Cada povo, civilização e cultura, usaram as chamas como lhes convinham. Os mitos da criação de várias nações indígenas brasileiras atribuem papel fundamental ao fogo. Os orixás, especialmente Ogum, também se alimentam do fogo. Entre as várias pesquisas e análises sobre o fogo, Lewis-Strauss escreveu “O cru e o cozido” – o fogo fez a diferença e o seu domínio, tanto quanto a invenção da roda, são marcos civilizatórios.


Quando a estupidez é divertida.


Mas tudo vira fumaça quando chegamos aos fascismos. Justamente os melhores trabalhos sore o fogo pertencem a autores que os nazistas queriam ver na fogueira, junto aos seus livros. No Brasil atual, que reproduz o fascismo como caricatura, o trágico revela-se uma piada: o vídeo dos velhinhos incendiários e a “narradora” do evento (com sotaque gaúcho ao estilo do Chico da Tiana) são imperdíveis e cumprem bem sua função. É tão cômico que não atentamos para o perigo da intolerância. Assim, eles queimam livros e nos divertem, levando-nos a menosprezar a ameaça totalitária.


Confundindo os paulos.


Para algumas religiões o fogo purifica. Recentemente, um casal de “crentes” provocou um grande incêndio nas matas da USP-Ribeirão, ao “avivar” uma fogueira. Os seguidores de Bolsonaro confundem Paulo Coelho com Paulo Freire, mas sabem que ambos devem ser queimados. E se indignam porque eles não moram em Cuba ou na Venezuela, sequer na Argentina!


O mito da caverna está nas nuvens.


Foi dada a largada: os apoiadores de Bolsonaro, uns odientos, outros de uma raiva “ingênua” como os velhinhos, deram o aviso: queimem os livros dessa gente que “persegue” o Mito. Seria irônico, se não fosse cruel: o mito purificador do fogo é usado para proteger o Mito. Falando nisso, é o fogo que produz as sombras no “Mito da Caverna”, de Platão – se queimarem todos os livros de filosofia, restará o Dropbox, que põe na “nuvem” todas as palavras do mundo e tudo o que encheu o disco rígido… Nem precisaremos daqueles homens-livros do “Fahrenheit 451”, do Ray Bradbury.


É coisa séria?


Nada a temer, ou estamos brincando com fogo?


Pequenas Notas – 26-09-2022.


O desenho de Louis-Léopold Bolly é de 1823, mostrando como as caretas mais feias serviam como máscaras para os “homens sérios”. Na falta de seriedade, fechavam a cara…


A turma da carantonha.


Por que o pessoal do governo é tão carrancudo? A carranca foi marca registrada da ditadura. Castelo Branco não precisava fazer cara feia: era assim por obra da natureza. Costa e Silva olhava torto, mas dizem que era um bom sujeito, quando não embirrava com os subversivos e tascava atos cinco. Medici não tinha cara de bons amigos, mas abria um sorriso quando fazia embaixadas com a bola. Geisel nunca sorriu, o seu natural era a fisionomia de quem punha a criançada de castigo. Figueiredo, o último deles, sempre estava bravo, gostava mais do cheiro de cavalo do que de povo, tinha um amargo senso de humor. E na retaguarda, sombrio e sorrateiro, o general Golbery, com um esgar de Maquiavel do sertão, ditava as regras.


Os carrancudos no poder.


Mas por que a turma fardada do Bolsonaro é tão carrancuda? Ninguém, na ditadura militar, foi tão “cara fechada” como o general Heleno. Quando ele fala parece rosnar. Embica a cara pro chão e só levanta os olhos para chispar ameaças. No entanto, essa gente mais choraminga do que mete medo. Sempre se fazem de vítimas e põem seus erros e fracassos na conta de uma conspiração mundial. Tanto condenaram o mimimi dos adversários que agora apelam a um mimimizão para justificar o mal estar de estar no mundo. Um mundo, segundo a carranca deles, que difama o patriotismo que eles acham só ser possível em quem veste farda.


Melhor prevenir.


Claro que não é o caso nem queremos chegar a tanto. Mas é preciso prevenir que alguém, menos educado do que esse que vos fala, lembre-se do doutor Samuel Johnson (1709-1784) e cite, indelicada e indevidamente, a sua famosa frase: “O patriotismo é o último refúgio do canalha”. Pensando bem, quem cometer essa grosseria pode cair do cavalo: carranca nada tem a ver com canalhice.


Arma perigosa.


Como disse Machado, é melhor cair das nuvens do que do terceiro andar. A ironia é arma perigosa, geralmente usada pelos fracos. Um dos melhores exemplos nos dá Jonathan Swift (1667-1745), que no começo do século XVIII, diante da fome que se abateu sobre a Irlanda, recomendou que os pobres, que não tinham o que comer, vendessem seus filhos para alimentar os ricos, pois faltava comida para todos. No seu famoso panfleto escreveu que uma criança bem alimentada “era o mais delicioso, nutritivo e saudável dos alimentos, seja ensopada, grelhada, assada ou cozida, e não tenho dúvida de que também se preste ao preparo de fricassês e ragus”. Além de alimentar os endinheirados essa medida poderia reduzir o número de pobres na Irlanda. Na época, riram. Hoje, se um doido recomendar acabar com os índios, os caboclos, a Amazônia e o Pantanal, para eliminar os motivos de criticas dos globalistas que conspiram contra o Brasil, previna-se: pode ser levado a sério.


Desmoralizando a desmoralização.


O Brasil desmoraliza até o pitoresco. Quando se noticia que a Wal do Açaí é candidata a vereadora e mudou o nome para Wal Bolsonaro, mal sorríamos, veio uma avalanche de “bolsonaros” beliscando o sobrenome ilustre. Nada menos do que 45 cidadãos tascaram Bolsonaro no nome, na tentativa de pegar carona no prestígio mitológico do Mito. Apenas uns três ou quatro são autênticos, como Marco Bolsonaro, primo do presidente, candidato a prefeito de Jaboticabal. A família e seus agregados pretendem dominar o cenário político brasileiro. Até dona Regina, ex de Jair Bolsonaro e sua “inimiga” em outras eleições, agora tem o apoio do clã. A vulgarização do pitoresco transforma a crítica ao oportunismo populista em pastelão.


Pequenas Notas – 21-09-2022.


Ariano Suassuna teve sua estatua derrubada, no Recife. Ninguém cantou a malandragem ingênua e esperta do sertanejo como ele. Era um coração brasileiro e nordestino, amoroso e bem humorado, com muita vontade de justiça social. Um alvo perfeito para a estupidez atual.


O “derrubismo” cresce no Brasil.


O Brasil está cheio de intelectuais que aderem ao absurdo. Pela rádio USP um doutor lamentou e ao mesmo tempo elogiou a destruição de estátuas de personagens “politicamente incorretos”. Entre as besteiras doutorais ele sugeriu que em vez de derrubar os monumentos “incorretos” que os processassem. Afirmou ser possível encontrar alguma base jurídica para processar os monumentos e obrigar o Estado a indenizar os que foram historicamente prejudicados pelo vilão. Ao mesmo tempo aprovou a violência do Taleban ao destruir com tiros de canhão as gigantescas estátuas de Buda. Disse que o Taleban negociou e os ocidentais ofereceram dinheiro para evitar a demolição. Então, o Taleban deu uma “lição de moral” à ONU e liquidou os budas. O movimento contra monumentos e estátuas já tem nome “científico”: “derrubismo”.


A contaminação dos intelectuais.


Alguns filósofos de jornal e televisão (o que mais há no Brasil) defendem a liberdade dos pais sobre os filhos. Segundo eles, é direito dos pais decidirem o que é melhor para seus rebentos. Por isso, alegam, a vacinação não deve ser obrigatória. Só há um porém, uma criança não vacinada contra o sarampo, por exemplo, pode transmitir a doença. O bebê que não tomar as vacinas obrigatórias até um ano, fica passível de tuberculose, poliomielite, difteria, hepatite, tétano etc. O adulto que se recusar, alegando o direito de decidir o que lhe é bom ou ruim, a vacinar-se contra o covid-19 pode contribuir para espalhar a pandemia. Tudo mais que óbvio, mas a obtusidade anacrônica é uma ameaça que partiu de grupos religiosos e está contaminando intelectuais.


A queda da vacinação infantil.


As consequências dessa obtusidade já se fazem sentir: a vacinação de crianças despencou nessa pandemia. Por vários motivos: falta de vacinas, o que demonstra a incompetência e irresponsabilidade governamental, mas também preconceito religioso, desinformação e medo. Muitos pais não levam seus filhos aos postos de saúde temerosos de contaminação pelo covid-19. O governo não se preparou e não sabe como enfrentar o problema. Segundo o PNI (Programa Nacional de Imunizações) a meta era vacinar de 90% a 95% das crianças em 2022. Com a pandemia a média entre janeiro e julho mal chegou a 61%. Na “conta” desse fracasso pode se incluir as “campanhas” pela liberdade de escolha, as vacilações do general da Saúde e a estupidez das declarações de Bolsonaro.


É fogo na fogueira da idiotia.


O fogo, acidental, criminoso ou sazonal, grita alto no Brasil. Enquanto o presidente diz que estamos bem no pedaço, desde julho o Pantanal teve mais de 3 milhões de hectares queimados. É a maior queimada da história na região, segundo o Inpe. Do começo do mês até hoje a Amazônia teve mais de 20 mil focos de incêndio – novo recorde. No Pantanal os danos podem ser irremediáveis: algumas espécies de animais podem ficar tão reduzidas que estão ameaçadas de extinção.


A cara de pau de Bolsonaro.


Cara de pau é pouco. Bolsonaro vai dizer na ONU que o Brasil é o país que melhor se saiu na pandemia. E avisar que a Amazônia está sob controle e desmatamento e queimadas são exagero da imprensa e dos inimigos do Brasil. Será, é, mais um vexame. Porém, no Brasil há quem acredite. Ou melhor, crê. Vivemos em um mundo de “criar crenças”.


Pequenas Notas – 12-09-2022.


Governo incendiário.


Enquanto o Pantanal e a Amazônia batem recordes sobre recordes de desmatamento, queimadas, invasão de terras indígenas, garimpo ilegal, prejuízos à flora e à fauna, em 2022 Bolsonaro cortou 58% do orçamento para combater incêndios florestais, especificamente das verbas para contratar brigadistas e pessoal de prevenção e controle do fogo em áreas federais. E os dois designados para a proteção ambiental, o ministro Ricardo Salles e o general vice Mourão, confundem mico dourado com anta e mata atlântica com floresta tropical. Fogo pra eles deve ser refresco.


Falta de comida e cloroquina.


O leite custa mais caro. O preço do queijo disparou. O arroz virou folclore sem graça. A carne, nem se fala. Na falta de brioches a ministra da Agricultura aconselha a todos imitarem os pobres: comam macarrão. Mas pobre come? Se come ou não, sobrevive. E vota. E porque vota, dão-lhe cloroquina. Engana-se quem pensa que só os ignorantes acham que a droga exaltada por Bolsonaro cura a “gripezinha”. Três procuradores do Ministério Público Federal trabalham para que os munícipios do Rio Grande do Sul recebam e distribuam o remédio. Os procuradores Alexandre Schneider, Wesley Miranda Alves e Higor Rezende, firmaram um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com 27 prefeitos da região de Bento Gonçalves para “garantir as condições necessárias” aos médicos da rede pública para receitarem o medicamento à população.


A pressão conservadora.


Em pelo menos nove estados existem grupos de procuradores empenhados em facilitar a distribuição de cloroquina à população. A maioria deles pertence ao grupo MP Pró-Sociedade, de tendência conservadora, criado em 2022 (observem a coincidência da data e a ascensão de Bolsonaro): defendem a “prerrogativa da família” sobre a educação nas escolas e o combate à “bandidolatria”, segundo eles, praticada pela mídia e artistas. Fosse pouco, eles “investigam” cientistas que se manifestam contra o uso da cloroquina para curar o covid-19, especialmente os da Fiocruz.


A ministra e a mentira sinistra.


A politização da pandemia é marca do governo Bolsonaro. Uniram-se conservadores e oportunistas e fizeram da cloroquina a pedra de toque contra os cientistas que denunciam os erros do governo ou desagradam Bolsonaro. A base da “campanha” é a mentira e o negacionismo. É bom lembrar que em 14 de maio, quando a epidemia arrasava o país, a ministra Damares Alves foi a um hospital em Floriano, no Piauí, para conhecer o “milagre da cloroquina”. Segundo ela, o uso do santo remédio “zerou” os casos de covid-19 na cidade. Era mentira e o diretor do hospital desmentiu a ministra.


A mentira era orquestrada.


A irresponsabilidade, ignorância e descaramento são planejados nesse governo. No dia anterior à visita de Damares, o procurador do Ministério Público Federal no Piauí, Kelston Pinheiro Lages, ajuizara uma ação civil pública obrigando a disponibilização de hidroxicloroquina pelo SUS, citando justamente como exemplo o “milagre” do hospital visitado por Damares.


A quem interessa.


O Exército está com um fantástico estoque de cloroquina. A velha pergunta dos filmes policiais – a quem interessa? – pode ser repetida aqui. Como perguntar não ofende: a quem interessa mentir sobre os poderes milagrosos da cloroquina?


Pequenas Notas – 05-09-2022.


Apocalipse (detalhe), Albrecht Durer (1498) Para pensar: a espécie humana é a única que se desaparecesse da face da Terra o planeta ficaria melhor.


Funcionalismo, o bode da hora.


O governo, o poder e os que mandam sempre apontam um bode expiatório para justificar suas falhas, omissões, abusos, fracassos e privilégios. O bode da vez é o funcionalismo público que, segundo eles, ganha muito e produz pouco. Confundem maliciosamente a alta cúpula grudada no Estado (judiciário, parlamento, forças armadas) com os trabalhadores que servem ao povo. A reforma administrativa não tira privilégios nem restringe salários de parlamentares, juízes e militares, mas colocará os futuros barnabés na mesma situação de milhões de brasileiros que tiveram seus direitos roubados antecipadamente, trabalham sem garantias e não recebem o que deviam e merecem. No Brasil as elites são perversas e sabidas: “democratizam” e “isonomizam” por baixo. Mas generais, desembargadores, juízes, deputados, senadores e os que se penduram nos altos escalões da república permanecem com seus direitos inalienáveis. A imprensa morde e assopra. Os funcionários públicos são mal representados no Congresso. Os sindicatos estão em baixa e extinguindo-se.


A turma da cloroquina.


Exemplo claro da distância entre quem trabalha duro – arriscando a vida – e quem usufrui politicamente de posição privilegiada, está no Ministério da Saúde. O ministro (até hoje interino) é um general que despreza cientistas e não ouve médicos. Enquanto tem garantias e alto salário, os “soldados” da Saúde socorrem a população; eles estão entre o grupo de risco e os que mais se contagiam e morrem. A “turma da cloroquina”, fardada e com poder, sequer tem competência ou vontade de usar as verbas aprovadas para combater a pandemia. É provável que não saibam como gastar o dinheiro, embora souberam comprar um estoque milionário da droga inócua e tentam desová-la a qualquer custo.


Um “projeto” de 50 anos.


É essa elite do poder que dá aval ao presidente trapalhão propor uma reforma administrativa que corta recursos nas áreas sociais para ter mais dinheiro nos setores em que o Estado atua em favor da iniciativa privada. Faz parte de um projeto que, embora pareça incrível, tem mais de cinquenta anos. Os grandes conglomerados econômicos sempre financiaram políticos dispostos a mutilar o patrimônio nacional e transferir empresas estatais lucrativas para o setor privado. A reforma administrativa é peça do plano, que se acelerou a partir da Lava Jato e as denúncias de corrupção na Petrobras.


Brumadinho: a cara da Vale.


Duas das mais lucrativas empresas brasileiras – Petrobras e Vale – foram minadas por dentro. De um lado, o governo sabotou iniciativas necessárias para o desenvolvimento; de outro, dirigentes corruptos saquearam as finanças e fizeram negociatas com o grande empresariado. A Vale, assim que foi privatizada anunciou um grande lucro, que serviu para os arautos da privatização afirmarem que o Estado é mau administrador. Mas a Vale sempre foi lucrativa e o “lucro” de uma empresa governamental é diferente (e mais positivo social e economicamente) do que em mãos particulares, pois, se não é deturpado visa incentivar áreas empresariais correlatas. Privatizada, a Vale mostrou a cara do capitalismo predatório: a tragédia de Brumadinho e, ainda hoje, várias represas de contenção ameaçando as cidades históricas mineiras.


O “picadinho” da Petrobras.


A Petrobras era – e potencialmente ainda é – uma das petroleiras com a melhor tecnologia do mundo. Dava lucros, tinha programas sociais e culturais dos mais importantes. Desde que foi criada esteve ameaçada. A corrupção que a vitimou nos últimos anos não foi denunciada nem combatida para sanear a empresa – foi usada para destruí-la e entregá-la aos particulares. Está sendo “picada” e vendida a retalho, com o argumento falacioso de que não compensa explorar determinadas áreas. É a vitória do processo que nos anos 60 e 70 se chamava entreguismo. Antes, os entreguistas eram enrustidos, sorrateiros e envergonhados. Hoje, agem às claras, com o apoio da grande mídia.


O país das fogueiras.


O fogo continua consumindo o Brasil. Agora é a vez da Chapada dos Veadeiros, em Paraíso de Goiás. A fogueira já dura nove dias e consumiu mais de 7.500 hectares.


Pequenas Notas – 25-08-2022.


Este blog não é “jornalístico”. Não segue os manuais de redação. Por isso tem textão, textinho e uma textura ácida. Em tempos sombrios é preciso denunciar a caravana de idiotas que conduzem o país ao autoritarismo – gente tão primária que nem sabe ser fascista ou nazista: daí o maior perigo.


As cobras não perdoam.


O que fazer quando não há nada a fazer? Contar o que se vê, ao “correr da pena”, sem nenhuma revisão do texto, para que os possíveis erros ressaltem os poucos acertos. Estamos no mato sem cachorro e as cobras atacam nossos calcanhares. Epa, é exagero? Será mesmo?


Democradura e ditabranda.


O Brasil ensina ao mundo que é possível uma ditadura em plena democracia. Aqui é fácil o convívio entre o autoritarismo e a legalidade, com as instituições funcionando enquanto os direitos humanos são anulados. Não é preciso por a tropa nas ruas; aliás, nem chamar a polícia para controlar os “rebeldes”, pois não sobrou nenhum. A ditadura com democracia implantou-se com um truque simples: por na presidência um boçal e distrair a população destacando os preconceitos nacionais. Somos herdeiros do escravismo e acreditamos que preto é inferior e branco pobre é vagabundo; mulher que usa decote “está pedindo” e criança estuprada que não grita está gostando. Se pesquisarmos bem, veremos que muitas vítimas acreditam nesse “colírio” do sistema.


O bode da hora: funcionalismo.


Se na pandemia o povo morre e perde o emprego, o presidente eleito democraticamente dá uma de ditador: põe um general no Ministério da Saúde, corta ou “esconde” as verbas para combater a pandemia e aumenta a grana pros militares. Com o assanhamento dos economistas de jornal rebaixa os salários dos trabalhadores e socorre os grandes empresários. Congela os salários do funcionalismo público – que aliás, é a única “classe” que cuida dos doentes e famintos e dá à população o mínimo de bem estar social que o Estado proporciona, talvez por isso deva ser punida pelos donos da bola. Os jornais colaboram: destacam meia dúzia de marajás que ganham os tubos no Judiciário e em outras fontes de mamata e induzem a população a acreditar que o barnabé que arrisca a vida ao tratar as vítimas do covid19 é o culpado pela miséria brasileira.


O direito dos ricos e a meritocracia.


Há séculos vivemos a ditadura econômica. A concentração de renda só aumenta. Isso demonstra o direito legal, garantido pelo Estado, das classes dominantes amealharem cada vez mais. Mas como o país é democrático, dá oportunidade aos que têm méritos para entrarem no clube dos vencedores. A meritocracia brasileira serve para justificar porque uns são mais que os outros. E todos se acham boas pessoas.


Um exemplo para o novo Brasil.


Victor Klemperer, filólogo alemão que teve o azar de ser judeu no III Reich, explica como a linguagem serve ao poder e pode ser usada pelas “pessoas de bem” para expressarem que, fazendo o mal que fazem, continuam bons cidadãos. O termo usado para explicar esse comportamento no nazismo foi “Deutsche Pflicht” (dever alemão). As pessoas boas, humanas, renegavam o judeu, mas cumpriam o seu “Deutsche Pflicht”, indo visitá-lo e dizer-lhe que agiam em obediência às leis do Reich, mas esperavam continuar a receber a amizade e o respeito das vítimas de Hitler. Como a recíproca era impossível, isto é, o judeu ou o comunista ter o respeito e a amizade do ariano, o bom cidadão não sentia culpa pela marginalização do judeu, comunista etc.


Que cada um cumpra seu dever.


Essa hipocrisia dos alemães que se curvaram às circunstâncias poderia ser útil no Brasil de hoje. Como estamos polarizados, seria bom que as pessoas identificadas com o poder, isto é, os bolsonaristas, se apresentassem aos “diferentes” e fizessem o seu “Brasilianer Pflicht” (dever brasileiro). Aos seus médicos, diriam: “Não tenho nada contra a ciência, mas como sou bolsonarista tomo cloroquina, pois não sou bundão e não morrerei dessa gripezinha”. E a nós, que estamos boquiabertos, diriam: “Não avisamos que era melhor Jair se acostumando?” Assim ficaríamos entendidos e ninguém se ofenderia com as virtudes alheias.


Ria, enquanto pode.


Divertiu-se com essas Pequenas Notas? Eu não. Estou se saco cheio.


Pequenas Notas – 12-08-2022.


Perfil do tanque T34, produto de uma tradição iniciada pelos comunistas: no limite do perigo, usar antes de testar. Às vezes, dá certo. Na Segunda Guerra Mundial deu. E agora?


A antiga audácia e a vacina russa.


O mundo está apreensivo com a ousadia de Putin, ao vacinar a população sem que a vacina tenha sido comprovada. Pode dar errado e a emenda sair pior do que o soneto. Mas pode dar certo e o sucesso compensaria o risco. Por que na Rússia é possível tal temeridade? Porque eles têm uma tradição de ousadia técnica e científica que, quando dá certo, é de um sucesso espantoso. Logo que os alemães invadiram a União Soviética, com sua máquina militar aparentemente invencível, uma piada dizia que os tanques russos tinham uma tripulação de 100 homens: 1 para pilotar e 99 para empurrar. Resultado: a indústria comunista produziu o tanque T34, de desenho inovador e couraça praticamente inviolável. Ao lado dos T34 iam caminhões armados com as Katyusha, lança foguetes que dizimaram as tropas alemãs. O exército vermelho chegou a Berlim sem o uso da aviação, utilizando a criatividade dos seus engenheiros militares. O famoso fuzil AK-47, criado em 1947, tinha antecedentes fabricados às pressas em 1941, que não emperravam na neve nem na lama, ao contrário dos congêneres alemães, norte-americanos e ingleses. Ou seja, os comunistas eram audazes e “apressados” porque não podiam perder tempo testando suas armas: elas saíam das fábricas para as batalhas – no caso do tanque T34 literalmente. Putin foi coronel da temível KGB, portanto, um membro do partido que estimulava a audácia – como aconteceu com o Sputinik. Chegou ao poder pós-soviético como um ditador de fato e aplica, agora, para combater o covid-19 a mesma “coragem” que os soviéticos foram obrigados a ter por uma questão de sobrevivência. Porém, são novos tempos e a antiga audácia pode não se dar bem. Mas, e se der?


A mentira na boca do embusteiro.


O Inpe mostrou que em 2022 o desmatamento e a área incendiada na Amazônia aumentaram 34% em relação ao mesmo período de 2022. Bolsonaro disse que “é mentira isso aí. A floresta nossa é úmida. Não pega fogo”. Também afirmou que os dados divulgados pela imprensa são falsos. Detalhe: os dados são oficiais, confirmados pela observação por satélites etc., o que é sobejamente conhecido. Também acusou os caboclos e índios de incendiarem a mata que não pega fogo… Ele é mentiroso? Não. É um farsante que usa a mentira para encobrir sua conivência com os invasores da floresta, o assassinato de indígenas, o garimpo ilegal e o contrabando de madeira e minérios. Antes dele os políticos, quando pegos em atos condenáveis, apelavam ao famoso “eu não sabia”. Ele subiu um degrau: nega a realidade. Conta com a “boa educação” dos políticos que não lhe dizem na cara que é um embusteiro.


Há uma guerra dos sexos?


O Anuário Brasileiro de Segurança Pública contabilizou 66.041 casos de violência sexual em 2022. 53,8% das vítimas eram adolescentes de até 13 anos. Segundo se apurou, 4 garotas de até 13 anos foram estupradas a cada hora. Constatou-se que em 76% dos casos o criminoso é alguém conhecido ou da família. O Ministério da Saúde apurou que 68% das agressões ocorrem no lar e o pai ou o padrasto são os violadores em 12% dos crimes. No governo Bolsonaro aumentaram o feminicídio e as agressões contra os homossexuais. Esta realidade provoca reações de raiva, medo e desconfiança. Um número considerável de mães já impedem os pais de terem contato com suas filhas, temendo que eles cometam abuso sexual, por exemplo, ao darem banho nas meninas. O fato, além de um “estranhamento” entre o casal pode prejudicar a relação entre pai e filha. O fenômeno começa a ser estudado pelos especialistas. O mundo endoidou ou a realidade é essa mesmo e não fomos avisados?


Pequenas Notas – 01-08-2022.


A gula pela Amazônia nunca cessa. Para melhor engoli-la os gulosos a destroem, desma-tando e incendiando. Ao lado disso há a “invasão legal”: segundo o INCRA 4,3 milhões de hectares do território brasileiro pertencem a estrangeiros, que compram diariamente mais de 1.200 hectares, equivalentes a 1.200 campos de futebol. Todos os que adquirem terras no Brasil, inclusive na Amazônia e no Pantanal, só compram depois delas legalizadas, isto é, depois da grilagem e do fogo.


A Amazônia arde, indefesa.


O INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) detectou seis mil focos de incêndio na Amazônia, em julho deste ano, um aumento de 14,5% em relação a 2022. 25% da mata já foram destruídas. O fogo vem depois da queimada. Em seguida entram os grileiros e os contrabandistas de madeira e minérios. O garimpo aumenta sua área. Os rios se tingem de vermelho-mercúrio. As nações indígenas são contaminadas pelos “brancos” invasores. O ministro do Meio Ambiente cumpriu a promessa: de “baciada” assassina a floresta. É recorde sobre recorde que o governo Bolsonaro proporciona. Quinta-feira passada (30/08) foi o dia em que mais se queimou nos estados amazônicos.


O Pantanal também em chamas.


O Pantanal está em chamas, de novo. Não é repeteco de notícia velha: aconteceu nessa semana. Quem se importa? O Pantanal, poeticamente descrito por Mané de Barros, não existe mais. Uma orla de soja e cana contamina as águas e ameaça a fauna. Não mais o boi baguá, pantaneiro, no labirinto dos corixás. É o curral cercado, com zebus e nelores. Não mais os tuiuiús, seriemas, socós e curicacas, é o abutre de olho na carniça que empesta o ambiente. Desde que escrevi “Massacre da natureza”, há trinta anos, tudo piorou até chegarmos à calamidade atual.


Eles têm até “associação de classe”


Há três meses o IBAMA fez uma operação contra crimes ambientais na Trincheira Bacajá, no sudeste do Pará. Constatou-se a presença de grileiros, desmatadores e incendiários. O governo demitiu ou transferiu a maior parte daqueles fiscais. Resultado: uma nova queimada florestal nas proximidades da Vila Sudoeste, município de São Félix do Xingu. A presença de “empresas” na área é ilegal, mas os invasores constroem estradas clandestinas dentro da floresta, derrubam a mata e contrabandeiam madeira. Bolsonaro prometeu aos criminosos “legalizar” suas atividades. Para isso, sufoca o IBAMA, demite seus fiscais e os grileiros avançam, esperando nova demarcação de terras. Mesmo assim duas serrarias foram desmontadas na região. Mas o rio Negro está ameaçado e a Prefeitura de São Félix do Xingu é cúmplice dos invasores, que fundaram até uma “associação de classe”, liderada por um vereador, testa-de-ferro do senador Zequinha Marinho, que protege os grileiros do Médio Xingu. A TV Globo publicou reportagem sobre o trabalho dos fiscais do IBAMA na Trincheira Bacajá e em outras terras indígenas, mostrando o estrago. Bolsonaro reagiu exonerando os coordenadores de operação e de fiscalização. O resultado foi imediato: o desmatamento aumentou e o fogo se propagou.


Eles amam o capitão.


Os repórteres da Folha, Fabiano Maisonnavel e Lalo de Almeida, comprovaram, in loco, a agressão ambiental. Segundo eles, “é intenso o movimento de invasores em motos (…) Um alqueire grilado ali pode custar R$ 1.500, valor bem abaixo dos R$ 30 mil por alqueire comercializados na região”. Informam que o estímulo para a invasão das terras indígenas “vem das promessas de Bolsonaro de reduzir as terras indígenas”. Há várias sentenças da Justiça obrigando os invasores a deixarem a área, mas eles continuam. O já citado “presidente” da associação que apoia os grileiros circula nas terras indígenas, desrespeitando ordem judicial. E postou no WhatsApp sua foto com a legenda: “Intervenção militar já com Jair Messias Bolsonaro. Nós ti amamos capitão. Terra prometida”.


Final infeliz.


Pretendia fazer um comentário final. Mas não sei o que dizer. A estupidez venceu. Resta a lição dos versos de Manoel de Barros:


“Repetir, repetir – até ficar diferente repetir é um dom do estilo.”


Pequenas Notas – 21-07-2022.


Caricatura da República da Espada: começa com o voto de cabresto. O mercado das ilusões é o mesmo, embora mudem as moscas. Rui Barbosa transitou da monarquia à república, sempre criticando o militarismo.


Nada muda, tudo se divide.


Um velho político, lamentado o fim da monarquia, retratou assim a República proclamada pelos militares: “O exército entrou com a força, o Partido Republicano entrou com o seu pessoal de escritores capazes de redigir decretos, de ter ideias novas, etc. Os lucros, isto é, os empregos, os postos elevados, as comissões, os ordenados, as honras são proventos divididos entre os dois sócios. A maioria limita-se a pagar”. Se trocarmos “força” por voto e “escritores capazes de redigir decretos” pelos “ideológicos olavistas” está pronto o retrato do governo Bolsonaro, feito há 131 anos.


Contra a República da Espada.


Rui Barbosa, que transitou entre a monarquia e a república e foi um dos autores da primeira constituição republicana e seu primeiro ministro da Fazenda, logo sacou os males que os militares causavam ao país. Segundo ele, no livro Contra o militarismo : “O militarismo, governo da nação pela espada, arruína as instituições militares, subalternidade legal da espada à nação. As instituições militares organizam juridicamente a força. O militarismo a desorganiza. O militarismo está para o Exército, como o fanatismo está para a religião, como o charlatanismo para a ciência, como o industrialismo para a indústria, como o mercantilismo para o comércio, como o cesarismo para a realeza, como o demagogismo para a democracia, como o absolutismo para a ordem, como o egoísmo para o eu”. Até a crítica ao bolsonarismo militarista estava pronta há mais de um século.


Rui e as escolhas do povo.


Quem já flertou com a velha esquerda ouviu que “o povo nunca erra”. Paparicar o povo para esconder seus erros era comum antigamente. Um dos primeiros a perceber que o povo é meio esquisito nas suas escolhas foi Rui Barbosa. Para ele os brasileiros viam no Estado o poder onipotente e esperava que o governo tivesse “soluções imediatas dos grandes problemas retardados até então morosidade das formas constitucionais”. Pode-se acrescentar que o povo, além de errar, não admite o erro, até errar novamente na próxima eleição. E continua esperando que o Estado, que o oprime, o livre da opressão. Então vota em tiranetes e lhe lambe as botas.


Povinho lambe botas.


Uma pesquisa encomendada pela XP-Ipesp, divulgada hoje, mostra que a aprovação de Bolsonaro aumentou em dois pontos nos últimos trinta dias. 30% dos entrevistados consideram Bolsonaro “ótimo ou bom” – há um mês eram 28%. O “ruim ou péssimo” caiu de 48% para 45%. Os que o consideram “regular” subiu de 22% para 24%. Tradução: ele será reeleito. Já escrevi várias vezes que com seu núcleo de fanáticos em torno de 30% a reeleição está garantida. Rui sabia…


Morre, mas morre feliz.


Outra pesquisa, da mesma XP/Ipesp informa que a maioria dos brasileiros quer a flexibilização do isolamento social. Tradução: liberar geral. 58% acham que podemos abrir o comércio e tudo o que vem no rastro, contra 52% anteriormente. A “decisão popular” é curiosa, porque aumentou a porcentagem de quem pensa que a pandemia vai piorar; antes eram 53%, agora são 61%. Mesmo assim pedem mais “flexibilização”. A turma que usa máscara e fica em casa, caiu de 44% para 37%.


Quem são estes parceiros.


A XP-Investimentos é uma financeira que promete fazer seu dinheiro render. A Ipesp (Instituto de Pagamento Especiais de São Paulo) é uma “entidade autárquica, sem fins lucrativos, com sede e foro na cidade de São Paulo e vinculada administrativamente à Secretaria da Fazenda”. As duas organizações, uma privada atuando no mercado financeiro, e outra ligada ao governo de São Paulo, patrocinaram as pesquisas relacionadas acima. Deve ser pelo bem comum. Todos se entendem.


Pequenas Notas – 15-07-2022.


A seleção de pequenas notas sobre crimes ambientais do governo, de maio a julho, pode ser ilustrada por esta gravura da século XVII: com desmatamento e fogo celebra-se a morte da floresta.


Fogo recorde no Pantanal.


Depois do aumento de 279% de desmatamento na Amazônia de março de 2022 a março de 2022, agora são os focos de incêndio que batem recorde histórico no Pantanal. Em março e abril deste ano o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) registrou 1.386 focos de incêndio no Pantanal. Um aumento de 169% sobre o mesmo período do ano passado. A área queimada é de 1.628 km²; e ainda não chegou a “temporada do fogo”. A agressão progressiva ao meio ambiente, inclusive áreas protegidas e consideradas patrimônio da humanidade é a tônica do governo Bolsonaro.


Amazônia em novo recorde.


Outro recorde brasileiro: entre janeiro e maio deste ano o desmatamento da Amazônia é o maior desde 2022. Segundo o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) foram desmatados 2.032 km² de floresta, o que representa um aumento de 34% e está 49% acima da média histórica. Se prosseguir assim, e tudo indica que é a meta do governo Bolsonaro, no longo prazo estaremos mortos, mas nossos filhos e netos sofrerão as consequências.


Desmatamento e covid-19.


Há menos de uma semana comentei sobre o recorde de desmatamento na Amazônia legal. Segunda-feira (18), o SAD (Sistema de Alerta de Desmatamento), órgão técnico do Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia), informou que em abril aconteceu a maior derrubada da floresta nos últimos dez anos: 529 km² de árvores foram postas no chão – um aumento de 171% em relação a abril de 2022. O desmatamento acontece em terras indígenas cujas populações estão expostas ao covid-19, com a invasão dos madeireiros ilegais. Apesar dos alertas internacionais nada indica que o desmatamento vai parar. Ao lado das madeireiras também crescem os garimpos ilegais.


Ataque às terras indígenas.


Alguns dados: 72% do desmatamento provocado por garimpos ilegais na Amazônia aconteceram em áreas protegidas e terras indígenas. O desmatamento feito pelos garimpeiros aumentou 80,6% nos quatro primeiros meses deste ano. Um relatório do Greenpeace informa que o garimpo ilegal aproveita-se da pandemia para se expandir – de janeiro a maio os garimpeiros desmataram 434 hectares: nas terras indígenas o aumento foi de 64%.


O mundo vê, os brasileiros não.


Além do desastre ambiental, dos danos à saúde da população nativa, o Brasil perde prestígio e capacidade de receber investimentos. O Parlamento Europeu, por exemplo, avisou aos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, e do Senado, Davi Alcolumbre, da necessidade “de proteger as florestas brasileiras e os direitos indígenas”. E alfineta o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles: “Ficamos preocupados ao ouvir os comentários recentes feitos pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, estimulando o governo a pressionar pela desregulamentação da política ambiental, como testemunhado em um vídeo divulgado pela Suprema Corte”. Empresários alemães já disseram que não investirão no Brasil se continuar a destruição das florestas.


Mas, quem se importa?


Um estudo da Fiocruz constatou aumento de internações hospitalares de crianças por causa de problemas respiratórios nas regiões com maior concentração de queimadas. Constataram quadros de cardiopatia, inflamação das vias aéreas, inflamação sistêmica, coagulação e alteração no sistema nervoso – com a pandemia do coronavírus a situação ficou muito mais grave.


A Amazônia em chamas.


Notícia para quem se preocupa com o ar que seus filhos e netos vão respirar e o país que eles herdarão. Nas três primeiras semanas deste mês a Amazônia teve o maior número de focos de incêndio desde 2007. Até o dia 21 o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) registrou 1.459 focos de incêndio, 30,5% a mais do que o ocorrido no mesmo período em 2022. É preciso acrescentar que no ano passado a destruição da floresta foi recorde: mais de 10 mil km² de mata foram devastados. Segundo o Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), primeiro acontece o desmate, depois a queimada – 4.509km² de árvores estão no chão, hoje, esperando o fogo para a posterior ocupação da terra por grileiros e garimpeiros.


Pequenas Notas – 09-07-2022.


De mulher para mulher.


O governo inglês negou devolver ao Banco Central da Venezuela as reservas de ouro depositados pelo governo venezuelano no Banco da Inglaterra. A Inglaterra reconhece Guaidó como “legitimo” presidente do país e diz que Maduro não pode reivindicar o ouro. Só mais um capítulo da ingerência do Primeiro Mundo no baixo clero latino-americano. Mas Hebe de Bonafini, presidente da Associação das Mães da Plaza de Mayo, não deixou barato e escreveu à rainha Elizabeth:


“Senhora rainha Elizabeth: atrevo-me a escrever-lhe porque há 43 anos na Argentina minha vida está dedicada aos que pouco tem. (…) estou convencida que você não necessita desse ouro, nem tampouco o povo do seu país. (…) Atrevo-me a dizer-lhe, de mulher do povo à mulher que reina: Não lhe parece um abuso de vossa parte: esse roubo não é uma injustiça? Espero que saiba entender-me e possa abrir sua mão que já tem demasiado ouro e que, estou segura, não precisa de mais.”


O presidente fracote.


Nunca tivemos um presidente tão fraco botando banca de forte. Nem Temer foi mais fraco do que Bolsonaro, que não consegue nomear ministros sem a aprovação dos militares e dos evangélicos. Além, claro, dos filhos, que vetam quem não for hidrófobo o suficiente. Entre a caserna e a caverna ideológica Bolsonaro tem quatro opções para o ministério da Educação: três evangélicos e um major. Leva a taça quem convencer o gabinete do ódio.


In Trump We Trust.


Depois de prometer proteger o Cristo Redentor de um ataque da esquerda vandalista, Trump atacou a política brasileira contra a pandemia. Ninguém suspeitava que os comunistas ateus vendilhões da pátria planejavam explodir o Cristo. Agora também ficamos sabendo, que o Brasil tem uma política contra o coronavírus. A gente pensava que era uma gripezinha.


¿Y que?


O Página12 , jornal de Buenos Aires, tascou na primeira página uma fotomontagem de Bolsonaro com os olhos esbugalhados no centro de um vírus verde-amarelo, para anunciar que ele pegou a gripezinha. E destacou o que ele disse quando já se computava mais de 4 mil mortos no Brasil – ¿Y que? – o “e daí?” dos Hermanos.


Grão, grana e poluição.


O Brasil consolida-se como o maior produtor mundial de soja. A safra desse ano é a maior da história, com 126 milhões de toneladas. Os Estados Unidos perderam a guerra da soja ao brigar com a China, nosso principal comprador: 30% do que produzimos vão para os chineses, que nadam de braçada com a desvalorização do real diante do dólar. Os chineses usam a soja como alimento humano e animal e até para fins industriais. Os europeus, os segundos compradores, usam-na na ração de cães e gatos. O outro lado: o cultivo da soja “engole” grandes extensões de florestas e savanas e usa agrotóxicos agressivos. O governo brasileiro constatou que a “perda de cobertura vegetal do cerrado entre agosto de 2022 e julho de 2022 foi de 648.400 hectares”. Aos poucos, avançando pelo Cerrado, a soja se aproxima da Amazônia e contribui para o desmatamento.


Tanto lá como cá.


Ontem, em Belgrado, na Sérvia, milhares de pessoas saíram às ruas para protestarem contra o lockdown. Dezenas de policiais e manifestantes ficaram feridos. É um fenômeno mundial: as pessoas não acreditam ou fingem não acreditar que o covid-19 mata e que a forma mais eficaz para combatê-lo é o isolamento. Os manifestantes sérvios chegaram a invadir o Parlamento. No Brasil só invadimos os bares do Leblon.


Pequenas Notas- 02-07-2022.


Imagem da Idade Média simboliza a teimosia nas velhas ideias: a Terra Plana foi, também, um argumento ideológico.


As invenções do atraso.


O tradicionalismo contemporâneo é uma “filosofia” recente que começou na Itália com Julius Évola e na França com René Guénon e se espalhou entre os conservadores. Segundo eles os valores morais estão em declínio e é necessário regenerar a humanidade. Nos Estados Unidos (Steve Bannon) e no Brasil (Olavo de Carvalho) eles acreditam que a globalização é uma estratégia dos comunistas para dominar o mundo. A esquerda teria perdido a esperança na revolução e usa o “marxismo cultural” para conquistar as mentes, enfraquecer a democracia e, finalmente, tomar o poder. Ao lado dessa besteira reviveram outras “teorias”. A mais estapafúrdia é a da Terra plana e a mais perigosa é o negacionismo, que rejeita tanto o conhecimento científico como os acontecimentos históricos marcantes: duvidar das vacinas ou negar o holocausto têm consequências graves.


Aceitando o jogo bruto.


A questão é: por que debatemos com essa gente? Enfrentamos uma paranoia como se estivéssemos dialogando com pessoas normais. “Debater” com terraplanistas e negacionistas exaure a inteligência e não elucida nada. Ao contrário, se tratássemos tais pessoas como elas merecem liquidaríamos o problema e poderíamos encarar os verdadeiros desafios do nosso tempo. Em certo sentido é assustador. Se podemos “teorizar” sobre o fenômeno Bolsonaro e chegar a conclusões racionais sobre o processo político que o criou, então sabemos que estamos diante de uma aberração política. No entanto, tal aberração nos “rebaixa” ao forçar um debate no nível da sua alienação pessoal e política. Esse deve ser o ponto: a vitória da força bruta nos obriga a descer na escala e enfrentar a brutalidade com suas armas, evidentemente, incapazes de racionalizar qualquer debate.


Da pedra filosofal à baixaria.


Não se trata de desqualificar ninguém. Mas seria loucura um prêmio Nobel de química discutir com um alquimista sobre a pedra filosofal. Nós caímos na cilada bolsonarista. Por exemplo, gastamos tempo com as mentiras de alguém indicado para o Ministério da Educação e não com a educação em si. Ocupamo-nos mais com os títulos falsos, os plágios e os cursos que diz ter dado e não deu do que sua ação prática – a negociata da compra de computadores quando estava à frente da FNDE (Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educação), barrada pela justiça. E mesmo aí, já seria aceitar o baixo nível imposto à nação. Estamos incomodados com as baixarias e não com as suas implicâncias na Educação, Saúde, Economia etc.


Não se perder nos desvios.


Tudo se degrada quando a subcultura impõe as regras do jogo. Por exemplo, por que discutir se o isolamento social é o método mais correto para enfrentar o coronavírus? Isto está cientificamente comprovado. Mais profícuo seria investigar por que grupos políticos, econômicos e sociais se opõem ao óbvio que pode salvar vidas? Se enfrentássemos essa ignorância vigorosamente entraríamos no fundo da questão e chegaríamos à inviabilidade humana e racional de um sistema que se perpetua pelas pressões que não cessam nem diante da morte. Ficamos na periferia dos problemas porque a sociedade tem medo de mudar e quer preservar até os privilégios que não têm.


As ilusões do medo.


A maioria da população, como não tem os privilégios que gostaria ter, inventa ilusões que “compensam” a vida medíocre. Este é o caso na crença da nossa “democracia” e da certeza que fora de um sistema de classes não haveria liberdade pessoal. É simples assim, mas o modelo é complexo na construção dessa “simplicidade” alienante.


Pequenas Notas – 26-06-2022.


A Amazônia em chamas.


Notícia para quem se preocupa com o ar que seus filhos e netos vão respirar e o país que eles herdarão. Nas três primeiras semanas deste mês a Amazônia teve o maior número de focos de incêndio desde 2007. Até o dia 21 o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) registrou 1.459 focos de incêndio, 30,5% a mais do que o ocorrido no mesmo período em 2022. É preciso acrescentar que no ano passado a destruição da floresta foi recorde: mais de 10 mil km² de mata foram devastados. Segundo o Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), primeiro acontece o desmate, depois a queimada – 4.509km² de árvores estão no chão, hoje, esperando o fogo para a posterior ocupação da terra por grileiros e garimpeiros.


Mas, quem se importa?


Um estudo da Fiocruz constatou aumento de internações hospitalares de crianças por causa de problemas respiratórios nas regiões com maior concentração de queimadas. Constataram quadros de cardiopatia, inflamação das vias aéreas, inflamação sistêmica, coagulação e alteração no sistema nervoso – com a pandemia do coronavírus a situação ficou muito mais grave.


O mundo vê, os brasileiros não.


Além do desastre ambiental, dos danos à saúde da população nativa, o Brasil perde prestígio e capacidade de receber investimentos. O Parlamento Europeu, por exemplo, avisou aos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, e do Senado, Davi Alcolumbre, da necessidade “de proteger as florestas brasileiras e os direitos indígenas”. E alfineta o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles: “Ficamos preocupados ao ouvir os comentários recentes feitos pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, estimulando o governo a pressionar pela desregulamentação da política ambiental, como testemunhado em um vídeo divulgado pela Suprema Corte”. Empresários alemães já disseram que não investirão no Brasil se continuar a destruição das florestas.


Ataque às terras indígenas.


Alguns dados: 72% do desmatamento provocado por garimpos ilegais na Amazônia aconteceram em áreas protegidas e terras indígenas. O desmatamento feito pelos garimpeiros aumentou 80,6% nos quatro primeiros meses deste ano. Um relatório do Greenpeace informa que o garimpo ilegal aproveita-se da pandemia para se expandir – de janeiro a maio os garimpeiros desmataram 434 hectares: nas terras indígenas o aumento foi de 64%.


Mas nós nos acostumamos…


Lembrem-se que na campanha eleitoral os bolsonaristas diziam “é bom jair se acostumando”? Eles tinham razão: por mais que Bolsonaro mostre sua estupidez, o apoio dos seus seguidores não cai. Os dados da agressão ambiental aí em cima não sensibilizam essa gente. Segundo o Datafolha a aprovação ao mito segue estável após a prisão de Queiroz, mesmo com 64% dos entrevistados afirmando que ele sabia onde o comparsa de Flávio se escondia. A pesquisa mostra que 44% reprovam o presidente, mas 32% o acham bom ou ótimo e 23%, regular. Com esses índices ele chega folgado ao segundo turno e pode vencer. A Amazônia em fogo, os indígenas morrendo na pandemia e as rachadinhas do filho 01 pouco, ou nada, significam para quem segue Bolsonaro.


Falta do que fazer ou burrice?


É um presidente que agride o bom senso. A Justiça do Distrito Federal determinou que ele usasse máscara em público. O que é de lei, além de óbvio sinal de respeito à vida em tempos de pandemia. Não é que Bolsonaro fez a AGU (Advocacia Geral da União) recorrer? Ele quer desfilar sem máscara! Teimosia infantil, idiotia ou o quê? Está mais para “ou o quê”? Nem dá para comentar.


O doutor que não é doutor.


O novo ministro da Educação, Carlos Decotelli, apresentado por Bolsonaro e por ele mesmo como doutor pela Universidade de Rosário, Argentina, não é doutor. O reitor daquela universidade, Franco Barolacci, disse que ele “cursou o doutorado, mas não finalizou, portanto não completou os requisitos exigidos para obter a titulação de doutor na Universidade Nacional de Rosário”.


Trump quer vender seu etanol.


Trump está pedindo a Bolsonaro que o Brasil importe mais álcool de milho dos Estados Unidos. A medida visa beneficiar os produtores de etanol dos EUA e, em consequência, conquistar votos dos empresários do setor. Atualmente o Brasil compra 750 milhões de litros de etanol norte-americano, contra 600 milhões antes da posse de Bolsonaro. Trump quer mais. A importação de etanol a partir do milho prejudica os pequenos produtores do Nordeste, que lutam pela diminuição da cota do Tio Sam. No embate entre Trump e os nordestinos adivinhem de que lado ficará Bolsonaro…


Pequenas Notas – 24-06-2022.


Salário mínimo em dólar.


Vilmar Ferreira é presidente (leia-se: dono) do Grupo Aço Cearense, uma das maiores empresas do setor na América Latina. O pessoal da grana o conhece bem, mas para o público ele só apareceu agora, em matérias pagas nos jornais. Na Folha de S.Paulo (16-07) deu “recomendações” ao Posto Ipiranga e, surpreendentemente para um empresário, aconselha a dar aumento real e acima da inflação ao salário mínimo. Textualmente: “A política salarial é a mais importante dentre todas as da área econômica. É a base principal do desenvolvimento. Portanto, os reajustes do salário mínimo deverão ser indispensáveis e expressivos, contemplando a inflação do ano anterior, acrescidos de um aumento real de, pelo menos, 6% ao ano. A meta é que, ao longo dos anos, o valor atinja US$ 600,00. Seria importante que o aumento fosse de 10% no primeiro ano, de 8% no exercício seguinte e, depois, houvesse correções regulares anuais de 6%”. É pouco ou quer mais?


Para ele o PT estava certo.


Vilmar parece querer mais: “Caso o dólar volte a valer R$ 3,30 e o salário mínimo atinja apenas R$ 1.980,00, este automaticamente alcançará os desejados US$ 600,00”. Segundo ele, em oito anos chegaremos a tal ponto, se o governo seguir sua “agenda”. E dá uma colher de chá ao PT: “Lula assumiu a presidência da República com o salário mínimo valendo apenas US$ 57,00 e o dólar, R$ 3,54. Terminou seu segundo mandato com o salário mínimo em US$ 302,00 e o dólar, R$ 1,68. Ou seja, um incremento de 529% em dólares do salário mínimo, em apenas oito anos. Foi esse o verdadeiro sucesso do governo Lula”.


Maior salário, mais arrecadação.


Isso é coisa que empresário diga? Como pôde passar despercebida sua “expressão de opinião”, publicada na Folha de S.Paulo? Vilmar Ferreira fala manso e se diz “um instrumento de Deus” (já ficou parecendo político). Resta esperar se ele vai entrar na politica ou se vão convocá-lo. Já os seus colegas milionários não devem gostar dessa conversa: ele defende que o aumento dos salários, pelo retorno que dá em consumo, vai favorecer a indústria, o comércio e aumentará a arrecadação dos municípios, principalmente.


O apoio do sindicalista.


Se os políticos fingiram não ler e os repórteres não foram atrás da notícia, os trabalhadores gostaram da opinião de Vilmar Ferreira. Miguel Torres, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Mogi das Cruzes, que é significativo na área, elogiou a primeira manifestação de Vilmar, “Pandemia Econômica”. Após enfatizar “nossa total concordância em relação à desastrosa política econômica do governo Bolsonaro”, o sindicalista escreveu: “Nós, do movimento sindical unificado brasileiro, também repudiamos a política do governo que beneficia o mercado financeiro especulativo em detrimento do setor produtivo que, ao ser penalizado pela recessão e pela falta de crédito e de políticas sérias de desenvolvimento do País, não tem conseguido superar as dificuldades nem garantido a manutenção e a geração de empregos de qualidade para todos os brasileiros, ainda mais neste período de pandemia do coronavírus. A política permanente de valorização do salário mínimo, resultado de inúmeras ações do movimento sindical, inclusive com diversas mobilizações e marchas a Brasília, foi totalmente abandonada. Por isto, concordamos plenamente com a sua afirmação de que ‘A suspensão temporária do aumento real do salário mínimo foi a pior e mais retrógada decisão do atual governo’.”


E?


Qual será o próximo capítulo?


Pequenas Notas – 19-06-2022.


Que te tenho.


Publicaram uma nova tradução de “Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, nos Estados Unidos. Esgotou-se em um dia. Gostaria de lê-la. Machado, como os beletristas ensinam, tem um estilo peculiar. Não tinha medo de cacófatos. Seus textos estão repletos de “já lá vão”. Escreveu “sentenças” deliciosas e difíceis de traduzir. Em “Eterno”, por exemplo: “O que é eterno, Iaiá Lindinha? Ela, suspirando: − Ingrato! é o amor que te tenho”.


Flávio, Queiroz, Milícias.


Fabrício de Queiroz e Flávio Bolsonaro são investigados por lavagem de dinheiro e peculato. O que já vazou mostra que o esquema dos dois desviava dinheiro público para “o ramo imobiliário da milícia”. Segundo a investigação o senador, quando era deputado estadual, no Rio, recebia “o lucro do investimento dos prédios através de repasses feitos pelo ex-capitão do Bope, Adriano da Nóbrega ao seu ex-assessor, Fabrício de Queiroz”. Nóbrega foi executado na Bahia.


Anjo da guarda.


A operação que prendeu Queiroz foi chamada de Operação Anjo, em homenagem ao advogado da família presidencial, Frederick Wassef, apelidado de Anjo pelos Bolsonaros, percebe-se porquê. Aliás, a imprensa está destacando que residências de advogados são invioláveis. Alguém precisa explicar como isso funciona e, também, se advogado pode esconder “desaparecido” e mentir para defender o cliente.


Demasiadamente humano.


No site oficial de Bolsonaro (https://presidentebolsonaro.com/) uma notícia com o estilo característico da sua elegância: “Joice quase morta, Pepa com Covid e ¼ do pulmão destruído”.


Nomeiem o chefão.


Bolsonaro já nomeou um ministro da Educação que não falava português e outro que não sabe escrever. Quais serão as qualidades do novo? O primeiro disse que brasileiro é ladrão: quando viaja rouba as toalhas do hotel. O segundo acusou as universidades de ser antro de maconheiros e centro de balbúrdia do marxismo cultural. Para acabar com a confusão Bolsonaro deveria nomear o chefão de todos: Olavo de Carvalho Porra.


Doutorado em youtube.


Mas não será dessa vez, pois Olavo de Carvalho ameaçou derrubar o presidente. Então, fica no meio termo e pode escolher um seguidor do horoscopólogo, talvez Carlos Landin, que pelo menos, dizem as boas línguas, sabe assinar o nome. Ele é ignorado no meio acadêmico, mas é estrela no youtube, que é o que interessa a esse pessoal.


Deixem de ciúme.


Muitos articulistas enciumados: os bolsonaristas e os policiais só processam chargistas. Alegam que também merecem o prêmio, pois falam noite e dia contra a turma da terra plana e do desce o porrete. Não atentaram para a hipótese de esse pessoal não saber ler?


Pequenas Notas – 16-06-2022.


O senador Bernardo Pereira de Vasconcelllos disse que a febre amarela era uma “gripezinha”. Morreu duas semanas depois.


Um precursor de Bolsonaro.


A tradição imperial reviveu com Bolsonaro. Em 1849/50 o Brasil sofreu uma epidemia de febre amarela, lembrou hoje o “El País”, de Madri. Contra os médicos e sanitaristas que pediram cuidados à população, o senador Bernardo Pereira de Vasconcellos afirmou que a doença não era perigosa: “Eu estou convencido de que se tem apoderado da população do Rio de Janeiro um terror demasiado e que a epidemia não é tão danosa como se têm persuadido muitos”. Ele recomendou ao imperador dizer ao mundo que não havia febre amarela no país. Duas semanas depois, morreu: de febre amarela. Não desejamos o destino de Pereira de Vasconcellos a ninguém que se pareça com ele.


Entendeu e não percebeu.


Quando tudo isso acabar não daremos risadas. Visitaremos os cemitérios. Enquanto isso vale perguntar: por que as pessoas não obedecem às normas médicas para combater o covid-19? Entre as respostas, talvez porque, apesar de bem informadas sobre os riscos, não têm capacidade de absorverem a informação. Não se trataria de desleixo ou desprezo pela ciência, mas da impossibilidade de entender a “complexidade” dos fatos. Seria parte de uma alienação pessoal e política que as “defenderiam” dos agentes sociais que tentam protegê-las. Melhor explicando: para a maioria das pessoas pobres o Estado é o inimigo que limita seus direitos. Isso cria um bloqueio que se associa à manipulação daqueles que não aceitam sacrifícios ou pretendem lucrar com a pandemia. Ergue-se uma barreira à compreensão porque os pobres, principalmente, não aceitam mais “punições”. Desse modo não adianta informar. É o mesmo se Einstein tentasse explicar a teoria da relatividade a quem nunca ouviu falar de Newton. Impossível, a falta de conhecimento “protegeria” o ignorante de algo que o confundiria.


Milícias lá e cá.


Será que os militares brasileiros cairão na esparrela que liquidou o exército venezuelano? Primeiro, Chavez criou as milícias, treinou-as e deu-lhes armas. Depois hierarquizou os milicianos, que têm seus generais, capitães etc. Então nomeou um comandante geral da Milícia Nacional. A partir daí o Exército passou a segundo plano. A corrupção vez o resto. A Milícia Nacional tem milhares de “soldados” que podem ser convocados rapidamente e são usados para intimidar e punir dissidentes e inimigos de Maduro, que só está no poder pela existência desse “exército paralelo”. O Brasil é muito diferente da Venezuela, mas Bolsonaro não difere muito de qualquer aspirante a ditador.


Peripécias diplomáticas.


Weintraub pode ser demitido do ministério da Educação. Mas não será descartado: Bolsonaro pode indicá-lo para alguma embaixada. Está no nível desse governo: um desbocado para ser diplomata. Sugiro duas opções: uma, na China, para ensinar aos chineses não falar como o Cebolinha; outra, em Cuba, para finalmente acabar com o comunismo e salvar a humanidade. Enquanto isso o ministro do Exterior convidou “Sua Alteza Imperial Real”, Bertrand de Orleans e Bragança, para uma palestra, hoje, no Itamaraty. O título “Sua Alteza Imperial Real” não mais existe e há décadas está em desuso, mas foi ressuscitado pelo chanceler brasileiro. Quem sabe a monarquia volta…


Depurando as biografias.


O Brasil deve votar contra, na ONU, qualquer projeto que vise condenar o racismo nos Estados Unidos. Por falar em racismo, coisa que também não existe no Brasil, o presidente da Fundação Palmares mandou censurar as biografias de Zumbi, Luís Gama, André Rebouças e da escritora Maria Carolina de Jesus. As páginas que exibiam fotos e dados biográficos deles foram retiradas. É a lógica do sistema: se não tivemos e não temos escravismo, nunca existiram abolicionistas por essas bandas. Da mesma forma com Carolina de Jesus: como falar de pobreza em um país sem pobres? Pobres, aqui, só os de espírito.


Pequenas Notas – 12-06-2022.


Os maiores canalhas da história estão em belos monumentos. Itália, França e Inglaterra povoam as ruas e praças com piratas, traidores, barões e assassinos, a fauna dos que enriqueceram ao matar e saquear “povos nativos”. Será uma perda para a identidade visual se as velhas cidades europeias destruírem os monumentos. Já cortaram a cabeça de uma estátua de Colombo. Espero que os padres de Sevilha cuidem bem da sua tumba, na catedral. Ela é uma aula de história; pompa e circunstância, mentira e violência estão “escritas” naquele conjunto dentro de outra mentira histórica: a própria igreja, erguida em cima de uma mesquita, da qual restou a porta dos fundos – que fala mais do que o templo e o túmulo de Colombo.


Crise empresarial no PCC.


Um dos setores empresariais mais bem sucedidos no Brasil está em crise: o tráfico. Marcola, o chefão do PCC sofre depressão. Não é mole ficar em cana. O seu segundo, Décio Português, está em estado grave, entubado, vítima do covid-19, na Santa Casa de Presidente Venceslau. Com os dois mandões perigando morrer a tigrada das ruas está de olho no comando e pode ocorrer uma guerra pela chefia. A polícia e os políticos acompanham: o PCC movimenta mais dinheiro e dá mais empregos do que muitas multinacionais; financia vereadores, deputados, senadores e, dizem, muita gente graúda em todos os desvãos do poder.


Cuidado que a corda é fraca.


Não vai ter intervenção militar, garante o general Luiz Eduardo Ramos, ministro chefe da Secretaria de Governo. Porém, mandou seu recado: é bom não esticarem a corda. Ou seja, depende da oposição ficar quietinha e se comportar. Desse jeito, quem precisa de golpe?


A Amazônia em novo recorde.


Outro recorde brasileiro: entre janeiro e maio deste ano o desmatamento da Amazônia é o maior desde 2022. Segundo o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) foram desmatados 2.032 km² de floresta, o que representa um aumento de 34% e está 49% acima da média histórica. Se prosseguir assim, e tudo indica que é a meta do governo Bolsonaro, no longo prazo estaremos mortos, mas nossos filhos e netos sofrerão as consequências.


O Estado é um pai eterno.


Um padre de Curitiba pediu ao presidente Bolsonaro “apoio” para as televisões católicas, que em troca lhe dariam uma “mídia positiva”. Em 21 de maio Bolsonaro participou de uma “live” com proprietários de tevês católicas. Ele pediram um “suporte” para divulgar as ações presidenciais: “(…) estamos precisando mesmo de um apoio maior por parte do governo para que possamos continuar comunicando a boa notícia, levando ao conhecimento da população católica, ampla maioria desse país, aquilo de bom que o governo pode estar realizando e fazendo pelo nosso povo”, disse o padre Welinton Silva, da TV Pai Eterno. O arcebispo de Curitiba, dom José Peruzzo, apoia o padre e não vê nada demais. Nem eu: está dentro dos conformes…


A Índia vem aí.


Enquanto a Europa estuda proibir a entrada de brasileiros se a pandemia não for controlada, a Índia pode desbancar o Brasil: o isolamento social lá não funcionou bem e seus 1,3 bilhão de habitantes podem ser o novo epicentro e espalhar o covid-19 pela região, até chegar, novamente à Europa. Nessa pandemia tudo são incertezas, mas o pouco que se sabe basta para espantar: cientistas temem um novo vírus mais agressivo.


Nas malhas do fisco.


A Receita Federal está cobrando R$ 2,5 milhões do dono da Havan, Luciano Hang, também conhecido como Zé Carioca, como revelou o horoscopólogo Olavo de Carvalho. Segundo o fisco ele sonegou contribuições previdenciárias.


Pequenas Notas – 06-06-2022.


Gravura do século XVI: projeto de “leitor cerebral”. Coloca-se a cabeça do paciente na esfera, acende-se o fogo e os seus “pensamentos” são expelidos para análise psicanalista. Muito prático.


Alguém pode dizer com razão: sou doido mas não sou louco, embora a doidice seja a forma superior da loucura. Não procurem a decifração com os psicólogos, psicanalistas e psiquiatras ou outros psis. São os etimólogos que sabem. Vejamos o caso Bolsonaro: ele é doido ou louco? Semanticamente, nada disso: apenas é insensato. Não é louco porque não age despropositadamente. Ele tem um propósito claro: quer ser ditador. Mas, nos entrementes, é um pouco doido, pois a ideia é insensata, o que comprova sua insensatez, mas não a loucura. Acho mesmo é que ele é sandeu.


Seria um sandeu?


Sandeu é palavra em desuso, que desde o século XIII indicava debilidade mental, geralmente por causa da velhice. Mas, também e principalmente, denomina quem age e fala como tolo, isto é, um simplório que manifesta sua ignorância, pouca inteligência e destaca-se por dizer disparates e tolices. Isto é, um tipo fora da realidade que se comporta sem lógica e parece louco, mas nada tem da boa e velha loucura que absolve os doentes mentais.


Sandeu não é demente.


Como se vê, sandeu cai bem ao nosso mito, que muita gente acredita ser um alienado político. Mas não um alienado mental; talvez vítima da demência, que é um desarranjo cerebral provocado por doença. Ora, o demente não é louco, embora possa estar louco algum tempo. No caso de Bolsonaro, como ele tem o propósito de ferrar o país, demonstra-se que ele não é louco, portanto, se ferrar o país parece uma loucura, não pense tal – é apenas o sintoma da demência. Porém, se a demência leva a atos extremos, por exemplo, a armar a população para impedir o isolamento social em tempos de pandemia, podemos dizer que isso é uma doidice, pois ameaça a vida de milhões de pessoas. Ora, ora, mas a doidice não é a loucura eleva à enésima potência? Como no caso em questão o paciente não é louco, mas está demente e assim comete sandices, como diagnosticá-lo?


Demente ou maníaco?


Como sempre, corremos aos gregos. Estes palradores da filosofia descobriram a mania, que é uma espécie de loucura intermitente: vai e volta. Mas com Bolsonaro fica. O maníaco acredita nos seus delírios, como Hitler e seu Reich de mil anos. Ou Mussolini e o sonho do Império Romano. Se abruptamente chamados à razão os maníacos costumam se emendar. Mas nem sempre, como os dois citados. Don Quixote, o de la Mancha, o único simpático da turma, morreu sonhando com Dulcineia. Ora, ora, ora, mas a mania pode levar à monomania, que é quando a vítima só pensa naquilo. Então, é mais difícil.


O que os psis esperam?


Triste é que a monomania pode ser consequência da idiotia, que é, já não são os gregos a dizer, mas os latinos a especular, o estado congênito que, diferente da demência, que se pega com o tempo de caserna, o freguês já nasce com ela. Daí se vê que os psis pouco têm a acrescentar. A não ser que resolvam a questão de uma vez: internem o infeliz.


Pequenas Notas 02-06-2022.


Os 300 de Esparta (acima, os da batalha das Termópilas, contada por Heródoto) nada tem a ver com o “Acampamento dos 300” nem com “Os 300” neonazistas alemães. Veja em: https://www.youtube.com/watch?v=WhFzRFaFbsw.


Caricatura caricata.


O acampamento dos 300, bando armado concentrado em Brasília, é cópia do núcleo alemão “300”, que em 21 de dezembro de 2022 fez uma marcha neonazista em Plauen, na Alemanha. Caricaturando a estética neonazista, os “300” seguidores de Sara Winter ostentaram tochas em frente ao Supremo Tribunal Federal, em protesto contra a instituição. O fogo foi uma das armas simbólicas do nazismo e continua usado por fascistas, na Europa e nos Estados Unidos. No Brasil a “novidade” foi inaugurada pela blogueira que promete infernizar a vida do ministro Alexandre de Moraes.


A culpa é de Prometeu.


Por que o fogo como símbolo? A lenda grega conta que Prometeu roubou o fogo dos templos e entregou-o aos homens, para dar-lhes poderes divinos. Os deuses ficaram furiosos e amaldiçoaram os mortais, que passaram a conviver com a soberba e a blasfêmia. Essa lenda, com variantes, está na literatura há séculos. As expressões como “o fogo purifica” e coisas afins são comuns em muitas culturas.


A invenção da tocha olímpica.


Os nazistas “purificaram” a literatura com fogo: milhares de livros foram queimados, enquanto Goebbels enaltecia as fogueiras e comparava as chamas às virtudes do nazismo. Mas o golpe de mestre veio com a Olimpíada de 1936: na sua abertura uma “ninfa alemã” entrou no estádio com uma tocha e acendeu a pira que inaugurou os jogos. Foi a primeira vez que se usava o fogo, a tocha olímpica e a pira, para abrir a Olimpíada. Os gregos não usavam tochas nos seus jogos. A ideia foi do nazista Carl Diem e permanece ainda hoje.


Nossa estética caipira.


O nazismo produziu uma estética funcional à sua ideologia. Bandeiras, símbolos, armas e hinos induziam as massas a aclamar os líderes e submeter-se emocionalmente às palavras de ordem. Sem a estética brega não seria possível a construção de um mundo ilusório, em que as imagens substituíam o pensamento. A coreografia das grandes multidões, captadas por fotógrafos e cinegrafistas, como Leni Riefenstahl, que realizou o documentário “O triunfo da vontade”, são marcos da estética fascista. Nós, que repetimos a história como farsa, fomos condenados à estética caipira dos integralistas e, hoje, à boçalidade da turma da blogueira.


Pequenas Notas – Maio 2022.


28 de maio de 2022.


Sinagoga incendiada em Berlim, na Noite dos Cristais, quando os nazistas espancaram judeus, quebraram vitrines e saquearam lojas. Para Weintraub o Supremo Tribunal Federal é tão violento como o nazismo ao investigar distribuidores de notícias falsas.


Ao comentar as buscas e apreensões que o Supremo Tribunal Federal autorizou nas residências dos distribuidores de fake news, o ministro Abraham Weintraub, comparou a medida à Noite dos Cristais, quando os nazistas desencadearam uma série de violências contra os judeus, quebrando vitrines, espancando pessoas e incendiando sinagogas. O ministro é um exagerado, mas extrapolou. A Confederação Israelita do Brasil protestou: “Não há comparação possível entre a Noite dos Cristais, perpetrada pelos nazistas em 1938, e as ações decorrentes de decisão judicial no inquérito do STF, que investiga fake news no Brasil”.


Ora pois.


Estranho país o Brasil. O isolamento social só é respeitado por cerca de 40% a 45% da população. No entanto uma pesquisa do Datafolha informa que 60% dos brasileiros são a favor do lockdown. O governador de São Paulo namora o lockdown, no entanto flexibiliza o isolamento social: na verdade é quase uma liberação geral. A maioria população finge que não é com ela: enche as ruas e usa a máscara, quando usa, pendurada no pescoço.


País recordista.


Mais um recorde nacional: o Brasil é o país com mais mortes de profissionais da saúde nessa pandemia. O Conselho Federal de Enfermagem informou que 157 trabalhadores da enfermagem morreram até ontem. Os Estados Unidos vêm em segundo, com 146 óbitos.


Passa boi passa boiada.


Os donos da bola sabem: a boiada vai passar. Esse governo foi eleito por um rebanho irresponsável justamente para a boiada atropelar a legislação que controla a agressão ao ambiente. A mesquinharia política e a busca do lucro a qualquer custo dão razão ao filósofo do século XIX: “o comportamento tacanho dos homens em face da natureza condiciona seu comportamento tacanho entre eles”.


Alguém duvida? Nunca houve uma classe dominante tão tacanha e insana como a atual. As novas gerações já sofrem as consequências, mas as próximas terão de lutar pela sobrevivência do planeta.


Vida de gado.


Falar em boiada, é um povo que vive vida de gado, como canta Zé Ramalho: “Ê, ô, ô, vida de gado/ Povo marcado, ê/ Povo feliz”. Desde que os cidadãos foram transformados em consumidores o povo foi rebaixado à massa manipulável pelos arrivistas do neoliberalismo, que tem muito de neo e nada de liberal – o que eles entendem pela algaravia ideológica do momento é que podem destruir tudo na busca do lucro. O povo marcado pensa que é feliz.


Voltamos ao mapa nefando.


Em 2014 o Brasil deixou o mapa internacional da fome, elaborado pela ONU (Organização das Nações Unidas). Com o desmonte das políticas públicas no início do governo Bolsonaro, que extinguiu o Consea (Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional), desorganizou-se a coordenação das ações de combate à fome, justo quando o país voltava ao mapa da fome. Segundo o relatório da FAO, órgão da ONU para a alimentação e agricultura, 5,2 milhões de brasileiros passavam fome em 2022. A falta de informação e a indiferença governamental para o problema “escondem” a fome brasileira. A última informação confiável do IBGE, em 2022, dizia que 6,5% da população “caiu” na extrema pobreza e passava fome.


Bolsonaro descobre jornais comunistas em todo mundo.


Diante de um grupo que ameaçava jornalistas em frente ao palácio do Planalto, Bolsonaro queixou-se que a imprensa mundial é de esquerda e se uniu para prejudicá-lo. Vejamos quais são os “jornais comunistas”. O The Telegraph, porta voz da direita londrina, escreveu que “Bolsonaro é o homem que quebrou o Brasil”. O Financial Times, defensor dos grandes financistas e das transacionais, disse que “o populismo do presidente brasileiro está levando o país ao desastre”. Na mesma linha vão o Clarin e Pagina 12, da Argentina; El Observador, do Uruguai; El Tiempo, da Colômbia; Público, de Portugal e The New York Times, do Tio Sam. Para Bolsonaro todos são comunistas conspirando para derrubá-lo.


Neonazismo em alta.


Com a pandemia de coronavírus aumentaram em 253% as denúncias contra organizações neonazistas no país e em 271% os crimes de racismo na web, segundo a Safernet Brasil (associação civil que defende os direitos humanos na internet). Neonazistas e racistas exaltam a “raça pura” e incentivam atos violentos contra minorias étnicas e sociais, atingindo principalmente negros, nordestinos, judeus e homossexuais – agora, acusam os chineses de disseminar o coronavírus para dominar o mundo. Parte dos militantes acha que os deficientes físicos e mentais são um encargo para a nação.


200 mil simpatizantes.


Existem 334 células neonazistas espalhadas pelo país, segundo uma pesquisa da antropóloga Adriana Abreu Magalhães Dias, da Unicamp. Eles atuam em várias “correntes”: supremacistas brancos, separatistas, negacionistas do holocausto e outras excentricidades. A maioria dos grupos está em São Paulo, Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul. A pesquisadora separa os simpatizantes dos militantes. Estima-se em 200 mil os simpatizantes, que podem se tornar militantes ao se envolverem nas redes sociais.


Quem são eles.


Os líderes neonazistas brasileiros tem entre 25 e 30 anos, nível superior e pertencem à classe média. Seus liderados têm de 16 a 25 anos, estão nas classes C e D e cursam o ensino médio ou fundamental. Estes são os encarregados do “trabalho sujo”: pichações racistas, por exemplo. Boa parte pratica artes marciais e sabe usar facas, estiletes e soco inglês. A maioria é recrutada pelas redes sociais e pouco sabe o que foi o nazismo. São doutrinados com chavões e palavras de ordem violentas.


Os carecas.


Um dos grupos mais fortes é o dos Carecas do ABC, que conta com uma vanguarda de cem “combatentes organizados” militarmente, com oficiais e soldados, quase todos concentrados em Santo André, mas que fazem incursões na capital paulista. Eles exaltam a violência sem armas de fogo, preferem as artes marciais e porretes. Gostam do integralismo de Plínio Salgado, com seu lema “Deus, Pátria e Família”. Estranhamente, aceitam negros e nordestinos, mas não mulheres. Outro grupo forte é o White Power, que como o Carecas do ABC nasceu de um “racha” dos Carecas do Subúrbio. O White Power atua em São Paulo e tem “filiais” em todo o Sul do país. É o mais violento de todos.


Inter-relações.


Votam na extrema direita, embora não divulguem apoio aos políticos. Já existem pesquisas levantando as relações desses grupos neonazistas com milícias de traficantes e o crime organizado, inclusive de colarinho branco. Outras investigações, ainda em curso, indicam que o neonazismo brasileiro (e no Cone Sul) recebe apoio logístico e financiamento de grupos terroristas que têm representantes na Tríplice Fronteira (Brasil, Argentina e Paraguai).


Tendência.


A história dos fascismos recentes (Argentina e Chile, por exemplo) mostra que a direita tende a aglutinar grupos neonazistas como braços auxiliares, dando-lhe status de milícias intimidadoras. Qualquer relação com a situação política atual do Brasil não é mera coincidência.


22 de maio de 2022.


A peste de 1665 em Londres matou 75 mil: um quinto da população londrina.


Especialistas de várias áreas pesquisam a influência das mudanças climáticas e da agressão ambiental na propagação do covid-19. Segundo alguns estudos, o rompimento das fronteiras entre os humanos e os animais facilita o contágio e a disseminação do vírus. As deduções dessas pesquisas são assustadoras: se o aquecimento global e o consequente efeito estufa continuarem no ritmo atual provocarão mais “fenômenos naturais” como os tsunamis, as enchentes, os grandes incêndios, além de secas prolongadas. E aparecerão novos vírus, mutações dos já existentes e maior velocidade e frequência na expansão das pandemias. A solução é uma mudança radical na economia, com fontes de energia renovável, o abandono do petróleo e a diminuição do consumo. O que implica, obviamente, na contenção industrial e uma nova estrutura social.


A humanidade é capaz de se reinventar?


Historicamente a resposta é pessimista. Diante de grandes tragédias globais, das pestes da Idade Média às guerras modernas – com destaque para o nazismo e o holocausto – surgiram apenas reciclagens das velhas opressões políticas e sociais. Quando se pensa que o perigo passou, uma nova onda reacionária renasce das cinzas. Isso se verifica nos últimos mil anos, pelo menos. E hoje vemos “ao vivo e em cores” nas transmissões pela tevê o ressurgimento do racismo, dos preconceitos nacionalistas e a volta de líderes fascistas empolgando camadas expressivas da população.


Como em séculos passados a ciência é negada e crenças absurdas são absorvidas pelo poder político e apoiadas por amplos setores populares, especialmente os condicionados por crenças religiosas e pelo moralismo daqueles que são as vítimas da impostura.


Se os cientistas sugerem ser necessário mudar o comportamento diante das calamidades que vivemos, a reação dos que se julgam prejudicados com qualquer mudança que comprometa o conservadorismo é bem forte. E há forças econômicas que incentivam “estudos” estapafúrdios, como o terraplanismo e o “perigo” das vacinas, para confundir a opinião pública, na tentativa de desqualificar o conhecimento científico – evidentemente, o método é vulgar, porém, efetivo: a proliferação de sites negacionistas na mídia eletrônica mostra o seu sucesso.


A crença em um planeta plano não é apenas estupidez. Tem um componente ideológico: quanto mais besteiras anticientíficas se espalharem na sociedade, mais fácil a manipulação política das massas. Não por acaso, grupos contrários às vacinas e que acreditam em uma terra chata são religiosos fundamentalistas e eleitores da direita.


Além de todos os males que enfrentamos estamos em uma guerra ideológica. E “eles” estão vencendo.


PS- Leia a entrevista à BBC de Jeremy Rifkin, em.


19 de maio de 2022.


De símbolo da pátria a arma fascista.


Domingo, na costumeira manifestação a favor de Bolsonaro, em Brasília, Ângela Telma Alves Berger agrediu com o mastro de uma bandeira a repórter da TV Bandeirantes. Justificou-se, afirmando: “Tô com medo de ser escrava de chinês. Tenho medo de o comunismo nos dominar. Muito medo. Vejo notícias que estão vendendo as riquezas do Brasil. Que vem um bando de chinês em setembro comprar tudo. Eu estou com medo. Fico em pânico. Ando depressiva. Nervosa. Nervos à flor da pele”. É fácil “diagnosticar” a paranoia. Só que não é caso isolado. Muita gente “pensa” como Ângela e os jornalistas são os seus primeiros alvos. Como a lavagem cerebral conseguiu produzir idiotas que podem ser utilíssimos para produzirem o caos?


Mais 170 mil miseráveis.


O Brasil tem 13,8 milhões de pessoas que vivem na miséria; 6,7% da população. São os dados oficiais, a realidade é bem pior. O PNAD (Pesquisa Nacional de Amostras por Domicílio) informou que em 2022 mais 170 mil brasileiros caíram na extrema pobreza, vivendo com menos de US$ 1,90 por dia. Pode-se acrescentar que só a “elite” destes miseráveis consegue US$ 1,90, a maioria passa fome em centavos de reais.


Mais desmatamento.


Há menos de uma semana comentei sobre o recorde de desmatamento na Amazônia legal. Segunda-feira (18), o SAD (Sistema de Alerta de Desmatamento), órgão técnico do Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia), informou que em abril aconteceu a maior derrubada da floresta nos últimos dez anos: 529 km² de árvores foram postas no chão – um aumento de 171% em relação a abril de 2022. O desmatamento acontece em terras indígenas cujas populações estão expostas ao covid-19, com a invasão dos madeireiros ilegais. Apesar dos alertas internacionais nada indica que o desmatamento vai parar. Ao lado das madeireiras também crescem os garimpos ilegais.


O vírus ataca os índios.


Nesse fim de semana morreram mais 23 índios na Amazônia, vítimas do coronavírus. A Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena), informa que até domingo morreram 103 índios, que estavam em aldeias isoladas. Isso significa que madeireiros e garimpeiros ilegais invadiram reservas indígenas, levando o vírus. A epidemia avança rapidamente mesmo nas tribos mais remotas. Até as nações mais protegidas, como os yanomami, correm grande risco. A irresponsabilidade criminosa de Bolsonaro, que incentivou o garimpo ilegal e a ocupação de terras indígenas, um dia será cobrada.


Chomsky denuncia a matança.


O linguista Noam Chomsky, 91 anos, acusa o governo dos Estados Unidos de fazer uma política genocida em relação à pandemia, ao “priorizar” a morte de negros, latinos e idosos. Segundo ele “o caldo de cultura dessa pandemia é o capitalismo exacerbado pelo neoliberalismo”. Completa: “Nos Estados Unidos a maior parte das vítimas é de idosos em asilos (…) porque os asilos foram privatizados durante a praga neoliberal e passaram ao controle de fundos de investimento. E eles fizeram o que costumam fazer, cortar pela raiz, serviços, funcionários, material. (…) Existe um punhado de grandes empresas que administram a maior parte dos asilos e sua gestão foi publicamente elogiada por Trump, porque são seus principais financiadores. (…) é um clã de empresas milionárias financiando o presidente mais reacionário da história dos EUA, matando pessoas nos asilos de idosos. Os outros que morrem [na pandemia] são assustadoramente pobres, negros e latinos”.


16 de maio de 2022.


Nem o coronavírus para os nazistas.


O Ministério Público de Portugal está processando 37 neonazistas que tentaram matar negros, muçulmanos, homossexuais e comunistas. Os nazistas pertencem ao movimento Portugal Hammer Skins (PHS), lá chamados de “cabeças rapadas”, que nos últimos dias espancaram dezoito pessoas. Imigrantes brasileiros também foram atacados pelos nazistas portugueses. No Brasil já existem grupos armados acampados nas imediações de Brasília. Segundo a polícia, “por enquanto” eles não se identificam com os fascistas que se espalham pelo mundo desde a ascensão de Trump e, no Brasil, com Bolsonaro, mas têm ligações com organizações afins no Mercosul. Já as milícias virtuais bolsonaristas agridem pela internet. Mas estão meio “rachadas”: boa parte ficou com Moro…


Corona cubano.


Cuba fechou as fronteiras, fez isolamento severo e controlou o coronavírus. Sem turismo falta dinheiro. Com aeroportos e portos fechados, não entra abastecimento. Cuba conseguiu atendimento à saúde invejável, alta escolaridade e ensino superior gratuito para toda a população, mas não aprendeu a plantar arroz e feijão e o Estado não sabe criar porcos e galinhas. Tudo é organizado, menos a distribuição de alimentos, “compensada” pelos inúmeros pequenos produtores que o governo finge não ver. Mas quando surge uma crise brava as dificuldades aparecem. Quem critica o socialismo cubano (que não é bem socialista…) tem de levar em conta o bloqueio norte-americano: navio que aporta lá não entra em portos do Tio Sam – isso explica, em parte, o desabastecimento. Aliás, ninguém “critica” Cuba: a grande maioria xinga.


Bolsonaro na dele.


Bolsonaro faz o que se espera dele: grita e pede o fim do confinamento. Nenhuma surpresa e não há sequer um rascunho de plano para enfrentar a pandemia. Manda liberar geral e pronto. Assim ele acredita que a crise passa. É o maluco que pode transformar o Brasil em um hospício. No twitter, ontem, ele disse que o confinamento é uma “grande tirania” que vai trazer fome e miséria. Mais parece um drogado em crise de abstinência: enquanto não lhe derem uma droga não para. Na nossa democracia prevalece o “quem manda sou eu” e, ao contrário do que dizem, cala a boca não morreu.


Ele ressuscitou.


Alguém se lembra daquele ministro do Temer, o ridículo Carlos Marun? Bolsonaro acaba de ressuscitá-lo e o presenteou com o cargo de conselheiro na Itaipu Binacional. Já é parte do pagamento que Bolsonaro faz ao centrão, para juntar votos contra o impeachment.


Triste figura.


Se Regina Duarte fosse homem, alto e espigado, magro como a peste, poderia representar o cavaleiro da triste figura. Ontem, postou nas redes sociais que está sendo vítima dos “venenosos” da imprensa e que tudo vai bem no seu quintal. Parece que não sabia que seu “número 2”, Pedro Horta, foi exonerado pelo ministro da Casa Civil, que simplesmente a ignora.


Mundo do espetáculo.


O mundo gira e bola rola. As lutas do MMA imperam nos canais pagos. O coronavírus fica em segundo plano nas “lides esportivas”. O faturamento fala mais alto. Mesmo sem público o esporte rende. Futebol sem torcida. MMA sem os gritos de “mata”, “vai morrer” e outras delicadezas.


13 de maio de 2022.


A ganância dos ricos produz a fome dos pobres.


Por que a fome, que mata milhões incessantemente, nunca está nas primeiras páginas? Uma das causas é que os mortos são pretos e pobres, na maioria. São os “outros” que morrem, nada a ver com o cotidiano do leitor brasileiro. Os mortos de fome, especialmente as crianças, dão belas imagens e boas reportagens. Fotógrafos e jornalistas ganham prêmios mostrando os negrinhos de cabeça grande, olhos arregalados, braços esqueléticos, sugando o peito murcho da mãe preta esquálida. Depois, viramos a página.


Método de dominação.


A fome é um método de dominação e extermínio de populações. A fome foi usada pelos nazistas para humilhar os judeus, antes de matá-los nos fornos crematórios; e contra os poloneses e russos. Na União Soviética os governantes aproveitaram a fome dos camponeses para liquidar a reação no campo. Na velha China e no Oriente Médio a distribuição de alimentos serviu para fazer aliados e eliminar grupos de oposição. Na revolução industrial os capitalistas ingleses aproveitaram para rebaixar os salários. A fome é uma mercadoria ideológica usada pelos políticos e provocada pela exploração das classes dominantes.


Aliada do latifúndio.


No Brasil a fome sempre foi aliada do latifúndio. Nossa miséria vem do escravismo e da aliança das elites contra o povo. A concentração de terras em poucas mãos e o seu uso como ferramenta política produziu uma agricultura monopolista arcaica – ainda hoje somos o país do café, do açúcar, do álcool e, agora, da soja. Tudo para exportação. O agronegócio “modernizou” a exploração e ao tornar-se a principal fonte da riqueza nacional eterniza o mecanismo político da fome.


Currais do governo.


No Brasil a fome foi controlada historicamente em campos de concentração, que já foram chamados de currais do governo, entre 1915 e 1932, quando se confinaram os sertanejos cearenses em áreas vigiadas pela política, para impedir que eles fossem para a capital. Ali morriam de fome, mas não “manchavam” a paisagem litorânea, onde habitavam os poderosos. Em 1915, no Ceará contavam-se 73.918 sertanejos confinados em seis currais do governo.


O futuro é ontem.


Se pensam que mudou, ledo engano. Os currais do governo se esparramaram por todo o Brasil. Toda cidade tem seu curral humano na periferia, onde se agrupam os miseráveis, em casebres de lata e madeira, alguns de alvenaria, sem água, luz (alguns apelam ao “gato”) e esgoto a céu aberto. Totalmente abandonados pelo Estado. Eles estão presos à própria alienação forçada pelo sistema e às milícias que os ameaçam: dali não saem e só aparecem na imprensa quando os tratores derrubam suas favelas.


11 de maio de 2022.


Para os pândegos não há pandemia.


O gajo é pândego.


O gajo na presidência também é pândego. De segunda a sexta da semana passada disse que faria um churrasco para trinta pessoas. No sábado, com a maior cara de pau, contou que era “fake” – e os “jornalistas idiotas” acreditaram. Riu, fez piadas e no domingo foi passear de esqui aquático no lago Paranoá, enquanto as mortes por coronavírus passavam de 10 mil.


Ruim e bom.


Qualquer número de contaminados e mortos que o Ministério da Saúde informar pode ser multiplicado por 12 a 15, segundo vários estudos de entidades científicas, entre eles, do site Covid19. Na prática, até agora, o novo ministro nada acrescentou ao que fazia Mandetta. É ruim, porque não surgiram medidas que atenuassem a pandemia. Mas é bom, ao não seguir os desejos de Bolsonaro.


Meras coincidências.


Qualquer semelhança entre Bolsonaro e Collor é mera coincidência? Collor era um “atleta” que corria escoltado por seguranças, pilotava motocicletas e se lançava no lago Paranoá em jet ski. No intervalo brigava com a imprensa e insultava a oposição. Um, tinha “aquilo roxo”; outro, “quem manda sou eu”. Ambos, da direita alucinada. Resta esperar se o futuro do atual será como o do antigo machão das alagoas.


O defensor.


Algumas coisas não se levam em conta. Outras não se levam a sério. Como classificar o inclassificável Roberto Jefferson? Armado de fuzil apareceu para defender o Brasil do comunismo e garantir o mandato de Bolsonaro. Condenado por lavagem de dinheiro, teve a pena diminuída porque “dedou” o mensalão do PT. Destacou-se na tropa de choque que defendeu Collor. Foi cassado e perdeu os direitos políticos por oito anos (voltou oficialmente à política em 2013, mas sempre esteve nos bastidores). Em 2002 apoiou Ciro Gomes no primeiro turno e Lula, no segundo. Domingo, na foto em que aparece com um fuzil, prega a “demissão” dos ministros do STF, para Bolsonaro “tomar as rédeas do governo”. Além disso, aconselha fechar a Globo. Ele é o dono do PTB e articulador do centrão. É uma figura caricata, mas no Brasil políticos destacados são caricaturas grotescas. A pergunta inicial, se tal tipo não deve ser levado em conta ou não é para se levar a sério, está errada – essa gente é o que mais seriamente desgraça o país. A fanfarronice é o prenuncio da tragédia.


O esquisito.


Há poucos dias Bolsonaro posou de vestal e disse que economiza o dinheiro do governo e não usa seu cartão corporativo. Reportagem do Estadão mostrou que este ano ele gastou mais do que Temer e Dilma. O gajo mente até quando não é preciso – deve ser uma tática esquisita: diz a mentira para contestar, depois, a verdade revelada pela imprensa. Então, se diz perseguido.


Escorregando na cambalhota.


Doutor do óbvio, Fernando Henrique disse que quando o presidente perde o rumo o país fica atônito. Referia-se ao comportamento de Bolsonaro na pandemia. Concluiu com uma boa frase: “O desentendimento político já vinha de antes, mas agora fica sem sentido: briga sem parar, o presidente dá cambalhota e ele mesmo escorrega. É bastante patético o que nós estamos vivendo”.


8 de Maio de 2022.


O primeiro “one dollar”, sem a crença em Deus.


Disparada do dólar.


Com o coronavírus a imprensa descuidou-se um pouco do dólar. Ontem fechou em R$ 5,777 e já-já passa os R$ 6,00 (euro: R$ 6,271). Quando Guedes tomou posse prometeu o dólar em torno de R$ 3,00. Não é culpa (só) dele, mas o estrago está feito.


Morte por classes.


Nas últimas duas semanas multiplicou-se por cinco o número de negros mortos por coronavírus. Saltaram de 180 para 930, dados do governo federal. Em São Paulo, morrem quatro vezes mais pobres do que ricos, segundo comparação entre os bairros de Brasilândia e Moema. Confirma-se a regra brasileira: exclusão e racismo se não matam diretamente ajudam a matança dos explorados.


Rápida decadência.


Com a criação do SUS e ação preventiva contra a AIDS, o Brasil tornou-se uma referência mundial em saúde pública. Mas no governo Bolsonaro ocorreram cortes orçamentários em áreas chaves e a situação começou a se deteriorar. Com a pandemia do covid-19 o Brasil passou a ser criticado, depois ridicularizado e agora, visto como uma ameaça aos seus vizinhos (e aos Estados Unidos). A especialista em saúde global, Deisy Ventura, da Faculdade de Saúde Pública da USP, afirmou à Agência Pública que o Brasil se “tornou um pária internacional” – “O Brasil vinha tendo um papel de liderança internacional, inclusive nas questões de saúde. O país é referência internacional em diversos programas (nessa área). Hoje o Brasil é ridicularizado, hostilizado. Existe um desconcerto entre os governantes dos Estados mais importantes do mundo em relação ao que é feito aqui”.


Dando bandeira.


Antes da “era Bolsonaro”, se alguém desfilasse à sombra de bandeiras estrangeiras, principalmente a dos Estados Unidos, seria apontado como “entreguista” – se é que se lembrem do significado político da palavra. Com o novo governo a subserviência a Trump é apresentada como patriotismo. A bandeira israelense é uma incógnita: sinaliza que Bolsonaro apoia a política de Israel conta os palestinos? Ou é apropriação demagógica para agradar a religiosidade das seitas pentecostais? De qualquer forma os judeus estão irritados. Os principais jornais de Tel Aviv e Jerusalém, e entidades judaicas brasileiras condenaram o uso da bandeira de Israel por Bolsonaro.


Para o FBI podia.


Moro pediu demissão alegando que defendia a independência da Polícia Federal. Não foi assim logo que ele assumiu o Ministério da Justiça. Então, abriu as portas da PF ao FBI (Federal Bureau of Investigation) dos Estados Unidos, para atuar na Triplice Fronteira (Foz do Iguaçu). E quem assinou o convênio com os norte-americanos foi o delegado Maurício Valeixo, o pivô da crise. A lei brasileira proíbe a qualquer polícia estrangeira de fazer investigações no território nacional.


Favas contadas.


Uma semente de fava pode curar o coronavírus se o freguês pagar R$ 1.000,00, promete o pastor Valdemiro Santiago, em um vídeo de 48 minutos (só no fim ele pede a grana). Ele mostrou o exame de uma pessoa diagnosticada com o vírus e que se curou depois de “comprar” a fava. Ainda informou que vários doentes em fase terminal foram salvos. Na última eleição Valdemiro Santiago foi disputado por Alckmin, Dória e Bolsonaro, que hoje apoia incondicionalmente. Ele é proprietário de várias fazendas no Pantanal. Uma delas, em Santo Antônio do Leverger, posta à venda em 2012, valia R$ 33 milhões. Valdemiro possui helicóptero e planejava comprar uma frota de aviões para “profetizar” na África. Abençoado pelos dízimos e pelos políticos, o dono da Igreja Mundial do Poder de Deus recebeu passaporte diplomático de Dilma Rousseff.


Em março e abril muito fogo no Pantanal.


Fogo recorde no Pantanal.


Depois do aumento de 279% de desmatamento na Amazônia de março de 2022 a março de 2022, agora são os focos de incêndio que batem recorde histórico no Pantanal. Em março e abril deste ano o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) registrou 1.386 focos de incêndio no Pantanal. Um aumento de 169% sobre o mesmo período do ano passado. A área queimada é de 1.628 km²; e ainda não chegou a “temporada do fogo”. A agressão progressiva ao meio ambiente, inclusive áreas protegidas e consideradas patrimônio da humanidade é a tônica do governo Bolsonaro.


Haverá uma 05?


Os três reizinhos eram poucos. Junta-se a eles o 04, o “pegador” do condomínio, filho menor e mais travesso de Bolsonaro. Começou bem, suspenso do site onde postava suas diabruras. Aliás, falta entrar no governo a filha caçula. Ela será a 05 ou mulher não tem vez nessa numeração?


Mapa astrológico do doutor Pacóvio.


Doutor Pacóvio, pioneiro da Filostrologia.


Este blog é ecumênico. Assim, publicamos a tese esotérica-teológica do doutor Pascácio Pacóvio sobre a nova ciência:


“A Filostrologia é o ajuntamento da filosofia com a astrologia. Esta nova ciência profetiza o passado. Prever o futuro qualquer um pode. Duro é adivinhar o passado. Desse adivinhamento descobre-se novos fatos que ajudarão a humanidade a superar os males sinistros.


“Durante séculos os esquerdopatas impingiram aos tolos que a Terra é redonda, quando qualquer um vê que é quadrada e plana, o resto é impostura. O que vale mais, a palavra dos santos ou a arrogância dos cientistas? Quem não é comunista não vacila: a santidade nos eleva a Deus. Santo Agostinho dizia, muito antes de Simão Bacamarte e Policarpo Quaresma, que se a Terra fosse uma bola quem estivesse na parte debaixo dela despencaria no abismo e as árvores nasceriam de ponta cabeça! A aguaceira do mar vazaria. O santo sabia das coisas, mas a ideologia de gênero e o marchismo cultural fizeram uma campanha satânica para nos convencer do contrário.


“Os filósofos erraram. Os astrólogos acertaram. Sócrates era um ignorante confesso que desabafou: “só sei que nada sei”. E é essa besta que alguns consideram sábio. Já o astrólogo Nostradamus nunca errou: acertou que haveria guerras mundiais, anteviu todas as pestes e quem o lê atento percebe que ele avisou sobre a pandemia do vírus comunista chinês. Mas, como toda regra tem exceção, alguns filósofos merecem crédito. Como o doutor Joseph Goebbels, que descobriu essa lei da natureza: a mentira repetida mil vezes será tida como verdade. Por isso, da união de filósofos esotéricos com a infalibilidade dos astrólogos teologais, nasceu a Filostrologia, que tem como papa o professor Oitavo de Cangalho – experiente, porque já foi tudo: comunista, mulçumano, astrólogo, mentor, profitente e guru, além de mestre dos palavrões que manda quem merece tomar no cu.


“Assim como Aristóteles, que foi preceptor de Alexandre e acertou alguma coisa (por exemplo, a necessidade de escravos para o ócio dos senhores), o doutor Cangalho preferiu ficar no youtube e dar dicas ao presidente Bolsonaro, que tem entre seus assessores grandes profetas do passado educados cangalhamente. E chegou mais um: o ministro terrivelmente evangélico André Mendonça que chamou o nosso capitão de ‘grande profeta’. E etc.”


Bolsonaro eterno.


Da moça que nunca erra: “O Brasil é como aquela peça, ‘Seis personagens à procura de um autor’. Achou o seu presidente e não larga mais”.


Não vai parar.


A liminar que suspendeu a posse de Alexandre Ramagem como diretor da Polícia Federal, e o fiasco da nomeação de um “amigo da família”, tem aspectos mais preocupantes para o bolsonarismo do que a derrota em si. Deixa claro que o ministro Alexandre de Moraes não vai sossegar. Para completar, o ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal abriu inquérito para apurar crime de racismo cometido por Abraham Weintraub, o ministro da Educação que comparou os chineses ao Cebolinha, personagem do Maurício de Souza. E a investigação do STF sobre as denúncias de Moro abrem nova brecha na “defesa” de Bolsonaro.


Frituras.


Regina Duarte está na frigideira. Tem gente no governo atiçando o fogo. A turma do abafa preocupa-se mais com Paulo Guedes: se Bolsonaro disse que ele não cai, já escorregou.


Lutero escrevendo as 95 teses em Wittenberg.


Pastores pedem ajuda.


Mais um problema para Bolsonaro: pastores querem igrejas abertas já. Ou que o governo ajude a pagar suas contas. Sem o “culto presencial” a coleta de dízimos caiu. A “base religiosa” do presidente está meio indócil e começa a desconfiar do seu “messias” político.


O consultor boleiro.


O novo conselheiro do presidente é Renato Gaúcho, técnico do Grêmio. Ele foi consultado sobre a volta do futebol. Bolsonaro não falou com médicos, fisioterapeutas etc., prefere ouvir um boleiro sobre quando abrir as “arenas”, como se apelidam hoje os campos de futebol.


Efeitos colaterais.


A pandemia tem outros efeitos colaterais. Na Espanha e na Inglaterra aumentaram os casos de pedofilia: em casa as crianças ficam mais expostas. Surgiram redes especializadas em oferecer menores para os pedófilos. Aumentou, também, a violência doméstica em quase todo o mundo.


Exportação de doentes.


Com a triplicação das mortes na capital, Dória estuda transferir doentes para o interior. A rede hospitalar paulistana está prestes a sucumbir. O problema será escolher as cidades interioranas. Nem todas têm condições técnicas e, as que têm podem resistir.


Pressão demasiada.


O The New York Times noticiou o suicídio da médica Lorna Breen, de 36 anos, no domingo. Ela cuidava vítimas do covid-19. Pegou o vírus, curou-se e voltou a trabalhar dezoito horas por dia. Entrou em depressão por não poder salvar os pacientes e matou-se. Um dia antes um paramédico, formado há três meses, também se suicidou, desesperado diante da crise. Profissionais da saúde, em todo o mundo, dedicam-se aos doentes e morrem. Mesmo assim há quem não se importa e os hostilizam, como na Argentina, onde um farmacêutico foi ameaçado de morte se não se mudasse, pois, segundo os vizinhos, poderia contagiá-los. No Brasil, em vários condomínios, médicos e enfermeiros são ofendidos e até agredidos nos metrôs do Rio e São Paulo. Em algumas cidades recomenda-se aos profissionais da saúde não usarem roupa branca na rua, para não serem agredidos. Quando a pandemia passar essa gente agressiva teria de se explicar. Tanta falta de solidariedade, reconhecimento e respeito humano beira, ou é, um atentado contra a humanidade.


Sobre o autor.


Júlio José Chiavenato nasceu em Pitangueiras, interior de São Paulo, em 3 de janeiro de 1939, filho de Fernando Chiavenato, sapateiro e Lina Cardoso Chiavenato, dona de casa. Com quatorze anos, mudou-se para Ribeirão Preto. Teve infância pobre e formação autodidata, trabalhando por muitos anos em vários jornais da região de Ribeirão Preto. Conheceu boa parte da América Latina de moto e é autor de vários livros com temas ligados à realidade e à história brasileira: violência no campo, ditadura militar, escravidão, etc.

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